Leitura Partilhada
sábado, abril 30, 2005
 
«Talvez as coisas tivessem acontecido assim. Certeza eu não podia ter. Podia imaginar, concluir, deduzir - não havia feito outra coisa naquela história toda.»

«Você inventou que decifrou os Cadernos e pode, assim, inventar a história que quiser.»

Esta é a vertente que mais me agrada neste livro. A insegurança, o ter consciência que não podemos ter certeza de nada, que nunca saberemos verdadeiramente o que passou, os comos e os porquês. Viver/Ler será sempre divertido. E um desafio.

leitora
 
  Vastas Emoções
XX -Conclusão


A minha leitura desta obra transformou-se numa viagem com bastantes pontos de interesse. Realcei aqueles que me pareceram mais significativos para a compreensão da trama, mas não sei se isso foi suficiente para se ter uma ideia do enredo.

Terminada a viagem destaco dois aspectos que me parecem fundamentais:

1- Os sonhos do realizador não são o sonho do realizador. Este último (fazer um filme sobre Babel) saiu gorado. Nesse sentido, o realizador é igual a Negromonte que nunca consegue o primeiro prémio no desfile de Carnaval.

2- Babel é, de facto, a figura sombra que permite ao autor discorrer sobre realidades políticas e geográficas diferentes do Brasil, mas não só. A relação entre cinema e literatura, a arte das palavras, o direito ao silêncio, sendo o silêncio também uma forma de comunicar, são aspectos que conferem a esta obra uma profundidade muito além de um romance policial, se é que alguma vez se possa utilizar esse termo para o conjunto do trabalho de Rubem Fonseca.

laerce
 
  - Estes anos passados na polícia fizeram de mim uma coisa pior do que cínico. - O quê? - Lúcido.
Termino esta minha digressão pelo mundo de Rubem Fonseca com uma frase de Zakkai que, aparentemente, terá a transcendência de um bróculo, mas dá muito que pensar: A humanidade é um monte de merda. Depois, socorro-me de Gramsci: Optimismo da vontade, pessimismo da razão. É assim que eu tento lidar com uma humanidade que me surpreende, ao mesmo tempo que me magoa.

azuki
 
  A pobreza tinha um cheiro, a velhice tinha um cheiro, a morte tinha um cheiro (…)
azuki
 
sexta-feira, abril 29, 2005
  Não gosto de serial killers
ia fazer um post só sobre o tema dos serial killers, mas não me apetece dizer mais do que isto: não gosto, pronto. Não gosto de facas, de assassinos perversos, da dor ou da morte elevada a ideal estético, a programa de vida. (São como mais uma volta no parafuso.) Ando assustada à noite e olho por cima do ombro na rua, mesmo quando ao inimigo o levo comigo debaixo do braço.
nastenka-d
 
  Vastas Emoções
XIX – a litoterapia

Os diamantes podem não ser eternos:


De uma coisa o Corcunda esta certo: a litoterapia, o uso medicinal das pedras, era o tratamento indicado para a doença misteriosa.
………
Até o começo do século XIX,continuou Alcobaça, as gemas eram usadas não apenas como amuletos e talismãs, mas também como remédio contra doenças, podendo realizar uma cura de várias maneiras: a) com sua mera presença; b) sendo colocada na parte doente ou dolorida do corpo; ou c) sendo ingerida conforme a litoterapia clássica. Ainda no século XX, no Japão, vendiam-se, com propósitos medicinais, pastilhas cálcicas feitas com pérolas pulverizadas. Mas o Corcunda sabia, por inspiração divina, que somente o diamante serviria para curar seu doente.

Pág. 239



laerce
 
 
(…) lembrei-me de uma frase de Cromwell: “A democracia é forte na Inglaterra porque neste país os homens de bem têm a mesma audácia dos canalhas”. Se o bem (que, por vezes, parece ficar somente a pairar sobre os bons espíritos, qual conceito intangível acima das materialidades deste mundo) fosse tão activamente praticado quanto o mal (que parece ter uma natureza mais concreta, como que necessitando de se efectivar para se assumir como tal), a coisa ficaria um pouco mais equilibrada. Muito embora, talvez que o verdadeiro problema deste mundo torto esteja nessa enorme mole dos assim-assim, vastíssimo conjunto que alberga tipologias muito díspares, onde se incluem os indiferentes, os egoístas, os ausentes, os primários.

O sentimento de tranquilidade, para algumas pessoas, era não sentir intranquilidade; assim como para outras sentir-se bem era apenas não sentir-se mal. Qual seria a palavra correcta para significar o oposto de dor? Da mesma forma como não existiam sinónimos perfeitos, também, e com mais razão, não existiam antónimos perfeitos, não existiam coisas perfeitamente iguais nem perfeitamente opostas. Assim era a vida, numa ilha de crocodilos ou na cidade do Rio de Janeiro.

Sentir tranquilidade é bem mais que não sentir intranquilidade. Tal como o bem não é a ausência do mal; porque há formas de ausência do mal que contêm uma violência indescritível (a negligência, por exemplo). Nestes casos, prefiro quem, assumidamente, seja mauzinho, à sonsice de muitos. No quotidiano, confronto-me com indivíduos que me confundem, por me ser bastante difícil julgá-los, já que não será possível dizer que activamente pratiquem o mal. Mas o seu alheamento face ao conceito do Outro é tal, que tão-pouco poderei classificá-los como pessoas de bem.

azuki
 
quinta-feira, abril 28, 2005
  Vastas Emoções
XVIII – Diamantina


O realizador não escapou de ser raptado pelos contrabandistas que, desde a primeira hora, o vigiavam. Afinal não tem ele as pedras preciosas? Depois de dias de cativeiro e já desamarrados os nós da narrativa, o realizador encontra-se numa cidade desconhecida:



Onde é o hotel Metrópole?
Sobe esta rua aqui, entra à esquerda. Depois sobe. É a rua da Quitanda. Logo o senhor vê o hotel Metrópole.
Sempre subindo, uma cidade de ladeiras. Na rua da Quitanda vários carros passaram por mim com a placa de Diamantina. Afinal eu sabia onde estava: em Minas Gerais, Diamantina, uma cidade de casas barrocas e chão de pedra. Eu não mais me sentia perdido. Alcobaça tinha o seu sítio em Diamantina, a cidade que recebera aquele nome pela fartura de diamantes nela encontrados, a cidade ideal para um homem que comia diamantes. Elementar.

pág 254

laerce
 
  Muitos anos antes de Cristo havia na Grécia um poeta, Arquíloco, que dizia: “Tenho uma grande arte: eu firo duramente aqueles que me ferem.”
Metido num mundo de artérias cortadas e órgãos perfurados, pensando em tornar-me um herói sinistro e vingativo, eu não podia ser boa companhia, nem para Ada nem para mim próprio. Tanta coisa, tanta coisa, andou ali imenso tempo a falar de sangue e de vingança, e a apalpar constantemente a sua Randall para, no fim, ficar broxa... Eu não queria esquecer, era bom lembrar e odiar. E, pelo meio, ainda conseguiu fazer algo extraordinário: descobriu que, afinal, estava desinteressado de uma mulher que tinha sofrido sevícias indescritíveis por sua causa. Foi um timing muito conveniente para se pôr ao fresco, não haja dúvida.

azuki
 
quarta-feira, abril 27, 2005
 
Gentilmente, a Azuki integrou-me na cadeia de literatura da blogosfera e cá estou a dar o meu seguimento.

Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser? Aquele do qual todos bebessem alguma beleza.

Já alguma vez ficaste apanhadinha(o) por um personagem de ficção? Já. Pela Alice do Lewis Carroll.

Qual foi o último livro que compraste? “O Fogo” de Gabriel d´Annunzio pela módica quantia de um euro!

Qual o último livro que leste? “O Sino” de Iris Murdoch. Interessante, autora a considerar para futuras leituras.

Que livros estás a ler? Hoje não estou a ler nenhum. Vou começar amanhã Miguel de Cervantes e já saiu o último Proust que é o senhor que se segue.

Que livros (5) levarias para uma ilha deserta? Pois é, a pergunta clássica. Não é nada fácil escolher porque a minha cabeça muda constantemente conforme as motivações que recebe. Por isso respondo: neste momento levaria “Os Miseráveis”que na opinião do Nuno é cocaína pura, as “Oeuvres” de Emil Cioran, “La Peau” de Curzio Malaparte, "Divina Comédia" de Dante e “Metamorfosis” de Ovídio que sempre quis ler ( e já agora só mais um:“As Não-Metamorfoses” de Alexandre Andrade).

A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê? Vou passar à Sandra pela sua capacidade de sonho, à Joaninha que é uma leitora inveterada e ao José Mário Silva pelo seu amor aos livros.

Troti
 
  Vastas Emoções
XVII – o mestre do silêncio

De Gurian sobre Babel:

Está pensando em quê?
Num escritor se considerar um mestre do silêncio.
……….


Os contos de Babel eram motivo de controvérsias e debates… “ Numa carta para sua irmã, Babel disse: “Como todos na minha profissão, sinto-me oprimido pelas condições do nosso trabalho em Moscou” págs 75/6
………
Esse foi o tal Congresso em que Babel falou que era o mestre do silêncio e reivindicou, ironicamente, o direito que o escritor tem de escrever mal, na verdade o direito de não escrever.” pág.109


Imaginemos que os escritores exerciam mesmo esses direitos e lá se ia a literatura por água abaixo.
Já procurei a obra de Babel numa das Fnac’s, nada. Este deve ser um silêncio forçado também, com outras cortinas de ferro à mistura.


laerce



Seamos breves
"Toda mi vida he sabido, con muy pocas excepciones, qué escribir, pero dado que he intentado decirlo todo en doce páginas, puesto que me he restringido a mí mismo de este modo, he debido escoger y seleccionar palabras que fueran en primer lugar significativas, en segundo lugar sencillas y en tercer lugar hermosas."
Debes saberlo todo / Isaak Bábel
Un perfecto manifiesto por la brevedad.

