Leitura Partilhada
sábado, julho 28, 2007
  Por que continua a obra a ser tão referida?
esqueleto de baleia
foto minha


laerce, esta tua interrogação dava um livro! Uma resposta estruturada, se dividida em fracções, produziria todos os posts necessários para manter vivo o LP durante o mês de Julho.

Porque queria responder-te, fui pensando que… se trata de um clássico e de um dos livros fundadores da literatura norte-americana; é das mais conhecidas obras sobre esse tema tão profundamente inspirador que é o mar e a vida no mar; as suas personagens são fascinantes e, por isso, marcam-nos e não se esquecem; a figura enigmática de Ahab (e a força maligna - ou não - que o alimenta, a sua ambição, a sua arrogância, a sua loucura), a duplamente misteriosa baleia branca (e tudo o que simboliza o branco, o grande, o único,…) e os demais, são susceptíveis de ser “cartoonizados”, permitindo assim a sua ampla difusão (o que compensa a extrema dificuldade de as passar para a tela); suscita várias, variadíssimas questões, a todos os níveis, desde o tortuoso convívio connosco próprios, à nossa relação com o mundo e ao confronto entre civilizações, atravessadas por fecundas referências bíblicas, estéticas, filosóficas, históricas,.. Enfim, é um grande livro.

PS: De todo o modo, é muito positivo ler aquilo de que sempre se ouviu falar (por isso mesmo, ando agora tão embrenhada na Bíblia), pois não posso esconder uma pontinha de desilusão quando descobri que uma boa parte deste livro é uma longa (longuíííssima) e esforçada monografia sobre o cetáceo.

azuki
 
sexta-feira, julho 27, 2007
 
Oh, sweet moby !



Uma breve pesquisa na net mostra que as reacções a Moby Dick são diversificadas. Melville, pelos vistos, já previa a rejeição que a obra provocaria nos leitores daquele tempo e deste, acrescento eu, mas isso não o impediu de manter esta longa narrativa que vai sendo recheada de momentos, aparentemente irrelevantes, para a finalidade da história, uma, digamos, mera perseguição à baleia. No fundo é isso, mas sabemos muito bem que a literatura é tudo menos realidade.
Ainda continuando na net, há quem dê à baleia branca o rosto da vingança, do poder, do labirinto, do irracional. Há quem veja aí uma alegoria.
Ahab e Ismael, nomes bíblicos, surgem como guias para levar o leitor ao inferno (!), ao confronto com os limites de cada um, num espaço tão amplo e simultaneamente tão claustrofóbico como os aceanos.

Seja como for, uma outra interrogação se coloca: por que continua a obra a ser tão referida?


Uma aula sobre o livro Moby Dick, para quem quiser aqui está o site. Vale a pena espreitar, a planificação está feita e os materiais à disposição.


Imagem
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laerce
 
quinta-feira, julho 26, 2007
  os anjos não passam de tubarões que se dominam
tubarão
foto minha

- A vossa voracidade, irmãos, não me merece censura! É obra da natureza, mas tudo está em dominar os impulsos dessa natureza. Vocês são tubarões, é certo, mas se conseguirdes dominar o tubarão que existe dentro de vós, sereis iguais aos anjos, visto que os anjos não passam de tubarões que se dominam. Portanto, amados irmãos, tentem comer essa baleia com moderação. Não procurem roubar a gordura das fauces do vizinho. Para essa baleia tanto vale um tubarão como o outro. E, demais, nenhum de vós tem um direito particular a esta baleia; ela pertence a todos. Bom sei que alguns de vós tendes bocas muito grandes, bocas maiores do que as dos outros; mas, às vezes, às grandes bocas corresponde um pequeno ventre, de tal modo que o tamanho da boca não é dado para medida das porções a que tendes direito, mas para poderdes cortar também um pouco para aquelas que por si próprias se não podem servir.

