Leitura Partilhada
sexta-feira, março 31, 2006
  …(life) is a tale / Told by an idiot, full of sound and fury, / Signifying nothing.
Macbeth recebe a notícia da morte da mulher com uma indiferença chocante. Afinal, a vida de Macbeth terá sido um mero acidente de percurso (até porque não tem, como Hamlet, alguém que faça esse relato às gerações vindouras): Malcolm regressa ao trono e os descendentes de Banquo darão origem à linhagem Stuart (a que pertence James I).

(Picasso, Breakfast of a Blind Man, 1903, oil on canvas)

She should have died hereafter;
There would have been a time for such a word.
To-morrow, and to-morrow, and to-morrow,
Creeps in this petty pace from day to day
To the last syllable of recorded time,
And all our yesterdays have lighted fools
The way to dusty death. Out, out, brief candle!
Life's but a walking shadow, a poor player
That struts and frets his hour upon the stage
And then is heard no more: it is a tale
Told by an idiot, full of sound and fury,
Signifying nothing.


Fatalidade? Não, ilusão. O ser humano não é um mero joguete nas mãos do destino. A verdadeira tragédia é o facto de, embora tendo a capacidade de lutar contra a fatalidade, a incorrecta interpretação dos sinais nos levar a uma espécie de errância. A verdadeira tragédia é que a nossa visão é a nossa cegueira.

azuki
 
  Um inimigo temível
Depois da serpente do Génesis, dois símbolos conectados com a Medicina: o de Asclépio (deus grego da medicina) e o de Hermes (deus grego do comércio).






Talvez Lady Macbeth não tenha morrido por acidente, nem cérebro-vascular, nem cardiovascular. Mas, por aqui, morre-se disso a sério e, hoje, é o Dia Nacional do Doente com AVC, que mata dois portugueses por hora, mais do que o enfarte agudo do miocárdio, ao contrário do que acontece nos restantes países da UE. Porquê? Não só pela aterosclerose (consequência da obesidade, tabagismo, stress, álcool, factores genéticos,…), mas também pela taxa de prevalência de tensão arterial elevada, estimando-se que cerca de metade de nós sejamos hipertensos. Porquê? O que nos diferencia os outros? Porventura, esse hábito pernicioso, que vem não sei de onde, talvez da nossa pobreza secular, talvez do tempo das Descobertas, não sei mesmo, e que parece estar inscrito no nosso código genético: em Portugal, usa-se e abusa-se do sal. Basta analisar a quantidade de sal que se consome no pão, para que fiquemos com os cabelos em pé; basta provar uma sopa em qualquer restaurante para perceber a “salgadura” em que nos movemos. Conseguir reduzir o teor de sal deveria ser de uma simplicidade gritante. Até porque o AVC, não só mata, como provoca demência vascular. O que significa que corremos o sério risco de estragar o resto da vida.

Hoje, é o Dia da doença que mais vitimiza em Portugal. Reduzir o consumo de sal deveria ser um desígnio nacional.

azuki
 
 
"But here(nas tragédias de Shakespeare) we have to do with an earthquake, and good conduct is of no avail. Morality is not denied; it is overwhelmed and tossed aside by the inrush of the sea. There is no moral lesson to be read, except accidentally, in any of Shakespeare´tragedies. They deal with greater things than man; with powers and passions, elemental forces, and dark abysses of suffering; with the central fire, wich breaks through the thin crust of civilisation, and makes a splendour in the sky above the blackness of ruined homes. Because he is a poet, and has a true imagination, Shakespeare knows how precarious is man´s tenure of the soil, how deceitful are his quiet orderly habits and his prosaic speech. At any moment by the operation of chance, or fate, these things may be broken up, and the world given over once more to the forces that struggled in chaos.
Walter Raleigh
"Macbeth" - Cambridge University Press

Troti
 
  Ser posto à prova pode dar-nos uma desagradável surpresa
(Michelangelo; Genesis-The Fall and Expulsion from Paradise:The Serpent)

Second Murderer
I am one, my liege,
Whom the vile blows and buffets of the world
Have so incensed that I am reckless what
I do to spite the world.
First Murderer
And I another
So weary with disasters, tugg'd with fortune,
That I would set my lie on any chance,
To mend it, or be rid on't.

(Act 3, Scene 1)

Quanto a estes assassinos, não se fala de tentação e, sim, de capitulação. Mas, o que dizer dos cidadãos comuns, mais-ou-menos cumpridores, aqueles que andam tão bem convencidos debaixo de capas e capas de civilização, tão direitinhos dentro dos corpetes das regras e do pronto-a-vestir, tão asfixiados na monotonia do quotidiano, que mal se dão conta de que é frágil o que os mantém dentro de determinados limites? Como reagiríamos se confrontados com certos desejos veementes? Pois cada pessoa tem uma tentação que se lhe adapte e, verdadeiramente, ninguém sabe o que estaria disposto a sacrificar, pois não? Sem essa prova de fogo, talvez seja prudente não pormos a mão no fogo.

azuki
 
 
Macbeth
Eu quási que esqueci em que consiste o sentimento do medo: tempo houve em que os meus nervos estremeciam, escutando qualquer grito nocturno; em que os meus cabelos se eriçavam se eu ouvia qualquer funesta narrativa...fartei-me de horrores; o espanto familiarizou-se com os meus pensamentos homicidas e já nada me pode fazer estremecer.
Acto Quinto – Scena IV

Troti
 
quinta-feira, março 30, 2006
 
Nastenka-d, no post Rainha com alma de demónio, levanta uma questão interessante. A forma como no final a personagem feminina desaparece de cena deixa-me intrigada: Afinal como é que Lady Macbeth tão cruel e poderosa nas palavras que dirige ao marido, acaba por se suicidar, como se tratasse de uma cobarde em enfrentar os acontecimentos que se avizinhavam?

Terá querido aqui Shakespeare mostrar que todos somos feitos de duas faces? A nossa fraqueza e a nossa altivez aparecem e desaparecem consoante os acontecimentos? Feitios que nos acompanham ao longo da vida, em alguns, porém, talvez a altivez não se note tanto ou a interpretação que dela fazemos não é tão implacável... noutros parece que não reconhecemos que também fraquejam... Dúvidas que ficarão por ter respostas exactas, pois... falta-me aquela conversa com o escritor que Holden Caulfield falava...

_____
Dora
 
  Abrir a Caixa
(The Three Witches of Macbeth, Henry Fuseli)

O vaticínio das bruxas instiga a ambição do casal Macbeth e, com isso, os seus piores instintos. Mais dois seres apanhados na armadilha de si próprios. Não deixa de fazer uma certa impressão pensar na ténue linha que separa o Homem civilizado do bárbaro, pensar que estava tudo lá e que a única coisa que as bruxas fizeram foi abrir a Caixa. Uma vez cá fora, já não conseguimos voltar a aprisionar os demónios. Daí até ao assassínio de Banquo, e da mulher e filho de Macduff, vai apenas um passo. Things bad begun make strong themselves by ill.

azuki
 
 
Lady Macbeth
O que está feito não se pode desfazer.

