Leitura Partilhada
quinta-feira, junho 25, 2009
  A Mãe Joad, a força unificadora da família
" - Eu sei, mas nem reparo nas terras. Só vejo os salgueiros lá da nossa casa, com as folhas a caírem. Às vezes, dá-me para pensar que tenho de consertar aquele velho buraco da cerca, do lado sul. E engraçado! A mulher a dar ordens à família! A mulher a dizer que se vai fazer isto, que é preciso ir para acolá... E eu nem sequer me ralo com isso.
- As mulheres acostumam-se mais depressa que os homens - disse a mãe, para o consolar. Uma mulher tem a vida toda nos braços; o homem tem-na na cabeça. Não te preocupes. Quem sabe?... talvez para o ano já a gente possa ter a nossa casinha.
- Mas, por enquanto, não temos nada - replicou o pai. - E daqui até lá, nem trabalho nem colheitas... O que é que a gente há-de fazer? E como é que vamos arranjar que comer? E não se esqueçam de que a Rosasharn vai ter o menino não tarda muito. Estou tão desgostoso que me sinto incapaz de pensar. Refugio-me nos tempos antigos para não pensar no futuro. Acho que a nossa vida já deu o que tinha a dar; é coisa liquidada.
- Nada disso - argumentou a mãe, sorrindo.- Não é não, pai. E isto é mais uma das coisas de que uma mulher tem a certeza. já reparei nisso. O homem vive como se desse saltos... nasce uma criança e morre um homem, e é como se fosse um salto; arranja uma territa; perde a territa, e é outro salto. Para a mulher tudo corre sem parar, como um rio cheio de remoinhos e de cascatas, mas correndo sem parar. É assim que a mulher encara a vida. A gente não morre, a gente continua... muda, talvez, um pouco, mas continua sempre firme.
- Como é que sabes isso? - perguntou o tio John. - Como é que se pode evitar que as coisas parem e que as pessoas se cansem e queiram fechar os olhos?
A mãe pôs-se a meditar. Esfregou o dorso luzidio de uma das mãos com a palma da outra, e encaixou os dedos da mão direita nos da esquerda.
- Isso é difícil de explicar - continuou. - Parece-me que tudo que a gente faz deve ter continuação. Eu penso assim. Mesmo a fome... mesmo a doença. Alguns morrem, mas os que ficam tornam-se mais fortes. O que vocês têm de fazer é viver somente o dia de hoje, o dia a dia. "

As vinhas da ira, capítulo XXVIII

A Mãe é a personagem do livro que tem mais força e coragem e que mostra à sua família como se tem de resistir às difíceis provações. É a força de união da família Joad, a pessoa que assume as decisões fundamentais para a sobrevivencia da familia. A Mãe tem uma força admirável e tem sempre uma grande ternura para a família.
Talvez como Steinbeck diz nesta passagem do livro, por as mulheres terem uma maior capacidade de se adaptarem a condições difíceis e por terem uma grande resistência psicológica, que os homens nesta história não têm.

Deixo aqui um poema do Nuno Júdice que encontrei no Blog A a Z ,
que nos dá uma visão da importancia da Mulher na vida rural.

Luta de classes - O campesinato
A chave do campo está na mão das mulheres
que o lavraram, desfazendo os nós do inverno
com a exactidão da pá. Vi estas mulheres no
grande caminho da História, perdendo as suas
vidas em cada nova colheita. O sol tisnou
a sua pele; o frio enrugou os seus rostos. À
noite, quando o vento batia nas janelas
de madeira, os seus olhos atravessavam
a treva e perdiam-se em destinos que
não conheciam, como se tivessem outra
saída. Ouvi as suas queixas no murmúrio
das árvores que as abrigaram; e vi os
seus corpos deitados nas igrejas, sem
ninguém que os velasse, a caminho da vala
comum. Amei-as, sem que o soubessem;
e ouço o ruído das pás na terra, quando os
seus rostos me atravessam a memória,
e o inverno cai sobre a lama dos campos.

Luis Neves

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