Predador situado no topo da cadeia alimentar, de apetite voraz. Protagonista, em todos os contextos. Faz vítimas, mata e mutila, contribuindo para a selecção natural (com ele, os mais lentos e os mais fracos não se safam). O sangue estimula-o. Devora tudo o que encontra pelo caminho, sendo duplamente perigoso quando actua em grupo. Territorialista, utiliza o ataque como a melhor defesa. Contorce-se, em expressiva linguagem corporal, nos momentos de vitória. Poderoso, dominador, destruidor, hábil, resistente. A sua hierarquia determina-se pelo tamanho, pela força, pela agilidade. O que o tubarão é, o Homem é capaz de ser.

azuki

 
quarta-feira, julho 25, 2007
  sim, o branco também é cor de luto
um viúvo, no Nepal
foto minha

azuki
 
 
o tamanho do branco

O capítulo XLIII trata da brancura da baleia e dos significados da cor branca, que, dizem os entendidos, não é cor.
O branco associado a animais não deixa de ser interessante: elefante branco, cavalo branco, cão branco, urso branco, albatroz branco, tubarão branco. Mas pode ser enganador:

A missa romana em honra dos mortos começa com as palavras Requiem Eternam, em que requiem significa a própria missa, e qualquer outra música funerária. E em alusão à branca e silenciosa quietude de morte neste tubarão, e aos seus hábitos notáveis de mortalidade, os franceses chamam-lhe requin.
(cap.XLIII)







foto: cisne branco
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laerce
 
 
perseguições e bodes expiatórios


Tudo
quanto endoidece e atormenta; tudo quanto agita o fundo opaco das coisas; tudo quanto destrói os nervos e corrói o cérebro; tudo o que existe de demoníaco na vida e nos pensamentos; toda a maldade para o louco Ahab era visivelmente personificado e identificado no Moby Dick.
(cap.XLI)


A formidável envergadura do cachalote não o livrou de ser um bode expiatório sujeito à infinita ira do capitão Ahab. Quem é este Ahab? De onde lhe vem a ira? Apenas da perna colhida na perseguição a Moby Dick? Ou mais, muito mais?


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laerce
 
segunda-feira, julho 23, 2007
  Queequeg
telhado de cabana maori em Rotorua, Nova Zelândia
foto minha


Eu era um bom cristão; nascido e educado no seio da infalível Igreja Presbiteriana. Como poderia unir-me àquele idólatra selvagem na adoração de um manipanso de madeira? Mas era aquilo adoração? Pensei. Acreditas, Ismael, que o Deus magnânimo que reina no Céu e na Terra – incluindo nos pagãos – pode sentir ciúmes de um insignificante pedaço de pau? Impossível! Mas o que é adorar? Adorar é realizar a vontade de Deus. Mas o que é a vontade de Deus? A vontade de Deus é fazer pelo meu semelhante aquilo que eu desejo que o meu semelhante faça por mim. Ora. Queequeg é meu semelhante. E que desejaria que Queequeg fizesse por mim? Muito bem, gostava de vê-lo converter-se ao meu rito presbiteriano de adoração. Portanto eu devo também unir-me ao seu culto particular, devo tornar-me idólatra.

Estava num mundo que não era o seu mas continuava tranquilo e, desde que não o provocassem, tudo estaria bem. Poderiam até fazer caretas, não se importava. É bem verdade que não os achava nada agradáveis à vista. E que saíra da sua terra para aprender com os brancos, mas já se tinha desenganado quanto à sua superioridade. (- E o seu cheiro? E as suas roupas ridículas? E aquelas peles brancas, sem tatuagens? E a insistência em mostrar o que não são? Enfim, cada um sabe de si.) O seu ídolo de madeira era magnânimo. Creio até que não se deveria importar que Ismael adorasse a um outro Deus.

azuki
 
sábado, julho 21, 2007
 
contributo para o exercício do poder




Um arbusto isolado não consegue aguentar-se sozinho no meio da tempestade, Starbuck! E do que se trata, afinal? Pensa bem. Trata-se apenas de ajudar a derrubar uma barbatana, nada de especial para ti.(cap.XXXVI)

Starbuck entendia que a vingança de Ahab era um exagero. Perseguir uma baleia por vingança de um acto irracional não podia ser razão suficiente para tão longa e perigosa viagem. Ahab sabe bem como dar a volta a esta objecção. A bajulação não se exerce só de baixo para cima. O capitão também sabe lisonjear o imediato lembrando a sua destreza no manejo do arpão. Uma excelente forma de comprar o apoio.