Acto Quinto – Scena I

Troti
 
 
Macbeth
Oh! tempo! Tu antecipas as minhas terríveis façanhas...a partir deste momento, os primeiros impulsos do meu coração hão-de ser também os primeiros impulsos da minha mão.
Acto Quarto – Scena I

Troti
 
 
Macbeth
Entrei tanto num rio de sangue que, se não avançasse mais, o voltar para traz seria tam fastidioso como concluir a travessia. Meteram-se-me na cabeça umas cousas fantásticas que a minha mão há-de executar e que querem ser cumpridas, sem me darem tempo de pesá-las.
Acto Terceiro – Scena IV

"Macbeth...is a great tragedy.
Its theme is that of all Shakespeare´mature tragedies, man and the universe, and its purpose is to present us with a "dazzling vision of the pitiful state of humanity."( as últimas palavras são de Walter Raleigh)
Cambridge University Press

Troti
 
quarta-feira, março 29, 2006
  Rainha com alma de demónio
Lady Macbeth é para mim um enigma: é uma mulher fria e sem compaixão, mais forte na ambição do que o marido; e a culpa que é consciente em Macbeth nela só se revela no sono. Acaba morta "pelas próprias e violentas mãos", e suponho que não terá usado contra si mesma venenos, como é habitual no seu sexo. É humana, mas também não o é; ter-se-á transformado na quarta das irmãs? É mulher, mas em nada se parece ao estereótipo que fazemos dela.
nastenka-d
 
 
Lady Macbeth
Sois um homem Macbeth?
...

Macbeth
Sim, e um homem audacioso: ouso encarar o que faria empalidecer o diabo
....
ousarei o que um homem pode ousar
...
O sangue chama por sangue, diz o ditado. Já se tem visto as pedras moverem-se, as árvores falarem, as pegas, os corvos, as pombas, descobrirem, por via de augúrios e revelações conhecidas, o mais oculto criminoso.

Acto Terceiro – Scena IV


"Macbeth is a rebel refusing to recognise defeat and fighting his last and hopeless battle with growing dispair but undiminished resolution."
"Macbeth" - Cambridge University Press

Troti
 
  Remorso
(Regret, Cyn McCurry)

MACBETH
I gin to be aweary of the sun,
And wish the estate o' the world were now undone.

(Act 5, Scene 5)

Há os amorais e os imorais. Há pessoas secas, mirradas por dentro. Há também os covardes. Há todos aqueles que sabem sentir-se mal quando devem sentir-se mal. De que sofria Macbeth? Medo das consequências dos seus actos, numa outra vida? Incapacidade para assimilar a monstruosidade do que fez? Cansaço? Mera indecisão? Remorso, talvez Macbeth chegue a sentir remorsos e, com isso, esteja um degrau acima, na escala dos vilões.

azuki
 
 
Macbeth
A minha alma é um ninho de lacraus
...
as cousas começadas pelo mal somente no mal se tornam fortes.

Acto Terceiro – Scena II

"Macbeth´whole mind is set on destruction. With Milton´Satan he might say:
For only in destroying I find ease
To my relentless thoughts"
(Paradise Lost)
Cambridge University Press

Troti
 
terça-feira, março 28, 2006
 
"Shakespeare pinta o homem eterno por via do homem do tempo e do espaço, não encontra o homem moral senão através do homem histórico. Assim Macbeth, antes de representar o tipo geral do ambicioso triunfante e decaído do fastígio das grandezas pelas tempestades vingadoras da consciência, representa um homem do tempo e do espaço. É um bárbaro feudal e um chefe de clan escocês.
...
Quer a paisagem, quer a poesia de Macbeth, são perfeitamente escoceses como o herói. A natureza, sempre variada, sempre risonha em Shakespeare, nesta peça revela-se por aspectos obscuros, negros, a noite, o crepúsculo, as trovoadas; não se ouvem senão vozes terríveis: os uivos dos lobos, os pios da coruja, latidos de cães.
...

Depois do escocês, o feudal. Os costumes, a modelação do carácter, resultantes do feudalismo, são assinalados em Macbeth por uma circunstância particularíssima; a natureza e a intensidade dos seus terrores. Vemos e compreendemos pelos eexemplos de Macbeth e de sus mulher, qual o peso com que o remorso atormentava uma alam da idade média.
...
O remorso, conforme o vemos em Macbeth e Lady Macbeth, não se explica unicamente por causa do terror que resulta do assassinato cometido, mas explica-se também pelo isolamento resultante da desigualdade de condições....
Reflita-se na medonha força que deveriam tomar sentimentos humanos em seres sujeitos ao isolamento da vida feudal!"

Este trecho faz parte da Advertência que antecede a peça Macbeth com tradução do Dr. Domingos Ramos na Edição da Livraria Chardron, de Lélo e Irmão, L.ª, datada de 192

Troti
 
 
Lady Macbeth
Nada possuimos; tudo se malogra quando o nosso desejo realizado não nos dá prazer
Acto Terceiro – Scena II

Troti
 
  Fronteiras
(Henry Fuseli, 1793-4)


(Alexandre Marie Colin, 1827)


(Alexandre-Gabriel Decamps, 1841)


As fronteiras entre o real e o sobrenatural. Mais uma vez, seres malévolos a canalizar uma negatividade que está apenas latente. E todo um mundo de ilusão, que acaba por não ser mais do que mero reflexo dos tormentos interiores que cada um sente.

azuki
 
 
Macbeth
D´ora-avante, nada para mim haverá de sério no mundo; tudo serão bagatelas; fama, honra, já não existem...
Acto Segundo – Scena III

Troti
 
 
Macbeth
Estou a tremer todo, só de pensar no que fiz.
...
Mais me valeria a mim não me conhecer do que conhecer o crime que cometi!

Acto Segundo – Scena II


Macbeth não estava preparado para cometer o crime, mas a sua ambição foi decisiva. Mas este passo vai levá-lo a um mergulho na consciência que a sua fraqueza não consegue superar. A mudança brusca do estado de inocente para o de culpado desencadeia uma agitação interior impossível de deter.

Troti
 
segunda-feira, março 27, 2006
 
"Macbeth" (generally speaking) is done upon a stronger and more systematic principle of contrast than any other of Shakespeare's plays. It moves upon the verge of an abyss, and is a constant struggle between life and death. The action is desperate and the reaction is dreadful. It is a huddling together of fierce extremes, a war of opposite natures which of them shall destroy the other. There is nothing but what has a violent end or violent beginnings. The lights and shades are laid on with a determined hand; the transitions from triumph to despair, from the height of terror to the repose of death, are sudden and startling; every passion brings in its fellow-contrary, and the thoughts pitch and jostle against each other as in the dark. The whole play is an unruly chaos of strange and forbidden things, where the ground rocks under our feet. Shakespeare's genius here took its full swing, and trod upon the farthest bounds of nature and passion. This circumstance will account for the abruptness and violent antitheses of the style, the throes and labour which run through the expression, and from defects will turn them into beauties. -- HAZLITT, WILLIAM, 1817-69, Characters of Shakespear's Plays, p 17.

