Leitura Partilhada
sexta-feira, novembro 30, 2007
 
outras conclusões




Filosofia natural – Guilherme demonstrou que os pequenos serão sempre vítimas: dir-te-ei que um dia os cães grandes, o papa e o imperador, para fazerem a paz, passarão sobre o corpo dos cães mais pequenos que se encarniçaram ao seu serviço.
p. 399

RelíquiasFragmentos de cruz vi muitos outros, noutras igrejas. Se todos fossem autênticos, Nosso Senhor não teria sido supliciado sobre duas hastes cruzadas, mas sobre uma floresta inteira. p 417
Está tudo dito, como é costume dizer-se agora.

Formular hipóteses, p. 444 – Aprender a.

Atentar na tradução e reflectir sobre a palavra desfolhar - No encontro final de Jorge com Guilherme, não deixa de causar perplexidade a fala do monge cego que incentiva Guilherme a folhear o livro proibido. – Lê, então, desfolha, Guilherme – disse Jorge – Ganhaste.p 462.
Quem desfolha é mesmo Jorge que arranca os fólios para os devorar literalmente.
Mensagem à DIFEL, - Difusão Editorial Lda: Rever a palavra desfolhar em futuras edições.

O titulo O Nome da Rosa teria sido inspirado no Roman de la Rose:
"Le nom de la Rose" (titre) est aussi une référence à un très grand succès littéraire du Moyen Âge dont le début est ésotérique et la suite satirique, le Roman de la Rose. Fonte Wikipédia


Não declinei a rosa mas dei sentidos à rosa, afinal rosa é apenas um nome e como diz Adso no fim: stat rosa pristina nomine, nomina nuda tenemus (a rosa antiga permanece no nome, nada temos além dos nomes).

Uma rosa, então, para quem acompanhou este mês o Leitura Partilhada.

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laerce
 
quinta-feira, novembro 29, 2007
 
conclusões 1



A figura de Jorge de Burgos parece ter sido inspirada em Jorge Luís Borges. Faz todo o sentido por razões óbvias. Mas há um momento exemplar, no final do livro, que mostra a grande diferença entre o modelo e a personagem. Referindo-se ao enlouquecido ex-bibliotecário ‘desfigurado pelo ataque de veneno que lhe serpenteava abundantemente nas veias’, Guilherme vê nele o Anticristo:

O Anticristo pode nascer da própria piedade, do excessivo amor de Deus ou da verdade, como o herege nasce do santo e o endemoninhado do vidente.’
p. 485


foto: Capela dos Ossos, Évora

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laerce
 
quarta-feira, novembro 28, 2007
 
as lições do mestre



Para todas as certezas de Adso, o mestre Guilherme de Baskerville encarregava-se de lançar a dúvida, desenvolvendo dessa forma o espírito crítico, algo complicado naquele mundo de certezas tão falsamente fundamentadas. A história do unicórnio é uma ternura que o mestre vai desfazendo com cuidado para não machucar o pupilo nem destruir a fábula.

- Mas o unicórnio é uma mentira? É o animal de uma grande doçura e altamente simbólico.[…]
-Assim se diz Adso. Mas muitos inclinam-se a pensar que é uma invenção fabulosa dos pagãos.
p.312

foto: La Dame à la Licorne (detalhe) Musée du Moyen Âge, Paris

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laerce
 
terça-feira, novembro 27, 2007
 
a minha opinião, se me permitem

O Nome da Rosa foi para mim um dos livros cuja leitura mais prazer me deu. Na verdade, já o li algumas vezes, como outros de Umberto Eco, aliás. O autor não faz grandes malabarismos com a linguagem, não produz figuras engenhosas e alucinantes como os grandes criadores literários que deixam bocados de frases, ou frases inteiras, na memória até que a memória dure; alguns livros como A Ilha do Dia Antes são um autêntico labirinto em termos de trama narrativa, no entanto, tudo neste narrador parece ser de confiança. O domínio do enredo, o acordo tácito com o leitor como se um diálogo mudo perpassasse ao longo da narrativa: agora escondo, agora revelo para te entreter, leitor, para te despertar, para te envolver, benévolo, atento, caro leitor. E nesse jogo, um saber enciclopédico vai fluindo pela magia da palavra honesta e curiosa. Nada tem mais importância, nem a pressão de temas vendáveis nos escaparates das livrarias, nem mesmo o peso académico da literatura enquanto ciência que subjaz ao nome do autor.
Por isso, O Nome da Rosa é uma obra obrigatória em qualquer biblioteca. Fica bem com o leitor à lareira e com o leitor de bermudas. Uma boa prenda de Natal, quero dizer.