Foto:Inscrição no mastro principal do Cisne Branco

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laerce
 
sexta-feira, julho 20, 2007
  sobre o lado mau do exercício do poder
Liderar é difícil...
Algumas técnicas possíveis para vilões (e não só):

. Aniquilar todos os putativos adversários (ou, pelo menos, lançá-los uns contra os outros), apostar sempre no vencedor, implementar alianças;
. Fazer intriga e lançar boatos (aconselhável em situações desesperadas), ser volúvel quanto baste (muito útil, quando o nosso lado começa a perder), conhecer a fundo a arte da traição;
. Trabalhar bem os medos da população (se possível, encontrando múltiplas ameaças, tais como um inimigo comum), acumular toda a informação (os bufos são preciosos) e controlar os respectivos canais, fazer o mal e queixar-se logo a seguir (preferencialmente, tendo um bode expiatório);
. Preparar cuidadosamente espontâneas manifestações populares de apoio, saber como deixar as pessoas satisfeitas sem para isso ter mexido uma palha;
. Não ser complacente com assomos de consciência, de todos desconfiar, ter-se em excelente conta e praticar a ousadia, ser implacável (qualquer momento de fraqueza pode ser fatal), saber ocultar o coração (no caso de se ser portador de um);
. Nunca se desculpar, hesitar ou justificar o que quer que seja (enfim, nada de molezas);
. Fazer favores só para poder cobrá-los, distribuir os amigos certos pelos sítios certos, conservar trunfos, ter o contacto de um ou dois marginais a soldo;
. Falar o menos possível, mexer pouco nos poderes instituídos e nos grupos de interesses, dar especial atenção à Igreja (andando sempre agarrado às Escrituras, com um ar pio), fazer-se de sonso;
. Saber que há certos riscos que não se devem pisar (até na indecência e na bandalheira existem regras e hierarquias);
. Conhecer a fundo as virtualidades e os mecanismos da comunicação e da opinião.

azuki
 
quinta-feira, julho 19, 2007
 
sobre o exercício do poder



Seja qual for a superioridade intelectual de um homem, nunca poderá assumir a supremacia prática sobre os outros homens sem o auxílio de algum tipo de artes e artifícios que são sempre por si próprios mais ou menos medíocres e aviltantes. (cap.XXXIII)

Assim disse Ismael referindo-se a Ahab.
O problema é quando essa superioridade intelectual é, também ela, um artifício. Não é, Ismael?


A foto é do Cisne Branco. O branco também é luto.


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laerce
 
terça-feira, julho 17, 2007
 
advogado de defesa




Sem sombra de dúvida que uma das principais razões pelas quais nos é retirada dignidade, a nós caçadores de baleias, é a que se prende com o facto de considerarem que a nossa actividade é semelhante à do assassino; e que quando estamos em pleno trabalho, estamos rodeados de imundície.


cap.XXIV

No século dezanove, longe das questões ambientais, das campanhas de protecção de animais em vias de extinção, da poluição dos mares, das cotas de mercado, do crescimento sustentado, Ismael não devia precisar de muitos argumentos para a defesa da sua actividade. Mas aqui trata-se muito mais de uma viagem iniciática do que questionar a culpa ou a inocência.

imagem daqui
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laerce
 
segunda-feira, julho 16, 2007
 
Clássicos. São quase tudo na criação artística. Porque precisamos deles? É le-los com atenção, porque em cada um existe toda uma humanidade que entra em comunhão e em abismo; é o fundo sem fundo onde quase tudo se revela e se esconde. São universos dentro de universos. Não seriamos os mesmos sem eles!
Moby Dick é um clássico!

Algumas questões que eu lanço!
- Aab figura dramática shakespereana! Moby Dick poderia ser um drama daquele autor?
- As intensas relações afectivas entre Ismael, o narrador, e Queequeg, o selvagem canibal, em Moby Dick, remete-nos para o mundo da homossexualidade.
- Quem somos nós dentro daquele barco- atenção eu identifico-me com um dos imediatos!
- A imensa religiosidade do romance, o barco parece-se com um templo...
- É da água que (re)nascemos, e o mar é aquilo que mais se parece com Deus. Nós somos como o oceano imenso. - Baleia branca, é aquele muro que por vezes nos atormente e nos impede de seremos felizes (ou de sermos menos infelizes); terá o nosso capitão razão em a querer destruir?
- ...

Castela
 
domingo, julho 15, 2007
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o Leitura Partilhada faz quatro
.......................................quatro
................................................quatro
........................................................quatro anos!
 
