Leitura Partilhada
quinta-feira, agosto 31, 2006
  Com o Leitura Partilhada...

...já não me sinto intimidada!
azuki
 
quarta-feira, agosto 30, 2006
  Rilke, Rilke, Rilke
Leiamos a Nona Elegia na bela tradução de José Paulo Paes:

Se é factível cumprir o tempo de existência
como loureiro, de verde um pouco mais escuro
que os outros verdes, e com folhas levemente onduladas
nas bordas (como um sorriso da brisa) -: por que então
ter de ser homem - que se esquiva do destino
e anseia por ele?...

Oh, não porque a felicidade exista, esse
precipitado ganho sobre perda iminente. Nem porque se queira
satisfazer uma curiosidade ou exercitar o coração,
que estaria igualmente no loureiro...

Mas sim porque estar-aqui significa muito; porque todas
estas coisas efêmeras, que estranhamente nos concernem, necessitam
de nós, ao que parece. De nós, os mais efêmeros. Uma só vez,
cada uma delas, uma só vez. Uma vez só e nunca mais. E nós
também, uma só vez. Outra, jamais. Mas ter sido isso
uma vez, uma só vez que seja:
ter sido terrestre não parece revogável.

E assim nos empurramos e queremos realizar
o terrestre, contê-lo em nossas mãos singelas,
o olhar repleto e mudo o coração.
Queremos nele nos transfigurar. - Para ofertá-lo a quem?
Melhor seria guardar tudo, para sempre. Ai, para o outro reino,
que é que se leva? Não a arte de ver
aqui aprendida devagar, nem nada aqui acontecido. Nada.
Não se levam as amarguras. Muito menos os momentos árduos
ou a longa experiência do amor - nada, pois,
do que seja indizível. E mais tarde, entre as estrelas,
para que levá-lo, se elas são ainda mais indizíveis?
Da beira da montanha, tampouco o caminheiro traz
um punhado de terra indizível até o vale; traz, isto sim,
uma pura palavra conquistada, a genciana
amarela e azul. Talvez estejamos aqui para dizer: casa,
ponte, fonte, porta, cântaro, janela, árvore de fruta -
quando muito: coluna, torre...mas para dizer, entende,
oh dizer o que as próprias coisas nunca
pensaram ser no íntimo. Pois não é recôndita
astúcia desta terra calada incitar os amantes
a sentirem como as coisas se encantam umas às outras?
Umbral: que importa, para dois
amantes, desgastarem eles também um pouco o mesmo
velho umbral de porta, como tantos antes
ou tantos depois deles...de leve.

Aqui é o tempo do dizível, é aqui a sua pátria.
Fala, pois, e proclama. Mais que nunca,
ora perecem as coisas visíveis, porque
aquilo que as desloca e substitui é um fazer sem alma.
Um fazer sob crostas que por si mesmas vão romper-se
assim que a ação reponte de lá dentro e se imponha outro limite.

Entre os martelos persiste
nosso coração, assim como a língua,
entre os dentes, continua a louvar,
malgrado tudo.

Louva o mundo para o anjo, não o indizível; com ele
não te podes gabar do esplendor do teu sentir; és apenas
um noviço no universo que ele sente com maior sensibilidade.
Mostra-lhe pois a coisa simples que, afeiçoada geração após
geração, vive como se fosse nova, ao alcance da mão, dentro do olhar.
Diz-lhe as coisas. Ele ficará tão pasmo como tu ficaste
com o cordoeiro de Roma e o oleiro do Nilo.
Mostra-lhe quão ditosa, quão sem culpa e nossa uma coisa pode ser;
como até a mágoa lastimosa se resolve numa forma pura
e serve como coisa e morre numa coisa - e se evade feliz
do violino para o além. E tais coisas, que vivem
do perecer, compreendem que as celebres; efêmeras,
crêem que nós, os mais efêmeros, podemos salvar.
Querem que em nosso invisível coração as transformemos -
oh infinitamente - em nós. No que possamos ser ao fim e ao cabo.

Não é isso que desejas, Terra: invisivelmente
renascer em nós? - Não é o teu sonho
ser invisível algum dia? Invisível, Terra!
Se não for metamorfose, qual tua missão inexorável?
Terra, amada, oh eu quero. Não é mais preciso, crê,
que as tuas primaveras me conquistem -, uma,
ah, uma só já é demasiada para o sangue.
Desde longe, obscuro, eu me entreguei a ti.
Estiveste sempre certa e tua sacra inspiração
é a familiaridade da morte.

Vê, eu vivo. De quê? Nem a infância nem o futuro minguam...
Inúmera, a existência
transborda-me do coração.


Gabriel
 
  Uma nova forma de encarar a pirâmide
Andei, ao longo dos anos, a construir uma pirâmide, até ganhar coragem para a escalar. Mas ainda penso na eventualidade de o ar lá em cima ser tão rarefeito que me dê a volta ao miolo... Estarei, finalmente, preparada para todos os perigos?

azuki
 
terça-feira, agosto 29, 2006
  Oresteia, de Ésquilo
Há quatro mitos fundadores, sobre os quais incidem as recriações dos diferentes tragediógrafos: Guerra de Tróia/Casa dos Atridas, Casa de Tebas, Héracles e descendência, Argonautas. Uma espécie de maldição parece perseguir a Casa dos Atridas (Tiestes/Atreu, Agamémnon/Ifigénia, Clitemnestra/Orestes) e só uma intervenção superior lhe pode pôr cobro: Atena cria um tribunal e outorga um desígnio divino ao seu funcionamento, transferindo assim o registo tribal da aplicação da justiça para um órgão da polis. Esta extraordinária trilogia de Ésquilo é a representação do desenrolar de uma crise (o direito antigo vs o direito novo; a punição dos crimes de sangue vs a punição de todo e qualquer crime,…) que, ao contrário do que poderia supor-se, não termina em calamidade.

Está tudo muito bem e é tudo muito moderno, mas a minha subjectividade admite o incómodo pela forma como Clitemnestra foi tratada.

azuki
 
segunda-feira, agosto 28, 2006
 
ENTREVISTA COM CLARICE LISPECTOR

Joana
 
  Book Towns
Depois do post do riverrun, leiam um texto muito interessante do Fernando Vilarinho, no Bibliotecários Sem Fronteiras.

Não seria excelente termos uma book town em Portugal?

azuki
 
  A Arte de Viajar, de Alain de Botton
Um livro cativante, com que nos identificamos de forma imediata. Uma abordagem quase pedagógica de temas menos fáceis, que não propicia a frequência dos grandes autores mas que, de certa forma, nos aproxima deles. Um livro que quer parecer consistente e que até o consegue. Que nos arrebata e que se lê com rapidez (talvez demasiada) mas que, ainda assim, não se esquece facilmente. Alain de Botton é um óptimo didacta e sabe como prender o leitor. Deve ser desta massa que os best-sellers são feitos.