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laerce
 
segunda-feira, novembro 26, 2007
 
para meditar

Há palavras que dão poder, outras que tornam uma pessoa ainda mais desamparada, e desta espécie são as palavras vulgares dos simples, a quem o Senhor não concedeu saberem exprimir-se na língua universal da sabedoria e do poder.
p.327
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laerce
 
domingo, novembro 25, 2007
 
sur le pont d'avignon



Muitas perguntas se colocam na relação da religião católica com a sua própria doutrina. Para além dos dogmas da Santíssima Trindade, ou da Virgindade de Maria, entre outros, a retórica da Igreja teve de resolver dois problemas básicos para a sua afirmação no seio da Europa e do mundo ocidental. Um deles foi a questão da guerra, o outro foi a pobreza de Cristo. Da guerra, que não é tema na obra que estamos a ler, a solução do dilema passou pelas cruzadas: a chamada guerra santa. Da pobreza, passou pela necessidade de ombrear com os estados mais poderosos, pela ganância também. Para se ditar leis, ontem como hoje, é preciso ter força. A força das armas, a força do dinheiro, a força das maiorias. Não deixa de ser interessante conhecer melhor o papa João XXII. Ele é sempre falado ao longo de O Nome da Rosa.


foto: wikipédia

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laerce
 
sexta-feira, novembro 23, 2007
 
onde nascem os sábios



Reflectir sobre a mudança na forma de aquisição de saberes e na alteração de mentalidades, por vezes à mistura com ideias de degradação de valores fundamentais, é um discurso transversal a todas as épocas. Guilherme de Baskerville não lhe escapa. Para ele, um sábio naquele tempo já não era necessariamente um monge e a língua em que essa mesma sabedoria se espalhava podia muito bem não ser o latim, mas uma língua vulgar. Curiosamente, o exemplo que Guilherme dá para essa reflexão é uma das mais importantes figuras renascentistas, Dante Alighieri, o divino pai da língua da Itália moderna.


"Hoje já não é assim, nascem sábios fora dos mosteiros, e das catedrais, e até das universidades. Vê por exemplo neste país, o maior filósofo do nosso século não foi um monge, mas um boticário. Falo daquele florentino cujo poema deves ter ouvido nomear, que eu nunca li porque não compreendo o seu vulgar."p. 202



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laerce


 
quinta-feira, novembro 22, 2007
 

animal



Tal como diante do pórtico da abadia, o momento em que Adso vislumbra a figura feminina na cozinha do mosteiro permite-lhe a descrição detalhada, apesar da penumbra, não só dos atributos físicos da mulher mas também das turbulentas sensações que o levariam ao ‘pecado da carne’. Não sendo, para mim, um trecho de particular beleza literária, não posso deixar de salientar algumas expressões que retirei do conjunto desta tão viva representação, ou hipotipose, reveladora do ‘cavalo à solta’* ou do ‘instante da loucura’*.