  âmbar cinzento
...o âmbar cinzento é mole, ceroso, e também altamente fragrante e aromático, pelo que é largamente usado em perfumaria, em pastilhas, em velas de luxo, em pós para cabelos e pomadas. (...) Quem pensaria, então, que estas finas damas e cavalheiros se regalam com uma essência encontrada nos ingloriosos intestinos de uma baleia nauseante!
(pag 438, na minha edição da Relógio D´Água)

perfumes
foto minha


Tudo na baleia se aproveita: as barbas, para cordas, fios, molas, sombrinhas, espartilhos, cintas; a carne e os órgãos, para a gastronomia, produtos farmacêuticos, medicina natural; a gordura, para margarina, cosméticos, pomadas, lubrificantes, sabão, rações, adubo...

Sendo a caça da baleia uma actividade milenar (em Portugal, ao que parece, os seus bifes eram já muito apreciados na corte de D. Afonso III), a perseguição dessa peculiar baleia que mergulha a grandes profundidades chamada cachalote, a mais formidável de todas as baleias (...) e (...) a de maior valor comercial, sendo a única de onde se extrai o valioso espermacete*, começa bem mais tarde, em finais do sec XVIII, por norte-americanos de Nova Inglaterra. A sua carne não será famosa, o mesmo não se podendo dizer do óleo, com que se ungiam as cabeças de reis e rainhas, e do tão cobiçado âmbar cinzento, utilizado como fixador na indústria da perfumaria de elevada qualidade. Os cachalotes alimentam-se essencialmente de lulas e é no interior do seu enorme intestino que se encontra esta substância, a qual se supõe ser segregada como reacção à presença de um corpo estranho que ele não consegue digerir, os “bicos” das lulas.

Ao mesmo tempo que consideramos repugnante a perseguição feroz que é movida a estes animais, a verdade é que não parecemos dispostos a prescindir de um cada vez mais exigente conforto material.

azuki

*chama-se “sperm whale” ao cachalote, porque se chegou a pensar que o óleo que armazena na sua enorme cabeça seria esperma. A dúvida terá sido sanada quando se olhou para o interior do crânio de um cachalote fêmea.
 
sexta-feira, julho 13, 2007
 
escolhas

Este narrador é o máximo! Até parece que quando entramos numa estalagem, ou num hotel, ou na hospedaria, ou coisas dessas, como diz Agustina, ficamos assim pasmados a olhar para a cor das paredes, os quadros e os pechisbeques.
Que é útil? Que é necessário? Que é essencial? Sim, talvez, quem sabe? É tudo uma questão de escola. O que é importante mesmo é saber se o chamado Ismael, dorme no banco ou dorme na cama.

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laerce
 
quinta-feira, julho 12, 2007
 
Ismael deambula pelo fantasmagórico cais onde pensa encontrar a estalagem adequada ao seu bolso. O cuidado no pormenor, próprio dos românticos, permite-nos uma visualização, diremos hoje, em tempo real. Parece que o narrador, querendo retardar o clímax, se alonga em jogos descritivos que espera serem do agrado do leitor. Desse amontoado negro ressaltam os nomes das estalagens: Os Arpões Cruzados, O Espadarte, A Ratoeira, A Estalagem da Baleia.
Mas, o importante mesmo é conhecer os ventos. Haverá marinheiro que não saiba a orientação dos ventos? Ismael sabe, e sabe mais do que a orientação, senão vejamos:

Ficava numa esquina desabrigada, onde o tempestuoso vento de leste uivava mais feroz do que alguma vez havia feito sobre a pobre embarcação acossada de Paulo. Mas este vento de leste pode revelar-se um zéfiro muito agradável para quem esteja dentro de portas, com os pés a aquecer antes de se enfiar na cama.


Segundo capítulo (ainda)
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laerce
 
  avidez
vislumbre de baleia na Nova Zelândia
foto minha

Perseguir baleias com arpões manuais, em equilíbrio precário numa pequena embarcação, é uma empresa temerária e com alguma dignidade. Era assim que se matava o cachalote em meados do século XIX. Pelo contrário, a moderna matança da baleia é um bom exemplo de como pode a técnica transformar-se em algo de desprezível. Agora, existem aviões para localizar os animais, aparelhos sonoros que os atraem, arpões eléctricos com explosivos, navios-fábrica de esquartejamento e armazenamento. Tudo isto, ao serviço da rapacidade humana. Com tudo isto, talvez acabemos por exterminar estes animais magníficos. Melville teria ficado de cabelos em pé.

azuki
 
quarta-feira, julho 11, 2007
 
ir ou não ir






Chamemos-lhe Ismael então. Se alguma vez pudermos conversar com ele, quem sabe noutro baleeiro, talvez num navio, paquete, saveiro, falua. traineira, moliceiro, ferry-boat ou apenas o cais onde o Campos em delírio expele a sua união cósmico - marítima e triunfal com o mundo inteiro, perguntemos-lhe se teria sido melhor não embarcar.


