Leitura Partilhada
quinta-feira, abril 30, 2009
 
She put her hand out beside her and touched the other pillow, as though perhaps after all there was one chance in a thousand that she was not alone, and if she were not alone now she would never be alone again.

Etiquetas: ,

 
  um estranho sentimento de culpa
Sem querer abandonar Helen à sua sorte – cairia nas mãos de qualquer – e sem coragem para deixar de comungar – acto a que a mulher, embora sabendo, ou pressentindo, o seu estado, o obriga com enfadonha insistência -, Scobie torna-se sacrílego. Que situação trágica a sua!
(…)
Dividido entre duas mulheres – entre a compaixão e a fidelidade -, dilacerado entre a sua consciência pecadora e o seu Deus, a existência é-lhe insuportável. Ele, que sente repugnância, desde o mais íntimo, em causar pena seja a quem for, faz sofrer a todos. Por isso prefere desaparecer. Mata-se, sabendo que a morte implica a condenação eterna.

(Prefácio de Manuel Antunes em “O Nó do Problema”, Editora Ulisseia, 1984)


Scobie vive perseguido por um “estranho sentimento de culpa que sempre sentiu como se fosse responsável por qualquer coisa futura impossível de prever”. Ele leva muito a sério os seus deveres de católico e não é capaz de tomar decisões que envolvam o sofrimento da mulher e da amante. Parece um pouco pusilânime que alguém decida suicidar-se só porque não quer escolher, ou não suporta a ideia de fazer sofrer. Entre si próprio e elas, escolhe-as a elas. Entre elas e Deus, escolhe-as a elas. Um católico que se suicida condena-se à danação eterna. Ele sabe-o e vai fazê-lo. É caso para citar Orwell:

He [Graham Greene] appears to share the idea, which has been floating around ever since Baudelaire, that there is something rather distingué in being damned; Hell is a sort of high-class nightclub, entry to which is reserved for Catholics only.

Para se resolver um problema, encontra-se o nó, desata-se o nó. Scobie, ou não encontrou o nó certo, ou não soube desatá-lo. Não creio que Deus seja tão severo que castigue para a eternidade um homem que se matou porque não queria fazer sofrer ninguém.

azuki

Etiquetas: ,

 
 
He entered the territory of lies without a passport for return.

Etiquetas: ,

 
quarta-feira, abril 29, 2009
 
O romancista católico, que Graham Greene é, trata (…) de figuras que se salvam, ainda quando recusem a Graça que desaba – é o termo – sobre elas. (Jorge de Sena)

O sacrilégio em que se encontra é tortura espiritual que não consegue suportar e, sendo tão piedoso, é-lhe odiosa a ideia de vir a ferir ou desamparar qualquer das duas mulheres (esse bom e pusilânime coração que é Scobie não deixa de provocar no leitor um certo desprezo incontido). Fico sem perceber se, no seu íntimo, tem a esperança de vir a encontrar um Deus misericordioso ou se, pelo contrário, admite passar a eternidade como condenado por acto repugnante de suicídio. Será que Scobie se salva? Certamente.

azuki

Etiquetas: ,

 
 
Point me out the happy man and I will point you out either extreme egotism, evil--or else an absolute ignorance.

Etiquetas: ,

 
terça-feira, abril 28, 2009
 
Despair is the price one pays for setting oneself an impossible aim.

Etiquetas: ,

 
  Scobie
Scobie, um escrupuloso subcomissário da polícia, vive há 15 anos numa colónia inglesa da África Ocidental, onde tem uma existência cinzenta de casos que nunca se destrinçam e doses diárias de álcool, e um casamento falhado com Louise, a quem ama por piedade (ou sentido de responsabilidade, ou habituação, ou o que quer que seja que leva dois seres humanos a partilharem uma vida sem vestígios de intensidade). Scobie encontra uma outra mulher, também digna do seu maior fervor no que respeita à compaixão, com a qual se envolve numa situação altamente irregular para um católico praticante. Pelo meio, num momento de fraqueza ou de inconsciência, consegue pôr todos a desconfiar da sua probidade, dado tão pouco ter considerado que, a um polícia, não basta ser honesto, tem também que parecê-lo. Essa cedência perigosa irá enrodilhá-lo em actos defensivos e contrários à sua natureza, até ao ponto de se lhe tornar insustentável. Scobie, sendo cumpridor e honrado, fez-se refém de mentiras que tiveram um infeliz desfecho no homicídio de Ali e, sendo pacato, envolveu-se em adultério de que não se arrependeu, o que o impossibilitaria de comungar. A vida é complicada.

azuki

Etiquetas: ,

 
domingo, abril 26, 2009
 

He had been in Africa when his own child died. He had always thanked God that he had missed that. It seemed after all that one never really missed a thing. To be a human being one had to drink the cup. If one were lucky on one day, or cowardly on another, it was presented on a third occasion.