“Era pois uma mulher. Que digo, uma rapariga. […] Não era uma visão […] a sua cabeleira surgiu-me como um rebanho de cabras, os seus dentes como rebanhos de ovelhas. […] A criatura aproximou-se de mim […] e emitiu um gemido de cabra enternecida […] e os seus seios me surgiram como dois veados”pp. 240, 241, 242


*do poema de Ary dos Santos


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laerce
 
  este livro poderia ensinar que libertar-se do medo do diabo é sapiência
Jerónimos

Jorge sabia de uma forma fácil e eficaz de preservar o poder sobre os demais: dificultar-lhes o acesso ao conhecimento. A leitura e o estudo conduzem à reflexão e instigam a curiosidade, levando-nos a julgar por nós próprios e a desejar ir mais além, o que não é nada saudável para quem deve saber aceitar e contentar-se com pouco. Nesse processo, encontrava dois grandes adversários que urgia anular: Aristóteles e a sua obra sobre a comédia, a sátira e o mimo. - Mas no dia em que a palavra do Filósofo justificasse os jogos marginais da imaginação desregrada, oh, então, verdadeiramente, aquilo que estava à margem saltaria para o centro, e do dentro perder-se-ia qualquer rasto. O riso é um desvio da atenção para o que é realmente importante: a humildade e a obediência, o recato e o silêncio, a penitência e a oração. Tudo o que é gozo põe o mundo de pernas para o ar, funcionando como que um desafio que desrespeita os desígnios da criação. Jorge tinha a perfeita noção de que o riso é arma de luta contra o medo. E foi por via do medo e da culpa que a Igreja manteve a sua ascendência sobre os Homens durante todos estes séculos.

- E deste livro poderia nascer a nova e destruidora aspiração a destruir a morte através da libertação do medo. E que seríamos nós, criaturas pecadoras, sem o medo, talvez o mais próvido e afectuoso dos dons divinos?

azuki
 
terça-feira, novembro 20, 2007
 
o princípio da heresia

Bento XVI clama por mais substância e menos floreado nos caminhos da fé. A mensagem é clara. Agora como em tempos outros, por exemplo, na Idade Média, nem sempre o caminho oficial é o escolhido. Muitos outros surgem aos olhos de quem quer ver. Segui-los é uma questão de sabedoria ou de fanatismo, conforme a perspectiva.
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laerce
 
segunda-feira, novembro 19, 2007
  Panfletos de pedra
Pórtico da Catedral de EstrasburgoA morte, os monstros, o bestiário, toda a iconografia do julgamento e do castigo representada principalmente nas catedrais, constituía também um panfleto político, propaganda da cerca teológica que ajudava a manter hordas de seres humanos em servidão. E o paraíso, nessa ideologia, servia para justificar uma existência de escravos. Porque a mole humana tinha de ser controlada e enquadrada no processo de produção, precisava ser convencida que à sujeição no presente sobreviveria a liberdade sem fim. E que, pelo contrário, à revolta sobreviveria a perdição e tortura eternas.
Os pórticos (repare-se como são estratificados), com o Juízo, além de divulgarem os horrores do inferno, definiam os lugares no céu. O que está em cima é igual ao que está em baixo. E não apenas no sentido Hermético. Também na representação social.
Apesar disso, em pleno gótico, a “revolução” começava o seu caminho. Os franciscanos avançavam suas ideias igualitárias “dentro” do sistema social (os Cátaros, e outros, tentaram-no “por fora” e não tiveram sucesso).
Esta é uma perspectiva possível para seguir as discussões teológicas da época relatadas n’O Nome da Rosa.


P.S.: Que pórticos controlam hoje a mole humana?
paulo
 
 
Que podemos esperar de um romancista que é um teórico da literatura? Que construa o seu romance com ‘conhecimento de causa’, digamos assim.
Não é difícil descobrir, nas reflexões de Adso ou nas intervenções das personagens, vocábulos que remetem para as técnicas de encarecimento da narrativa. Hipotipose (p.76); entimema (p.90); antístrofe (p.116); epítome (p.190) são alguns dos termos que por ali andam, misturados com a pobreza e a riqueza, o riso e a sisudez, a ortodoxia e a heterodoxia dos monges, do papa, do império, dos homens.