Troti
 
 
"From my boyish days I had always felt a great point of perplexity on one point in "Macbeth." It was this: -- The knocking at the gate which succeeds to the murder of Duncan produced to my feelings an effect for which I never could account. The effect was that it reflected back upon the murder a peculiar awfulness and a depth of solemnity; yet, however obstinately I endeavored with my understanding to comprehend this, for many years I never could see why it should produce such an effect. . . . At length I solved it to my own satisfaction; and my solution is this: -- Murder, in ordinary cases, where the sympathy is wholly directed to the case of the murdered person, is an incident of coarse and vulgar horror; and for this reason, -- that it flings the interest exclusively upon the natural but ignoble instinct by which we cleave to life: an instinct which, as being indispensable to the primal law of self-preservation, is the same in kind (though different in degree) amongst all living creatures. This instinct, therefore, because it annihilates all distinctions, and degrades the greatest of men to the level of the "poor beetle that we tread on," exhibits human nature in its most abject and humiliating attitude. Such an attitude would little suit the purposes of the poet. What then must he do? He must throw the interest on the murderer. Our sympathy must be with him (of course I mean a sympathy of comprehension, a sympathy by which we enter into his feelings, and are made to understand them, -- not a sympathy of pity or approbation). In the murdered person, all strife of thought, all flux and reflex of passion and of purpose, are crushed by one overwhelming panic, the fear of instant death smites him "with its petrific mace." But in the murderer, such a murderer as a poet will condescend to, there must be raging some great storm of passion, -- jealousy ambition, vengeance, hatred, -- which will create a hell within him, and into this hell we are to look." -- DE QUINCEY, THOMAS, 1893-60, On the Knocking at the Gate in Macbeth, Collected Writings, ed. Masson, vol. x, pp. 385, 391.

Troti
 
 
Lady Macbeth
Libertai-me do meu sexo! Enchei-me da cabeça aos pés da mais implacavel crueldade! Tornai meu sangue espesso! Cortai o acesso e a passagem à compaixão.
Acto Primeiro – Scena V


In the mind of Lady Macbeth, ambition is represented as the ruling motive, an intense overmastering passion, which is gratified at the expense of every just and generous principle, and every feminine feeling. In the pursuit of her object, she is cruel, treacherous, and daring. She is doubly, trebly dyed in guilt and blood; for the murder she instigates is rendered more frightful by disloyalty and ingratitude, and by the violation of all the most sacred claiins of kindred and hospitality. When her husband's more kindly nature shrinks from the perpetration of the deed of horror, she, like an evil genius, whispers him on to his damnation. The full measure of her wickedness is never disguised, the magnitude and atrocity of her crime is never extenuated, forgotten, or forgiven, in the whole course of the play. . . . Lady Macbeth's amazing power of intellect, her inexorable determination of purpose, her superhuman strength of nerve, render her as fearful in herself as her deeds are hateful; yet she is not a mere monster of depravity, with whom we have nothing in common, nor a meteor whose destroying path we watch in ignorant affright and amaze. She is a terrible impersonation of evil passions and mighty powers, never so far removed from our nature as to be cast beyond the pale of our sympathies; for the woman herself remains a woman to the last -- still linked with her sex and with humanity. -- JAMESON, ANNA BROWNELL, 1832, Characteristics of Women.

Troti
 
  Feliz Dia do Teatro








HAMLET
Speak the speech, I pray you, as I pronounced it to
you, trippingly on the tongue: but if you mouth it,
as many of your players do, I had as lief the
town-crier spoke my lines. Nor do not saw the air
too much with your hand, thus, but use all gently;
for in the very torrent, tempest, and, as I may say,
the whirlwind of passion, you must acquire and beget
a temperance that may give it smoothness. O, it
offends me to the soul to hear a robustious
periwig-pated fellow tear a passion to tatters, to
very rags, to split the ears of the groundlings, who
for the most part are capable of nothing but
inexplicable dumbshows and noise:
(…)
Be not too tame neither, but let your own discretion
be your tutor: suit the action to the word, the
word to the action; with this special o'erstep not
the modesty of nature: for any thing so overdone is
from the purpose of playing, whose end, both at the
first and now, was and is, to hold, as 'twere, the
mirror up to nature; to show virtue her own feature,
scorn her own image, and the very age and body of
the time his form and pressure. Now this overdone,
or come tardy off, though it make the unskilful
laugh, cannot but make the judicious grieve; the
censure of the which one must in your allowance
o'erweigh a whole theatre of others.

(W. Shakespeare, "Hamlet", Act 3, Scene 2)

azuki
 
 
"Macbeth é uma incrível amálgama de ferocidade, de poltroneria, de baixeza, de grandeza. O monstro não é falho de sentimentos humanos, não é falho de sentimentos morais de civilização. O barro e lodo de que a natureza oprimitiva foi formada, ainda se conservam húmidos e dimanaram há bem pouco dos lodaçais da barbaria...
Macbeth é apenas um pobre ser de carne e osso: a sua coragem, toda física, dilue-se com essa cobardia também toda física, que é característica do homem sem cultura e sem educação moral. É um predestinado ao crime pela força da ferocidade."

Este trecho faz parte da Advertência que antecede a peça Macbeth com tradução do Dr. Domingos Ramos na Edição da Livraria Chardron, de Lélo e Irmão, L.ª datada de 1925


Troti
 
  Lady Macbeth
(Kenny Meadows (1792-1877?), "Lady Macbeth")


(Dante Gabriel Rossetti, Estudo para "A morte de Lady Macbeth", 1875)


(Henry Fuseli, "Lady Macbeth", 1784)


(Henry Fuseli , "Lady Macbeth with the Daggers", 1812)

Um jogo de espelhos. Reflexos ao contrário: Macbeth (jovem e traidor) vs Duncan (ancião respeitado e respeitável) e Lady Macbeth (sumamente impiedosa, quase nem parece mulher) vs Lady Macduff (boa esposa e boa mãe, tão arquetipicamente mulher).

Fingimento. There's no art / To find the mind's construction in the face.

Culpa. As manchas de sangue estão lá para a comprovar. Lady Macbeth morre sufocada em alucinações e pesadelos porque não se consegue enfrentar. Não deixa de ser estranho, em alguém que parecia tão implacavelmente segura.

azuki
 
 
Macbeth
Oh! terrra segura e firme, não ouças os meus passos, não saibas para onde vão, tenho medo de que as próprias pedras tagarelem, perguntando umas às outras que caminho sigo eu e não furtem à hora presente a horrível ocasião que ela favorece optimamente...As palavras resfriam o fogo das acções...
Acto Segundo – Scena I

Troti
 
domingo, março 26, 2006
  Out Damned Spot, out I say!
azuki
 
  O número 3
First Witch
Thrice the brinded cat hath mew'd.
Second Witch
Thrice and once the hedge-pig whined.
Third Witch
Harpier cries 'Tis time, 'tis time.

(Act 4, Scene 1)

(Macbeth and the Three Witches, Henry Chasseriau)

3 bruxas, 3 assassinos, 3 mortes, 3 aparições.

azuki
 
 
Macbeth
Não tenho outro meio para espicaçar a execução do meu desígnio senão o de cavalgar a ambição, montada péssima que salta para além do que deseja e cai onde não queria cair.
Acto Primeiro – Scena VII

Troti
 
 
Lady Macbeth
...tenho medo da tua natureza: ela está muito cheia do leite da bondade humana, para encurtar caminho. Tu quererias ser grande; não deixas de ter ambição, mas não possues a malvadez que a deve acompanhar...o medo de prosseguires embaraça-te, mas desejas que o facto aconteça.
Acto Primeiro – Scena V

Esta afirmação de Lady Macbeth dá-nos uma visão mais ampla do carácter de Macbeth. Não podemos vê-lo somente à luz do assassínio puro e duro. Macbeth vai-se modificar devido à sua ambição e nós vamos assistir a uma tremenda luta de consciência. Porque um homem cuja natureza está muito cheia do leite da bondade vai ser capaz de matar mas não vai ter capacidade de viver com o profundo abalo que este acontecimento lhe vai causar.