Graham Greene

The heart of the matter

Etiquetas: ,

 
sexta-feira, abril 24, 2009
  Literatura em Viagem

Viajar para Contrariar a Monotonia
Ricardo Menendez Salmón: eu adoro a monotonia; quando viajo, aquilo de que gosto é conhecer outras monotonias (…) gosto de viver no anonimato das pessoas que habitam os lugares para onde vou
Julieta Monginho: sou a pessoa mais sedentária que alguma vez passou ou passará por esta iniciativa (…) a viagem tem para mim um sentido mais ontológico do que dinâmico
Cristina Carvalho: passei 38 anos da minha vida a viajar; viajar é do que mais gosto de fazer: primeiro, gosto de escrever, depois, gosto de viajar (…) a literatura é a grande arte da viagem vivida a dois, a do leitor e a do autor (…) o amor é parte essencial do conceito que eu tenho de viajar
Francisco José Viegas: a viagem é viagem, implica a deslocação (…) gostava de vender livros em dois sítios: nas farmácias e nas agências de viagem (…) gosto cada vez menos de metáforas sobre a viagem



Ler o Mundo, Viajando
Isabel d´Ávila Winter: escrevo virada para uma floresta de eucaliptos e por onde vejo bandos de cangurus (…) com esta vista, escrevi cenas passadas no Bairro Alto de Lisboa
Isabel da Nóbrega: este desejo de partir (…) é bom, sobretudo quando não é fuga; o mundo é tão bonito…
Renzo Sicco: porque se viaja, quando conhecemos tudo? Porque…
(contou uma história passada em Cuba, num bairro com o nome italiano de Pogoloti, que me deixou arrepiada)
Paul Theroux: a minha missão na vida tem sido encontrar pessoas e ouvir as suas histórias (…) os escritores não são pessoas equilibradas; se o fossem, não seriam escritores, seriam felizes (…) a primeira experiência de libertação que tive na vida, antes de sair de casa, foi ler (…) quero escrever livros de viagens só com pessoas: sem igrejas, sem ruínas, sem Taj Mahal, sem museus
José Medeiros Ferreira: para conhecer os outros, eu acho que é preciso viajar

azuki
 
quinta-feira, abril 23, 2009
  Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor

Ler

Ler sempre.
Ler muito.
Ler "quase tudo".
Ler com os olhos, os ouvidos, com o tacto, pelos poros e demais sentidos.
Ler com razão e sensibilidade.
Ler desejos, o tempo, o som do silêncio e do vento.
Ler imagens, paisagens, viagens.
Ler verdades e mentiras.
Ler o fracasso, o sucesso, o ilegível, o impensável, as entrelinhas.
Ler na escola, em casa, no campo, na estrada, em qualquer lugar.
Ler a vida e a morte.
Saber ser leitor, tendo o direito de saber ler.
Ler simplesmente ler.


Edith Chacon Theodoro
 
terça-feira, abril 21, 2009
  The heart of the matter
Aos 37 anos, em plena 2ª Guerra Mundial, GG trabalha para os serviços de informações do Foreign Office. É colocado na colónia inglesa de Freetown, na Serra Leoa, durante os anos 1942-43:

Chegámos finalmente…nada mudou nesta caótica e preguiçosa cidade de varandas e buganvílias, telhados de zinco e funerárias. Nunca imaginei, durante a minha visita de 1935, que voltaria aqui para trabalhar e ser mais um desses homens gastos que bebem gin nos bares do centro enquanto o sol se põe no horizonte avermelhado.

Essa estada terá servido de inspiração para The Heart of the Matter, um dos seus mais importantes livros, onde encontramos alguns dos temas que lhe são caros: sexo e amor, religião e culpabilidade. Acresce que GG sempre apreciou escrever romances passados em cenários exóticos, onde ambiente exterior e forças não controláveis conjuram para fazer o protagonista perder o pé.

azuki

Etiquetas: ,

 
segunda-feira, abril 20, 2009
  A casa de banho
If you would step with me for a moment into the bathroom...