Nota. Na ânsia que o corrector automático instalado no pc tem de me corrigir, substitui o entimema pelo enfisema, olha-me este!
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laerce
 
sexta-feira, novembro 16, 2007
 
Fascinado com o românico, por ser o triunfo dos símbolos. O valor do portal reassume aqui um forte rito de passagem. Consigo estar horas a olhar para a os seus portais, capiteis e arcadas. Neles se desenvolvem cenas historiadas, simbologia envolvendo catecismo, o conflito entre o bem e o mal, relacionado com o Juízo Final, narrações morais com a descrição dos vícios e virtudes, bestiário incrível , kama sutras medievos e sempre a morte, o Apocalipse, como tema de redenção ou castigo. A vida na idade média é um confronto directo e permanente com a cessação do corpo terreno. Ao contrario de hoje, que no nosso rodopio vertiginoso, passamos por ela com indiferença, a Idade Média vivia da morte. As pessoas sentiam terror físico, existencial, mas era sobretudo o modo como resolviam a sua extinção, sob o ponto de vista religioso que dominava toda a mentalidade. Assim sendo, todos os moribundos (que no fundo somos todos) se lhes estaria destinada a misericórdia do Céu ou, pelo contrário, o tormento do Inferno. É também isto que me parece divisar na grandiosa descrição do portal do Nome da Rosa. A importância da morte também perpassa ao longo do romance. Esta é apenas uma, entre muitas abordagens, deste notável romance.
Castela

 
quinta-feira, novembro 15, 2007
 
Guilherme dizia mais ou menos isto: "a única evidência que aqui vi do Diabo é o desejo que todos têm que ele actue".

A propósito, as Escrituras são bem claras: a mulher e o Diabo confundem-se.
Já agora, porque não um Satã feminino?

azuki
 
  poder
Sendo riquíssimo em temas, como diz a laerce, neste livro sobressai, do meu ponto de vista, a palavra poder. Poder de quem mantém os demais na obscuridade. Poder de quem insufla nos outros medo e culpa. Lutas de/pelo poder: desde a conflitualidade pela sucessão na abadia, à guerra entre Roma e Avinhão, desde o confronto entre o Imperador e o Papa, à rivalidade entre as diversas ordens monásticas. A luta contra as heresias é a preservação da ortodoxia da Igreja. A rejeição da pobreza de Cristo é a defesa da riqueza, logo, do poder. A posse do conhecimento, pela qual existem encarniçadas lutas e mortes em cadeia, é o mais alto grau de poder.

azuki
 
quarta-feira, novembro 14, 2007
 
ervas


É possível escalonar as personagens em três grupos distintos: as que não sabem, as que sabem e as assim assim. As que não sabem são apenas figurantes, as que sabem continuarão a saber até que a morte as separe, as assim assim são mesmo o ‘elo mais fraco’, o atrito, a acção, o motor. Sem elas o número sete continuava a ser mágico, mas não tinha a mesma emoção.

Agrada-me a figura do ervanário Severino. Ele representa a segurança da porção certa para um determinado fim, digamos, curativo. Porém, não é só o ervanário que dá cartas no conhecimento dos efeitos das ervas.
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laerce
 
terça-feira, novembro 13, 2007
 
o bem e o mal







Jorge de Burgos é a prova de que o saber não torna necessariamente as pessoas melhores. Até que ponto a sabedoria pode tocar o intelecto sem o converter num instrumento do mal? Guilherme de Baskerville conhecia esses perigos e como ex-inquisidor dominava as estratégias de ‘extorsão’ da verdade. Com ele, os enigmas tinham respostas, o seu saber experimental confirmava a presença de Deus em tudo, mas também mostrava que passar o limite leva ao precipício. O duelo já está todo ali, no primeiro encontro, primeiro dia, no scriptorium.


foto: allposters

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laerce
 
segunda-feira, novembro 12, 2007
  livros perigosos
O Nome da Rosa é sobre livros. Livros perigosos. Livros que contêm ideias que podem levar-nos a duvidar… Para quê a inquietude da filosofia e da ciência, quando temos o conforto do dogma? Para quê o individualismo, quando podemos seguir o exemplo da autoridade? Para quê pensar, quando tudo o que desejamos e devemos conhecer nos é transmitido por quem sabe? Não há progresso na história do conhecimento, mas apenas uma contínua e sublime recapitulação.