Bábel
 
  …meu rosto inspirava confiança a todas as mulheres do mundo.
Aqui está um conceito que li, já por diversas vezes, nos livros de Rubem Fonseca. É bom sonhar, não é?

azuki
 
  As mulheres gostam de recordar o passado.
Concordo que os homens serão, por regra, mais pragmáticos que as mulheres. Estas, têm uma grande (e bonita) capacidade de se perderem no seu mundo interior, de fazer construções, de se deleitar com recordações. Ainda bem que assim é. Para um género que esteve (e ainda está, em muitos países), confinado às paredes de sua casa, o que seria viver sem a memória e sem o sonho?

azuki
 
  As pessoas querem ser amadas, até pelo seu carrasco.
azuki
 
terça-feira, abril 26, 2005
  Uma pequena provocação
Se a minha biografia está apenas nos meus livros, considerados, como disse um crítico, um repertório imundo de depravações, perversões, degradações, imoralidades repugnantes, serei muito mal interpretado. A biografia de um escritor pode estar nos livros, mas não conforme a visão simplista dos Zuckermanianos. (Diário de um Fescenino)

O que é, afinal, o síndrome de Zuckerman? (Já agora, sabem que se pode dizer síndrome, síndroma ou síndromo? Juntamente com a ameixeira/ameixieira/ameixoeira, é a única palavra que conheço com esta tripla capacidade metamórfica)

O síndrome de Zuckerman, cujo nome foi inspirado num personagem de Philip Roth (o qual, se não é o alter ego do autor, pelo menos disfarça muito bem… ok ok, confesso que também padeço deste mal…), é uma “doença” que afecta quase todos os leitores, mesmo aqueles que se dedicam à crítica literária. É horrível sofrer os efeitos de uma doença que está no organismo dos outros. Fui o primeiro a dar um título a esse mal, que sempre atormentou os escribas. Zuckerman é um personagem de Philip Roth que decide escrever um livro. Quando o livro é publicado, o inferno de Zuckerman começa. Os leitores, ao se encontrarem com ele, fazem-lhe as piores acusações: Zuckerman, como você foi dizer aquela coisa horrível da sua santa mãe, Zuckerman, você é um homem mau, chamar o seu melhor amigo de ladrão (…). (Diário de um Fescenino)

Ora, é evidente que não se pode ter a visão redutora de considerar que existe uma correspondência directa entre o livro e o seu autor. Seria absolutamente injusto, quer para a obra, quer para o escritor, quer para a inteligência do leitor. Mas, o facto é que, por vezes, se torna complicado combater este mal quando se lêem vários livros seguidos de um mesmo autor:

(…) um negro sem dentes que parecia um macaco estúpido.
(A Grande Arte)

Inesperadamente, um sujeito enorme – não digo que ele parecia um macaco pois o homem era preto e eu não sou racista (…)
(Secreções, Excreções e Desatinos)

Trata-se de uma comparação algo complicada e eu, tal como a maioria dos leitores, acredito em coincidências até certo ponto, pelo que receio que Rubem Fonseca corra o risco de vir a ser mal interpretado…

azuki
 
  Vastas Emoções
XVI – o espectador



Durante a viagem de regresso ao Rio o realizador relembra Ruth, agora sem mágoa. Revê o momento em que os dois estavam preparando uma curta-metragem intitulado O Baile dos Mendigos:

Quando chegamos ao Largo de Kombi mostrei uma família de mendigos nos fundos do prédio da Caixa Económica, perto da entrada do metro. Eram uns vinte mendigos, alguns deitados sobre cobertores.

Ruth vai dançar diante deles:

Então aconteceu uma coisa maravilhosa, uma mistura de grotesco e sublime. Todos os mendigos resolveram imitar os movimentos de Ruth, cada rosto com uma expressão diferente, cada corpo com uma enunciação peculiar. Naquele dia descobri, fascinado, que todo ser humano tem a aptidão da dança, a capacidade de criar movimentos corporais significativos.

Desta experiência, o realizador tira ainda mais conclusões:

Na verdade obtive um resultado melhor do que o de Altman, que, conquanto dispusesse de uma melhor tecnologia, trabalhou restringido pelos limites dos cenários de estúdio e não alcançou o efeito estético que buscava: fazer o espectador se sentir como um bisbilhoteiro, um eavesdropper. Eu, que trabalhava ao ar livre, numa praça ampla cercada de arranha-céus, queria colocar o espectador não apenas na posição de voyeur que ele sempre é, mas na de magnetizado-recalcitrante, assumida pelas pessoas perante uma visão chocante que, contraditoriamente, repugna e atrai…Na verdade o ser humano tem esta atitude ambígua diante do sexo, do poder, da loucura, da miséria, da dor, da morte.
págs. 208/9/10

laerce
 
segunda-feira, abril 25, 2005
 
Porque serão os heróis sempre solitários? É a solidão por si só já uma espécie de temeridade?
Mandrake é um herói de film noir, já o disse. (Nem o calor do Rio me persuade do contrário.) Mandrake é um herói - ou anti-herói - cheio de falhas e angústias e negrumes de alma. Há uma rectidão no seu carácter que persiste para além de tudo isso - das mulheres, das traições, do trabalho, de desejo. (Até dos charutos.)
Estes heróis são sempre suspeitos.
Queremos confiar neles, mas nunca sabemos se não serão capazes de nos partir o coração.
nastenka-d
 
domingo, abril 24, 2005
 
«A melhor vingança era ficar vivo, muito tempo.»

leitora
 
sábado, abril 23, 2005
 
"Quero mostrar para você a minha principal peça, uma obra-prima que ninguém tem no Brasil. (...) Vê? Um dos três estudos do Lucien Freud. Bacon é um gênio. Lucien é um porco, uma pasta amorfa que se projeta para fora desse cubo transparente que bifurca seu corpo e e nos permite antever todas as partes da sua integridade decomposta. Não diga (...) que minhas palavras são apenas retórica alcalóide; antes, preste atenção ao pé dele, ao nariz, às mãos, Jesus Cristo, as mãos, ele não tens mãos! (...) Olha o nariz, imagine o que Lucien faz, sentado nessa cadeira de palha, de meias e luvas pretas, e mão derretidas. Olha os sapatos de camurça, olha o rosto vermelhos, alvaiade e cinza, os leves tons verdes e azuis do cancer que combinam tão bem com as coisas podres."


Francis Bacon Three Studies of Lucien Freud, 1969

Para lá da análise subjectiva transcrita, Bacon é, de facto, um autor que merece longos minutos de olhar, seguidos, atentos, dedicados.

leitora
 
sexta-feira, abril 22, 2005
  Cadeia de Literatura


Uma cadeia de literatura surgiu na blogosfera portuguesa - o ex-libris da tugosfera -por iniciativa do barrie de the pink bee, a 7 de março, seguida pelo guy do non tibi siro conferindo-lhe o sabor do sul da europa. A leitora passou-me o testemunho, confiando que eu lhe daria seguimento.

Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser? Um livro que contivesse todas as indicações necessárias para encontrar os recantos secretos dos livros poupados aos 451 Fahrenheit.

Já alguma vez ficaste apanhadinha(o) por um personagem de ficção? Sei que, daqui por um mês, irei dizer: D. Quixote.

Qual foi o último livro que compraste? Não o ter comprado, dada a proximidade do meu aniversário, foi apenas um pormenor técnico. O namoro que tive, na Fnac, com a tão aguardada tradução que Frederico Lourenço fez da Ilíada, de Homero, foi longo: conheço-lhe a forma e o cheiro (ah, o cheiro dos livros…), como se já fosse meu. Verdadeiramente, o último livro que comprei foi Poesia Escolhida, de António Gedeão, para uma oferta a alguém cujas preferências literárias desconhecia. Decidi-me por um poeta que me acompanhou na adolescência.

Qual o último livro que leste? Não vou ser nada original: li Secreções, Excreções e Desatinos, Diário de um Fescenino e A Grande Arte, de Rubem Fonseca, porque sou uma participante dedicada deste blogue (!). Antes, Pela Estrada Fora, de Jack Kerouac, já que ia para aqueles lados. Foi livro que não me deslumbrou, quer pela linguagem, quer porque não me identifico com os personagens e com a sua forma de estar no mundo.

Que livros estás a ler? Para muitos entendidos na matéria, será o maior romance brasileiro de todos os tempos: Don Casmurro, de Machado de Assis. Na mesa de cabeceira (pese embora o meu assumido preconceito contra os best sellers) está (e estará) Cultura-Tudo o Que é Preciso Saber, de Dietrich Schwanitz (naturalmente, apenas pelo seu cariz informativo porque, se for pela linguagem, estamos conversados…).

Que livros (5) levarias para uma ilha deserta? Depende, por quanto tempo?? Para uma temporada com horizonte temporal definido, ainda que prolongada, optaria por alguns dos incontornáveis que quero ler/reler: a trilogia O Tempo e o Vento/O Retrato/O Arquipélago, de Erico Veríssimo, Os Miseráveis, de Vítor Hugo, Os Thibault, de Roger Martin du Gard, O Quarteto de Alexandria, de Laurence Durrel e O Homem sem Qualidades, de Robert Musil. Como presumo que viesse a ser difícil encontrar uma tradução decente deste último, completaria a lista com um qualquer Manual de Sobrevivência numa Ilha Deserta, que dá sempre jeito. Para um período indeterminado, far-me-ia acompanhar pelo Eça, que é como Paris: até um contacto levado ao infinito será sempre insuficiente.

A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê? Faço uma inevitável passagem à nastenka-d , à Troti e ao riverrun, pela partilha.

azuki
 
 
«Esses italianos são excessivamente dramáticos. O mundo para eles é uma ópera.»

Agradável ou não, o fado é indissociável da imagem social dos portugueses, o alegre e leve samba dos brasileiros, o apaixonado tango dos argentinos... A marca do povo?

leitora
 
  Vastas Emoções
XIV- e a outra realidade

Não deixa de ser importante realçar que esta obra nos transmite bem o ambiente de intimidação e suspeição no tempo em que as duas super potências (URSS/USA) disputavam o domínio do planeta.