Apoiando-se nas experiências e nas reflexões de viagem de artistas e de pensadores (J. K. Huysmans, C. Baudelaire, E. Hopper, G. Flaubert, A. von Humboldt, W. Wordsworth, E. Burke, van Gogh, J. Ruskin, Xavier de Maistre), A Arte de Viajar fala-nos de viagens e de viajantes: essa procura chamada viagem e o milagroso estímulo da curiosidade; o prazer da antecipação e a constatação da diferença paraíso imaginado/realidade; sentimo-nos mais no local quando o imaginamos ou quando o visitamos?; a grande dúvida do viajante menos convicto: porquê deslocar-se se pode fazer viagens maravilhosas sem sair do lugar?; locais de passagem e meios de transporte; o efeito benéfico do contacto com certas paisagens; a posse da beleza e a experiência do sublime; viajar através da arte: o artista e a sua reprodução/recriação do mundo e a forma como nos identificamos com cada uma dessas representações; o processamento da memória, aquilo que nos fica; como o corte com o hábito pode ser altamente revelador.

Alain de Botton conclui com uma referência a Nietzsche, que se sentia tentado a dividir a humanidade entre uma minoria, constituída por aqueles que do pouco sabem fazer muito, e uma maioria, a daqueles que do muito sabem fazer pouco, como que a dizer-nos que a "arte de viajar” não tem necessariamente que se restringir a dois ou três momentos no ano.

Li este livro com gula, sabendo que o autor estava ali a piscar-me o olho. Cedi, gostei. Por vezes, sabe bem baixar as defesas e deixarmo-nos seduzir.

azuki
 
sábado, agosto 26, 2006
  Traços do Extremo Oriente, de Wenceslau de Moraes
Mendes Pinto é o maior descobridor da Ásia por terra; Wenceslau concentra-se no Japão. Os seus contos, as suas descrições do drama e da comédia dos acontecimentos e costumes, as suas finas aguarelas da doce paisagem nipónica, são os mais delicados, e as suas sondagens da alma japonesa são as mais sagazes e profundas atingidas por um estrangeiro. Os mais íntimos, dramáticos, amores de Moraes foram japoneses; por isso não surpreende que ele escreva como nenhum outro estrangeiro sobre o fascínio da mulher japonesa. Mas também o Japão deu muito a Wenceslau: deu-lhe encantos e prazeres que suavizaram o seu isolamento e iluminaram a sua tristeza, deu-lhe as alegrias e os dramas do amor, os gozos da arte que ele adorava contemplar, inspirou-lhe a meditação solitária sobre os homens, a vida e a morte, em que atingiu profundidades raras na nossa língua. Wenceslau quis ter um funeral budista e ser incinerado e que as suas cinzas ficassem num pequeno túmulo, no pequeno cemitério de Chionji, ao lado das cinzas da sua amada Ko-Haru. É o único português a quem se rezam sutras e que recebe no aniversário da sua morte um serviço budista. Na festa dos mortos, no Bon-Odori que ele tão bem descreveu, raparigas e rapazes vão cantar e dançar alegremente em roda do seu monumento em Tokushima: não pode haver consagração mais viva.
(in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. II, Lisboa, 1990)


Wenceslau de Moraes (1854-1912) é um digno representante de um estilo pouco acarinhado entre nós, a literatura de viagens (o que se publicou que mereça registo, após Fernão Mendes Pinto?), e o Extremo Oriente de que nos fala são os dois longínquos países asiáticos onde viveu. Entre o seu desamor chinês ("triste formigar de existências") e a sua paixão japonesa ("o encanto que emana d'este paiz abençoado"), é este último que nos fica na memória, "paiz attrahente entre todos, pela sua paizagem amenissima, pelo puro azul do seu céu privilegiado, pelo seu povo, interessante pela tradição lendária, pela indole, pela sua feição de hoje".

(não fosse a profusão de adjectivos, que em nada fazem lembrar a simplicidade japonesa) dir-se-ia que Wenceslau de Moraes escreve como os japoneses pintam: com nitidez, suavidade e minúcia. Utilizando essa forma de apropriação do mundo chamada “olhar-de-lince-seguido-de-enumeração-exaustiva”, o autor transmite-nos atmosferas, hábitos e formas de pensar, analisando à lupa toda uma minudência de adereços (peças de roupa, objectos decorativos…) e compondo verdadeiros catálogos (plantas, insectos…), tal como se tivesse fotografias mentais.

"Existe um prazer indiscutivel, seja elle embora amargo, em inventariar no espírito, em recordar tudo o que nos enfeitiçou outr'ora" e Traços do Extremo Oriente é a manifestação do profundo afecto que o autor nutria pelo Japão e pelos japoneses, oferecendo-nos uma bela visão desse paradoxal universo nipónico, feito de despojamento e de excesso.

azuki

 
quinta-feira, agosto 24, 2006
  O Pequeno Príncipe

Livro aparentemente escrito para crianças, mas essencial para todos os adultos.
Talvez se perguntem porque em meio a tantos livros interessante eu dedico um post justamente ao mais batido e clichê de todos. Acabo de lê-lo, não pela primeira vez, já o fiz inúmeras vezes e a cada momento noto um novo detalhe que torna a leitura do livro ainda mais cativante.
O encontro daquele piloto com sua criança interior é o cenário para o diálogo mais lindo que já li em meus anos de vício pela leitura. Nenhum autor conseguiu ser tão incisivo quanto Antoine de Sant-Exupéry.
Apesar de ter sido escrito em 1943 sua narrativa sempre será atual. O aumento das tecnologias, das informações, da velocidade, tudo contribui para que a história daquele pequeno viajante - morador do asteróide B-612 – seja cada vez mais pertinente.Urge a necessidade de um encontro com uma criança que se perdeu em algum lugar do homem dito moderno.
As verdades mais profundas foram ditas da maneira mais simples e tocante.
Quantos de nós temos uma rosa nos esperando?
Quantos de nós zelamos por nossa rosa, tirando-lhe as lagartas, regando-a, amando-a?
Quantos, lembram que para conseguir amigos é preciso cativa-los?
Quantos, ainda nos sentimos responsáveis pelo que cativamos?
Até mesmo uma raposa tem muito a nos ensinar.
O Pequeno Príncipe é livro para adultos, mas não os adultos orgulhosos que pensam já saber tudo só porque tem diploma de mestrado e doutorado, é um livro para os adultos que sabem que não existe idade para aprender, ou reaprender. Reaprender que não se encontra amigos a venda em lojas, reaprender a chorar, a amar, a viver, a cativar.
O Pequeno Príncipe é sobre tudo um livro para todos.
Leiam o pequeno príncipe, uma, duas, três, quatro vezes. Não se cansem de ler e quando pensarem já ter aprendido tudo, releiam para tenham certeza de que ainda não sabemos nada.
E lembre-se do segredo da raposa, porque o essencial ainda é invisível aos olhos, e sempre será.

Agnes Alencar
 
quarta-feira, agosto 23, 2006
  Para ler, qualquer sítio é bom
azuki
 
terça-feira, agosto 22, 2006
  Rei Édipo, de Sófocles
Uma obra irónica e inquietante, profundamente comovente. Édipo, aquele que abandona Corinto para não matar o pai e casar com a mãe e que acaba por fazê-lo; Édipo, aquele que consegue responder ao enigma da esfinge (quem é o Homem?) e que pratica parricídio e incesto. O percurso de Édipo é a expressão da errância humana, a grande viagem de alguém que não sabe quem é e que actua guiado pela ilusão. Não existe justificação moral para o que lhe acontece e é esse o elemento trágico: a vulnerabilidade da condição humana, sujeita ao logro e à fatalidade.