Se vissem o meu sorriso, tão maroto, a ler esta frase. A minha primeira imagem auditiva é o Let´s go outside (George Michael).

cristina_pt

Etiquetas: ,

 
  Colonização
"I hate the place. I hate the people. I hate the bloody niggers. Mustn´t call `em that, you know."
1º Cap., pg. 13
The Heart of The Matter
Graham Greene

Apesar da fantástica imagem visual dos joelhos cor de rosa de Wilson, é em Harris que me detenho. A sua frase encapsula todos os sentimentos próprios do racismo dos colonizadores. O ódio pela sua existência, devidamente moderado pela condescendência de quem se julga uma raça superior.
cristina_pt

Etiquetas: ,

 
  A primeira frase
Já sabem...é o meu ponto de partida.

Confesso que a de Greene não me impressionou. Mas volto atrás e é na sua advertência que mais me detenho: "No character in this book is based on a living person."

O cuidado de GG pede uma página e até se vê reflectido em várias das suas obras: "No character in this book is based on a living person."

GG preocupa-se que a proximidade entre a vida e ficção melindre as pessoas com quem se cruzou, em locais como os que descreve. Talvez a sua maior dificuldade seja precisamente essa, limitar-se à ficção: "No character in this book is based on a living person."

Cristina_pt

Etiquetas: ,

 
domingo, abril 19, 2009
  Tambores na Noite, de Bertolt Brecht, no TNSJ (Porto)
Um espectáculo com qualidade (pese embora encenação algo forçada e cenários que não me convenceram). O tonitruante Brecht não faz parte das minhas preferências, mas eu nunca digo que não a um bom dramaturgo… Que distância, entre a aridez da leitura no sofá e um lugar na tribuna do TNSJ!

Trata-se de um texto complexo, com enquadramento histórico muito rico, onde os tambores representam o choque da mudança entre uma civilização que acabou e uma outra que estava ainda a balbuciar (há quem entenda, aliás, que o sec. XIX desapareceu com a 1ª Grande Guerra). Julgam que estão a criar um mundo novo…. Claramente, uma mistura entre os valores do ancien regime, o drama da guerra e elementos políticos progressistas em que, todavia, o Homem ainda não acreditava. Pelo meio, um aceso antagonismo com os Expressionistas, a par da procura de um espaço estético (BB acusava Ernst Toller e outros de serem apenas palavras, bonitas e delicodoces palavras, sem substância ou traço de coragem para promover a mudança do que seria importante, como a estrutura social e o regime de propriedade). Em Tambores na Noite, encontramos uma história com um toque de romantismo e um regressado “à Frei Luís de Sousa”, o lúmpen que BB tanto apreciava (vidas de cabarés e prostituição), uma miscelânea das esquerdas (spartakistas, anarquistas,…,com Rosa Luxemburgo em destaque), o sentimento individual que a colectivização viria a anular.

O mundo está velho demais para tempos melhores. Um BB céptico?? Coisa estranha... Mas, trata-se da segunda peça de teatro de um jovem a conhecer-se e a afirmar-se. Dêmos-lhe mais uns anos e ele já não terá dúvidas.

azuki
 
sábado, abril 18, 2009
  a minha quinzena Graham Greene :)
azuki

Etiquetas: ,

 
sexta-feira, abril 17, 2009
 
Matosinhos está a festejar uma semana sobre literatura , nos encontros "A Literatura em Viagem"
Programa
(em pdf )

Programa cheio actividades interessantes. Por exemplo no Domingo 19 Abril, o público do norte tem muito por onde escolher ;

Lançamento de livros
Biblioteca Municipal Florbela Espanca
17h00 - “Para Lá da Terra de Fogo”, de Eduardo Belgrano Rawson, Quetzal; “Cabeça a Prémio”, de Marçal Aquino, Quetzal; “Os Suícidas do Fim do Mundo”, de Leila Guerriero, Quetzal; “Três Lindas Cubanas”, de Gonzalo Celório, Quetzal; “O Velho Expresso da Patagónia”, de Paul Theroux, Quetzal
Galeria Municipal
17,30h - 4ª Mesa - “Ler o mundo, viajando” Paul Theroux (EUA); Renzo Sicco (Itália); Isabel da Nóbrega; Isabel d’Ávila Winter Mod.: José Mário Silva
Cine-Teatro Constantino Nery
22,00h - “Sons da Fala”, concerto com Sérgio Godinho, Vitorino, Janita Salomé, Nancy Vieira (Cabo Verde), Guto Pires (Guiné-Bissau), Luanda Cozetti (Brasil), Juka (São Tomé e Príncipe) e André Cabaço (Moçambique)