Os livros não se guardam a sete chaves por serem frágeis ou valiosos, mas porque são perigosos. Todos deveriam poder ter acesso aos livros, mas o conhecimento é algo subversivo. E os defendores do statu quo detestam a subversão.

azuki
 
sábado, novembro 10, 2007
 
da minha colecção de narradores

A quantidade de temas sobre os quais nos podemos deter neste livro é de tal forma preciosa que corremos o risco de passar Novembro a falar apenas do primeiro dia, dos sete que Adso se propôs relatar. Desde a abdução como técnica de construção do romance policial (afinal o aspecto que abriu o caminho da ‘massificação’ da obra, bem visível nas sucessivas reedições), passando pela arquitectura, pela pintura, pela escultura, pela vida monástica, pelas heresias,até à discussão sobre pobreza de Cristo, tudo pode ser pretexto para boas discussões.

Adso é um excelente observador. Com ele tudo ganha cor, vida e significado. Veja-se a descrição do conjunto arquitectónico, os detalhes coloridos do pórtico da igreja e muito mais. Adso repõe o valor extraordinário que a Idade Média tem dentro da história do desenvolvimento do pensamento ocidental.
Para além disso, Adso também é um bom ouvinte. É pelos seus ouvidos que tomamos conhecimento da riqueza que se esconde na biblioteca:

- Sei que tem mais livros que qualquer outra biblioteca cristã. Sei que ao lado dos vossos os armaria de Bobbio, ou de Pomposa , de Cluny ou de Fleury parecem o quarto de uma criança que mal se tenha iniciado no ábaco…
p.39


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laerce
 
sexta-feira, novembro 09, 2007
 
o mestre




- O doutor de Aquino [...] não temeu demonstrar unicamente com a força da razão a existência do Altíssimo,remontando de causa em causa à causa primeira não causada.
p. 34



foto: Convento de Cristo, Tomar.

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laerce
 
quinta-feira, novembro 08, 2007
 
manual de instruções



Vendo bem, deve ter sido fácil a Guilherme de Baskerville interpretar aquela primeira morte. A conjugação da tempestade, do granizo, dos fortes ventos e do sangue, não era estranha. Bastava relembrar o Apocalipse. Mas, às vezes, as coisas mais fáceis são as mais difíceis.

O primeiro anjo tocou a trombeta. Saraiva e fogo, misturados com sangue, foram lançados sobre a terra; queimou-se uma terça parte da terra, a terça parte das árvores e também toda a erva verde.
Ap. 8, 7


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laerce
 
quarta-feira, novembro 07, 2007
 
obrigação versus transgressão

As bibliotecas actuais programam as suas actividades com objectivos claros de captar frequentadores optimizando os espaços com acções diversificadas para provar que há vida lá dentro. Acompanham a corrente oficial que tenta diminuir a iliteracia endémica revelada sistematicamente em estudos e relatórios. Tudo isto é meritório, mesmo obrigatório, e fica bem mostrar à Europa cujo rosto, diz Pessoa, é Portugal. No entanto, não deixa de ser curioso notar que esta abertura pode corresponder ainda a um maior desinteresse pela leitura.
Em O Nome da Rosa, ler é um acto de transgressão que se paga muito caro. Um certo livro, é verdade, mas não é sempre o livro proibido que dá mais vontade de ler? Por isso proponho que as bibliotecas passem a ter um top ten de livros...proibidos. Cuidando naturalmente de se conhecer a saúde mental do bibliotecário, não vá uma junta médica...bem.






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laerce
 
  coisas de encantar
Possuo a quinta. A quinta edição... Com as partes em latim e tudo (que não estou habilitada a perceber, mas isso não interessa nada). E esta é a minha primeira leitura. A primeira leitura da quinta edição d’O Nome da Rosa. Xiiiii, há quantos anos vive este livro nas minhas estantes... O tempo que demorei a abrir uma obra onde, nas palavras da laerce, “vem algo ligado à Bíblia e ao riso e Aristóteles, bibliotecas, empirismo, ordens religiosas, copistas...maravilha!”. Sim, laerce, é verdadeiramente uma maravilha e tens toda a razão quando dizes que Umberto Eco “tem uma natural apetência para transformar os grandes temas que tocam o ser humano em coisas de encantar”. Além disso, como resistir a alguém sábio, corajoso, sensato, curioso, inteligente, íntegro, rigoroso e com cara de Sean Connery?!

azuki
 
terça-feira, novembro 06, 2007
 
conta, conta





“Porque esta é uma história de livros”, diz o narrador. Vá, conta, conta, pensa o leitor.