Existe em Édipo uma enorme grandeza, porque ele quer ver e saber, mesmo que isso signifique tomar para si uma maldição. Assumindo os crimes praticados e as suas consequências (a noção grega de culpabilidade é a de que o Homem tem que pagar pelos seus actos, ainda que involuntários), Édipo cega-se. É só nesse momento que ele atinge a revelação (a nossa visão é a nossa cegueira), pois só o indivíduo que vive a tragédia pode ser o indivíduo redimido. Como diz José Pedro Serra, a nossa dimensão solar é directamente proporcional ao abismo de que somos capazes.

azuki
 
segunda-feira, agosto 21, 2006
  Sítios giros com livros
Os argentinos têm paixão pelos livros e Buenos Aires possui inúmeros livrarias e alfarrabistas. A El Ateneo, com vários pisos e cerca de 200.000 títulos, é uma das maiores livrarias da América Latina. Encontra-se instalada num antigo teatro, construído em 1919, e cuja estrutura foi conservada: o palco é agora um café, os camarotes transformaram-se em locais de leitura, mantiveram-se os acessos, os candeeiros e o tecto foram restaurados. A conjugação da riqueza dos tempos áureos e da moderna penúria oferece-nos uma das mais marcantes faces de Buenos Aires: centenas de edifícios grandiosos e decadentes. A este, estava reservado um belo destino.

azuki
 
sábado, agosto 19, 2006
  Humor Estival
William G. em conversa com o seu cão, Mr. Bones:

Mas a verdade é para ser dita, meu amigo, e a verdade é esta: os cães são capazes de ler. Se assim não fosse, por que motivo é que eles haviam de pôr aqueles letreiros nas portas das estações dos correios? PROIBIDA A ENTRADA A CÃES, EXCEPTO CÃES-GUIAS. Estás a ver aonde é que eu quero chegar? O homem que vai com o cão não vê; se ele não vê, como é que vai ler o letreiro? E se ele não lê o letreiro, quem é que o vai ler por ele? É disto que fazem aquelas escolas que eles têm para cães-guias. Só que não dizem nada cá para fora. Têm mantido segredo absoluto acerca disso, neste momento é um dos três ou quatro segredos mais secretos de toda a América. Se a coisa começasse a espalhar-se, imagina só a revolução que não iria ser. Os cães tão inteligentes como os homens? Que blasfémia!

Paul Auster in Timbuktu

cristina_pt
 
  Amyr Klink: um homem precisa viajar
Amyr Klink é um dos meus heróis. Digo sem pudores: eu queria ser Amyr Klink!!!
Fernando Pessoa, o profeta, o místico, estava certo: que o mar com fim será grego ou romano: o mar sem fim é português. Se o poeta português acreditava na proposta simbolista da abdicação e de gozar na imaginação, o navegador brasileiro pensa que melhor é ir lá ver, mesmo que a visão, no final das contas, seja ruim.
Como não sei nadar, não tenho habilidade para manejar um barco sozinho e dificilmente conseguirei obter essas qualificações em idade favorável para uma invernada na Baía de Dorian, resta-me ler.
Mar sem fim é o relato da volta ao mundo "mais rápida, mais curta e mais difícil que poderia ser feita, circunavegando a Antártica". Desnecessário dizer: foi o primeiro a fazê-la.
Talvez seja um pouco maçante ler certas descrições de latitudes, longitudes e certos termos técnicos que mergulham no texto sem aviso, mas o feito é tão extraordinário que estes entraves são facilmente transpostos.
Sempre desejei saber o que leva um sujeito a abandonar sua casinha em Jurumirim - casa que não tem nem luz elétrica e por onde só se chega pelo mar (ou pelo ar) - e ir se aventurar nos oceanos. Amyr gosta de deixar bem claro que o que ele faz não é aventura: é viagem, um itinerário traçado, metas a cumprir, data de partida, data de chegada.
Obviamente, nem tudo são flores e há muitos percalços no caminho, desvios de rota, atrasos, simples vontade de se demorar mais num lugar que noutro.
A solidão de viajar sozinho, a pressão de ser o único responsável pelo barco, a necessidade de dormir meia hora a cada hora acordado...Enfim, a história está no livro, sem muitos enfeites, até com um certo embrutecimento "diante das coisas que de fato importam". Talvez a grande lição do mar é que é preciso aceitá-lo, que o tempo ali não tem lá muita serventia e que ter um dia em que tudo dá errado também faz parte, embora qualquer erro possa ser fatal. (Afinal, nada muito diferente do mundo dos pequenos feitos e das pequenas conquistas que cada um de nós vive - se nos importássemos com as coisas que de fato importam.)
O navegador brasileiro também adora dizer que se livrou da pior forma de naufrágio - a de não partir. E que parte para voltar, nem que seja para descobrir que sua casinha em Jurumirim, suas filhas gêmeas e sua mulher são as melhores coisas do mundo.

"Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar do calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver. Não há como não admirar um homem - Cousteau, ao comentar o sucesso do seu primeiro grande filme: 'Não adianta, não serve para nada, é preciso ir ver'. Il faut aller voir. Pura verdade, o mundo na TV é lindo, mas serve para pouca coisa. É preciso questionar o que se aprendeu. É preciso ir tocá-lo."

Grande sujeito, esse Amyr Klink. A Baía de Dorian que me aguarde.

Gabriel
 
sexta-feira, agosto 18, 2006
  O Médico e o Monstro, de Robert L. Stevenson
Robert Louis Stevenson (1850-1894), autor de um dos livros da nossa infância (Ilha do Tesouro), cresceu no ambiente austero de uma família calvinista, tendo passado quase metade da sua vida longe da Escócia natal. As suas vivências muito devem ter contribuído para esta visão tenebrosa da dualidade da natureza humana: o exposto Jekyll e o escondido Hyde. História sonhada numa noite, quando Freud começa a ser conhecido e trinta anos depois d’A Origem das Espécies, O Médico e o Monstro alcançou um sucesso estrondoso e tornou famoso o seu autor.

Edward Hyde, único na Humanidade, era de pura essência maléfica. Crítica à relativização de valores ou visão algo simplista, este livro pinta um retrato muito pouco ambíguo das duas faces humanas: o indivíduo respeitável e civilizado e o ser reprimido, violento e provavelmente mais autêntico. Paralelamente, encontramos um alerta aos efeitos do alcoolismo (a embriaguez transfigura e provoca amnésia), uma alusão à homossexualidade (Jekyll fala de um vício demasiado perigoso para que lhe seja dado um nome, havendo uma inexplicável ligação/atracção do médico pelo jovem marginal: Hyde é agressivo/dominador e Jekyll desculpa-o e protege-o), uma referência às dificuldades da experimentação científica (o que faz com que Hyde regresse a Jekyll não é propriamente a bebida, mas uma impureza, que depois o médico não consegue replicar).