No entanto, não consigo adivinhar por que motivo esses encenadores, os Destinos, me designaram para um reles papel numa expedição baleeira, quando outros receberam magníficos papéis em grandiosas tragédias, e falas breves em comédias refinadas ou farsas.

Do primeiro capítulo (ainda)
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laerce
 
terça-feira, julho 10, 2007
  Narval
Illustration Narval mâle (© Dauphins en liberté)

No decurso da minha investigação sobre os cetáceos, dei de caras com este primo da Moby Dick. É fabuloso, não é?

azuki
 
sábado, julho 07, 2007
 
náutica




Já não me lembro se Moby Dick me ofereceu doses substanciais de vocábulos náuticos. Irei à procura deles, porque sempre senti muito forte a magia de palavras de marear.
Bombordo, estibordo, proa, popa, velas, cordame, enxárcia, cevadeira, gurupês, castelo da proa, gávea, todos estes nomes ecoam lá de longe da infância e seduzem-me para a viagem.
Tenho um barco à minha espera, é este lindo exemplar que esteve há tempos na doca de Leça, um navio-escola da marinha brasileira. (Tem tudo a ver connosco, não tem?) Chama-se Cisne Branco e vai acompanhar Pequod até ao fim.



foto minha
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laerce
 
sexta-feira, julho 06, 2007
  Romance de Tomasinho Cara-Feia
Farto de sol e de areia

Que é o mais que a terra dá,

Tomasinho Cara-Feia

vai prá pesca da baleia.

Quem sabe se tornará?





Torne ou não torne, que tem?

Vai cumprir o seu destinho.

Só nha Fortunata, a mãe,

Que é velha e não tem ninguém,

Chora pelo seu menino.





Torne ou não torne, que importa?

Vai ser igual ao avô.

Não volta a bater-me à porta;

Deixou para sempre a horta,

que a longa seca matou.





Tomasinho Cara-Feia

(outro nome, quem lho dá?),

farto de sol e de areia,

foi prá pesca da baleia.





— E nunca mais voltará!





Daniel Filipe



Joana
 
quinta-feira, julho 05, 2007
  Há sempre um copo de mar para o homem navegar*
"Chamai-me Ismael. Faz alguns anos (...) achei que devia velejar um pouco e ver a parte aquosa do mundo. É um hábito que tenho, para acabar com o spleen e regular a circulação. (...) Não há nada de surpreendente nisso. Quase todos os homens (soubessem eles), qualquer que seja a sua classe, uma vez ou outra compartilha comigo quase os mesmos sentimentos para com o oceano."
Capítulo I - Miragens

O mar está sempre ligado a uma certa eternitransitoriedade: o que o mar traz, o mar leva, ditado comum aqui por estas terras. Não é preciso ser poeta, filósofo ou romancista para perceber a calmaria e a violência das águas - e de nós mesmos.
Leiamos até onde essa aventura nos leva.

*Jorge de Lima


Gabriel
 
quarta-feira, julho 04, 2007
  Recorde de citações
Moby Dick dever ser certamente o livro com mais citações da história: cinco folhas e meia na minha edição; oitenta fragmentos dos mais variados autores, desde a Bíblia, passando por relatos científicos, cantigas, diários de viagens, até estadistas.
Ninguém poderá se queixar de que não sabia nada sobre baleias ao término das citações.