Não, ainda não. Antes é preciso saber que “ o manuscrito de Adso está dividido em sete dias e cada dia em períodos correspondentes às horas litúrgicas”. Com este mapa, podemos começar.


foto: Tomar

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laerce
 
segunda-feira, novembro 05, 2007
 
antes do manuscrito, naturalmente

Num clima mental de grande excitação, eu lia, fascinado, a terrível história de Adso de Melk.

Nada como falar de si para envolver emocionalmente os outros naquilo que se vai contar.

Esta estratégia é outra modalidade de captatio benevolentiae, uma forma de ganhar a simpatia do leitor.


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laerce
 
domingo, novembro 04, 2007
 
palimpsesto



Que mentiras escondem os livros? O que procuro num livro que remete para outro livro, para um manuscrito, para outro livro que está guardado numa biblioteca acessível apenas a alguns? Saberei ler os sinais? Decifrar os códigos? Chegar à verdade? Ou apenas quero cumprir o meu papel de benévola leitora e deixar-me guiar pela sabedoria ou ignorância do narrador, eco de outro e outro narrador?

E, como hoje é domingo, fica bem aqui uma rosa, nome comum, contável, neste caso, no plural. Coloridas em tons claros, assim as leio.

foto: Jardim das mil rosas, Viena.

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laerce
 
sábado, novembro 03, 2007
 
heresias do século XX - a obra aberta






Na avaliação de Umberto Eco, as motivações para a poética da obra aberta podem ser encontradas nas teorias da relatividade, na física quântica, na fenomenologia, no desconstrucionismo, entre outras. Essas teorias científicas e essas correntes filosóficas modernas promovem uma espécie de "descentralização", de ampliação dos horizontes imagináveis para a concepção da realidade. Nesse sentido, diante do reconhecimento de que as poéticas clássicas não são mais capazes de lidar com a pluralidade de sentidos do mundo, nem tampouco com o seu caráter multifacetado, os artistas da obra aberta lançam-se na busca de uma linguagem artística capaz de promover esse sentimento de descentralização e pluralidade.

Naturalmente, este conceito gerou inúmeras interpretações e apreciações equivocadas ou levianas: alguns viram aí uma postura de acordo com a qual não há limites para a interpretação de um texto ou obra, ou que uma obra pode, em princípio, levar a quaisquer interpretações. Mais tarde, Eco tratou de corrigir o equívoco, dedicando-se ao tema da cooperação interpretativa e os limites da interpretação, durante as décadas de 1980 e 1990.
(excertos com supressões)
fonte

foto: Abby of Melk
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laerce
 
sexta-feira, novembro 02, 2007
 
eco e eco

Uma pesquisa rápida na rede dá-nos as coordenadas para chegar a Umberto Eco. Conhecido devido a obras de grande aceitação pública, não deixa de ser importante referir o lugar que ocupa no domínio dos estudos literários. A obra Lector in fabula será uma das mais marcantes dessa outra vertente do conhecido estudioso. Aí o autor sustenta a tese segundo a qual os textos são máquinas preguiçosas que necessitam a todo o momento da cooperação dos leitores*. De acordo com essa teoria, O Nome da Rosa é uma dessas máquinas sempre à espera de leitores que lhe actualizem sentidos.

*Da Wikipédia
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laerce
 
quinta-feira, novembro 01, 2007
 
declinar a rosa* em novembro



foto daqui


Umberto Eco e O Nome da Rosa


*rosa, rosa, rosam, rosae, rosae, rosa.