Troti
 
 
Macbeth
Oh! Estrelas, escondei vosso brilho! Que a luz não mostre os meus negros e profundos desejos; que as minhas pálpebras se fechem e não observem o que as minhas mãos fazem, mas que eu possa contemplar o que os olhos temerão ver quando for executado
Acto Primeiro – Scena IV

Troti
 
 
Duncan
Não existe nenhuma arte que permita reconhecer no rosto a forma interior do espírito
Acto Primeiro – Scena IV

Troti
 
sábado, março 25, 2006
  Em Macbeth, parece ser sempre noite

por aqui, a hora vai mudar e...vivam os dias looooooooooooooongos!!
azuki
 
 
Macbeth
Aconteça o que acontecer, o tempo e a ocasião fazem a sua viagem para o mais sombrio dia.
Acto Primeiro – Scena III

Troti
 
 
Macbeth
...a ideia do homicídio persiste no meu pensamento, no estado de quimera, mas isto abala a tal ponto a minha simples condição de homem, que todas as faculdades do meu ser são abafadas por esta preocupação e nada para mim existe, com excepção do que não existe.
Acto Primeiro – Scena III

Troti
 
 
Macbeth, àparte:

Estas insinuações sobrenaturais não podem ser más nem podem ser boas.
Acto Primeiro - Scena III

Assim, o destino de Macbeth fica traçado.

Troti
 
  Vacilar
(Macbeth & Lady Macbeth, Hannah Tompkins, Mixed Media on Brown Paper)

Macbeth é um vilão… pouco convincente. Ele é muito diferente de Iago e de Ricardo III, porque quer e não quer, sendo capaz de actos de impiedade, mas também de arrependimento. Ele tanto anda para a frente, como recua, e ainda não percebi se se trata de indecisão, de pura cobardia ou, então, se Macbeth vacila, como qualquer pessoa vacila em situações extremas, tendo noção do mal que provoca e chegando até a sofrer com isso. É um facto que Macbeth sente e isso torna-o humano e mais próximo de nós e, por isso, passível de despertar a nossa simpatia. A lady Macbeth já é um pouco mais difícil de digerir, porque uma mulher sem compaixão é uma aberração. Porém, acabamos por verificar que lady Macbeth soçobra aos pesadelos e alucinações que a culpa lhe provoca. Afinal, também ela vacila e também ela merece um pouquinho da nossa simpatia.

azuki
 
sexta-feira, março 24, 2006
  Perdição
Banquo

Muitas vezes o diabo, cavando a nossa ruína, diz-nos verdades, seduz-nos com honestas bagatelas, para nos arrastar a actos de péssimas consequências.
Acto Primeiro – Scena III

Esta entrada de Banquo, logo no início da peça, sugere o tema da perdição de Macbeth.


Troti
 
 

.
Joana
 
  And the wood began to move…
MACBETH
I pull in resolution, and begin
To doubt the equivocation of the fiend
That lies like truth: 'Fear not, till Birnam wood
Do come to Dunsinane:' and now a wood
Comes toward Dunsinane. Arm, arm, and out!

(Act 5, Scene 5)

(autor desconhecido)

Messenger: As I did stand my watch upon the hill, / I look'd toward Birnam, and anon, methought, / The wood began to move (Act 5, Scene 5). Um exército de guerreiras com ramos de árvores, erguendo-se numa planície defronte do castelo, poderia ser assim. Belo, não é?

azuki
 
quinta-feira, março 23, 2006
  CONVITE
E que tal uma viagenzinha a Londres para ver Shakespeare representado no Globe, com direito a guias semi-nativos fluentes em portugues e ingles e voos low cost da Ryan Air?

Shakespeare's Globe Theatre
2006 The Edges of Rome
.
Coriolanus
Antony & Cleopatra
The Comedy of Errors
Titus Andronicus
Under The Black Flag
In Extremis
.
Our annual theatre season runs from 5 May - 8 October. Public booking is now open.
.
Joana
 
  Culpa
(Macbeth: Banquet Scene by George Romney)

Sem o rei Duncan, que representa um certo sentido da ordem, instala-se o caos. Se este simboliza a ordem e Macbeth é o seu assassino, então Macbeth é o promotor do caos. Aqui, a culpa é óbvia e a expiação merecida, mas nem sempre é assim. Lembremo-nos, por exemplo, da tragédia grega: quem pratique um acto que atente contra a ordem do Cosmos, mesmo que não tenha culpa, terá que pagar pelo miasma que lança sobre toda a comunidade (vide Édipo Rei).

azuki
 
quarta-feira, março 22, 2006
  Quem é esta mulher?

Ellen Terry as Lady Macbeth
John Singer Sargent, 1889
 
  É doloroso ver isto...
(Acto II, cena II)
O encontro entre os Macbeth após o assassinato de Duncan é de uma expressividade pungente: primeiro pela culpa que começa imediatamente a corroer a alma de macbeth, depois pela frieza com que Lady Macbeth assume a partilha do destino que ambicionava para o marido. (Oh, homem fraco! Dá-me os punhais!) São dois e um em simultâneo; ela despreza-o, e ainda assim termina o trabalho que ele não foi capaz de fazer.
nastenka-d
 
  Sabiam que…
Macbeth é um nome próprio que significa “son of life” e não um patronímico (logo, escreve-se com b minúsculo)?

azuki
 
  grease that's sweated from the murderer's gibbet
To show Macbeth his future, the witches add to the brew "grease that's sweated from the murderer's gibbet": the bodies of murderers were left hanging on the gallows (gibbet) until they were skeletonized, a process that takes weeks; at about ten days in suitable weather, there are enough weak points in the skin that the bodyfat, which has liquefied, can start dripping through; there will be a puddle of oil underneath the body. This is for real. fonte

azuki
 
terça-feira, março 21, 2006
  CAMINHOS
Caminhos cruzados de abraços perdidos,
diversos,
dispersos no meio da multidão,
passos rápidos de vidas banais.
Caminhos como traços impressos na calçada,
sulcos na terra revolta, pegadas no chão.
Caminhos de encontros,
de ida e de volta,
pendentes,
incógnitos da vida, da sorte, da morte.
Caminhos de esperança,
claros, escuros,
suspiros, sussurros
de amor e solidão.

Troti
 
  Feliz Dia da Poesia


Shall I compare thee to a summer's day?
Thou art more lovely and more temperate:
Rough winds do shake the darling buds of May,
And summer's lease hath all too short a date:
Sometime too hot the eye of heaven shines,
And often is his gold complexion dimm'd;
And every fair from fair sometime declines,
By chance or nature's changing course untrimm'd;
But thy eternal summer shall not fade
Nor lose possession of that fair thou owest;
Nor shall Death brag thou wander'st in his shade,
When in eternal lines to time thou growest:
So long as men can breathe or eyes can see,
So long lives this and this gives life to thee.


William Shakespeare, Sonnet 18

azuki
 
  Inverness

O que fazer quando um local passa a ser sinónimo de infâmia?
nastenka-d
 
  Double sense
MACBETH
And be these juggling fiends no more believed,
That palter with us in a double sense;
That keep the word of promise to our ear,
And break it to our hope.

(Act 5, Scene 8)

O equívoco que o discurso de duplo sentido das bruxas origina, é perfeitamente intencional. Elas fazem dele o que querem, porque um homem obcecado é um homem pouco lúcido, logo, susceptível de ser manietado. Double, double toil and trouble.

azuki
 
segunda-feira, março 20, 2006
  Chegou


As camélias já estão cá desde Janeiro mas só agora as vejo, porque ela chegou.

azuki
 
  Winter
When icicles hang by the wall,
And Dick the shepherd blows his nail,
And Tom bears logs into the hall,
And milk comes frozen home in pail,
When blood is nipp'd, and ways be foul,
Then nightly sings the staring owl,
To-whit!To-who!—a merry note,
While greasy Joan doth keel the pot.