A experiência da passagem de Berlim Ocidental para Berlim Oriental é disso exemplo:



Vi que o controle era feito por dois guardas, em cada fila, primeiro um deles, e logo adiante um outro. As filas eram divididas em dois setores: o das pessoas que tinham passaporte da Alemanha Oriental e o dos visitantes estrangeiros.
Os guardas eram homens altos e bem fardados. Olhei com admiração seus belos uniformes, sua postura marcial…botas lustrosas e longos e bem talhados capotes de lã. Pensei: ninguém veste tão bem um uniforme quanto um prussiano.
Mas minhas preocupações estéticas duraram pouco O olhar dos guardas era duro e atento. Olhavam para o passaporte e depois para o rosto das pessoas, bem dentro dos olhos.
pág.177


Para atingir o objectivo de ter na sua mão o precioso manuscrito de Babel, o realizador vai a Berlim Leste, carregado de dólares, encontrar-se com Ivan, que tinha aquele em seu poder. A memória de outros filmes ajuda-o a compreender a experiência que estava a viver

laerce
 
  Frases Soltas
Os que se vendem, se vendem por pouco. Parece estranho, mas é verdade. Todas as pessoas têm um preço, mas o facto é que, quem só se venderia por uma pipa de massa, simplesmente não está à venda.

O mundo precisava mais de gatos do que de gente. Ora, quem fala assim, já me conquistou! (eu até compreendo mas, please, não digam à minha beira que não gostam de gatos…)

Eu amava Ada. Mas isso não impedia que me interessasse por outras mulheres. (Ah, os homens.) Uma abordagem recorrente nos livros de RF. E que estranha forma de amar. O que os homens não entendem é que a sua volubilidade magoa e não se magoa a pessoa que se ama.

Nunca se deve deixar uma dívida pendente. (Hermes) Aqui está uma verdade absoluta.

É agradável ler sobre pessoas ricas e famosas envolvidas em episódios sórdidos. Sim, são momentos vibrantes, em que o mesquinho despeja todo o seu ressentimento e se sente vingado, com a ilusão de que, afinal, sempre existe justiça no mundo.

Outra pausa. Não convinha a um senador parecer niilista. Criticar e denunciar, mas com esperança. Sim, nunca esquecer de aplicar o marketing, aplicar o marketing! Até um senador tem esse direito.

azuki
 
quinta-feira, abril 21, 2005
 
«Eu dedico minha vida à Organização, quando minha vontade era ser um homem de letras, como se dizia antigamente, ou um daqueles monges eruditos que passavam a vida lendo muito e comendo pouco. Mas aqui estou eu, preocupado com problemas administrativos.»


Quem não gostaria?

leitora
 
  A primeira criação tecnológica do homem – a faca
Interessante, esta digressão pelo mundo das facas que é, ao mesmo tempo, uma ciência e uma arte. Quem diria?! Nunca me debrucei sobre tal assunto (caso contrário, admito que poderia ter chegado a semelhante conclusão) e a verdade é que fiquei surpreendida pela diversidade de modelos de facas e pela precisão de todas as técnicas de luta, acompanhadas de extensa bibliografia. De facto, podemos até reconhecer nomes como Browning, Beretta, Remington ou Winchester, mas jamais ouvi falar de uma Randall, Hasna ou Kris.

E é assim que os livros nos encantam, abordando com pormenor temas que nos são absolutamente estranhos: a escolha minuciosa da artéria a atingir, a posição do agressor (a fim de evitar sujar-se ou ter uma cegueira temporária, factos que se prendem com a quantidade de sangue que se estima vir a jorrar e com a eventualidade do aparecimento de fezes ou urina), a preparação efectuada antes do corte (porque o cheiro do sangue é enjoativo…), o tipo de faca e o seu manuseamento, a forma de penetração da arma no corpo da vítima, o objectivo de uma morte imediata ou de um sofrimento prolongado,…. Uff, as coisas que um matador se vê obrigado a decidir!...

azuki
 
  Vastas Emoções
XV- Gurian de volta

Já com o manuscrito, o realizador regressa ao Brasil, decidido a realizar o seu próprio filme sobre o manuscrito, afinal ele tinha as pedras preciosas que valiam milhões, não precisava de nenhum produtor.Havia apenas um problema: era preciso traduzir o documento. Quem? Gurian.
A relação de amizade que os unia desde o princípio da narrativa é toldada pela urgência de decifração do texto:



Contei tudo para Gurian. Enquanto eu falava, Gurian, que tirara o manuscrito da minha mão, sacudia-o de maneira desesperada de encontro ao rosto, sapateava e chutava coisas que estavam no chão…e exclamava coisas ininteligíveis.
Afinal entendi o que ele dizia: quebrei os meus óculos, não posso ler?!.
Não pode ler?!, eu gritei. Como não pode ler?!
……..
Quando é que você recebe seus óculos?
Não sei. São lentes especiais. Talvez ainda hoje.
Liga para o dentista e pede para hoje sem falta.
Ele não é dentista. É oculista.
Eu não disse dentista. Disse oculista.
Falou dentista, eu ouvi muito bem.
Começamos outra discussão….

pág.213/14





Mais palavras para quê? Sobre o famoso manuscrito, mais informação aqui.

laerce
 
quarta-feira, abril 20, 2005
  os cadernos
«As anotações de Lima Prado eram feitas a tinta, em três cores, azul, vermelho e verde. Em letra verde (uma ironia, sem dúvida) estavam as observações do seu tempo de exército; em vermelhos suas atividades secretas; em azul os assuntos da família. Não havia uma ordem cronológica ou mesmo lógica. Tive dificuldades em colocar tudo em ordem, para entender o que seria autobiográfico e o que seria ficção. Ele teria sido um escritor muito interessante, repito, se tivesse tido tempo, afinal, de dedicar-se a esse penoso ofício. Gostava de falar de retratos antigos.»

leitora
 
  Vastas Emoções
XIII - A realidade do realizador

O realizador (diretor) compreendeu que, de facto, não o estavam a contratar para dirigir mas para ser dirigido.


Eu suspeitava que Plessner não queria fazer nenhum filme comigo, nunca quisera.

Mas o realizador já pouco se interessava pelo seu filme.

Era grande a minha ânsia….para saber mais coisas sobre o romance desaparecido de Bábel.

O manuscrito de Babel, era o que ele realmente desejava possuir. Por isso aceitou a proposta para ir a Berlim Leste buscar o suposto romance inédito de Babel. Mas…


Plessner devia ser muito idiota para supor que eu me arriscaria a ser preso por um motivo muito forte. Ele teria tido um choque se soubesse o que passara pela minha cabeça enquanto me relatava o insidioso e interminável enredo eslavo de maquinações políticas que antecedera sua proposição. Eu, que já era um ladrão de pedras preciosas, dispunha-me a cometer mais um roubo em proveito próprio. Plessner nunca poria as mãos naquele manuscrito.
pág. 165

Laerce
 
terça-feira, abril 19, 2005
  Museu (Ruína)
"Não dou mais importância a essas coisas", disse Laurinda, "a casa está cheia de objetos sacros raríssimos, grande parte roubada das igrejas, só oratórios são mais de dez, mas nada disso me interessa. A coisa mais importante são as lembranças, e essas estão dentro desse baú aqui, está vendo?", e batera na cabeça com a mão aberta.

leitora
 
  Vastas Emoções
XII- A cortina de ferro

Na Alemanha, o realizador fica a saber da existência de um manuscrito, um romance desaparecido de Babel. As discussões à volta deste tema envolvem a situação política da Europa marcada pela cortina de ferro, o muro de Berlim.
É esse ambiente de tensão, de desconfiança e de vigilância que marca o trajecto do realizador.

Em 1985 o manuscrito foi roubado do departamento de documentos confidenciais da Biblioteca Lenin. Uma mulher que trabalhava na Biblioteca pegou no romance e entregou-o ao amante, um diplomata soviético, atualmente servindo na embaixada de Berlim Oriental. Vamos chamá-lo Ivan. No passado Ivan foi protegido de Iuri Churbanov, o genro corrupto de Brejnev e creio que andaram fazendo alguns negócios juntos, provavelmente contrabando de moeda. Com a queda de Brejnev, a situação de Ivan se complicou. Você permite que lhe fale um pouco sobre intrigas burocráticas? Ajudam a entender a alma russa, e a entender Bábel. Hein?
pág. 159



Engraçado, parece que este mundo já acabou há tanto tempo e no entanto….
Outros muros se constroem.
Laerce
 
segunda-feira, abril 18, 2005
 
"As pessoas perguntam, é para comer? pra comer eu dou. Mas eu não quero comer, quero beber e digo, não, senhora, é para beber, aí elas não dão nem um tostão. Será que não sabem que para um bêbado como eu beber é muito mais importante do que comer?"

leitora
 
  Vastas Emoções
XI – A importância dos sonhos


Não deixa de ser curioso que as primeiras palavras da obra Vastas Emoções, nos remetam para o despertar de um sonho mau: “Acordei tentando me segurar desesperadamente, tudo girava em torno de mim enquanto eu caía sem controle num abismo sem fundo.” Ao longo da obra, vários sonhos se vão sobrepor à narrativa propriamente dita. De que falarão os sonhos? Qual a sua funcionalidade? Sonhar sem imagens para um cineasta não deixa de ser estranho, como ele próprio reconhece. Como sabe ele que sonha com uma mulher alta que se curva para beijá-lo? É o próprio realizador que explica: ”Eu possuo o saber, sem os sentidos, o conhecimento sem percepções visuais. Meu sonho é feito de ideias.”

Mas há muito ingredientes a povoar os sonhos do realizador: as mulheres, os espaços nítidos (a casa, a rua, o crematório, um campo de batalha), odores, cores e a linguagem, melhor, a linguagem grosseira associada às funções básicas do corpo e a poderosa imagem do ralo, por onde tudo desaparece: “Sei que uma luz azulada ilumina um grande ralo por onde as coisas somem como água suja.”

Para mim, a inclusão dos sonhos nada mais é que uma estratégia de explicação da personagem que tem aí o terreno ideal para libertar os seus medos: de não atingir a perfeição na sua obra, da incapacidade de amar, da doença, da velhice e da morte. Mas é também uma estratégia que agarra o livro a uma época em que o papel dos analistas parece determinante para compreender os dramas de uma sociedade urbana à procura de significado.