Metáfora das consequências nefastas que uma sociedade repressiva exerce sobre uma pessoa ou da incapacidade individual de canalizar essa energia para formas mais construtivas? A educação deveria conseguir ensinar-nos a não centrar o bom comportamento no acessório e a perceber que há certas coisas pelas quais vale a pena entrar em conflito connosco e com os outros. Jekyll descobre o fascínio de um mundo proibido e não tenciona abandoná-lo, ao mesmo tempo que recusa integrar em si o dinamismo e a negatividade de Hyde (não deixa de ser curioso notar que o mau era o Outro e que não nos é dado o seu ponto de vista). Rejeitar a sombra ou fingir que ela não existe, é sempre um caminho perigoso.

azuki
 
quinta-feira, agosto 17, 2006
  Prefácio aos meus posts de Agosto
O que li nos últimos meses? As escolhas do Leitura Partilhada, as escolhas do Leitura Partilhada, as escolhas do Leitura Partilhada. Bibliografia “adjacente” às escolhas do Leitura Partilhada. Guias de viagem. Jornais e revistas. Uma ou outra, rara, leitura não programada (como Bilhete de Identidade, uma extravagante concessão ao, felizmente pouco militante, voyerismo que há em mim). Os títulos sugeridos pelas últimas Comunidades de Leitores que frequentei: “Tragédia Grega”, orientada por Maria João Seixas e por José Pedro Serra (Fundação de Serralves), “Literatura de Viagens”, orientada por Mário Cláudio (Fundação de Serralves) e “O Conhecimento e o Risco”, orientada por Alexandre Quintanilha (Biblioteca Municipal Almeida Garrett). Foi inestimável a contribuição destas quatro pessoas notáveis (e demais participantes) para a minha interpretação das obras, pelo que os meus posts de Agosto são uma súmula do que li, senti e ouvi. Ficam feitas a nota importante e a devida homenagem.

azuki
 
quarta-feira, agosto 16, 2006
  Discurso Directo, de David Mourão-Ferreira
Como ficcionista, David Mourão-Ferreira (1927-1996) não faz parte das minhas predilecções. A indiscutível qualidade da sua prosa e da sua cultura não consegue mitigar a irritação que um certo estilo pedante me provoca (nunca percebi bem o consenso à volta da excelência de Um Amor Feliz). Pelo contrário, aprecio bastante os poucos poemas que lhe conheço.

Este Discurso Directo, publicado em 1968, esgotadíssimo nas livrarias e nos alfarrabistas de referência, é um hino ao mais belo país do mundo: Itália. Escritor com uma mentalidade verdadeiramente europeia, David Mourão-Ferreira era profundo conhecedor da cultura italiana, quer a clássica, quer a contemporânea, e a sua forma ímpar de sentir o país está bem patente neste livro (Em pouco mais de três anos, é esta a quarta vez que venho a Itália. Foi tardio o descobrimento; mas definitiva a fascinação. Nenhum outro país, além do meu, se me colou desta maneira à pele).

Discurso Directo inicia-se com uma abordagem muito interessante ao conceito de férias, nomeadamente, à sua dimensão quase peregrinante, num esforço de auto-reconhecimento e de descoberta dos arquétipos que nos explicam:

FÉRIAS

(…) as férias constituem, para o homem profano das sociedades modernas, um vestígio (ou um sucedâneo) da sua ancestralidade religiosa. (…) Traço inconfundível do “homem-religioso” (…) é a tendência para não considerar, nem o espaço nem o tempo, como algo de contínuo ou de homogéneo. Para ele, pelo contrário, há, no espaço, lugares privilegiados e, no tempo, momentos de eleição. (…)

Melhor ou pior, todos pretendemos, com as férias, rasgar uma clareira na nossa vida quotidiana. (…) tanto os que demandam, cada ano, o mesmo espaço sagrado, como os que dele procuram, cada ano, renovadas imagens, se esforçam afinal por
abolir (quinze dias que seja!) a homogeneidade do espaço em que habitualmente se movem. A ruptura operada no tempo, essa, ainda é mais flagrante. Mas a coincidência de uma coisa com a outra é que permite, justamente, a experiência de determinadas situações míticas, que não seriam viáveis de outro modo. (…)

E todas estas experiências, por muito fugidias ou imperceptíveis que sejam, têm o condão de nos re-ligar a certas forças elementares da existência, de despertar imagens arquetípicas, soterradas no inconsciente da espécie, de nos fazer ouvir, mais de perto, a pulsação original do Mundo. Nisto reside, para a psique, uma das grandes funções terapêuticas das férias.


Com excepção de um final “à David Mourão-Ferreira” (E vem aí o Outono, mais um Outono. Sabe-nos bem, por vezes, desprendermo-nos do corpo de uma mulher - para ver se as folhas, lá fora, já principiaram a cair.), Discurso Directo é um belo livro, especialmente para quem pretenda conhecer melhor aquele que é o nec plus ultra dos destinos turísticos.

azuki
 
terça-feira, agosto 15, 2006
  Um pouco de ausência
Ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta.

E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade


Ausência

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto. No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz. Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado. Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado. Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face. Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada. Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite. Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa. Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço. E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado. Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos. Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir. E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas. Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada. - Vinicius de Moraes

Que me invada por fim a tua ausência para que a saudade nos eternize...

Agnes Alencar
 
segunda-feira, agosto 14, 2006
  A NICE CUP OF TEA
George Orwell, 1946
"IF YOU look up ‘tea’ in the first cookery book that comes to hand you will probably find that it is unmentioned; or at most you will find a few lines of sketchy instructions which give no ruling on several of the most important points.

This is curious, not only because tea is one of the main stays of civilization in this country, as well as in Eire, Australia and New Zealand, but because the best manner of making it is the subject of violent disputes."

.
Joana

"A nice cup of tea"
 
  O que fui aprendendo enquanto lia Admirável Mundo Novo

Actualmente, hiperboliza-se a importância dos genes na nossa predisposição (nos seguros de saúde, já se pede informação genética…);

As células estaminais são aquelas poucas células que temos que guardam a possibilidade de se desenvolverem sob qualquer tecido (toti-potenciais) podendo até dar origem a um embrião;

A clonagem genética para fins reprodutivos ainda funciona muito mal. A Dolly foi o resultado de 600 experiências diferentes e só 1 funcionou. Por outro lado, não se consegue ainda produzir clones perfeitos, uma vez que a técnica consiste em colocar uma célula num óvulo ao qual foi retirado o núcleo, mas que mantém as mitocôndrias. Assim, o novo ser não irá ter como património genético apenas o da célula somática;

A clonagem terapêutica significa não permitir que a célula crie um novo ser mas sim que ela se diferencie em células daquele órgão, através da introdução de um químico (ou seja, também aqui se vai criar um proto-embrião que iria desenvolver-se como embrião se o processo não fosse interrompido). Mas até se perceber como vamos criar o ambiente das células de rim ou de fígado para que elas julguem que estão dentro do embrião, ainda vai demorar algum tempo…


azuki
 
domingo, agosto 13, 2006
  Poesia para quem precisa (VI)
Antologia - Manuel Bandeira

A vida
Não vale a pena e a dor de ser vivida.
Os corpos se entendem mas a alma não.
A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

Vou-me embora pra Pasárgada!
Aqui eu não sou feliz.
Quero esquecer tudo:
- A dor de ser homem...
Este anseio infinito e vão
De possuir o que me possui.

Quero descansar.
Humildemente pensando na vida e nas mulheres que amei...
Na vida inteira que podia ter sido e que não foi.

Quero descansar.
Morrer.
Morrer de corpo e alma.
Completamente.
(Todas as manhãs o aeroporto em frente me dá lições de partir.)

Quando a Indesejada das gentes chegar
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.


Gabriel
 
sábado, agosto 12, 2006
  Poesia para quem precisa (V)
Interlúdio - Cecília Meireles

As palavras estão muito ditas
e o mundo muito pensado.
Fico ao teu lado.