Como antecipação de uma próxima leitura aqui do Leitura Partilhada;
Sublinhados (14 Abril) - TSF , Fernando Alves
Ouvir - A Realidade de "As vinhas da ira"

Luis Neves
 
  Graham Greene (ii)
GG teve uma adolescência problemática, marcada por problemas de depressão, ou mesmo de doença bipolar, que o perseguiram ao longo da vida (unfortunately, the disease is also one's material). Formou-se em História na Universidade de Oxford, tendo começado a carreira como jornalista. Foi um viajante incansável (Cuba, Haiti, Serra Leoa, Libéria, México, Vietname, Hong Kong, Singapura, Quénia, Polónia, França, Suiça…) e viveu vários anos no estrangeiro. Teve (ou parece que teve) uma vida sexual e/ou amorosa turbulenta (que incluiu relações várias, algumas com mulheres casadas, bem como dezenas de contactos com prostitutas, que contabilizaria numa inclassificável lista privada). Convertido ao catolicismo, num país protestante (I hand to find a religion... to measure my evil against), avesso à vida doméstica e familiar (terá dito possuir a character profoundly antagonistic to ordinary domestic life), pai de dois filhos, muito embora as crianças não fossem o seu forte (How I dislike children). De acordo com Norman Sherry, seu biógrafo oficial, GG terá continuado a reportar aos serviços secretos britânicos até ao fim, muito embora talvez nunca ninguém venha a saber se se tratava de um espião que escrevia ou de um escritor que por vezes espiava. A despeito das posições anti-americanas de GG nos últimos anos de vida, o escritor inglês Evelyn Waugh viria a assegurar que o seu amigo seria a secret agent on our side and all his buttering up of the Russians is 'cover'.
Fontes: wikipedia, entre outras

azuki

Etiquetas: ,

 
quarta-feira, abril 15, 2009
  A voz de um escritor de culto

Por agora, deixo apenas este trecho sobre o livro Brighton Rock (A Inocência e o Pecado), lido por Graham Greene na BBC em data que desconheço. Trata-se de um livro que acabei de reler há dois ou três dias. No meu caso, as obras de Greene são leitura recursiva, coisa que também acontece com as de John Le Carré, que é certamente o seu mais directo seguidor. Mais tarde tentarei partilhar aqui a leitura de «O Nó do Problema», obra da quinzena.
ams

Etiquetas: ,

 
  (Henry) Graham Greene (1904/Inglaterra–1991/Suiça)
Graham Greene (GG) é um dos mais populares escritores do sec XX, criador de uma obra fecunda (onde se incluem 60 romances e centenas de recensões de livros, filmes e peças, entre outros), aclamado mundialmente, vencedor de inúmeros prémios e honras (não tendo, contudo, logrado obter o Nobel).

Stamboul Train (1932) foi o seu primeiro sucesso (depois deste, e dado o forte sentido cinematográfico dos seus romances, outros serão adaptados ao grande ecran). Durante a 2ª Guerra Mundial, GG trabalhou para o Foreign Office, tendo sido colocado na colónia inglesa de Freetown, Serra Leoa. “A silly useless job", segundo o próprio, de que surgiu The Heart of the Matter (1948). Publicado em 1951, The End of the Affair estabelece definitivamente a sua reputação internacional, mas é The Power and the Glory (1940) aquele que o escritor considera ser o seu melhor livro.
Fontes: wikipedia, entre outras

azuki

Etiquetas: ,

 
segunda-feira, abril 13, 2009
  o céu parecia um redil de luz desenhado para encarcerá-lo
(foto minha)

A mais crua prosa sobre o Sul dos EUA revela-nos um mundo de pequenas tragédias individuais, numa atmosfera de sede. Nela, está a natureza obsidiante (calor insuportável, moscas a zumbir, sombras que progressivamente tudo engolem, caminhos de cascalho, ervas daninhas, um silêncio que esmaga) e a violência do quotidiano de gente com o coração fechado, asfixiada em preconceito e agressão, refém de uma ignorância que gera medo e desconfiança, que por sua vez dão origem à maldade e ao fanatismo. Um mundo onde os sonhos se afundam e ninguém está interessado em ouvir ninguém, e as palavras se vão perdendo por entre os insultos os filhos os conflitos o passar dos anos. Uma sociedade em que existem loucos tios-avôs que pregam para uma criança e para as árvores, e onde a Igreja não surge como um elemento pacificador, apelando à aceitação e à compaixão, mas é fúria e violência, é anti-liberdade e anti-introspecção.