” Quem mandou você arranjar uma mulher analista?”, brincou Veronika.
“Parece que Freud acreditava, e ela também, que os sonhos estão ligados, em seu conteúdo manifesto, a experiências recentes e em seu conteúdo latente a experiências mais antigas…”





Rubem estudou muito bem a teoria e chapou-a na personagem.

laerce
 
domingo, abril 17, 2005
  Zakkai, por ele próprio
«Ou eu morria ou virava essa maravilha que sou.»

Este anão fez-me lembrar muita gente - mas sem a graça dele, infelizmente!

leitora
 
  Vastas Emoções
X- As aparências

Este excerto faz-me lembrar o Lobo Antunes em os Cus de Judas. Ambos contrariam ideias feitas sobre sexualidade masculina.



Repetiu-se a mesma cena anterior: Veronika buscando fruir ao máximo a relação sexual e eu desempenhando o papel de sedutor exibicionista ou de saciador generoso. Claro que nessas ocasiões chegava um momento (que eu decidia quando e como) em que eu tinha um orgasmo, quase sempre depois da minha parceira estar esgotada. Mas esse orgasmo era menos para me dar prazer do que para deixar uma marca viscosa que demonstrasse, para a minha parceira, que eu também me envolvera profundamente na relação. As pessoas acreditam nos sinais exteriores de gozo.
Pág. 153

laerce
 
  Isto não é um livro policial
VII

Se o sujeito escreve romance como bem entende, e existe romance de todo o tipo, por que um diário tem de seguir um molde? O meu é assim como eu quero.

Diário de um fescenino
Rubem Fonseca

Tinha planeado fazer mais alguns posts sobre o último romance de Rubem Fonseca. Mas, tendo em conta a estratégia que casulamente escolhi para o introduzir na LP, vejo que cheguei ao meu destino. Rubem Fonseca acabou por responder à minha provocação, aqui está uma resposta à minha medida, Xeque-mate. E dá-me um prazer tremendo ser derrotada assim, é isto que dá sentido ao jogo. Ao sétimo dia pouso este romance. Acho que o recuperarei da prateleira muitas vezes, por razões diversas.

leitora
 
 
Cadeia de Literatura


Uma cadeia de literatura surgiu na blogosfera portuguesa - o ex-libris da tugosfera -por iniciativa do barrie de the pink bee, a 7 de março, seguida pelo guy do non tibi siro conferindo-lhe o sabor do sul da europa. A Laerce passou-me o testemunho confiando que eu lhe daria seguimento.

Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
Um livro imagens, se possível a preto e branco. Fotos do século XX (de Cartier-Bresson, Jean Baptiste Huyn) ou gravuras mais antigas (algumas de Goya, por exemplo).

Já alguma vez ficaste apanhadinha(o) por um personagem de ficção?
Muitos têm ficado agarrados ao meu imaginário. Não me atrevo a destacar nenhum, para evitar guerras internas dominadas pelo ciúme. (Ou talvez ainda não tenha lido o suficiente...)

Qual foi o último livro que compraste?
Comprei ontem Borges Verbal. Há uns dias, Jóia de Família da Agustina. E mais-ou-menos-comprado "À espera no Centeio" de Salinger (recomendei uma compra, que sei que depois de lida me virá parar às mãos...)

Qual o último livro que leste?
A Planície em Chamas de Juan Rulfo. Não tanto para me educar na leitura de contos, que já aqui confessei ser difícil para mim. Dois dos contos ("Deram-nos terra" e "Luvina") são dos que mais gostei de ler desde sempre. O cenário desértico e de devastação fascinou-me. Sei que os relerei muitas mais vezes, será inevitável.

Que livros estás a ler?
"Sinfonia em Branco" de Adriana Lisboa será o livro do dia. Que bom este domingo...

Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?
Já me basta a luta de decidir que livros levo em cada viagem... E cinco?, cinco livros? Ah, só se puder fazer muitos reabastecimentos... Tenho ali os cinco volumes da tradução brasileira de "Finnegans Wake" a acenar, a dizer que estão na conta certa, e que me acompanhavam por algumas semanas de boa leitura.
Quanto tempo ficava na Ilha Deserta?
Há tantos livros que ainda não li e desejo ler, tantos autores por descobrir, alguns livros que gostava de reler... Ah, decididamente, fazia batota! Senão... não vou.

A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?
A estes três porque vou gostar de saber as respostas, mas concretamente
à Azuki, pelas afinidades e empatias, e porque sei que vai passar bons testemunhos,
à Alexandra, porque voltou de férias ainda com mais vontade de ler e de passear,
ao Francisco (se eu tiver coragem), porque, além de tudo o mais, foi dele a proposta de lermos Rubem Fonseca.

leitora
 
sábado, abril 16, 2005
 
«A vida não passava de uma luta de vida ou morte entre as pessoas. Entre os animais. Entre os povos. Entre as forças da natureza.»

Não concordo. Apesar de em alguns locais ser muito verdade. Mas não posso concordar. Recuso-me.

leitora
 
  Vastas Emoções
IX –Liliana



Liliana é que acompanha o realizador ao longo da narrativa. A relação entre Liliana e Ruth parece não incomodar o realizador mais preocupado consigo mesmo. Na verdade, independentemente do que aconteceu a Ruth, o realizador já não a amava. Liliana é aquela que está ali pronta para tudo, é o estereótipo da jovem urbana, conhecedora de todos os truques, sem preconceitos , uma mulher muito prática.

Então Liliana contou que sempre desejou ter uma identidade masculina, se vestir de homem, como Mademoiselle de Maupin, do romance de Gautier. Assim comprara um passaporte falso em nome de Euribicíades Castelo Branco e viajara como se fosse um homem, desde o Brasil.
pág 195


laerce
 
  Isto não é um livro policial
VI

"Falta de inspiração?"
"Isso não existe para um escritor profissional. Os temas estão aí, nada há de novo, nem os leitores gostam de novidade. Os leitores estão cada vez mais parecidos com os espectadores cinematográficos. A única literatura digna é aquela que assombra o leitor, essa ninguém compra. Eles gostam de temas manjados."

Diário de um fescenino
Rubem Fonseca

Como assombrar o leitor, como deixar-se ser assombrado?
Contornar essa tendência para a fast-culture poderia ser escrever um romance encapotado de policial? Poderia, mas não me parece que seja esse o trabalho de R. Fonseca; apostaria mais neste entendimento: mesmo um livro de matriz policial pode ser denso e trabalhado como um romance. (Pode ser muito bem escrito, distanciar-se da literatura rápida e menor, era o que me apetecia escrever...)

leitora
 
sexta-feira, abril 15, 2005
 
«No Rio de Janeiro antigamente era assim, pensei, lamentando não ter conhecido a cidade naquele tempo.»

Ipanema



Avenida Rio Branco



Avenida Beira Mar



leitora
 
  Cidade maravilhosa
O ritmo do livro é o da cidade - maravilhosa.
(As metrópoles sãos empre únicas, por muito iguais que sejam: 24 hour cities, chamam-lhes. Cabe lá tudo, cabem lá todos: anónimos e iguais, os mais ricos e os mais pobres, os mais sós. Milhões. Os fluxos são tão intensos que são abandonados os lugares de encontro - encontro significa paragem; e parar, abrandar que seja, na cidade é morrer.)
Cidade - território urbano, sem lugares. Uniformizados e em negativo, existem na medida da sua utilidade.
(Os sítios lentos, como a cidadezinha de Ada, vivem fora desta rede; são refúgios; exílios. Lá, na cidade, é que tudo acontece.)
nastenka-d
 
  Isto não é um livro policial
V

«meu novo livro não terá, como os outros que escrevi, personagens infelizes enredados nas vicissitudes cotidianas. Será inflado com detalhes de um episódio importante da história universal, terá muitas páginas - os leitores gostam de romances grossos, nem que seja para apenas colocar na estante - como o José e os seus irmãos, do Thomas Mann. O oposto do que estou escrevendo aqui neste diário chinfrim.»

Diário de um fescenino
Rubem Fonseca

Agosto, romance de Rubem da Fonseca, está inflado com detalhes de um episódio importante da história, visto por um policia no decorrer da investigação de um homicídio. Poderá Agosto ser visto como um policial, ou como um romance histórico?

E este novo livro que o Fescenino pretende escrever, poderá vir a ser um típico romance policial, apesar de tudo?

leitora
 
  Vastas Emoções
VIII –Ruth




Ruth era a mulher de realizador. Desde o início, a recusa em falar dela vinca a narrativa. Como Babel, é uma sombra:

Não, não quero falar de Ruth. Ainda não.
pág.8

No entanto Ruth vai aparecendo nos objectos que o realizador conserva.

De quem é esta cadeira de rodas?
É minha”… Eu trouxera a cadeira de rodas? Na verdade eu não a queria esquecer?

pág. 10

Abri a mala, onde estavam as coisas dela que trouxera na mudança….Um vidro de perfum, um lenço de seda. Um pacote de absorvente íntimo…
Fiquei segurando aquele artigo feito de papel e tecido, sentindo uma dor, lembrando. Mas eu não queria lembrar.
pág. 57

Mas não é possível falar de Ruth sem falar de Liliana.

laerce
 
quinta-feira, abril 14, 2005
  Negromonte
.
Pergunto-me se haverá alguma relação entre Negromonte e Necromante, para além da semelhanca fonética. Seré Negromonte um Necromante?
Muitas das referências mitológicas d"A Grande Arte"parecem apontar para uma possível viagem ao mundo dos mortos, o mundo dos mortos como outro dos submundos no qual estão enterradas as fundações da vida respeitável.

Joana
 
  amar o vinho
...

"Tem algum vinho português?"
(...)
O garçom voltou com um Porca de Murça. "Esse serve?"
"Serve."
"Quer que gele?"
"Claro que não. Pode abrir."

Fez-me lembrar Belo Horizonte, e um excelente restaurante italiano, onde serviram vinho português a uns turistas do norte da Europa. Vinho tinto, maduro, de excelente qualidade, mas bem gelado. A sério que me apeteceu passar um raspanete ao gerente. Mas, afinal, os nórdicos preferiram gelado. E o gerente estava a tratar-me tão maravilhosamente bem que... não tive coragem.

leitora
 
  Isto não é um livro policial
IV

«As mulheres são mais espertas do que pensa a maioria dos homens.»
«Mulher é bom, mas dá trabalho.»