Gabriel
 
terça-feira, julho 03, 2007
  Para compreender Melville
Para compreender Melville e a natureza de sua obra, devemos conhecer algo sobre o tempo em que viveu. É frequentemente descuidada nos estudos daquela época a fulminante aparição, no século XIX da ciência naturalista como o mais influente fator da vida humana civilizada. Como símbolo do triunfo científico surgiu a Origem das Espécies, de Darwin, em 1859. Até Emerson nos últimos anos do século foi, embora romanticamente orientado por sua honestidade e sutileza de observação, levado a reconhecer as mudanças ocorridas em todos os aspectos da vida americana pelo avanço da ciência. Voltando hoje o olhar àquela época, da perspectiva de um mundo eminentemente científico como o atual, não é difícil reconhecer e apreciar algumas idéias e métodos de Melville. Naquele tempo, entretanto, quando escritores instruídos como Hawthorne ainda encaravam ingenuamente a ciência como uma mágica levemente perigosa, quando as escolas ensinavam ciência para impressionar as crianças com o poder e a caridade divina, a desconfiança de Melville em relação ao otimismo romântico e sua aceitação do ponto de vista científico da natureza, surpreenderam e repeliram muitos de seus leitores. E mais ainda, a luta entre autoridade religiosa e ciência moderna, que estava sendo travada no campo intelectual foi também sentida na mente e no coração de Melville, envolvendo-o e fazendo brotar feridas por todas as partes, desde a publicação de Mardi.
Embora com antecedentes literários românticos e de ter tido educação calvinista, Melville possuía bastante integridade intelectual para constatar que nem o romantismo entusiástico, venerador da natureza, nem o cristianismo anti-científico e obstinado de sua época, poderiam levar a um bem sucedido realismo. Instintiva e precocemente romântico, mas transformado num realista pela pesquisa espiritual, Melville nunca chegou a conciliar estes aspectos opostos, quer em seu pensamento, quer nos livros. Dedicou grande esforço literário (o que causou a perda de muitos leitores) aos ataques dos excessos românticos, ao tempo em que fazia uso da linguagem e das convenções dessa corrente. Desprezava abertamente o conceito corrente sobre a natureza (proveniente de Rousseau) classificando-o inocentemente belo e amistoso para com o homem, irrefletidamente otimista, demasiado sentimentalista e eivado de outras e amenas fraquezas da era romântica. Por outro lado, encarava a ciência, embora objetiva e realística, como algo frio e ameaçador. Se tivesse que escolher entre razão e coração, intelecto e sentimento, ele optaria, como alardeava, pelos últimos. No fim da vida, tanto a tecnologia industrial como o realismo literário e uma atitude analítica em relação aos indivíduos não só foram aceitos como também tornaram-se moda; durante seus anos de apogeu criador, entretanto, aquelas tendências se faziam sentir de modo muito tênue para a maioria dos americanos, sendo para Melville mero aceno ainda em desuso.
As tempestuosas excitações e as dolorosas paralisias que ocorreram na mente de Melville (não um sofrimento vagaroso nem "completo naufrágio", como alguns críticos o disseram) resultaram em dois universos espirituais: "um morto e outro sem forças para nascer". Nessas condições mentais, pequenos sobressaltos ocorridos durante os anos das mais importantes realizações de Melville, fizeram os mundos intelectuais, e moral do artista parecerem constituir não só uma dualidade de bem e mal, verdade e falsidade, mas em alguma coisa indefinida, num conjunto de ambiguidades desafiadoras da alma.

Herman Melville, Tyrus Hillway


Gabriel
 
segunda-feira, julho 02, 2007
  Vocação
A escolha da carreira de escritor foi para ele quase acidental. Descendente de duas famílias americanas famosas por seu patriotismo e herdeiro de uma tradição de nobreza, passou a maior parte de sua vida adulta tentanto manter aparências, ao mesmo tempo em que procurava recuperar o estilo de vida dos ancestrais para si e para a família. Pode parecer estranho que tenha escolhido como profissão a literatura. Também pode ser discutida essa tendência, seguida por ele desde os 25 anos. "Até meus 25 anos", escrevia numa carta bastante conhecida ao amigo e vizinho Nathaniel Hawthorne, "eu não possuía desenvolvimento intelectual. Desde então mudei de vida. Em três semanas apenas diversas revelações se apresentaram ao meu espírito". Deste modo - embora se observe nessa carta seu secreto temor de que "agora alcançara o âmago do bulbo e que a flor deveria se desenvolver até seu esplendor" - Melville constatou prazeirosamente vocação para a literatura, logo depois de seu retorno dos Mares do Sul, em 1844. Esta descoberta aparentemente surgiu depois de uma série de prenúncios. Na infância, tinha pensado em ganhar a vida no comércio; na juventude como professor e no mar, tudo isso antes de lançar vistas para a literatura. Quando, afinal, começou a escrever contando as aventuras que viveu no Pacífico, encontrou o objetivo de sua vida; e, tendo algo interessante sobre o que escrever, verificou que a carreira era a mais conveniente para seu talento inventivo.

Herman Melville, Tirus Hillway


Gabriel
 
domingo, julho 01, 2007
  Façamo-nos ao mar!
Desconheço a tradução desta expressão em outras línguas, mas acho lindíssimo dizer em português: fiz-me ao mar.
É o que devemos fazer neste mês. Julho, sentimento de leigo, sempre me pareceu uma boa época para navegar.