Através destes relatos de vidas banais e do seu abandono, percebemos que talvez o essencial não sejam as “grandes questões” da guerra e do poder, mas a dignidade humana, a forma como os Homens se respeitam, a liberdade que desejam para as suas vidas. E a solidão e a fragilidade destas personagens ficam connosco, porque essa solidão e essa fragilidade também são as nossas.

azuki

 
terça-feira, abril 07, 2009
  as palavras vindas do Sul
Escreviam textos curtos, com o quotidiano como elemento central e a pele, a religião, a violência e a condição da mulher em fundo. Desmistificaram o Sul dos EUA e temo-las vindo a conhecer, dezenas de anos depois de terem sido abafadas por William Faulkner: Carson McCullers, Harper Lee, Flannery O’Connor, Willa Cather, Eudora Welty, Kate Chopin.
João Bonifácio, Ípsilon, 20/Fev/09



Não é preciso chegar ao fim deste assombroso livro para nos apercebermos que o desaparecimento precoce de Flannery O'Connor constitui uma enorme perda. Estamos perante uma escritora excepcional e este livro (para já, o único que lhe conheço, mas anseio pelos três restantes) parece-me obrigatório para quem tenha interesse em tocar na atmosfera opressiva do Sul dos EUA de início/meados do século vinte. Sobre este tema há, aliás, um panteão de escritores fundamentais: já aqui abordámos o ícone, William Faulkner, e em Outubro teremos Harper Lee, escritora de um único livro (que me dizem ser magnífico); destaco ainda “Coração Solitário Caçador”, de uma jovem de inacreditável maturidade chamada Carson McCullers (como é que uma mulher de vinte e tal anos escreve um livro destes?!).

Mas há mais, especialmente vozes femininas, que tão bem nos dão conta da tensão racial, da ausência de comunicação, dos podres por detrás da aparente respeitabilidade, da blasfémia e heresia, da triste subjugação da mulher, de uma sempre latente sensação de opróbrio que encurrala, da hipocrisia e da mentira daquelas pequenas cidades e vilas de um Sul profundamente evangélico, onde o comunismo era o papão e os negros de nada valiam. Estas escritoras, também elas filhas do Sul e da mentalidade do Sul (porém, milagrosamente libertas), encaram a realidade com subtileza e humor fino e os seus textos (geralmente, contos), que não abordam temas épicos mas atentam ao pormenor como se de um patchwork de fragmentos do quotidiano se tratasse, são ricos em referências raciais, questões de género e temática religiosa.

Lendo estas obras, tomando nas mãos “O Céu É Dos Violentos”, não podemos deixar de sentir como é tremenda a loucura deixada à solta e de encarar, atónitos, os estragos que provocam a tacanhez e a intolerância, com as suas vestes de maldade.

azuki
 
sábado, abril 04, 2009
 
Uma notícia sobre um Programa da RTP2 sobre literatura portuguesa , "Grandes Livros". Com o Blog do programa o Grandes Livros . Os programas são transmitidos às 6ªfeira às 21:15h.
Já passou , Os Maias , e Peregrinação (ontem).

Lista de obras para a primeira série de "Grandes Livros":
- Os Maias (Eça de Queirós)
- Os Lusíadas (Luís Vaz de Camões)
- O Delfim (José Cardoso Pires)
- Aparição (Vergílio Ferreira)
- Navegações (Sophia de Mello Breyner Andresen)
- Livro do Desassossego (Fernando Pessoa)
- Sinais de Fogo (Jorge de Sena)
- Sermão de S. Ant. aos Peixes (P. Ant. Vieira)
- Viagens na Minha Terra (Almeida Garrett)
- Mau Tempo no Canal (Vitorino Nemésio)
- Peregrinação (Fernão Mendes Pinto)
- Amor de Perdição (Camilo Castelo Branco)

Luis Neves
 
quinta-feira, abril 02, 2009
 
"Flannery O’Connor é unanimemente reconhecida como um dos expoentes máximos das letras norte-americanas do século XX. (...) nasce na Georgia, em 1925. Falece muito cedo, aos trinta e nove anos, vítima de lúpus. Deixa uma obra curta que consiste em dois volumes de contos (Um bom homem é difícil de encontrar e Tudo o que sobe deve convergir), dois romances (Sangue Sábio e O céu é dos violentos), algumas críticas, comentários e cartas. (...) Entre os muitos outros prémios literários que recebeu destacam-se os vários prémios O’Henry e a distinção, em 1972, com o National Book Award, excepcionalmente atribuído a título póstumo ao volume The complete short stories, pelo reconhecimento da importância da sua carreira literária. O Flannery O’Connor Award for Short Fiction foi criado em homenagem à autora e é um dos mais importantes prémios de conto dos Estados Unidos."

in “O Céu é dos Violentos”, de Flannery O’Connor, Cavalo de Ferro, 2008, tradução de Luís Coimbra
 
quarta-feira, abril 01, 2009
  “O Céu é dos Violentos”, de Flannery O’Connor
Publicado em 1960, O céu é dos violentos é considerado um dos marcos mais importantes da literatura contemporânea norte-americana.