Diário de um fescenino
Rubem Fonseca

As mulheres são a fonte do fascínio, do erotismo. As mulheres não vestem a pele de herói, não são personagens principais; são secundárias muito relevantes, se assim posso dizer. Mas muito bem retratadas; personagens inteiras, com corpo e nervos e inteligência. Este cuidado com todas as personagens, que se tornam tão definidas para o leitor, não é típico de um livro policial, ou é?

leitora
 
  Vastas Emoções
VII- Negromonte


O realizador, sem se dar conta, está envolvido numa teia de tráfico de pedras preciosas e sabe que está a ser vigiado pelo homem da capa.

Eles sabem que descobri o esquema deles.
pág.93

Na sua deambulação para encontrar um sentido para o que lhe está a acontecer, o realizador procura Negromonte, uma das personagens mais marcantes da obra pelo que retrata da realidade carioca e dos sonhos dos carnavalescos:

Vi o desfile inteiro. Para cada categoria eram dados três prémios. Áureo Negromonte não ganhou nenhum. Os salões, depois dos desfiles, foram-se esvaziando. No fim, no grande salão de colunas estavam apenas Negromonte, ainda com a sua imensa e brilhante fantasia…e eu.
Eu vou me matar hoje, disse Negromonte,…seis mil penas de pavão, duas mil penas de ema, milhões e milhões de vidrilhos e canutilhos e paetês e estrasses, um ano inteiro de trabalho…



No meio deste drama, Negromonte revela o seu verdadeiro nome: Benedito.

págs 60/61


laerce
 
 
Os Sonhos


El sueño de la razón produce monstruos


O protagonista sonha sem imagens mas consegue descrever o que sonha. A partir daí qualquer um os pode visualizar. Longe de mim pensar sequer em interpretar sonhos. Mas é interessante reparar como é lá que estão os seus medos escondidos, como é lá que está “ela”, aquela que ele não sabe quem é, aquela que ele ama. Nos sonhos desaparece o auto-controle.

Sonho #1
Sonho que estou na esquina de uma rua, com uma carta na mão e sinto um desejo ardente, não identificado. Som e brilho de raios e trovões (que eu não vejo nem ouço). Sei que uma luz azulada ilumina um grande ralo por onde as coisas somem, como água suja. Tenho um quisto no nariz e logo sou transportado para um trem em movimento. Na janela mãos de pingentes com os dedos quebrados e o meu retrato fantasiado de legionário reflectido no vidro. Sumindo pelo ralo. Há também a consciência dos seios de uma moça cheirando a flor de maçã e um vidro grande de tinta azul. Sumindo pelo ralo. Até que ela (quem? quem?) coloca o pé sobre o ralo e diz na tela escura:”Me mata, me esgana, atira na minha cabeça, aqui neste bar, ali naquela esquina, depois vai ao meu enterro, nada me fará tão feliz. Espera, espera um pouco, vamos para casa, esta gente aqui é capaz de te machucar, vamos para casa, há certas coisas que só se podem fazer em casa”. Ela tira o pé do ralo.
pag. 49


Sonho #2
Meus ossos doem. Sou um homem em casa, sozinho. Estou numa cidade grande, esperando uma carta, um telefonema. Não conheço ninguém na cidade. Saio no meio de um fog gelado e compro duas latas com uma substância escura, um molho de ervas, um pouco de queijo e pão. Já é noite. Junto com as ervas, uma revista com mulheres nuas. No banheiro escolho a mulher mais bonita (há algo de hemisfério sul no rosto dela, ou de Oriente, um rosto que desafia classificação - tem olhos grandes, é decente), está virada de costas, ajoelhada e, apesar da posição, os pêlos de seu púbis projectam-se num tufo escuro e denso. Os cabelos descem-lhe pelas costas nuas e agora está de perfil. Masturbo-me olhando sua bunda, seus cabelos longos, seu perfil de menina, mas principalmente não vendo nada, pois minha mente, meus anseios, minha fome estão muito longe, varando o ar, da noite para o dia. Deito-me e espero alguma coisa, com a luz apagada. estou cansado, mais da espera que de outra coisa. de vez em quando meu coração pula uma batida. O médico, ao meu lado, diz que é uma coisa comum – mas de qualquer forma isso me incomoda. Nada acontece. Estamos num crematório. Não queriam deixar-me entrar para eu não misturar as cinzas dos mortos. Mas as cinzas são minhas, digo eu. Então está bem. Labaredas envolvem o meu corpo.
pag.85


Sonho #3
Rolo pelo chão como um cão danado. Ou um rato envenenado. Dou socos na parede e a cabeça sangra. Penso em pegar num pedaço de bambu e abrir a barriga como o Nakadai fez, sob a direcção de Kurosawa. Olho para a parede, enquanto um crioulo americano canta, e imagino aparecer, finalmente o rosto dela, pálido. “Ei, meu bem”, digo, “o que é isso que você tem no colo, um cachorrinho lulu, ou um coelhino?” E ao fechar os olhos, ela de cabelos compridos como no dia em que fomos ao jardim zoológico, passa as mãos nos músculos das minhas costas. “Você não é mais o mesmo”, ela diz. Os corvos (ou são gralhas, com cara de corvos?) voando, se exibindo para mim. Ela me diz que o amor não existe, que só existe o orgasmo, cuja vitalidade é uma coisa parecida com cagar, por exemplo, algo que te alivia e depois você se limpa, com uma toalha, ou com água, em seguida vai tratar da vida – comprar uma roupa, ou uma casa, ou uma jóia, ou fazer ginástica. Diz que somos um monte de macacos descartáveis, como giletes velhas, ou papel higiénico, ou Modess, ou latas de sopa vazias ou restos de ensopado na panela ou comida velha no Verão. Talvez tenha razão. Meu coração, meu sangue não podem escapar a subtileza daquele ser. Sou um condenado ao inferno e meus ossos doem e minha carne está tão castigada que quando entro num lugar. E o meu nariz emite uma água sem cheiro, como gelo derretido, e não consigo pegar num papel com a mão que tirei da luva. Na rua, a última folha do Outono, com uma cor de ouro escuro, se transforma nos olhos dela. Dou socos na parede e saio para brigar com alguém. A todo homem que encontro, digo “sai da frente, seu filho da puta” e eles saem, não entendem e saem assim mesmo. Então volto para casa e meu queixo fica gelado durante horas, tanto tempo que aqueço a água na chaleira e faço uma compressa.
pag. 106-7


Sonho #4
Pessoas em silêncio. A moça de gengivas molhadas me lambe com a sua boca de dentes de pérola. Outras mulheres de bustos abundantes e cabelos oxigenados andam pelo meio da praça dando socos no cadafalso. Faz calor apesar de Inverno. “Ele é apenas um blasfemador”, diz um delas. O nauseante silêncio é quebrado pelo som de ossos partidos e pelos uivos do prisioneiro pedindo para ser logo despachado. As mãos do carrasco são pequenas e brancas. O corpo do condenado está coberto de merda e mijo, que começam a secar. As mulheres olham com asco e atenção, industriosamente. Disciplina, horror, poder, prémio e punição, assim é o mundo, dizem em coro, tapando o nariz.
pag. 219


Sonho #5
Ardendo em chamas, afogado em sangue onde balouçam pétalas de rosas sob uma inesperada luz roxa da manhã, ela (quem?) me diz: “O fogo é melhor do que o mofo”. “Espere”, grito, “não se deixe consumir antes da minha resposta.”
pag. 235


Sonho #6
Sei que estou sonhando, e resolvo ver-me a me ver sonhar. “Aquele sou eu”, digo, ante uma tela, tela negra. Isto se repete, e se repete, várias vezes.
pag. 247

at
 
quarta-feira, abril 13, 2005
 
"É lindo o Pantanal", eu disse.
"Porquê?"
"Acho que é por não ter fim."
"Me deprime exactamente por isso, porque não acaba nunca."

Eu ainda não posso provar, mas estou com o Mandrake.






leitora
 
  Isto não é um livro policial
III

«Você tem livro em toda a parte, até debaixo da cama, como é que consegue encontrar um livro que está procurando?»

Diário de um fescenino
Rubem da Fonseca

Os heróis de Rubem Fonseca adoram livros, estão próximos dos leitores de Rubem Fonseca. Um livro leve, como se espera de um típico policial, não tem personagens tão marcadas, nem análises sociais, políticas, culturais. Ou tem? Um livro de Rubem Fonseca tem, em paralelo com os crimes, as investigações e os suspeitos.

leitora
 
  Porque não aprecio contos
Estava a aproximar-se a altura de nos dedicarmos a Rubem Fonseca e eu sem encontrar A Grande Arte e a começar a ficar nervosa (tenho-o apenas desde anteontem, graças à minha querida Leitora, que o mandou vir directamente de terras de Vera Cruz). Decidi-me, então, a fazer um dos meus percursos predilectos e fui à Fnac. Nada conhecia do autor, pelo que resolvi pescar os títulos que mais me agradassem. Escolhi o familiar Diário de um Fescenino (agora, sei que raio é um fescenino) e um outro, de nome altamente sugestivo: Secreções, Excreções e Desatinos. Por azar, este último é um livro de contos, estilo que não me seduz particularmente.

Há tantos livros de contos interessantes (lembro-me de Tchekhov, Machado de Assis, Cabrera Infante, Torga, Kypling, Eça, Maupassant,…), e com mensagens tão intensas, por que carga de água não os aprecio?? As explicações são várias, às quais não é alheia a sofreguidão com que leio, aliada a uma memória que não é de elefante, pelo que necessariamente mais depressa esqueço um conto ou um livro de contos do que um romance; porque, de uma maneira geral, serão de leitura mais agradável e fluida, e eu aprecio a solidez de um livro denso e o pequeno toque de enfado com que me debato por entre certas páginas difíceis; porque muitos deles acabam abruptamente, e dou por mim com cara de parva a reler as últimas linhas, numa desesperada tentativa de apreender o sentido dos dez minutos que lhes dediquei; porque não consigo evitar a frustração dos fins precoces, que me interrompem o devaneio, pois sou daquelas pessoas fiéis que, quando gostam, simplesmente não querem largar!