Não me digas que há futuro
nem passado.
Deixa o presente — claro muro
sem coisas escritas.

Deixa o presente. Não fales,
Não me expliques o presente,
pois é tudo demasiado.

Em águas de eternamente,
o cometa dos meus males
afunda, desarvorado.

Fico ao teu lado.


Gabriel

 
  WHY I WRITE
George Orwell, 1946
Putting aside the need to earn a living, I think there are four great motives for writing, at any rate for writing prose. They exist in different degrees in every writer, and in any one writer the proportions will vary from time to time, according to the atmosphere in which he is living. They are:

(i) Sheer egoism. Desire to seem clever, to be talked about, to be remembered after death, to get your own back on the grown-ups who snubbed you in childhood, etc., etc. It is humbug to pretend this is not a motive, and a strong one. Writers share this characteristic with scientists, artists, politicians, lawyers, soldiers, successful businessmen — in short, with the whole top crust of humanity. The great mass of human beings are not acutely selfish. After the age of about thirty they almost abandon the sense of being individuals at all — and live chiefly for others, or are simply smothered under drudgery. But there is also the minority of gifted, willful people who are determined to live their own lives to the end, and writers belong in this class. Serious writers, I should say, are on the whole more vain and self-centered than journalists, though less interested in money.

(ii) Aesthetic enthusiasm. Perception of beauty in the external world, or, on the other hand, in words and their right arrangement. Pleasure in the impact of one sound on another, in the firmness of good prose or the rhythm of a good story. Desire to share an experience which one feels is valuable and ought not to be missed. The aesthetic motive is very feeble in a lot of writers, but even a pamphleteer or writer of textbooks will have pet words and phrases which appeal to him for non-utilitarian reasons; or he may feel strongly about typography, width of margins, etc. Above the level of a railway guide, no book is quite free from aesthetic considerations.

(iii) Historical impulse. Desire to see things as they are, to find out true facts and store them up for the use of posterity.

(iv) Political purpose. — Using the word ‘political’ in the widest possible sense. Desire to push the world in a certain direction, to alter other peoples’ idea of the kind of society that they should strive after. Once again, no book is genuinely free from political bias. The opinion that art should have nothing to do with politics is itself a political attitude.
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Joana
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"Why I write" pode ser lido na integra aqui
 
sexta-feira, agosto 11, 2006
  Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley
Aldous Huxley (1894-1963) nasceu no seio da elite intelectual inglesa, numa família de grandes cientistas (o avô foi o principal responsável pela difusão, em Inglaterra, das ideias de Darwin). Admirável Mundo Novo (AMN) surge em 1932, depois de se tornarem conhecidas as teorias de John Broadus Watson (considerado o pai do behaviorismo) que desvalorizavam o poder da herança genética, colocando todo o ênfase no condicionamento ambiental: Give me a dozen healthy infants, well-formed, and my own specified world to bring them up in and I'll guarantee to take any one at random and train him to become any type of specialist I might select – doctor, lawyer, artist, merchant-chief and, yes, even beggar-man and thief, regardless of his talents, penchants, tendencies, abilities, vocations, and race of his ancestors.

No AMN, não se problematiza, pois perseguir o conhecimento é perturbação e a perturbação não é bem-vinda. A ciência é perigosa (para além da que já existe e que mantém os alicerces da sociedade) e a curiosidade desapareceu, em troca do contentamento e da estabilidade. Também não são queridas as emoções intensas, nem as ligações fortes. Não existem velhice, doença, dor, mau cheiro, infelicidade, desconforto e contrariedade. À primeira vista, até parece atraente, esta sociedade tétrica onde já só há fracos sucedâneos do desejo.

Felicidade química e persuasão: a ideia de que é possível convencer as pessoas de que o sistema em que elas vivem é o sistema em que elas querem viver. Ficamos a pensar nos inúmeros exemplos de clonagem cultural da história e no condicionamento a que Hoje somos submetidos. O marketing, não só nos domina, como não ajuda a desenvolver a tolerância pela diferença: existimos Nós, os que usam Levi Strauss e que conduzem BMWs, e depois há os Outros, os que não usam Levi Strauss e que não conduzem BMWs.

Outro dos temas abordados, como contraponto aos prognósticos de Watson, é o da clonagem genética (o controlo dos seres humanos começa na fertilização, no que ele chama a divisão do embrião), associada à interferência sobre o desenvolvimento embrionário, desde o primeiro momento. Mas há alturas em que os comportamentos destes seres escapam do programado, como que um aviso aos aprendizes de feiticeiro que somos.

AMN é um livro desconcertante que não nos convence de que haverá uma solução, porque nenhum destes dois mundos é atraente: de um lado, a sociedade altamente estabilizada e manipulada, sem emoções e sem curiosidade, do AMN; do outro, numa perspectiva muito pouco Rosseauniana, a sociedade brutal, suja e sem conforto, do Selvagem. Há nestas 2 anti-utopias a noção de que o estranho é o Outro: ou a sociedade os persegue ou eles se destroem.


O wonder!
How many goodly creatures are there here!
How beautious mankind is!
O brave new world,
That has such people in't!
(Shakespeare - The Tempest)

azuki

 
  GOOD BAD BOOKS
George Orwell, 1945
A type of book which we hardly seem to produce in these days, but which flowered with great richness in the late nineteenth and early twentieth centuries, is what Chesterton called the “good bad book”: that is, the kind of book that has no literary pretensions but which remains readable when more serious productions have perished. Obviously outstanding books in this line are RAFFLES and the Sherlock Holmes stories, which have kept their place when innumerable “problem novels”, “human documents” and “terrible indictments” of this or that have fallen into deserved oblivion.
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Joana
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O texto integral pode ser lido aqui
 
  Poesia para quem precisa (IV)
Suave Mari Magno - Machado de Assis

Lembra-me que, em certo dia,
Na rua, ao sol de verão,
Envenenado morria
Um pobre cão.

Arfava, espumava e ria,
De um riso espúrio e bufão,
Ventre e pernas sacudia
Na convulsão.

Nenhum, nenhum curioso
Passava, sem se deter,
Silencioso,

Junto ao cão que ia morrer,
Como se lhe desse gozo
Ver padecer.


Gabriel

 
quinta-feira, agosto 10, 2006
  Poesia para quem precisa (III)
Edital - Affonso Romano de Sant'Anna

Por este instrumento faço saber
que é verdade
o que de mim dizem.
É verdade o que alardeiam os inimigos
e os amigos enfatizam.
Sou tudo o que me pespegam.

Quando me acanalham, é verdade,
e é verdade
- quando me embalam.

Jovem, indignado,
tentei com engenho & arte
separar do trigo
a outra parte.
Já não consigo. Renegar o joio
é ter o trigo empobrecido.

Quando me atiram pedras, é justo.
Quando me atiram estrelas, quem sabe?
Não vou de mim, de vós, viver a contrapelo.
Sou como Ulisses
na ida e no regresso:
a soma dos descaminhos
a contradição em progresso.