When all aloud the wind doe blow,
And coughing drowns the parson's saw,
And birds sit brooding in the snow,
And Marian's nose looks red and raw,
When roasted crabs hiss in the bowl,
Then nightly sings the staring owl,
To-whit!To-who!—a merry note,
While greasy Joan doth keel the pot.


Shakespeare (Winter - Love's Labour's Lost)

azuki
 
  "When shall we three meet again? / In thunder, lightning, or in rain?"

The Weïrd Sisters, (sometimes Wyrd Sisters or Three Weird Sisters), is the Germanic mythological group name given to the Nordic fates, or Norns. The Weird Sisters were said to live at the base of the World Tree, Yggdrasil, which was the link between the different planes of existence, or world; in some versions it links only Heaven and Hell. Their name is derived from the name of the first fate, Wyrd.
Fonte: Wikipedia

nastenka-d
 
domingo, março 19, 2006
  Uma história compacta
Ao que parece, James I não apreciava peças longas. Falta de capacidade de concentração?… Shakespeare faz, assim, um teatro à medida do gosto do seu patrono. Nunca me recomponho do choque que me provoca a drástica economia desta peça, o seu modo de fazer com que cada discurso, cada frase, tenham uma importância decisiva. (Harold Bloom, “O Cânone Ocidental”)

azuki
 
sábado, março 18, 2006
  Seremos fantoches do destino?
(já é um pouco tarde para o dizer, mas apetece-me:) Bom dia, bom dia!

nastenka-d, se me permites, transcrevo aqui um dos teus comentários:

(Black Forest String Puppet, Larry Seiler)

Também me perguntei, ao longo da leitura, se o acto de Macbeth foi fruto da teia que se teceu em seu redor: teria ele assassinado Duncan se as irmãs não lhe tivessem atiçado a ambição? Qual teria sido a sua resposta se elas não o tivessem encontrado depois de uma feroz batalha? Teria sido outra a escolha se a sua mulher o não instigasse? Teria Lady Macbeth insistido sem a intervenção das bruxas? E o que se teria passado se a oportunidade nãa surgisse à sua frente? Somos fantoches do destino, ou este é apenas um cenário no qual se desenrolam os nossos actos?
nastenka-d

e aproveito para responder: julgo que, tal como Iago com Otelo, as três bruxas não fazem mais do que animar o que já estava latente. Esta é uma das minhas muito pessoais acepções do que significa “ter sorte na vida”: talvez sejamos suficientemente afortunados a ponto de nunca nos vermos obrigados a enfrentar uma situação que possa vir a despertar o pior que há em nós.

azuki
 
  Nada é o que parece
(Blindfolded Man, Leonard Baskin, woodcut, 1968)

MACBETH
Stars, hide your fires;
Let not light see my black and deep desires

(Act 1, Scene 4)

Away, and mock the time with fairest show:
False face must hide what the false heart doth know.

(Act 1, Scene 7)

And make our faces vizards to our hearts,
Disguising what they are.

(Act 3, Scene 2)

Macbeth toma as palavras das bruxas pelo seu valor facial, quando tudo o que elas dizem é enganador, apesar de verdadeiro. Macbeth não soube ler nas entrelinhas e caiu no ardil. Provou, aliás, do seu próprio remédio, a distância que vai do parecer ao ser. Não, nada é o que parece.

azuki
 
sexta-feira, março 17, 2006
  Símbolos
O sangue, como mancha da culpa. A serpente, representação de algo vil e sinuoso. Os cavalos a devorar-se, como símbolo da perturbação da ordem. Os constantes paralelos entre a luz e a escuridão. A má consciência, sob a forma de um fantasma. E as bruxas, significarão o destino?

azuki
 
quinta-feira, março 16, 2006
  … e viva a primavera
Quem fala de Macbeth, fala de escuridão (nastenka-d, também imagino que é sempre noite em Macbeth). Quem fala de escuridão, fala de cegueira, ignorância, delírio ou tristeza. E quem fala de tudo isto, talvez acabe a pensar em claridade. Alvura, luz, esplendor. Primavera e flores. No fim-de-semana, li Macbeth com uma camélia na mão (gosto do não-cheiro das camélias). Esta tola associação, que não lembra ao diabo, já me ficou gravada, por isso vos digo que Macbeth tem tudo a ver com camélias. No sábado 25, a Troti e eu iremos a terras de Basto, com estes meninos, à III Festa Internacional das Camélias. Para os que quiserem saber de que massa é feita a melhor camélia portuguesa, e muitas outras informações sobre o fascinante mundo das japoneiras, segue transporte privativo das Antas.

azuki
 
  Macbeth
Macbeth foi uma das primeiras peças que vi - o primeiro clássico, com certeza. Passaram muitos anos (e muitas outras peças entretanto) mas algumas coisas retenho ainda, antes de iniciar a leitura: o ambiente lúgubre e sombrio de toda a peça (é impressão minha ou é sempre noite?), as três bruxas chamando Macbeth!, Lady Macbeth, as batalhas. Os bastões de madeira lançados no ar e abandonados depois pelos actores, caindo com estrondo. Os receios e imagens que fantasio pertencerem a um tempo antigo - onde as raízes têm morada.
nastenka-d
 
  Welcome to Glamis Castle
A place of legends and fairytales.

Family home of the Earls of Strathmore and Kinghorne and a royal residence since 1372. Childhood home of Her Majesty Queen Elizabeth The Queen Mother, birthplace of Her Royal Highness The Princess Margaret and legendary setting for Shakespeare's famous play Macbeth.


Este descapotável vermelho num dia luminoso contrasta em absoluto com a atmosfera da nossa tragédia céltica: bruma e noite, mochos a piar e cavalos a devorar-se, seres malévolos vindos de um mundo mágico e antigo, tochas a atravessar corredores sombrios, florestas que se erguem… Enfim, o ambiente perfeito para motivar pânicos e deixar todos à beira de um ataque de nervos, excelente palco para a culpa e a expiação. O sobrenatural e o pesadelo dão-se bem com a escuridão (como será a insónia de quem já experimentou o horror?...). Por seu lado, a luz é uma boa conselheira: orienta-nos, convoca a racionalidade e induz a produção de endorfinas. Xôo Inverno, xôo frio e chuva, xôo……… Vivam a primavera e o verão, o sol, o calor, o dia. Xôo trevas…. Vivam os faróis e as lanternas, os candeeiros e os isqueiros, viva a luz.

azuki
 
quarta-feira, março 15, 2006
  …(life) is a tale / Told by an idiot, full of sound and fury, / Signifying nothing.
azuki
 
  Trono de Sangue: MacBeth no Japao feudal
.
Akira Kurosawa adaptou MacBeth ao cinema em 1957, transpondo a accao para o Japao medieval. A visao do realizador e muito pessoal, baseando-se quer na tradicao teatral europeia quer na do teatro No japones.
Ao contrario das versoes ocidentais em que o tema dominante e normalmente o da culpa, Trono de Sangue mergulha-nos num mundo nebulosos e assustador em que os seres humanos sao vitimas indefesas das forcas naturais e dos espiritos, e em que toda a consciencia humana e engolida pelo nevoeiro primordial.