Apreciei o livro, achei o mote interessante e com partes muito bem apanhadas, ainda que não aconselháveis para certas alturas do dia (fezes, caspa, sangue, pústulas, lágrimas, urina, ar expirado pelos pulmões, cera dos ouvidos, meleca, menstruação, flatulência, sémen.. e os desatinos, claro). Mas não me convenceu a linguagem demasiado coloquial (ainda bem que não sou obrigada a achar que todos os prémios Camões têm uma prosa magistral…) e, com excepção de três contos, desconfio que estará na primeira linha para ser apenas lembrança vaga. Termino com um excerto d’O Corcunda e a Vénus de Botticelli (as palavras são dele, não minhas…): Suspeito que leu pouca poesia. Você lê os livros na praça e vai pulando páginas, devem ser contos, ninguém lê poesia assim. Preguiçosos gostam de ler contos, acabam um conto na página vinte pulam para aquele que está na página quarenta, no fim lêem apenas uma parte do livro.

azuki
 
  Vastas emoções e Pensamentos Imperfeitos
- As Mulheres




As mulheres ocupam um lugar de destaque na obra de Rubem Fonseca. Todas são importantes. Fundamentais. Neste livro o protagonista assume uma postura que o autor viria depois a desenvolver em A Confraria dos Espadas. Rubem escreve sobre sexo e outras funções animalescas com mestria. O amor sempre implícito.




“Agora vou te seduzir”
Fiquei esperando.
“ O Mahabharata”, disse Liliana, “que significa ‘grande rei Bharata’, é um dos dois grandes poemas épicos da Índia. O outro é Ramaiana. Foram escritos em sânscrito, mil e duzentos anos antes de Cristo. È uma história sobre a futilidade da guerra. Você quer mais ou já está de pau duro?”

Ao acariciar o corpo nu de Liliana, sua pele lisa e macia, ao sentir seus ossos, sua carne, seu calor, sua vida, fui dominado por uma grande alegria, uma estranha felicidade, misturada com uma espécie de vertigem que por momentos supus, erradamente, ser um pródromo da pseudo-síndrome de Meniére. Eu não odiava mais Liliana, talvez nunca a tivesse odiado. Podia entregar-me àquela fruição simples e primária, aceitar o contentamento puro que ela me trazia.
pag. 84



Deitei-a na cama. A luz do seu corpo era a do nascer do Sol. Tenho que saciá-la, pensei, fazê-la gozar repetidas vezes, usar minha capacidade de ficar com o pénis erecto um tempo infindável sem gozar, meu prazer é secundário. A velha dúvida me assaltou – generosidade ou exibicionismo? – apenas por alguns instantes.
pag. 138


“Faz amor comigo novamente”, ela disse.
Repetiu-se a mesma cena anterior: Verónika buscando fruir ao máximo a relação sexual e eu desempenhado o papel de sedutor exibicionista ou de saciador generoso. Claro que nestas ocasiões chegava um momento (que eu decidia quando e como) em que eu tinha um orgasmo, quase sempre depois da minha parceira estar esgotada. Mas este orgasmo era menos para me dar prazer do que para deixar uma marca viscosa que demonstrasse, para a minha parceira, que eu também me envolvera profundamente na relação. As pessoas acreditam nos sinais exteriores do gozo.

pag. 139


“Não há nada no mundo melhor do que isso, você sabe disso”.
Liliana tinha razão. Era a melhor coisa do mundo. Mas depois que passava não era nada. Dava vontade de fazer outra coisa.

pag. 178


at
 
terça-feira, abril 12, 2005
 
«Eu não queria esquecer, era bom lembrar e odiar.»

leitora
 
 
As mulheres são fios soltos, tanto as que se revelam como as de que apenas conhecemos o nome - as mulheres são sombras corpóreas que o fumo persegue.

nastenka-d
 
  Isto não é um livro policial
II

«O diálogo é sabidamente um recurso de escritores medíocres.»

Diário de um Fescenino
Rubem Fonseca

A literatura policial é, preconceituosamente, de segunda categoria. Mas porque é que a literatura dita maior vai constantemente buscar recursos à policial, incluindo crimes e alibis? Será, talvez, esta sedução pelo ritmo, pela capacidade de cativar e prender. Mas um policial pode e deve ser muito mais do que o ditado pelos preconceitos. Perguntem a (leiam) Rubem Fonseca.

leitora
 
  Vastas Emoções
Vl- o realizador (II)


Passo agora a expor o currículo do realizador bem como algumas circunstâncias que condicionam o enredo:

Currículo 1: Realização de um filme apresentado a concurso no Festival Latino-Americano, em Berlim-Oriental; é convidado por um produtor alemão para realizar um filme sobre Babel:

Havia transcorrido dois anos desde que eu terminara Guerra Santa. Os financiadores do filme ainda não tinham conseguido recuperar o investimento.
“Você viu o meu filme?”
“Vi”, disse ele (Dietrich). “Gostei muito” “ O que achou da nossa proposta?”
A proposta deles , que eu recebera antes, por carta era para filmar a Cavalaria Vermelha, de Isaac Babel, na Alemanha”.
pág.13

Currículo 2: Realização de filmes publicitários para o irmão, um pastor evangelista que lhe dá instruções acerca desses mesmos filmes:

“Apenas aqui, neste trecho perto do final, podíamos acrescentar aquilo que eu lhe falei.”José imobilizou a imagem.”Aqui eu poderia fazer um apelo direto, cândido,aos membros da congregação, para que eles contribuam para a propagação da nossa Igreja e para a manutenção das suas obras sociais. Sem hipocrisia. Como disse o profeta Malaquias:’ Levai todos os vossos dízimos ao meu celeiro para que haja mantimentos em minha casa, e depois disso fazei prova de mim’. Uma coisa direta.” pág.17

Circunstâncias:

O realizador perdeu a mulher, Ruth, há pouco tempo. Recusa-se a pensar e a falar dela. Esta recusa é uma constante ao longo da história.

O realizador conta os sonhos que vai tendo.

A mulher gorda que tinha estado na casa dele e que foi assassinada, pediu-lhe para ele guardar uma caixa que viria buscar mais tarde. Depois de saber, pela televisão, da morte dessa mulher, o realizador abriu a caixa e verificou que continha pedras preciosas.

Da sua conversa com o carnavalesco Negromonte fica a saber que é uma prática corrente o contrabando de pedras preciosas misturadas nas fabulosas fantasias de Carnaval. A assassinada fazia o transporte da mercadoria. Os contrabandistas já o tinham na mira. Por isso, o realizador decide ficar com as pedras para ele e seguir para a Alemanha.




Para além de Gurian [conhecedor da vida e obra de Babel] do irmão evangelista e de Negromonte, há Liliana, uma personagem com quem o realizador tem uma relação conflituosa.

Na Alemanha outro cenário o espera e outras personagens. Sempre sob a sombra de Babel.

laerce
 
  Rubem Fonseca
– Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos



(ver mais aqui sobre o livro)


Li “vastas emoções e pensamentos imperfeitos” há 4 ou 5 anos. Releio os sublinhados e recordo pedaços do enredo: o tráfico de pedras preciosas, a violência urbana, a vida e a obra de Isaac Babel. O narrador e protagonista, é realizador de cinema (não chegamos a saber o seu nome) e pretende fazer um filme sobre o escritor russo. Acaba por se envolver numa série de acontecimentos que o levam a viajar e a viver experiências inesquecíveis. A história tem duas actrizes principais, uma morta e outra viva, e várias actrizes secundárias. Este livro abre o caminho para um mundo onde a realidade e a ficção, o sonho e a vigília, se confundem numa intrigante história cujo pano de fundo é o cinema.
Quando vi o livro, o título arrebatou-me. Comprei-o e li-o compulsivamente. Comecei a sublinhar na página 36:

“Como sempre, meu sonho não tinha imagens. Quando era criança e até à adolescência eu não me recordava deles, ao acordar; era como se não sonhasse nunca. Quando comecei a recordar os meus sonhos, pensava que todos sonhassem como eu. Ao saber que os meus eram diferentes, eu me interessei, durante algum tempo, pelo assunto. Li inúmeros livros, consultei médicos, tudo inutilmente. A interpretação dos fenómenos oníricos, de Artemidoro, na Antiguidade, até Freud, modernamente, pouco fala de sonhos como os meus. Freud, conquanto reconheça que os sonhos, apesar de preponderantemente visuais, possam ter também impressões auditivas e de outros tipos, não vai além disso. Freud cita um autor, J. Delboeuf, que sonhava com nomes latinos. Mas Delboeuf via coisas também. Decorei, então, um enunciado de sonho que eu acreditava esclarecedor:”um mundo arcaico de vastas emoções e pensamentos imperfeitos”. Acabei descobrindo, no livro de A. Mauray, Analogies des phenomènes du rêve et de l’aliénation mentale, uma definição do estado onírico que expressava o que se passava comigo: “uma associação viciosa e irregular das ideias”. Havia momentos em que eu suspeitava estar louco”.

at
 
segunda-feira, abril 11, 2005
 
«Em certos lugares o tempo demora muito a passar.»

leitora
 
  As Cidades
«Durante toda a viagem fui pensando na crueldade da vida urbana, tentando me convencer que as cidades do interior eram mais humanas.
Ao chegar a Pouso Alto, com suas casas feias e ruas de paralelipípedos de pedra por onde transitavam automóveis e ônibus misturados com cavalos e charretes de montaria, ainda pensando na noite anterior, concluí que ali, certamente, não haveria a indiferença egoísta das pessoas do Rio. Mas, por outro lado, as pessoas deviam vigiar umas às outras, oprimindo-se reciprocamente, como se a consideração pelo seu semelhante gerasse, em contrapartida, a violação da intimidade e, afinal, da liberdade de todos.»

Ada voltará para o Rio, poucos meses depois. Mas se calhar apenas por amor, não por convicção urbana.

leitora
 
  Isto não é um livro policial
I

«O autor de ficção pode até me descrever o personagem, mas, mesmo assim, ele é meu, eu o vejo como a minha imaginação o desejar; e, quando ele fala, o faz exclusivamente para mim, com uma representação dinâmica que eu mesmo contruo.»