Gabriel
 
  ESSAYS, GEORGE ORWELL
INDIFFERENCE TO REALITY. All nationalists have the power of not seeing resemblances between similar sets of facts. A British Tory will defend self-determination in Europe and oppose it in India with no feeling of inconsistency. Actions are held to be good or bad, not on their own merits, but according to who does them, and there is almost no kind of outrage -- torture, the use of hostages, forced labour, mass deportations, imprisonment without trial, forgery, assassination, the bombing of civilians -- which does not change its moral colour when it is committed by "our" side. The Liberal News Chronicle published, as an example of shocking barbarity, photographs of Russians hanged by the Germans, and then a year or two later published with warm approval almost exactly similar photographs of Germans hanged by the Russians. It is the same with historical events. History is thought of largely in nationalist terms, and such things as the Inquisition, the tortures of the Star Chamber, the exploits of the English buccaneers (Sir Francis Drake, for instance, who was given to sinking Spanish prisoners alive), the Reign of Terror, the heroes of the Mutiny blowing hundreds of Indians from the guns, or Cromwell's soldiers slashing Irishwomen's faces with razors, become morally neutral or even meritorious when it is felt that they were done in the "right" cause.
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Notes on Nationalism, 1945
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Eu podia ter gasto o meu latim a dizer porque e que George Orwell para alem de ser um dos meus escritores preferidos e alguem que eu admiro e respeito incondicionalmente-mas uma palavra de Orwell vale mil das minhas.
Este ensaio parece-me especialmente relevante nos dias de hoje, e a definicao Orwelliana de nacionalismo aplica-se na perfeicao a todas as faccoes envolvidas na chamada "guerra contra o terror": fundamentalistas islamicos, Israel, governo dos Estados Unidos da America...aplica-se a todos quantos justificam e aceitam atropelos aos mais elementares direitos humanos e guerras santas.
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Joana
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Nota: Notes on Nationalism pode ser lido na integra aqui
 
  Portugal de Relance, de Maria Rattazzi
Um livro cheio de qualidades e de defeitos, com balanço positivo.

Portugal de Relance pretende ser exactamente isso, as impressões de uma estrangeira de visita a Portugal, e não um estudo exaustivo sobre o país. Contudo, pela sua natureza, os comentários que Maria Rattazzi tece, não deveriam, não poderiam, ser feitos de forma leviana. O estilo en vol d’oiseau não se adequa ao olhar irónico, arrogante e até xenófobo (outro tique das raças primitivas) da autora.

Maria Rattazzi é pouco rigorosa e está mal documentada (não é vulgar encontrar-se árvores em Portugal; em Portugal, a embriaguez é raríssima) e a sua visão superficial condu-la a generalizações impróprias, chegando mesmo a proferir frases que desafiam a verdade absoluta, tais como a cozinha portuguesa é má. Os inúmeros erros de linguagem (fala de espanhofagia e de jazigos, quando quer dizer jazidas) são apenas um mal lateral (enfim, a autora era estrangeira e não teve um revisor à altura).

Trata-se de um livro que suscitou intensa polémica em Portugal, uma vez que o ambivalente olhar luso, ou nos lastima (quase sempre), ou nos faz vibrar de amor à pátria (raramente, quando há campeonatos de futebol ou quando os Outros dizem de nós aquilo que nós mesmos dizemos; assim, se o Outro nos ouve atenta e silenciosamente, as críticas surgem em catadupa; mas, se ele resolve reagir, aprovando as nossas censuras e até enriquecendo a conversa com as SUAS críticas ao NOSSO país, enchemo-nos de brios e tornamo-nos nos seus mais fervorosos defensores). Tiveram lugar de destaque os insultos trocados entre Camilo Castelo Branco e a autora, os quais, aliás, são altamente esclarecedores quanto à educação e à mentalidade avançada do primeiro.

Maria Rattazzi é uma excelente observadora, inteligente e de grande sentido de humor. São numerosas as passagens em que põe o dedo na ferida, acertando naquilo em que gostaríamos que não acertasse. Acima de tudo, este livro contribuiu para enriquecer o meu olhar sobre Portugal e os portugueses, sempre com um tom cáustico que muito me divertiu.

azuki
 
quarta-feira, agosto 09, 2006
  Poesia para quem precisa (II)
Vida toda linguagem - Mário Faustino


Vida toda linguagem,
frase perfeita sempre, talvez verso,
geralmente sem qualquer adjetivo,
coluna sem ornamento, geralmente partida.
Vida toda linguagem,
há entretanto um verbo, um verbo sempre, e um nome
aqui, ali, assegurando a perfeição
eterna do período, talvez verso,
talvez interjetivo, verso, verso.
Vida toda linguagem,
feto sugando em língua compassiva
o sangue que criança espalhará - oh metáfora ativa !
leite jorrado em fonte adolescente,
sêmen de homens maduros, verbo, verbo.

Vida toda linguagem,
bem o conhecem velhos que repetem,
contra negras janelas, cintilantes imagens
que lhes estrelam turvas trajetórias.
Vida toda linguagem -
como todos sabemos
conjugar esses verbos, nomear
esses nomes:
amar, fazer, destruir,
homem, mulher e besta, diabo e anjo
e deus talvez, e nada.
Vida toda linguagem,
vida sempre perfeita,
imperfeitos somente os vocábulos mortos
com que um homem jovem, nos terraços do inverno, contra a chuva,
tenta fazê-la eterna - como se lhe faltasse
outra, imortal sintaxe .
à vida que é perfeita
língua
eterna.


Gabriel

 
  Bilhete de Identidade, de Maria Filomena Mónica
Obstrução da lucidez por excesso de ego.

azuki
 
terça-feira, agosto 08, 2006
  Poesia para quem precisa

Elegia - Carlos Drummond de Andrade


Ganhei (perdi) meu dia.
E baixa a coisa fria
também chamada noite, e o frio ao frio
em bruma se entrelaçam, num suspiro.

E me pergunto e me respiro
na fuga deste dia que era mil
para mim que esperava,
os grandes sóis violentos, me sentia
tão rico deste dia
e lá se foi secreto, ao serro frio.

Perdi minha alma à flor do dia ou já perdera
bem antes sua vaga pedraria?
Mas quando me perdi, se estou perdido
antes de haver nascido
e me nasci votado à perda
de frutos que não tenho nem colhia?

Gastei meu dia. Nele me perdi.
De tantas perdas uma clara via
por certo se abriria
de mim a mim, estrela fria.
As arvores lá fora se meditam.
O inverno é quente em mim, que o estou berçando
e em mim vai derretendo
este torrão de sal que está chorando.

Ah, chega de lamento e versos ditos
ao ouvido de alguém sem rosto e sem justiça,
ao ouvido do muro,
ao liso ouvido gotejante
de uma piscina que não sabe o tempo, e fia
seu tapete de água, distraída.

E vou me recolher
ao cofre de fantasmas, que a notícia
de perdidos lá não chegue nem açule
os olhos policiais do amor-vigia.
Não me procurem que me perdi eu mesmo
como os homens se matam, e as enguias
à loca se recolhem, na água fria.Dia,
espelho de projeto não vivido,
e contudo viver era tão flamas
na promessa dos deuses; e é tão ríspido
em meio aos oratórios já vazios
em que a alma barroca tenta confortar-se
mas só vislumbra o frio noutro frio.

Meu Deus, essência estranha
ao vaso que me sinto, ou forma vã,
pois que, eu essência, não habito
vossa arquitetura imerecida;
meu Deus e meu conflito,
nem vos dou conta de mim nem desafio
as garras inefáveis: eis que assisto
a meu desmonte palmo a palmo e não me aflijo
de me tornar planície em que já pisam
servos e bois e militares em serviço
da sombra, e uma criança
que o tempo novo me anuncia e nega.