Kumonosu Jô: Trono de Sangue
.
Joana
 
  Macbeth, Hannah Tompkins, oil on canvas
De novo, os mecanismos sinistros da ambição. De novo, a vida a fugir descontrolada.

Macbeth é a tragédia do Poder, da Astúcia, da Loucura, do Destino, do Sono, da Noite, do Crime, da Expiação e é, ainda, a tragédia céltica por excelência, diz João Palma-Ferreira.

Mais uma vez, após Ricardo III, um vilão igualmente desonesto e sedento de poder (bem menos determinado, é certo, mas ainda assim cheio dessa coisa tortuosa que é o desejo desmedido pelo poder). Mais uma vez, após Otelo, alguém a quem a vida foge do controlo (este, não se mata, mas também não lhe está destinado um final nada simpático).

azuki
 
terça-feira, março 14, 2006
  Os príncipes existem (ii)
- Confias na lucidez de uma mulher apaixonada?
- Não.
- E na lucidez de uma mulher não apaixonada?
- Humm… também não.
- Então, não confias na tua própria lucidez?...
- Pois não.
- Os príncipes existem?
- Claro.

azuki
 
 
Otelo
“O meu coração transformou-se em pedra...”
Acto Quarto – Cena I

Troti
 
  Othello,Hannah Tompkins, oil on canvas
Já tínhamos conhecido Ricardo III. Agora, fomos apresentados a Iago. Haverá personagem Shakespeariana ainda pior? Há. Vamos ver que sim. Há Edmund. É bem pior. Porquê? Porque Edmund não sente.

azuki
 
 
Otelo
"Beijei-te antes de te assassinar; matei-me para ter meio de morrer sobre um beijo."
Acto Quinto – Cena II

Troti
 
 
Otelo
"Peço-vos que, quando nas vossas cartas contardes estes desgraçados acontecimentos, faleis de mim tal como eu sou; nada atenueis, mas também não aumentais nada por malícia; se assim procederdes, traçareis o retrato dum homem qua não amaria com prudência, mas que amou sinceramente; dum homem que se não tornou facilmente ciumento, mas que uma vez perturbado, se deixou arrastar até aos últimos extremos; dum homem cuja mão, como a do vil índio, lançou fora a pérola mais preciosa da sua tribo; dum homem cujos olhos vencidos, ainda que pouco habituados à moda das lágrimas, derramaram lágrimas tão abundantes como as árvores da Arábia derramam a sua goma medicinal."
Acto Quinto - Cena II

Troti
 
 
Desdémona
"Não merecia ser assim tratada."

...


Sinto que há cólera nas vossas palavras, mas não compreendo.

...

eu não sei como foi que o perdi.

Acto Quarto - Cena II

...

Oh! injustamente! injustamente assassinada

...


Morro inocente"

Acto Quinto – Cena II


Desdémona é uma figura desconcertante. É capaz de se empenhar na luta pela defesa de Cássio, como ela diz, até às últimas consequências. Em relação a si própria e perante as acusações de que é alvo e que não compreende, é absolutamente incapaz de lutar, adoptando uma passividade estranha e fatalista.

Troti
 
  Thomas Stothard. The Meeting of Othello and Desdemona, c. 1799.
 
segunda-feira, março 13, 2006
  Desdémona = Menina dos demónios
Um nome nunca se dá por acaso; e se Shakespeare manteve o de Desdémona alguma perversidade lhe quis dar. Qual a motivação de Desdémona para se entregar a Otelo? A dúvida, que Iago explora, também a ela a aflige. Se não recusa o epíteto (Am I that word?, pergunta, e se calhar mais a ela do que a Iago) é porque sente ou imagina razões que a acusam. É moral, não pode deixar de o ser, esta peça: tende cuidado ao sucumbir às paixões.
nastenka-d
 
  Os príncipes existem
Otelo era uma versão muito razoável do homem ideal: tinha a coragem e a nobreza de um príncipe e, mesmo que endurecido pela barbárie da guerra e pouco dado aos excessos femininos da paixão, parecia ser um amante atento e carinhoso. Só que… não, os príncipes não existem, mas ainda bem que nós, mulheres, não estamos dispostas a acreditar nisso.


os príncipes existem
os príncipes existem
os príncipes existem
os príncipes existem
os príncipes existem
os príncipes existem
os príncipes existem
os príncipes existem
os príncipes existem
os príncipes existem
os príncipes existem
os príncipes existem

azuki
 
 
Emília
"Julgo...que a falta vem dos maridos, quando as mulheres caem; porquanto, ou se relaxam no cumprimento dos seus deveres e espalham os nossos tesouros em regaços alheios; ou se consomem em mesquinhos ciúmes, impondo-nos violências; ou também nos espancam e nos defrudam dos nossos recursos pecuniários. E ai deles! Nós temos veneno; e apesar de possuirmos bons corações, também dispomos do espírito de vingança. É preciso que os maridos saibam que as mulheres se sentem como eles; elas veêm, farejam e têm paladar capaz de distinguir o que é doce do que é azedo, tal qual seus esposos. Que fazem eles quando nos trocam por outras? É por prazer? Creio que sim. É a afeição que os arrasta? Creio também que sim. É a fragilidade que os obriga a errar? É também isso. Muito bem: nós então não teremos afeições, desejos,, fragilidades como os homens? Portanto, se quiserem, tratem-nos bem; quando não, saibam que os pecados que nós cometemos são eles que nos ensinam a cometê-los."
Acto Quarto – Cena III

Troti
 
 
Otelo
"Uma mulher tão linda! Uma mulher tão bela! Tão amável!
...
Que pena, Iago! Oh! Iago, que pena, Iago, que tal mulher...

...
Hei-de cortá-la aos pedaços!"

Acto Quarto – Cena I


Otelo atinge o paradoxo do desespero, pois admira a mulher que vai sacrificar. E com ela desaparece a sua imagem, a sua glória e a sua vida.

Troti
 
 
Desdémona
Certamente nós devemos pensar que os homens não são deuses”
Acto Terceiro – Cena IV

Nós devemos pensar que não são, mas não resistimos a pensar que são.

Troti
 
  O Monstro
Emília
"Deus queira que sejam os negócios de Estado, como pensais, e não qualquer capricho ou qualquer loucura de ciúme que o excite contra vós."

Desdémona
"Deus meu! Nunca lhe dei motivo para isso."

Emília
"Mas os corações ciumentos não se satisfazem com afirmações de inocência;nem sempre têm razão para as suas suposições; mas são ciumentos porque são. O ciúme é um monstro que se gera a si mesmo e nasce de si próprio”

Desdémona
"Que o Céu livre a alma de Otelo desse monstro.”

Acto Terceiro – Cena IV


O ciúme como monstro é uma imagem extremamente poderosa. O monstro que tudo pode, o monstro que tudo subjuga, o monstro que não tem dó. O monstro que afoga a lucidez, que enterra a bondade, que sufoca a isenção. O monstro que tiraniza a mente e anula a razão. O monstro que bate, que chora, que grita. O monstro que dói é o monstro que mata.