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laerce

 

O QUE ESTAMOS A LER

(este blogue está temporariamente inactivo)

PROXIMAS LEITURAS

(este blogue está temporariamente inactivo)

LEITURAS NO ARQUIVO

"ULISSES", de James Joyce (17 de Julho de 2003 a 7 de Fevereiro de 2004)

"OS PAPEIS DE K.", de Manuel António Pina (1 a 3 de Outubro de 2003)

"AS ONDAS", de Virginia Woolf (13 a 20 de Outubro de 2003)

"AS HORAS", de Michael Cunningham (27 a 30 de Outubro de 2003)

"A CIDADE E AS SERRAS", de Eça de Queirós (30 de Outubro a 2 de Novembro de 2003)

"OBRA POÉTICA", de Ferreira Gullar (10 a 12 de Novembro de 2003)

"A VOLTA NO PARAFUSO", de Henry James (13 a 16 de Novembro de 2003)

"DESGRAÇA", de J. M. Coetzee (24 a 27 de Novembro de 2003)

"PEQUENO TRATADO SOBRE AS ILUSÕES", de Paulinho Assunção (22 a 28 de Dezembro de 2003)

"O SOM E A FÚRIA", de William Faulkner (8 a 29 de Fevereiro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. I - Do lado de Swann)", de Marcel Proust (1 a 31 de Março de 2004)

"O COMPLEXO DE PORTNOY", de Philip Roth (1 a 15 de Abril de 2004)

"O TEATRO DE SABBATH", de Philip Roth (16 a 22 de Abril de 2004)

"A MANCHA HUMANA", de Philip Roth (23 de Abril a 1 de Maio de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. II - À Sombra das Raparigas em Flor)", de Marcel Proust (1 a 31 de Maio de 2004)

"A MULHER DE TRINTA ANOS", de Honoré de Balzac (1 a 15 de Junho de 2004)

"A QUEDA DUM ANJO", de Camilo Castelo Branco (19 a 30 de Junho de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. III - O Lado de Guermantes)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2004)

"O LEITOR", de Bernhard Schlink (1 a 31 de Agosto de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. IV - Sodoma e Gomorra)", de Marcel Proust (1 a 30 de Setembro de 2004)

"UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO DOS PRAZERES" e outros, de Clarice Lispector (1 a 31 de Outubro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. V - A Prisioneira)", de Marcel Proust (1 a 30 de Novembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA", de José Saramago (1 a 21 de Dezembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ", de José Saramago (21 a 31 de Dezembro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VI - A Fugitiva)", de Marcel Proust (1 a 31 de Janeiro de 2005)

"A CRIAÇÃO DO MUNDO", de Miguel Torga (1 de Fevereiro a 31 de Março de 2005)

"A GRANDE ARTE", de Rubem Fonseca (1 a 30 de Abril de 2005)

"D. QUIXOTE DE LA MANCHA", de Miguel de Cervantes (de 1 de Maio a 30 de Junho de 2005)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VII - O Tempo Reencontrado)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2005)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2005)

UMA SELECÇÃO DE CONTOS LP (1 a 3O de Setembro de 2005)

"À ESPERA NO CENTEIO", de JD Salinger (1 a 31 de Outubro de 2005)(link)

"NOVE CONTOS", de JD Salinger (21 a 29 de Outubro de 2005)(link)

Van Gogh, o suicidado da sociedade; Heliogabalo ou o Anarquista Coroado; Tarahumaras; O Teatro e o seu Duplo, de Antonin Artaud (1 a 30 de Novembro de 2005)

"A SELVA", de Ferreira de Castro (1 a 31 de Dezembro de 2005)

"RICARDO III" e "HAMLET", de William Shakespeare (1 a 31 de Janeiro de 2006)

"SE NUMA NOITE DE INVERNO UM VIAJANTE" e "PALOMAR", de Italo Calvino (1 a 28 de Fevereiro de 2006)

"OTELO" e "MACBETH", de William Shakespeare (1 a 31 de Março de 2006)

"VALE ABRAÃO", de Agustina Bessa-Luis (1 a 30 de Abril de 2006)