Este segundo e último romance de Flannery O’Connor, narra a história de Francis Tarwater, um adolescente de catorze anos, que tenta a todo o custo escapar ao destino que lhe foi traçado desde tenra idade: seguir as pisadas do seu avô, um profeta fanático, com uma visão muito especial dos ensinamentos bíblicos.

Quando o avô de Francis morre, logo no início do romance, o rapaz renega os seus ensinamentos, pega fogo à propriedade rural onde ambos viviam e vai ao encontro do seu tio, Rayber e do filho deste, Bishop, uma criança mentalmente atrasada. No entanto, Francis descobre que a força do destino se sobrepõe à sua nova vida secular e, através de um acto de extrema violência, reconcilia-se com a verdadeira missão da sua vida.

“O Céu é dos Violentos”, de Flannery O’Connor, Cavalo de Ferro, 2008, tradução de Luís Coimbra
 

O QUE ESTAMOS A LER

(este blogue está temporariamente inactivo)

PROXIMAS LEITURAS

(este blogue está temporariamente inactivo)

LEITURAS NO ARQUIVO

"ULISSES", de James Joyce (17 de Julho de 2003 a 7 de Fevereiro de 2004)

"OS PAPEIS DE K.", de Manuel António Pina (1 a 3 de Outubro de 2003)

"AS ONDAS", de Virginia Woolf (13 a 20 de Outubro de 2003)

"AS HORAS", de Michael Cunningham (27 a 30 de Outubro de 2003)

"A CIDADE E AS SERRAS", de Eça de Queirós (30 de Outubro a 2 de Novembro de 2003)

"OBRA POÉTICA", de Ferreira Gullar (10 a 12 de Novembro de 2003)

"A VOLTA NO PARAFUSO", de Henry James (13 a 16 de Novembro de 2003)

"DESGRAÇA", de J. M. Coetzee (24 a 27 de Novembro de 2003)

"PEQUENO TRATADO SOBRE AS ILUSÕES", de Paulinho Assunção (22 a 28 de Dezembro de 2003)

"O SOM E A FÚRIA", de William Faulkner (8 a 29 de Fevereiro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. I - Do lado de Swann)", de Marcel Proust (1 a 31 de Março de 2004)

"O COMPLEXO DE PORTNOY", de Philip Roth (1 a 15 de Abril de 2004)

"O TEATRO DE SABBATH", de Philip Roth (16 a 22 de Abril de 2004)

"A MANCHA HUMANA", de Philip Roth (23 de Abril a 1 de Maio de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. II - À Sombra das Raparigas em Flor)", de Marcel Proust (1 a 31 de Maio de 2004)

"A MULHER DE TRINTA ANOS", de Honoré de Balzac (1 a 15 de Junho de 2004)

"A QUEDA DUM ANJO", de Camilo Castelo Branco (19 a 30 de Junho de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. III - O Lado de Guermantes)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2004)

"O LEITOR", de Bernhard Schlink (1 a 31 de Agosto de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. IV - Sodoma e Gomorra)", de Marcel Proust (1 a 30 de Setembro de 2004)

"UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO DOS PRAZERES" e outros, de Clarice Lispector (1 a 31 de Outubro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. V - A Prisioneira)", de Marcel Proust (1 a 30 de Novembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA", de José Saramago (1 a 21 de Dezembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ", de José Saramago (21 a 31 de Dezembro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VI - A Fugitiva)", de Marcel Proust (1 a 31 de Janeiro de 2005)

"A CRIAÇÃO DO MUNDO", de Miguel Torga (1 de Fevereiro a 31 de Março de 2005)

"A GRANDE ARTE", de Rubem Fonseca (1 a 30 de Abril de 2005)

"D. QUIXOTE DE LA MANCHA", de Miguel de Cervantes (de 1 de Maio a 30 de Junho de 2005)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VII - O Tempo Reencontrado)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2005)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2005)

UMA SELECÇÃO DE CONTOS LP (1 a 3O de Setembro de 2005)