Troti
 
domingo, março 12, 2006
  DÚVIDAS
Dúvidas,
doidas varridas,
ladras do sossego,
rainhas da inquietação
ávidas de coroação,
maníaco-depressivas,
repressivas,
companheiras do medo,
do degredo,
dores escuras,
mentes obscuras
sem coloração,
líderes da oposição,
garras temíveis,
feras invisíveis,
aves de rapina
devoram a sina,
bruxas sedentas,
visões sangrentas
desafiam a imaginação,
causam hesitação,
meninas mal comportadas,
indisciplinadas,
estragam as festas,
ideias funestas
escolhem temática,
más a matemática
não dão solução,
caem na tentação,
mostram-se nuas,
varredoras de luas,
malas sempre fechadas,
molas bem apertadas,
marés descrentes,
irreverentes,
trevas insistentes,
recorrentes,
toldam a visão,
instalam desilusão,
cortinas cerradas,
jogadoras viciadas,
demónios de saias,
têm opção,
mostram todos os ases,
são fortes tenazes
e apertam o coração.

Troti
 
  Frases de Iago
How poor are they that have not patience!
What wound did ever heal but by degrees?
**
Pleasure and action make the hours seem short.
**
Good name in man and woman, dear my lord,
Is the immediate jewel of their souls:
Who steals my purse steals trash; 'tis something, nothing;
'Twas mine, 'tis his, and has been slave to thousands:
But he that filches from me my good name
Robs me of that which not enriches him
And makes me poor indeed.


(Iago, Leonard Baskin, woodcut)

azuki
 
  Frederic Leighton. Desdemona, c. 1888
 
  MORANGOS
The delicious strawberry is a symbol of temptation, as well as sensuality.
significado de sonhar com morangos

O Jardim das Delícias" o morango representa a luxúria, o prazer carnal

Symbol of purity and sensuality, fertility and abundance, humility and modesty. The strawberry's fruit is made the symbol of perfect goodness because of its delicious flavor and fragrance. Strawberries have been associated with goodness and purity in Christian history. The strawberry was once believed to be a holy symbol of the Virgin Mary. In paintings of Mary, many artists used strawberries in the detail of the picture or as border.
linguagem das flores

The strawberry was a symbol for Venus, the Goddess of Love, because of its heart shapes and red color.

The strawberry plant is a member of the Rose family and the strawberry is from the genus Fragaria, which is the symbol of the Virgin Mary and of Summer.

In parts of Europe, the strawberry (Fragaria vesca) isconsidered sacred to the Virgin Mary, who is said to accompanychildren when they go strawberry-picking on St. John's Day. On thatday no mother who has lost a child will eat a strawberry, lest herlittle one get none in Paradise. Actually, this tradition goes backto old German mythology, wherein the goddess Frigga, who presidedover marriages, was supposed to go strawberry picking.

the strawberry—"Fruitful Virgin"—of her virginal motherhood (in flower and fruit at the same time),


fruit: carnal pleasure
strawberry: fleeting joys of life, love
simbolos medievais, encontrados por exemplo nas pinturas de bosch
 
 
Otelo
"Por Deus! Creio que a minha mulher é virtuosa e creio que não o é! Creio que tu és justo e creio que não o és. Quero ter qualquer prova...Quem me dera ter provas."
Acto Terceiro - Cena IV

Sem provas, todas as dúvidas são rainhas e a desorientação é soberana.

...

Dilata-te, peito meu, porque tu estás cheio do veneno das víboras...


Troti
 
 
Otelo
"A carreira de Otelo terminou."

Acto terceiro - Cena IV

Troti
 
 
Iago
"Bagatelas tão leves como o ar, são para os ciumentos provas tão poderosas como as palavras da Escritura....Já o Mouro se sente alterado com a influência do veneno que eu lhe propinei. As ideias funestas são por sua natureza venenos que, a princípio, apenas têm gosto desagradável, mas que depois de haverem, ainda que seja pouco, actuado sobre o sangue, escaldam como minas de enxofre."

...

Otelo
...Amarraste-me à roda! Juro-te: vale mais ser enganado até ao extremo do que ter a mais vaga ideia de o ser."
Acto Terceiro - Cena IV

Troti
 
 
Otelo
"...julgas que eu seria capaz de suportar uma vida de ciúme...? Não; logo que a dúvida entrou, o estado de alma fixou-se irrevogavelmente."
Acto Terceiro - Cena IV

Troti
 
  A tirania
Iago
"Os homens deveriam ser o que parecem"

Otelo
Assim é! Os homens deveriam ser o que parecem"
Acto Terceiro - Cena IV


Ao não ser o que parece, Iago tiraniza Otelo.

Troti
 
sábado, março 11, 2006
  Leonard Baskin, Othello, woodcut, 1973
 
 
Otelo
"Oh! Criatura ideal! Maldito seja eu, se não te adorar! e quando deixar de amar-te, um horrível caos subverterá a minha alma."
Acto Terceiro - Cena IV

Esta é a raiz profunda do pensamento de Otelo e a que vai ditar toda a sua acção. No caos não há permanência.
Troti
 
 
Desdémona
"Ficai certo de que, quando faço uma promessa de amizade, mantenho-a até ao derradeiro extremo."
Acto Terceiro - Cena III

Troti
 
 
Iago
"...enquanto este honrado imbecil vai pedir a Desdémona que repare a sua desventura e que advogue apaixonadamente a sua causa perante o Mouro, eu insinuarei aos ouvidos de Otelo a suspeita envenenada de que é por ternura criminosa que ela lho recomenda...Desta maneira, a sua virtude será o instrumento da sua própria ruína; e será a sua generosidade que urdirá a teia em que eu os enrederei a todos"

Acto Segundo - Cena III

Troti
 
sexta-feira, março 10, 2006
  Ousadias
Séculos atrás, Desdémona enfrentou o pai e a sociedade, por amor de um homem. Na terça-feira, Pedro Mexia escreveu eu não tenho gostos sexuais estranhos: a coisa mais ousada que já experimentei foi ficar por baixo. Há bocado, tentei comer um sanduíche* de carne e pickles, debaixo do chuveiro.

*segundo MEC

azuki
 
 
"Quantas vezes se adquire sem merecimentos e também se perde sem motivos?"
Acto Segundo - Cena III

Troti
 
 
"Homens são homens"
Acto Segundo - Cena III

Troti
 
 
"Como somos capazes de nos transformarmos em animais, com alegria, prazer, entusiasmo e orgulho?!"
Acto Segundo - Cena III

Troti
 
  Um trecho que me impressionou
(Othello & Desdemona, Hannah Tompkins)

EMILIA
Alas, Iago, my lord hath so bewhored her.
Thrown such despite and heavy terms upon her,
As true hearts cannot bear.

DESDEMONA
Am I that name, Iago?
(Act 4, Scene 2)

Am I that name, Iago? Se nos metralharem o espírito, dizendo-nos que somos uns pastelões sem jeito, ou se nos tratarem em conformidade com o epíteto, mais cedo ou mais tarde iremos surpreender-nos a pensar se seremos realmente uns pastelões sem jeito. Ficamos ali parados, estupefactos, tentando retirar algum sentido daquilo que não tem sentido. No caso de Desdémona, a absolutamente desajustada calúnia da prostituição, produziu os seus efeitos.

azuki
 

O QUE ESTAMOS A LER

(este blogue está temporariamente inactivo)

PROXIMAS LEITURAS

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LEITURAS NO ARQUIVO

"ULISSES", de James Joyce (17 de Julho de 2003 a 7 de Fevereiro de 2004)

"OS PAPEIS DE K.", de Manuel António Pina (1 a 3 de Outubro de 2003)

"AS ONDAS", de Virginia Woolf (13 a 20 de Outubro de 2003)

"AS HORAS", de Michael Cunningham (27 a 30 de Outubro de 2003)

"A CIDADE E AS SERRAS", de Eça de Queirós (30 de Outubro a 2 de Novembro de 2003)