Gabriel
 
  MOBY DICK, de Herman Melville
Mas Ahab, quando se dirige à tripulação apelando para que o ajudem na sua demanda vingativa de caçar e matar a invencível Moby Dick, a branca baleia-leviatã, consegue reunir todos à sua volta, incluindo Starbuck, o relutante primeiro-oficial. Independentemente do grau da sua culpa (a escolha da tripulação era livre, ainda que apenas a recusa geral pudesse detê-lo), é melhor pensar no capitão do Pequod como num protagonista trágico, muito próximo de Macbeth e do Satanás de Milton. Na sua obsessão visionária, Ahab tem em si algo de quixotesco, apesar da sua dureza não ter nada em comum com o espírito de jogo do Quixote.

Harold Bloom
 

O QUE ESTAMOS A LER

(este blogue está temporariamente inactivo)

PROXIMAS LEITURAS

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LEITURAS NO ARQUIVO

"ULISSES", de James Joyce (17 de Julho de 2003 a 7 de Fevereiro de 2004)

"OS PAPEIS DE K.", de Manuel António Pina (1 a 3 de Outubro de 2003)

"AS ONDAS", de Virginia Woolf (13 a 20 de Outubro de 2003)

"AS HORAS", de Michael Cunningham (27 a 30 de Outubro de 2003)

"A CIDADE E AS SERRAS", de Eça de Queirós (30 de Outubro a 2 de Novembro de 2003)

"OBRA POÉTICA", de Ferreira Gullar (10 a 12 de Novembro de 2003)

"A VOLTA NO PARAFUSO", de Henry James (13 a 16 de Novembro de 2003)

"DESGRAÇA", de J. M. Coetzee (24 a 27 de Novembro de 2003)

"PEQUENO TRATADO SOBRE AS ILUSÕES", de Paulinho Assunção (22 a 28 de Dezembro de 2003)

"O SOM E A FÚRIA", de William Faulkner (8 a 29 de Fevereiro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. I - Do lado de Swann)", de Marcel Proust (1 a 31 de Março de 2004)

"O COMPLEXO DE PORTNOY", de Philip Roth (1 a 15 de Abril de 2004)

"O TEATRO DE SABBATH", de Philip Roth (16 a 22 de Abril de 2004)

"A MANCHA HUMANA", de Philip Roth (23 de Abril a 1 de Maio de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. II - À Sombra das Raparigas em Flor)", de Marcel Proust (1 a 31 de Maio de 2004)

"A MULHER DE TRINTA ANOS", de Honoré de Balzac (1 a 15 de Junho de 2004)

"A QUEDA DUM ANJO", de Camilo Castelo Branco (19 a 30 de Junho de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. III - O Lado de Guermantes)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2004)

"O LEITOR", de Bernhard Schlink (1 a 31 de Agosto de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. IV - Sodoma e Gomorra)", de Marcel Proust (1 a 30 de Setembro de 2004)

"UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO DOS PRAZERES" e outros, de Clarice Lispector (1 a 31 de Outubro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. V - A Prisioneira)", de Marcel Proust (1 a 30 de Novembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA", de José Saramago (1 a 21 de Dezembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ", de José Saramago (21 a 31 de Dezembro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VI - A Fugitiva)", de Marcel Proust (1 a 31 de Janeiro de 2005)

"A CRIAÇÃO DO MUNDO", de Miguel Torga (1 de Fevereiro a 31 de Março de 2005)

"A GRANDE ARTE", de Rubem Fonseca (1 a 30 de Abril de 2005)

"D. QUIXOTE DE LA MANCHA", de Miguel de Cervantes (de 1 de Maio a 30 de Junho de 2005)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VII - O Tempo Reencontrado)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2005)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2005)

UMA SELECÇÃO DE CONTOS LP (1 a 3O de Setembro de 2005)

"À ESPERA NO CENTEIO", de JD Salinger (1 a 31 de Outubro de 2005)(link)

"NOVE CONTOS", de JD Salinger (21 a 29 de Outubro de 2005)(link)

Van Gogh, o suicidado da sociedade; Heliogabalo ou o Anarquista Coroado; Tarahumaras; O Teatro e o seu Duplo, de Antonin Artaud (1 a 30 de Novembro de 2005)

"A SELVA", de Ferreira de Castro (1 a 31 de Dezembro de 2005)