"À ESPERA NO CENTEIO", de JD Salinger (1 a 31 de Outubro de 2005)(link)

"NOVE CONTOS", de JD Salinger (21 a 29 de Outubro de 2005)(link)

Van Gogh, o suicidado da sociedade; Heliogabalo ou o Anarquista Coroado; Tarahumaras; O Teatro e o seu Duplo, de Antonin Artaud (1 a 30 de Novembro de 2005)

"A SELVA", de Ferreira de Castro (1 a 31 de Dezembro de 2005)

"RICARDO III" e "HAMLET", de William Shakespeare (1 a 31 de Janeiro de 2006)

"SE NUMA NOITE DE INVERNO UM VIAJANTE" e "PALOMAR", de Italo Calvino (1 a 28 de Fevereiro de 2006)

"OTELO" e "MACBETH", de William Shakespeare (1 a 31 de Março de 2006)

"VALE ABRAÃO", de Agustina Bessa-Luis (1 a 30 de Abril de 2006)

"O REI LEAR" e "TEMPESTADE", de William Shakespeare (1 a 31 de Maio de 2006)

"MEMÓRIAS DE ADRIANO", de Marguerite Yourcenar (1 a 30 de Junho de 2006)

"ILÍADA", de Homero (1 a 31 de Julho de 2006)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2006)

POESIA DE ALBERTO CAEIRO (1 a 30 de Setembro de 2006)

"O ALEPH", de Jorge Luis Borges (1 a 31 de Outubro de 2006) (link)

POESIA DE ÁLVARO DE CAMPOS (1 a 30 de Novembro de 2006)

"DOM CASMURRO", de Machado de Assis (1 a 31 de Dezembro de 2006)(link)

POESIA DE RICARDO REIS E DE FERNANDO PESSOA (1 a 31 de Janeiro de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 28 de Fevereiro de 2007)

"O VERMELHO E O NEGRO" e "A CARTUXA DE PARMA", de Stendhal (1 a 31 de Março de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 30 de Abril de 2007)

"A RELÍQUIA", de Eça de Queirós (1 a 31 de Maio de 2007)

"CÂNDIDO", de Voltaire (1 a 30 de Junho de 2007)

"MOBY DICK", de Herman Melville (1 a 31 de Julho de 2007)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2007)

"PARAÍSO PERDIDO", de John Milton (1 a 30 de Setembro de 2007)

"AS FLORES DO MAL", de Charles Baudelaire (1 a 31 de Outubro de 2007)

"O NOME DA ROSA", de Umberto Eco (1 a 30 de Novembro de 2007)

POESIA DE EUGÉNIO DE ANDRADE (1 a 31 de Dezembro de 2007)

"MERIDIANO DE SANGUE", de Cormac McCarthy (1 a 31 de Janeiro de 2008)

"METAMORFOSES", de Ovídio (1 a 29 de Fevereiro de 2008)

POESIA DE AL BERTO (1 a 31 de Março de 2008)

"O MANUAL DOS INQUISIDORES", de António Lobo Antunes (1 a 30 de Abril de 2008)

SERMÕES DE PADRE ANTÓNIO VIEIRA (1 a 31 de Maio de 2008)

"MAU TEMPO NO CANAL", de Vitorino Nemésio (1 a 30 de Junho de 2008)

"CHORA, TERRA BEM-AMADA", de Alan Paton (1 a 31 de Julho de 2008)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2008)

"MENSAGEM", de Fernando Pessoa (1 a 30 de Setembro de 2008)

"LAVOURA ARCAICA" e "UM COPO DE CÓLERA" de Raduan Nassar (1 a 31 de Outubro de 2008)

POESIA de Sophia de Mello Breyner Andresen (1 a 30 de Novembro de 2008)

"FOME", de Knut Hamsun (1 a 31 de Dezembro de 2008)

"DIÁRIO 1941-1943", de Etty Hillesum (1 a 31 de Janeiro de 2009)

"NA PATAGÓNIA", de Bruce Chatwin (1 a 28 de Fevereiro de 2009)

"O DEUS DAS MOSCAS", de William Golding (1 a 31 de Março de 2009)

"O CÉU É DOS VIOLENTOS", de Flannery O´Connor (1 a 15 de Abril de 2009)

"O NÓ DO PROBLEMA", de Graham Greene (16 a 30 de Abril de 2009)

"APARIÇÃO", de Vergílio Ferreira (1 a 31 de Maio de 2009)

"AS VINHAS DA IRA", de John Steinbeck (1 a 30 de Junho de 2009)