"OBRA POÉTICA", de Ferreira Gullar (10 a 12 de Novembro de 2003)

"A VOLTA NO PARAFUSO", de Henry James (13 a 16 de Novembro de 2003)

"DESGRAÇA", de J. M. Coetzee (24 a 27 de Novembro de 2003)

"PEQUENO TRATADO SOBRE AS ILUSÕES", de Paulinho Assunção (22 a 28 de Dezembro de 2003)

"O SOM E A FÚRIA", de William Faulkner (8 a 29 de Fevereiro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. I - Do lado de Swann)", de Marcel Proust (1 a 31 de Março de 2004)

"O COMPLEXO DE PORTNOY", de Philip Roth (1 a 15 de Abril de 2004)

"O TEATRO DE SABBATH", de Philip Roth (16 a 22 de Abril de 2004)

"A MANCHA HUMANA", de Philip Roth (23 de Abril a 1 de Maio de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. II - À Sombra das Raparigas em Flor)", de Marcel Proust (1 a 31 de Maio de 2004)

"A MULHER DE TRINTA ANOS", de Honoré de Balzac (1 a 15 de Junho de 2004)

"A QUEDA DUM ANJO", de Camilo Castelo Branco (19 a 30 de Junho de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. III - O Lado de Guermantes)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2004)

"O LEITOR", de Bernhard Schlink (1 a 31 de Agosto de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. IV - Sodoma e Gomorra)", de Marcel Proust (1 a 30 de Setembro de 2004)

"UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO DOS PRAZERES" e outros, de Clarice Lispector (1 a 31 de Outubro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. V - A Prisioneira)", de Marcel Proust (1 a 30 de Novembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA", de José Saramago (1 a 21 de Dezembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ", de José Saramago (21 a 31 de Dezembro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VI - A Fugitiva)", de Marcel Proust (1 a 31 de Janeiro de 2005)

"A CRIAÇÃO DO MUNDO", de Miguel Torga (1 de Fevereiro a 31 de Março de 2005)

"A GRANDE ARTE", de Rubem Fonseca (1 a 30 de Abril de 2005)

"D. QUIXOTE DE LA MANCHA", de Miguel de Cervantes (de 1 de Maio a 30 de Junho de 2005)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VII - O Tempo Reencontrado)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2005)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2005)

UMA SELECÇÃO DE CONTOS LP (1 a 3O de Setembro de 2005)

"À ESPERA NO CENTEIO", de JD Salinger (1 a 31 de Outubro de 2005)(link)

"NOVE CONTOS", de JD Salinger (21 a 29 de Outubro de 2005)(link)

Van Gogh, o suicidado da sociedade; Heliogabalo ou o Anarquista Coroado; Tarahumaras; O Teatro e o seu Duplo, de Antonin Artaud (1 a 30 de Novembro de 2005)

"A SELVA", de Ferreira de Castro (1 a 31 de Dezembro de 2005)

"RICARDO III" e "HAMLET", de William Shakespeare (1 a 31 de Janeiro de 2006)

"SE NUMA NOITE DE INVERNO UM VIAJANTE" e "PALOMAR", de Italo Calvino (1 a 28 de Fevereiro de 2006)

"OTELO" e "MACBETH", de William Shakespeare (1 a 31 de Março de 2006)

"VALE ABRAÃO", de Agustina Bessa-Luis (1 a 30 de Abril de 2006)

"O REI LEAR" e "TEMPESTADE", de William Shakespeare (1 a 31 de Maio de 2006)

"MEMÓRIAS DE ADRIANO", de Marguerite Yourcenar (1 a 30 de Junho de 2006)

"ILÍADA", de Homero (1 a 31 de Julho de 2006)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2006)

POESIA DE ALBERTO CAEIRO (1 a 30 de Setembro de 2006)

"O ALEPH", de Jorge Luis Borges (1 a 31 de Outubro de 2006) (link)

POESIA DE ÁLVARO DE CAMPOS (1 a 30 de Novembro de 2006)

"DOM CASMURRO", de Machado de Assis (1 a 31 de Dezembro de 2006)(link)

POESIA DE RICARDO REIS E DE FERNANDO PESSOA (1 a 31 de Janeiro de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 28 de Fevereiro de 2007)

"O VERMELHO E O NEGRO" e "A CARTUXA DE PARMA", de Stendhal (1 a 31 de Março de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 30 de Abril de 2007)

"A RELÍQUIA", de Eça de Queirós (1 a 31 de Maio de 2007)

"CÂNDIDO", de Voltaire (1 a 30 de Junho de 2007)

"MOBY DICK", de Herman Melville (1 a 31 de Julho de 2007)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2007)

"PARAÍSO PERDIDO", de John Milton (1 a 30 de Setembro de 2007)

"AS FLORES DO MAL", de Charles Baudelaire (1 a 31 de Outubro de 2007)

"O NOME DA ROSA", de Umberto Eco (1 a 30 de Novembro de 2007)

POESIA DE EUGÉNIO DE ANDRADE (1 a 31 de Dezembro de 2007)

"MERIDIANO DE SANGUE", de Cormac McCarthy (1 a 31 de Janeiro de 2008)

"METAMORFOSES", de Ovídio (1 a 29 de Fevereiro de 2008)

POESIA DE AL BERTO (1 a 31 de Março de 2008)

"O MANUAL DOS INQUISIDORES", de António Lobo Antunes (1 a 30 de Abril de 2008)

SERMÕES DE PADRE ANTÓNIO VIEIRA (1 a 31 de Maio de 2008)

"MAU TEMPO NO CANAL", de Vitorino Nemésio (1 a 30 de Junho de 2008)

"CHORA, TERRA BEM-AMADA", de Alan Paton (1 a 31 de Julho de 2008)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2008)

"MENSAGEM", de Fernando Pessoa (1 a 30 de Setembro de 2008)

"LAVOURA ARCAICA" e "UM COPO DE CÓLERA" de Raduan Nassar (1 a 31 de Outubro de 2008)

POESIA de Sophia de Mello Breyner Andresen (1 a 30 de Novembro de 2008)

"FOME", de Knut Hamsun (1 a 31 de Dezembro de 2008)

"DIÁRIO 1941-1943", de Etty Hillesum (1 a 31 de Janeiro de 2009)

"NA PATAGÓNIA", de Bruce Chatwin (1 a 28 de Fevereiro de 2009)

"O DEUS DAS MOSCAS", de William Golding (1 a 31 de Março de 2009)

"O CÉU É DOS VIOLENTOS", de Flannery O´Connor (1 a 15 de Abril de 2009)

"O NÓ DO PROBLEMA", de Graham Greene (16 a 30 de Abril de 2009)

"APARIÇÃO", de Vergílio Ferreira (1 a 31 de Maio de 2009)

"AS VINHAS DA IRA", de John Steinbeck (1 a 30 de Junho de 2009)

"DEBAIXO DO VULCÃO", de Malcolm Lowry (1 a 31 de Julho de 2009)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2009)

POEMAS E CONTOS, de Edgar Allan Poe (1 a 30 de Setembro de 2009)

"POR FAVOR, NÃO MATEM A COTOVIA", de Harper Lee (1 a 31 de Outubro de 2009)

"A ORIGEM DAS ESPÉCIES", de Charles Darwin (1 a 30 de Novembro de 2009)

Primeira Viagem Temática BLOOMSDAY 2004

Primeira Saí­da de Campo TORMES 2004

Primeira Tertúlia Casa de 3 2005

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