Diário de um Fescenino
Rubem da Fonseca

Um livro será policial se eu não o estiver a ler como policial?

leitora
 
  Vastas Emoções
VI - O Realizador



Como disse no post anterior, está na hora de olhar mais atentamente para este realizador
Passo agora a apresentar o realizador pelas suas próprias palavras:


Mais tarde senti fome e fui a um restaurante.
……………………………..
Poucas mesas estavam ocupadas. Qualquer pessoa, seja quem for, consegue prender a minha atenção, mas naquele dia, logo que sentei, abri a revista e comecei a ler sem olhar para os circunstantes.
…………………………….
…ao levantar em certo momento, os olhos da revista, senti que alguém me observava. Olhando para o lado notei que um homem me vigiava dissimuladamente. Neste instante, eu e ele desviamos os olhos, rápidos, como se sentíssemos medo um do outro
…………………………….
Então notei que o sujeito parecia meu pai, em seus últimos dias no leito do hospital…perguntei-lhe com brutalidade: Quer falar comigo?
Parei a meio da pergunta, e ele também, enquanto nossos olhos se cruzavam surpresos. Naquele restaurante com as paredes cobertas de espelhos, eu não olhava sujeito algum numa mesa próxima: eu olhava-me a mim mesmo, refectido.Era eu, aquela pessoa macilenta que parecia meu pai.

Vastas emoções….págs.. 11/12

laerce
 
domingo, abril 10, 2005
 
«Um policial é uma mistura de cientista, psicólogo e artista.»

leitora
 
 
«Alguma coisa não encaixava direito, mas eu não sabia o que era.»

leitora
 
 
«Quem tem apenas um momento na vida não tem mais nada a dissimular.»

Cá para mim, Mandrake, tu queres acreditar. Mesmo quem já perdeu tem todos os motivos para dissimular - porque não há-de reinar o orgulho até ao momento final?

leitora
 
  Coragem Romântica vs Coragem Cívica
Como combinado, andei a pesquisar a questão da coragem cívica hegeliana que é referida numa citação de A Grande Arte. Vejamos se este tópico nos auxilia na compreensão do tema:

Para Hegel, o querer subjectivo é o Todo moral, o Estado. A cada um é dado a exercer a sua própria liberdade nos exactos limites em que esta reconhece, acredita e quer aquilo que é comum ao Todo. De cada ser humano se espera que reconheça que tudo quanto tem de valioso, o possui apenas por intermédio do Estado. Os verdadeiros heróis são aqueles a quem a sua acção não os afastou do curso regular e calmo das coisas sancionadas pela ordem em vigor.
Fonte: Educação e Cidadania


Todas as referências a Coragem Cívica que encontrei estavam relacionadas com intervenção política, com mérito social de notáveis indivíduos, com contributo para o país, ou para um grupo menos favorecido da sociedade.

O lado social e do grupo, muito diferentes do herói (romântico) individual, que abunda na literatura e de que Mandrake é também um exemplo.

leitora
 
  Vastas Emoções
V - Cinema e Literatura


Gurian revela o que sabe de Bábel, da vida e da arte. Trava com o realizador uma longa conversa onde cinema e literatura se cruzam. Vale a pena ler:

Diz Gurian:” Babel buscava padrões de excelência impossíveis de serem alcançados por qualquer artista. Por isso escreveu tão pouco, com uma exatidão, uma concisão esplendente. Neste aspecto ele é maior que Tchekhov, esse outro demónio do perfeccionismo”

O realizador informa Gurian que pretende fazer um filme sobre Cavalaria Vermelha, uma história de Bábel. Gurian questiona: “ Cinema é uma coisa engraçada…como você vai obter a mesma concisão de Babel, ou seja, o encerramento imediato da narrativa quando já foi dito aquilo que devia ser dito, o essencial?
“Não sei, ainda não sei como resolver isso.”
“O cinema não tem os mesmos recursos metafóricos e polissémicos da literatura. O cinema é reducionista, simplificador, raso. O cinema não é nada.”
“O cinema não é nada? (questiona o realizador)
“Se eu me sentar no corredor do hospital vejo um filme – as pessoas se movimentando, falando chorando, carregando coisas etc. O cinema não é mais do que isso.”
“Pode ver um livro também olhando o corredor. A literatura também não é mais do que isso.”


Vastas Emoções…pág. 56

Ponto da situação:

Temos uma personagem esquisita (o realizador) temos uma cidade (a parte obscura) temos um crime (a morte de uma mulher) temos um sonho (fazer um filme) temos um modelo (Bábel). Que ligações existirão entre estes painéis? É preciso conhecer melhor este diretor de cinema.

laerce
 
sábado, abril 09, 2005
  Vinhos portugueses e Tripas à moda do Porto
Ao longo do livro o culto de bem comer e bem beber vai-se cruzando com muitos vinhos portugueses, apreciados nas suas vertentes visual, olfativa e gustativa. Há uma recomendação de Tripas, para verdadeiros apreciadores, e um princípio de uma fabulosa receita de moqueca de peixe, de que o ciúme de Mandrake nos impede os segredos e truques. Ah, o ciúme, e logo tu, Mandrake, logo tu...


leitora
 
  Vastas Emoções
IV - Bábel e Goya

Circular pelo Rio é conhecer uma cidade multifacetada onde as diferentes culturas se entrelaçam num mosaico único. Para além da comunidade portuguesa, muitas outras comunidades emprestam o seu colorido a esta cidade dos sonhos. É possível encontrar pessoas que viveram os horrores da segunda guerra e da ditadura comunista de Estaline e que querem falar sobre as dolorosas experiências por que passaram.

Em Vastas Emoções… o realizador de cinema convive de perto com um velho sábio judeu Boris Gurian, amigo de Isaac Bábel.

Obcecado por Bábel, o realizador pergunta-lhe: “O que você sabe de Bábel? Gurian responde: “Tudo… você acha que eu não conheceria o maior escritor judeu do séc. XX? Por onde você quer que eu comece?” pág. 45


Mais à frente, e sempre no encalço do escritor, o protagonista interroga-se sobre a familiaridade do rosto de Bábel:

“Depois que Liliana saiu peguei o livro de Bábel e fiquei olhando o seu retrato tentando me lembrar onde o vira antes. Num filme? Parecia o Alexander Knox em Man in the Midle, mas não fora em um filme que eu vira um rosto como o dele. Fora num livro, ou numa revista. Então me lembrei: um pintor! Abri os caixotes da mudança onde estavam os meus livros e comecei a procurar. Já ia quase desistindo quando vi um livro com pinturas de Goya. Ali estava a pessoa parecida com Babel que eu queria encontrar – o próprio Goya.” pág. 49




Mas a semelhança entre os dois artistas não se ficaria pelo aspecto físico. Os dois têm facetas que ajudariam o realizador a clarificar a sua própria arte e, claro, a sua vida.

laerce
 
sexta-feira, abril 08, 2005
 
«Procurei um livro para ler. Gostava de ficar lendo na cama, de manhã antes de ir para o escritório. Naquele dia folheava um dos livros da minha infância, onde a coragem era a maior de todas as virtudes, a coragem de heróis individualistas, romântica, não a coragem cívica hegeliana, mas a coragem irracional, muitas vezes injusta, violenta mas nunca inescrupulosa, dos meus sonhos adolescentes. Coragem não é o mesmo que falta de medo.»

Primeiro: ah, como gostava de cultivar esse vício. Se o tivesse, raramente compareceria ao trabalho, estou certa!

Ainda: ser corajoso é sentir o medo, senti-lo profundamente, e continuar. E Mandrake é este herói, que esquece o seu trabalho no escritório, esquece a sua vida e corre atrás do desejo de desvendar o mistério de um crime - mesmo que nunca lhe tenha trazido nada de bom (ah, tirando as mulheres!), que pode ter preços elevados, mas que deseja cegamente.

leitora
 
  Vastas Emoções
III - Isaac Bábel

O realizador de cinema acalenta um sonho, voltar ao trabalho. Recebe um convite para filmar Cavalaria Vermelha, de Isaac Babel. Isaac Babel será o autor, realizador- sombra, que o protagonista quer devorar.

Quem era aquele homem? Na verdade eu queria saber mais coisas sobre Babel. Queria saber tudo.
Vastas Emoções... Pág. 43.



Olhei o livro. Collected Stories. Isaac Babel. Na capa havia um homem robusto, quase gordo, olhando de lado, com um barrete de pele na cabeça, vestindo um dolmã com galões de fios dourados entrançados, de largas tiras, também douradas. Parecia um sujeito vestido para um baile de Carnaval dos anos 1920. Eu já vira aquele rosto.Quando vejo um rosto nunca mais o esqueço, mesmo em fotografia.
Vastas Emoções... Pág. 14


laerce
 
  Herói
Não fossem os omnipresentes charutos, e eu daria a Mandrake o rosto de Robert Mitchum - e quero lá saber que o filme não seja a preto e branco, que no Rio não seja preciso nem chapéu nem sobretudo, que Ada não seja loira - apesar de ingénua. Mas há os charutos, e não cigarros que se lançam ao chão antes de se dar meia volta. Há os charutos - evidentes, fedorentos - e Mandrake fica sozinho fumando-os, gozando um prazer longo e solitário que eu não consigo entender.

nastenka-d
 
quinta-feira, abril 07, 2005
  «"Realista"?
Para mim essa palavra servia apenas para justificar o comodismo, as pequenas ações e omissões indignas que os homens cometiam diariamente.»

O comodismo é a maior armadilha de todas. Mas, Mandrake, também não exageremos...

leitora
 
  A lógica
«O comportamento humano não é lógico, e o crime é humano. Logo. Para Raul a lógica era uma ciência cuja finalidade seria determinar os princípios de que dependem todos os raciocínios e que podem ser aplicados para testar a validade de toda a conclusão extraída de premissas. Uma armadilha.»