Terra a que me inclino sob o frio
de minha testa que se alonga,
e sinto mais presente quando aspiro
em ti o fumo antigo dos parentes,
minha terra, me tens; e teu cativo
passeias brandamente
como ao que vai morrer se estende a vista
de espaços luminosos, intocáveis:
em mim o que resiste são teus poros.
E sou meu próprio frio que me fecho
Corto o frio da folha. Sou teu frio.

E sou meu próprio frio que me fecho
longe do amor desabitado e líquido,
amor em que me amaram, me feriram
sete vezes por dia em sete dias
de sete vidas de ouro,
amor, fonte de eterno frio,
minha pena deserta, ao fim de março,
amor, quem contaria?
E já não sei se é jogo, ou se poesia.


Gabriel

 
segunda-feira, agosto 07, 2006
  Nem livros, nem estantes, nem sombra, nem ninhos
O meu dia hoje acordou assim.
azuki
 
  Sítios giros com livros
O elegante café/restaurante Pushkin, em Moscovo. Magia e requinte, num espaço de vários andares, feito farmácia e biblioteca.

azuki
 
sábado, agosto 05, 2006
  Quixote na Rússia
Não pode passar despercebida, ainda que estejamos no descomunal Hermitage, esta graciosa peça do atrevido, confiante e encantador cavaleiro, conduzindo a trote os seus devaneios, pelas mãos de Picasso.

azuki
 
quinta-feira, agosto 03, 2006
  Robert Frost (1874-1963)
Nothing Gold Can Stay

Nature's first green is gold,
Her hardest hue to hold.
Her early leafs a flower;
But only so an hour.
Then leaf subsides to leaf.
So Eden sank to grief,
So dawn goes down to day.
Nothing gold can stay.


Há cerca de um ano, o Abrupto chamou-me a atenção para aquele que é um dos grandes poetas norte-americanos do sec. XX, vencedor de quatro Pulitzer Prizes for Poetry. Associo a sua poesia à ruralidade, em todos os seus detalhes (quintas, colinas, rios, estrelas, lenha, neve, árvores, estradas, animais), como uma espécie de encontro consigo próprio. Robert Frost foi um recluso, daquele tipo de reclusos que disfarça muito bem, homem de família, muitíssimo viajado, professor e conferencista: He was a loner who liked company; a poet of isolation who sought a mass audience; a rebel who sought to fit in. Although a family man to the core, he frequently felt alienated from his wife and children and withdrew into reveries. While preferring to stay at home, he traveled more than any poet of his generation to give lectures and readings, even though he remained terrified of public speaking to the end... (Jay Parini). Este foi o poeta que disse I had a lover’s quarrel with the world.

Acquainted with the night

I have been one acquainted with the night.
I have walked out in rain --and back in rain.
I have outwalked the furthest city light.

I have looked down the saddest city lane.
I have passed by the watchman on his beat
And dropped my eyes, unwilling to explain.

I have stood still and stopped the sound of feet
When far away an interrupted cry
Came over houses from another street,

But not to call me back or say good-bye;
And further still at an unearthly height
One luminary clock against the sky

Proclaimed the time was neither wrong nor right.
I have been one acquainted with the night.


Escuridão, isolamento. Caminhar para além de…, distanciamento. Tristeza, ausência de comunicação. Os ecos, a vida que existe ao longe. Alienação e sentimento de não pertença. Solidão, solidão repetidamente afirmada. E a inexorabilidade da passagem do tempo. Uma leitura menos imediata fala-nos da ausência de rumo num universo hostil, de uma falta de luz que é interior.

Fire and Ice

Some say the world will end in fire,
Some say in ice.
From what I've tasted of desire
I hold with those who favour fire.
But if it had to perish twice,
I think I know enough of hate
To say that for destruction ice
Is also great
And would suffice.


A linguagem do homem comum, com simplicidade e ironia, numa métrica complexa e numa sonoridade cuidada. Fico obrigada ao Abrupto, por mais esta bela descoberta.

azuki
 
terça-feira, agosto 01, 2006
  Ilíada, de Homero
- Sim, Troti. Haveria, porventura, leituras mais apropriadas para o verão e a Ilíada deveria ter sido uma escolha invernal, para essas domésticas tardes de domingo escuras, frias e chuvosas, debaixo das mantas. Mas eu vibrei tanto com o Livro Primeiro que nada me parece mais certo do que aquilo que foi este nosso Julho de 2006.

Um livro escrito há quase três mil anos. O Homem está na pré-história da filosofia mas já percebeu de que matéria é feito e tenta, com uma simplicidade afectuosa, atribuir um significado ao mundo e descobrir os seus mecanismos.

O mar, a aurora, o trovão, o voo de uma águia, o percurso humano, estão impregnados de sagrado e tudo é a sua representação antropomórfica, em que os deuses são criados à semelhança dos Homens e recebem, não só as suas características, como as suas ambições (força, sabedoria, omnipresença, imortalidade); eles são mesquinhos, caprichosos e cruéis, mas também susceptíveis de ser aplacados, desde que percebam merecimento e respeito (…é bom oferecermos aos imortais os dons devidos); por vezes, têm atitudes inexplicáveis, mas até essas têm uma explicação: serão uma atitude inexplicável de um deus mal-humorado ou, mais simplesmente, o destino que cada Homem tem que encarar.

Narrativas sobrenaturais que permitem ordenar a desordem, explicar o inexplicável, aceitar o ilógico, os mitos apaziguam o medo da morte e a angústia da incerteza, conferindo um sentido à realidade e oferecendo ao Homem a ilusão de a dominar. A correcta realização dos rituais garante uma hierarquia e a participação no sagrado, levando os crentes a presumir que obterão os resultados desejados: um corpo insepulto é uma terrível desgraça.

A cada Homem, destinam os deuses jarras de dons, uma com os males, outra com as bênçãos. A proporção dependerá da discricionariedade dos deuses, mas também do livre arbítrio humano, essa estreita margem de manobra que se deverá gerir com sensatez, inteligência e alguma humildade.

A Ilíada começa com uma rixa de taberna (nas palavras de Roth) e retrata-nos inteiros, desde o orgulho e a cólera, ao espírito combativo e à insatisfação que nos fazem progredir, à coragem e à dignidade, até à súplica e à compaixão. Os mitos ofereciam arquétipos para os comportamentos humanos, garantindo a coesão social. Hoje, também temos os nossos mitos e os nossos arquétipos, e a vida continua a ser uma sucessão de rixas de taberna. A Ilíada bem pode servir-nos de espelho. Afinal, não mudamos nada em três mil anos.

azuki

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O QUE ESTAMOS A LER

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PROXIMAS LEITURAS

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LEITURAS NO ARQUIVO

"ULISSES", de James Joyce (17 de Julho de 2003 a 7 de Fevereiro de 2004)

"OS PAPEIS DE K.", de Manuel António Pina (1 a 3 de Outubro de 2003)

"AS ONDAS", de Virginia Woolf (13 a 20 de Outubro de 2003)

"AS HORAS", de Michael Cunningham (27 a 30 de Outubro de 2003)

"A CIDADE E AS SERRAS", de Eça de Queirós (30 de Outubro a 2 de Novembro de 2003)