"RICARDO III" e "HAMLET", de William Shakespeare (1 a 31 de Janeiro de 2006)

"SE NUMA NOITE DE INVERNO UM VIAJANTE" e "PALOMAR", de Italo Calvino (1 a 28 de Fevereiro de 2006)

"OTELO" e "MACBETH", de William Shakespeare (1 a 31 de Março de 2006)

"VALE ABRAÃO", de Agustina Bessa-Luis (1 a 30 de Abril de 2006)

"O REI LEAR" e "TEMPESTADE", de William Shakespeare (1 a 31 de Maio de 2006)

"MEMÓRIAS DE ADRIANO", de Marguerite Yourcenar (1 a 30 de Junho de 2006)

"ILÍADA", de Homero (1 a 31 de Julho de 2006)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2006)

POESIA DE ALBERTO CAEIRO (1 a 30 de Setembro de 2006)

"O ALEPH", de Jorge Luis Borges (1 a 31 de Outubro de 2006) (link)

POESIA DE ÁLVARO DE CAMPOS (1 a 30 de Novembro de 2006)

"DOM CASMURRO", de Machado de Assis (1 a 31 de Dezembro de 2006)(link)

POESIA DE RICARDO REIS E DE FERNANDO PESSOA (1 a 31 de Janeiro de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 28 de Fevereiro de 2007)

"O VERMELHO E O NEGRO" e "A CARTUXA DE PARMA", de Stendhal (1 a 31 de Março de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 30 de Abril de 2007)

"A RELÍQUIA", de Eça de Queirós (1 a 31 de Maio de 2007)

"CÂNDIDO", de Voltaire (1 a 30 de Junho de 2007)

"MOBY DICK", de Herman Melville (1 a 31 de Julho de 2007)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2007)

"PARAÍSO PERDIDO", de John Milton (1 a 30 de Setembro de 2007)

"AS FLORES DO MAL", de Charles Baudelaire (1 a 31 de Outubro de 2007)

"O NOME DA ROSA", de Umberto Eco (1 a 30 de Novembro de 2007)

POESIA DE EUGÉNIO DE ANDRADE (1 a 31 de Dezembro de 2007)

"MERIDIANO DE SANGUE", de Cormac McCarthy (1 a 31 de Janeiro de 2008)

"METAMORFOSES", de Ovídio (1 a 29 de Fevereiro de 2008)

POESIA DE AL BERTO (1 a 31 de Março de 2008)

"O MANUAL DOS INQUISIDORES", de António Lobo Antunes (1 a 30 de Abril de 2008)

SERMÕES DE PADRE ANTÓNIO VIEIRA (1 a 31 de Maio de 2008)

"MAU TEMPO NO CANAL", de Vitorino Nemésio (1 a 30 de Junho de 2008)

"CHORA, TERRA BEM-AMADA", de Alan Paton (1 a 31 de Julho de 2008)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2008)

"MENSAGEM", de Fernando Pessoa (1 a 30 de Setembro de 2008)

"LAVOURA ARCAICA" e "UM COPO DE CÓLERA" de Raduan Nassar (1 a 31 de Outubro de 2008)

POESIA de Sophia de Mello Breyner Andresen (1 a 30 de Novembro de 2008)

"FOME", de Knut Hamsun (1 a 31 de Dezembro de 2008)

"DIÁRIO 1941-1943", de Etty Hillesum (1 a 31 de Janeiro de 2009)

"NA PATAGÓNIA", de Bruce Chatwin (1 a 28 de Fevereiro de 2009)

"O DEUS DAS MOSCAS", de William Golding (1 a 31 de Março de 2009)

"O CÉU É DOS VIOLENTOS", de Flannery O´Connor (1 a 15 de Abril de 2009)

"O NÓ DO PROBLEMA", de Graham Greene (16 a 30 de Abril de 2009)

"APARIÇÃO", de Vergílio Ferreira (1 a 31 de Maio de 2009)

"AS VINHAS DA IRA", de John Steinbeck (1 a 30 de Junho de 2009)

"DEBAIXO DO VULCÃO", de Malcolm Lowry (1 a 31 de Julho de 2009)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2009)

POEMAS E CONTOS, de Edgar Allan Poe (1 a 30 de Setembro de 2009)

"POR FAVOR, NÃO MATEM A COTOVIA", de Harper Lee (1 a 31 de Outubro de 2009)

"A ORIGEM DAS ESPÉCIES", de Charles Darwin (1 a 30 de Novembro de 2009)

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