"DEBAIXO DO VULCÃO", de Malcolm Lowry (1 a 31 de Julho de 2009)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2009)

POEMAS E CONTOS, de Edgar Allan Poe (1 a 30 de Setembro de 2009)

"POR FAVOR, NÃO MATEM A COTOVIA", de Harper Lee (1 a 31 de Outubro de 2009)

"A ORIGEM DAS ESPÉCIES", de Charles Darwin (1 a 30 de Novembro de 2009)

Primeira Viagem Temática BLOOMSDAY 2004

Primeira Saí­da de Campo TORMES 2004

Primeira Tertúlia Casa de 3 2005

Segundo Aniversário LP

Os nossos marcadores

ARQUIVO
07/01/2003 - 08/01/2003 / 08/01/2003 - 09/01/2003 / 09/01/2003 - 10/01/2003 / 10/01/2003 - 11/01/2003 / 11/01/2003 - 12/01/2003 / 12/01/2003 - 01/01/2004 / 01/01/2004 - 02/01/2004 / 02/01/2004 - 03/01/2004 / 03/01/2004 - 04/01/2004 / 04/01/2004 - 05/01/2004 / 05/01/2004 - 06/01/2004 / 06/01/2004 - 07/01/2004 / 07/01/2004 - 08/01/2004 / 08/01/2004 - 09/01/2004 / 09/01/2004 - 10/01/2004 / 10/01/2004 - 11/01/2004 / 11/01/2004 - 12/01/2004 / 12/01/2004 - 01/01/2005 / 01/01/2005 - 02/01/2005 / 02/01/2005 - 03/01/2005 / 03/01/2005 - 04/01/2005 / 04/01/2005 - 05/01/2005 / 05/01/2005 - 06/01/2005 / 06/01/2005 - 07/01/2005 / 07/01/2005 - 08/01/2005 / 08/01/2005 - 09/01/2005 / 09/01/2005 - 10/01/2005 / 10/01/2005 - 11/01/2005 / 11/01/2005 - 12/01/2005 / 12/01/2005 - 01/01/2006 / 01/01/2006 - 02/01/2006 / 02/01/2006 - 03/01/2006 / 03/01/2006 - 04/01/2006 / 04/01/2006 - 05/01/2006 / 05/01/2006 - 06/01/2006 / 06/01/2006 - 07/01/2006 / 07/01/2006 - 08/01/2006 / 08/01/2006 - 09/01/2006 / 09/01/2006 - 10/01/2006 / 10/01/2006 - 11/01/2006 / 11/01/2006 - 12/01/2006 / 12/01/2006 - 01/01/2007 / 01/01/2007 - 02/01/2007 / 02/01/2007 - 03/01/2007 / 03/01/2007 - 04/01/2007 / 04/01/2007 - 05/01/2007 / 05/01/2007 - 06/01/2007 / 06/01/2007 - 07/01/2007 / 07/01/2007 - 08/01/2007 / 08/01/2007 - 09/01/2007 / 09/01/2007 - 10/01/2007 / 10/01/2007 - 11/01/2007 / 11/01/2007 - 12/01/2007 / 12/01/2007 - 01/01/2008 / 01/01/2008 - 02/01/2008 / 02/01/2008 - 03/01/2008 / 03/01/2008 - 04/01/2008 / 04/01/2008 - 05/01/2008 / 05/01/2008 - 06/01/2008 / 06/01/2008 - 07/01/2008 / 07/01/2008 - 08/01/2008 / 08/01/2008 - 09/01/2008 / 09/01/2008 - 10/01/2008 / 10/01/2008 - 11/01/2008 / 11/01/2008 - 12/01/2008 / 12/01/2008 - 01/01/2009 / 01/01/2009 - 02/01/2009 / 02/01/2009 - 03/01/2009 / 03/01/2009 - 04/01/2009 / 04/01/2009 - 05/01/2009 / 05/01/2009 - 06/01/2009 / 06/01/2009 - 07/01/2009 / 07/01/2009 - 08/01/2009 / 08/01/2009 - 09/01/2009 / 09/01/2009 - 10/01/2009 / 10/01/2009 - 11/01/2009 / 11/01/2009 - 12/01/2009 / 03/01/2010 - 04/01/2010 / 04/01/2010 - 05/01/2010 / 07/01/2010 - 08/01/2010 / 08/01/2010 - 09/01/2010 / 09/01/2010 - 10/01/2010 / 05/01/2012 - 06/01/2012 /


Powered by Blogger

Web Pages referring to this page
Link to this page and get a link back!