"OBRA POÉTICA", de Ferreira Gullar (10 a 12 de Novembro de 2003)

"A VOLTA NO PARAFUSO", de Henry James (13 a 16 de Novembro de 2003)

"DESGRAÇA", de J. M. Coetzee (24 a 27 de Novembro de 2003)

"PEQUENO TRATADO SOBRE AS ILUSÕES", de Paulinho Assunção (22 a 28 de Dezembro de 2003)

"O SOM E A FÚRIA", de William Faulkner (8 a 29 de Fevereiro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. I - Do lado de Swann)", de Marcel Proust (1 a 31 de Março de 2004)

"O COMPLEXO DE PORTNOY", de Philip Roth (1 a 15 de Abril de 2004)

"O TEATRO DE SABBATH", de Philip Roth (16 a 22 de Abril de 2004)

"A MANCHA HUMANA", de Philip Roth (23 de Abril a 1 de Maio de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. II - À Sombra das Raparigas em Flor)", de Marcel Proust (1 a 31 de Maio de 2004)

"A MULHER DE TRINTA ANOS", de Honoré de Balzac (1 a 15 de Junho de 2004)

"A QUEDA DUM ANJO", de Camilo Castelo Branco (19 a 30 de Junho de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. III - O Lado de Guermantes)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2004)

"O LEITOR", de Bernhard Schlink (1 a 31 de Agosto de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. IV - Sodoma e Gomorra)", de Marcel Proust (1 a 30 de Setembro de 2004)

"UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO DOS PRAZERES" e outros, de Clarice Lispector (1 a 31 de Outubro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. V - A Prisioneira)", de Marcel Proust (1 a 30 de Novembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA", de José Saramago (1 a 21 de Dezembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ", de José Saramago (21 a 31 de Dezembro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VI - A Fugitiva)", de Marcel Proust (1 a 31 de Janeiro de 2005)

"A CRIAÇÃO DO MUNDO", de Miguel Torga (1 de Fevereiro a 31 de Março de 2005)

"A GRANDE ARTE", de Rubem Fonseca (1 a 30 de Abril de 2005)

"D. QUIXOTE DE LA MANCHA", de Miguel de Cervantes (de 1 de Maio a 30 de Junho de 2005)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VII - O Tempo Reencontrado)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2005)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2005)

UMA SELECÇÃO DE CONTOS LP (1 a 3O de Setembro de 2005)

"À ESPERA NO CENTEIO", de JD Salinger (1 a 31 de Outubro de 2005)(link)

"NOVE CONTOS", de JD Salinger (21 a 29 de Outubro de 2005)(link)

Van Gogh, o suicidado da sociedade; Heliogabalo ou o Anarquista Coroado; Tarahumaras; O Teatro e o seu Duplo, de Antonin Artaud (1 a 30 de Novembro de 2005)

"A SELVA", de Ferreira de Castro (1 a 31 de Dezembro de 2005)

"RICARDO III" e "HAMLET", de William Shakespeare (1 a 31 de Janeiro de 2006)

"SE NUMA NOITE DE INVERNO UM VIAJANTE" e "PALOMAR", de Italo Calvino (1 a 28 de Fevereiro de 2006)

"OTELO" e "MACBETH", de William Shakespeare (1 a 31 de Março de 2006)

"VALE ABRAÃO", de Agustina Bessa-Luis (1 a 30 de Abril de 2006)

"O REI LEAR" e "TEMPESTADE", de William Shakespeare (1 a 31 de Maio de 2006)

"MEMÓRIAS DE ADRIANO", de Marguerite Yourcenar (1 a 30 de Junho de 2006)

"ILÍADA", de Homero (1 a 31 de Julho de 2006)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2006)

POESIA DE ALBERTO CAEIRO (1 a 30 de Setembro de 2006)

"O ALEPH", de Jorge Luis Borges (1 a 31 de Outubro de 2006) (link)

POESIA DE ÁLVARO DE CAMPOS (1 a 30 de Novembro de 2006)

"DOM CASMURRO", de Machado de Assis (1 a 31 de Dezembro de 2006)(link)

POESIA DE RICARDO REIS E DE FERNANDO PESSOA (1 a 31 de Janeiro de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 28 de Fevereiro de 2007)

"O VERMELHO E O NEGRO" e "A CARTUXA DE PARMA", de Stendhal (1 a 31 de Março de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 30 de Abril de 2007)

"A RELÍQUIA", de Eça de Queirós (1 a 31 de Maio de 2007)

"CÂNDIDO", de Voltaire (1 a 30 de Junho de 2007)

"MOBY DICK", de Herman Melville (1 a 31 de Julho de 2007)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2007)

"PARAÍSO PERDIDO", de John Milton (1 a 30 de Setembro de 2007)

"AS FLORES DO MAL", de Charles Baudelaire (1 a 31 de Outubro de 2007)

"O NOME DA ROSA", de Umberto Eco (1 a 30 de Novembro de 2007)

POESIA DE EUGÉNIO DE ANDRADE (1 a 31 de Dezembro de 2007)

"MERIDIANO DE SANGUE", de Cormac McCarthy (1 a 31 de Janeiro de 2008)

"METAMORFOSES", de Ovídio (1 a 29 de Fevereiro de 2008)

POESIA DE AL BERTO (1 a 31 de Março de 2008)

"O MANUAL DOS INQUISIDORES", de António Lobo Antunes (1 a 30 de Abril de 2008)

SERMÕES DE PADRE ANTÓNIO VIEIRA (1 a 31 de Maio de 2008)

"MAU TEMPO NO CANAL", de Vitorino Nemésio (1 a 30 de Junho de 2008)

"CHORA, TERRA BEM-AMADA", de Alan Paton (1 a 31 de Julho de 2008)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2008)

"MENSAGEM", de Fernando Pessoa (1 a 30 de Setembro de 2008)

"LAVOURA ARCAICA" e "UM COPO DE CÓLERA" de Raduan Nassar (1 a 31 de Outubro de 2008)

POESIA de Sophia de Mello Breyner Andresen (1 a 30 de Novembro de 2008)

"FOME", de Knut Hamsun (1 a 31 de Dezembro de 2008)

"DIÁRIO 1941-1943", de Etty Hillesum (1 a 31 de Janeiro de 2009)

"NA PATAGÓNIA", de Bruce Chatwin (1 a 28 de Fevereiro de 2009)

"O DEUS DAS MOSCAS", de William Golding (1 a 31 de Março de 2009)

"O CÉU É DOS VIOLENTOS", de Flannery O´Connor (1 a 15 de Abril de 2009)

"O NÓ DO PROBLEMA", de Graham Greene (16 a 30 de Abril de 2009)

"APARIÇÃO", de Vergílio Ferreira (1 a 31 de Maio de 2009)

"AS VINHAS DA IRA", de John Steinbeck (1 a 30 de Junho de 2009)

"DEBAIXO DO VULCÃO", de Malcolm Lowry (1 a 31 de Julho de 2009)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2009)

POEMAS E CONTOS, de Edgar Allan Poe (1 a 30 de Setembro de 2009)

"POR FAVOR, NÃO MATEM A COTOVIA", de Harper Lee (1 a 31 de Outubro de 2009)

"A ORIGEM DAS ESPÉCIES", de Charles Darwin (1 a 30 de Novembro de 2009)

Primeira Viagem Temática BLOOMSDAY 2004

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