"O REI LEAR" e "TEMPESTADE", de William Shakespeare (1 a 31 de Maio de 2006)

"MEMÓRIAS DE ADRIANO", de Marguerite Yourcenar (1 a 30 de Junho de 2006)

"ILÍADA", de Homero (1 a 31 de Julho de 2006)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2006)

POESIA DE ALBERTO CAEIRO (1 a 30 de Setembro de 2006)

"O ALEPH", de Jorge Luis Borges (1 a 31 de Outubro de 2006) (link)

POESIA DE ÁLVARO DE CAMPOS (1 a 30 de Novembro de 2006)

"DOM CASMURRO", de Machado de Assis (1 a 31 de Dezembro de 2006)(link)

POESIA DE RICARDO REIS E DE FERNANDO PESSOA (1 a 31 de Janeiro de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 28 de Fevereiro de 2007)

"O VERMELHO E O NEGRO" e "A CARTUXA DE PARMA", de Stendhal (1 a 31 de Março de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 30 de Abril de 2007)

"A RELÍQUIA", de Eça de Queirós (1 a 31 de Maio de 2007)

"CÂNDIDO", de Voltaire (1 a 30 de Junho de 2007)

"MOBY DICK", de Herman Melville (1 a 31 de Julho de 2007)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2007)

"PARAÍSO PERDIDO", de John Milton (1 a 30 de Setembro de 2007)

"AS FLORES DO MAL", de Charles Baudelaire (1 a 31 de Outubro de 2007)

"O NOME DA ROSA", de Umberto Eco (1 a 30 de Novembro de 2007)

POESIA DE EUGÉNIO DE ANDRADE (1 a 31 de Dezembro de 2007)

"MERIDIANO DE SANGUE", de Cormac McCarthy (1 a 31 de Janeiro de 2008)

"METAMORFOSES", de Ovídio (1 a 29 de Fevereiro de 2008)

POESIA DE AL BERTO (1 a 31 de Março de 2008)

"O MANUAL DOS INQUISIDORES", de António Lobo Antunes (1 a 30 de Abril de 2008)

SERMÕES DE PADRE ANTÓNIO VIEIRA (1 a 31 de Maio de 2008)

"MAU TEMPO NO CANAL", de Vitorino Nemésio (1 a 30 de Junho de 2008)

"CHORA, TERRA BEM-AMADA", de Alan Paton (1 a 31 de Julho de 2008)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2008)

"MENSAGEM", de Fernando Pessoa (1 a 30 de Setembro de 2008)

"LAVOURA ARCAICA" e "UM COPO DE CÓLERA" de Raduan Nassar (1 a 31 de Outubro de 2008)

POESIA de Sophia de Mello Breyner Andresen (1 a 30 de Novembro de 2008)

"FOME", de Knut Hamsun (1 a 31 de Dezembro de 2008)

"DIÁRIO 1941-1943", de Etty Hillesum (1 a 31 de Janeiro de 2009)

"NA PATAGÓNIA", de Bruce Chatwin (1 a 28 de Fevereiro de 2009)

"O DEUS DAS MOSCAS", de William Golding (1 a 31 de Março de 2009)

"O CÉU É DOS VIOLENTOS", de Flannery O´Connor (1 a 15 de Abril de 2009)

"O NÓ DO PROBLEMA", de Graham Greene (16 a 30 de Abril de 2009)

"APARIÇÃO", de Vergílio Ferreira (1 a 31 de Maio de 2009)

"AS VINHAS DA IRA", de John Steinbeck (1 a 30 de Junho de 2009)

"DEBAIXO DO VULCÃO", de Malcolm Lowry (1 a 31 de Julho de 2009)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2009)

POEMAS E CONTOS, de Edgar Allan Poe (1 a 30 de Setembro de 2009)

"POR FAVOR, NÃO MATEM A COTOVIA", de Harper Lee (1 a 31 de Outubro de 2009)

"A ORIGEM DAS ESPÉCIES", de Charles Darwin (1 a 30 de Novembro de 2009)

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