E de armadilha em armadilha assistiremos a uma série de crimes, sem grande oportunidade para compreender. Porque não háverá lógica nos actos de um assassino. Qual o papel dos investigadores, então, Raul incluído?

leitora
 
  A Arte de Andar nas Ruas do Rio de Janeiro
"Augusto, o andarilho, cujo nome verdadeiro é Epifânio, mora num sobrado em cima de uma chapelaria feminina, na rua Sete de Setembro, no centro da cidade, e anda nas ruas o dia inteiro e parte da noite. Acredita que ao caminhar pensa melhor, encontra soluções para os problemas; solvitur ambulando, diz para seus botões.
(…)
Agora ele é escritor e andarilho. Assim, quando não está escrevendo - ou ensinando as putas a ler -, ele caminha pelas ruas. Dia e noite, anda nas ruas do Rio de Janeiro."



Excerto incluído no livro "Romance negro e outras histórias"



at
 
  Vastas Emoções
II - O homem na cidade

Para muita gente, o Rio de Janeiro é uma cidade de praias e sol, de violência e miséria e de telenovelas. Mas esse retrato está muito mal tirado. No Rio de Janeiro, o sol nasce do lado do mar e revela uma geografia onde a terra e o mar se abraçam em curvas de areia sem fim e onde milhões de sonhos acalentam os passos de todos aqueles que cruzam as largas avenidas do centro da cidade logo ao alvorecer. O Rio é uma cidade de sonho, mas muito mais, é uma cidade de sonhos.




Não sei qual a razão que me levou a isso, mas num impulso peguei a lista telefónica e procurei o nome Negromonte. Havia cinco Negromontes na lista. Áureo era um deles.
“Sim sou o Áureo Negromonte.” Frio e desconfiado.
“É o senhor que participa de desfiles de fantasia?””Quem está falando”
Expliquei que era director de cinema, interessado em desfiles de fantasia.
Mudou de atitude:”Já era tempo de fazerem um filme sobre nós.”
“Pois é, queria conversar com o senhor.”
“Quando?”
“O mais cedo possível.”
“Estou numa roda-viva, faltam três dias para o desfile e minha fantasia ainda não está pronta. Uma situação horrível.”
“Não tomaria muito tempo…Posso passar na sua casa?”
“Isto aqui está um inferno, tudo desarrumado. Não quero que o senhor veja minha casa assim.”
“Estou acostumado com casas desarrumadas. A minha, por exemplo.”“Jura?”


Vastas Emoções…,pág. 38

laerce
 
quarta-feira, abril 06, 2005
 
«Cuidadosamente traçou no rosto dela a letra P, que no alfabeto dos antigos semitas significa “boca”.»

Esta será a primeira pista, eventualmente falsa, lançada no livro. Será que, chegados ao fim do livro, esta informação terá alguma importância? Será que nos diz ou induz algo? Ou será, apenas, uma manobra de diversão do autor?

Veremos (ou não).

leitora
 
  Vastas Emoções
Nada melhor do que o Carnaval para se começar a falar de Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos.
Depois de morte da mulher, de quem conserva a cadeira de rodas, um realizador de cinema muda de casa. O seu percurso de assimilação febril do autor de contos russo, Bábel, vai tropeçar num acontecimento daqueles que parecem inofensivos mas que vêm a determinar a linha da vida.




“A notícia que me deixou preocupado era sobre o assassinato de uma mulher chamada Angélica Maldonado. Angélica Maldonado, dizia o telejornal, ganhara notoriedade em desfiles de fantasia de luxo, na época do carnaval. Seu corpo mutilado fora encontrado pela empregada. A polícia acreditava que ela fora torturada antes de morrer. Um sujeito de nome Áureo Negromonte, “famoso carnavalesco e campeão de desfiles”, segundo a TV, afirmava que a morte de Angélica era uma perda irreparável para o Carnaval brasileiro. O desfile de carnaval daquele ano, segundo Negromonte, estava irremediavelmente prejudicado. Havia uma foto de Angélica com um vestido de cauda longa, coberto de pedrarias e muitas plumas.
Eu a reconheci, excitado. Era a mulher gorda que havia estado em minha casa.”

Vastas Emoções…pág23

laerce
 
terça-feira, abril 05, 2005
  O romance policial
é constituído pela relação problemática entre duas histórias: a história do crime, ausente, e a história da investigação, presente, cuja única justificativa está em nos fazer descobrir a primeira história. O romance se desenvolve na produção de tensões, conflitos, transformações e equilibrações realizadas entre a conjectura metanarrativa elaborada pelo leitor e a narrativa apresentada pelo texto. A leitura do romance, assim considerada, é uma espécie de jogo cujo objetivo é reconstituir, se possível antes do desenlace, qual a narrativa verdadeira. Temos, portanto dois detetives, o personagem (Holmes, Dupin, Poirot ou Marlowe) e o leitor que é convidado a confrontar sua versão. Tal versão deve ser de fato uma narrativa, isto é, não basta que ela localize o autor do crime, mas deve também integrá-lo numa rede que apresente os motivos, os meios, as circunstâncias e os acontecimentos de forma a produzir uma unidade lógica no conjunto. Os passos que organizam ambas as narrativas são mais ou menos conhecidos: (1) examinam-se as circunstâncias do acontecimento colhendo indutivamente indícios suspeitos, (2) indutivamente testa-se a consistência desses indícios de modo a transformá-los em pistas, (3) pondera-se o valor das pistas de modo dedutivo e procura-se a partir delas construir evidências, (4) conjectura-se uma reconstrução lógica das evidências de forma a desvendar o crime. (5)A partir disso a conjectura é apresentada à alguma forma de instância julgamento que avalia seu valor de verdade. É uma regra constitutiva deste jogo que os signos e indícios apresentados ao longo da narrativa admitam, necessariamente, mais de um sentido e que eles se coloquem como possíveis soluções para uma fratura de sentido, em outras palavras para um problema. Um bom romance policial é capaz de, ao longo da trama, deslocar o problema originalmente proposto reconfigurando indícios e evidências. Tal reconfiguração passa, muitas vezes pela trama de contextos que se conjuga na narrativa: intenções amorosas, situações pendentes no passado obscuro, pactos por dinheiro ou poder, interesses políticos e segredos relacionais. Em outras palavras, um bom policial assim como uma boa pesquisa resignifica várias vezes os mesmos indícios ou conceitos formando com isso uma trama não completamente antecipável pelo leitor. A boa narrativa de pesquisa é aquela que se coloca com passos a serem desvendados de forma pontual e precisa, que cria indagações e convida o leitor a interagir com seus enigmas.


fonte: ponto d'estofo

leitora
 
 
Segundo o mentor do romance policial, Edgar Allan Poe, a verdade não passa de um mero acessório utilizado apenas para dar mais veracidade ao sentimento criativo e imaginário do seu trabalho. Essa essência de sua influência contraditória com o romance policial deve-se pela particularidade do seu medo de ser, agir e pensar, de forma enigmática e ao mesmo tempo dedutória na linguagem que ora utilizava em seu romance ficcional.

fonte: Sérgio Nunes de Jesus


leitora
 
  Romance Policial
Desde de sua consolidação no começo do século XX, até os dias de hoje, a ficção policial passou por várias alterações em seu contexto, adequando-se a cada época e provando sua consistência e longevidade. A literatura noir ganhou admiradores e representantes de peso fora do eixo Estados Unidos – Inglaterra, sua fama de subgênero foi, até certo ponto, redimida e, ainda hoje, o policial desempenha um importante papel na tarefa de arrebanhar novos adeptos ao hábito da leitura. De Dashiell Hammett a James Ellroy muita coisa mudou, o mundo do crime mudou, os detetives mudaram, mas não sumiram. Seus principais cronistas também não.

fonte: Douglas Cometti

leitora
 
  Filhos de um deus menor
- ler ou não policiais
Há um preconceito latente contra o policial: os leitores eruditos (seja lá o que isso for) torcem o nariz ao género (seja lá o que isso for também). Porque já leram muitos livros, porque conhecem os truques, porque... E quando a certa altura o crime não é mais do que um pretexto? E quando a linguagem se acelera e depois detém, um registo quase cinematográfico? E quando as personagens se cruzam e interrogam e crescem e falham à nossa frente? E quando surgem como espectros ou ícones? E quando as pontas soltas do livro nos fazem vislumbrar tanta vida para além das páginas? Faz assim tanta diferença que o assassino seja o mordomo?
nastenka-d
 
  O romance policial
trata de esclarecimento de um crime pela habilidade e coragem de um detetive. Em geral, são características do romance policial a falta de interesse pela vítima e pela psicologia do criminoso. O gótico e o folhetim foram precursores imediatos deste subgênero. As primeiras narrativas policiais se devem a Edgar Allan Poe. Um precursor do romance policial, com elementos góticos, foi The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde (1886; O médico e o monstro), de Robert Louis Stevenson.) Mas a dedução lógica de Poe só reapareceu nos contos de Conan Doyle, autor de The Hound of the Baskervilles (1902; O cão dos Baskervilles) e criador do detetive Sherlock Holmes. Doyle criou o esquema que dominou o romance policial até cerca de 1930.Entre os mais famosos autores do policial destaca-se Aghata Christie, criadora do detetive Hercule Poirot. O belga Georges Simenon, que se tornou famoso com a criação do comissário Maigret, escreveu nada menos que 125 romances policiais entre 1931 e 1952. Maigret não procede pela dedução lógica, como Poirot ou Holmes, e soluciona os crimes com base na atmosfera social e na psicologia dos criminosos.

fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil

leitora
 
segunda-feira, abril 04, 2005
  a grande arte II
o autor de A grande arte, através de recursos temáticos e estilísticos, realça o aspecto multifacetado da violência urbana, transformando-a de tema em signo polissêmico, o que nos leva a refletir sobre dois eixos: o da reapropriação, em diferença, do discurso mítico em torno da cidade do Rio de Janeiro, que lhe confere o epíteto de Cidade Maravilhosa com base em pressupostos de cordialidade; e o dos valores éticos, urgente necessidade para o efetivo resgate da cidadania, que passam a ter na tolerância o ponto de apoio e o mecanismo de harmonização do confronto com a alteridade no espaço urbano.

fonte: Alexandre Faria

leitora
 
  a grande arte
A linguagem de Rubem Fonseca é renovadora, concisa e sincopada com cortes bruscos da frase. Torna-se solta pela utilização de um vocabulário que alterna o mais chão e popular dos vocábulos, com citações de clássicos e demonstração de conhecimento do vernáculo. As construções, muitas vezes elípticas, favorecem a suspensão da seqüência e contribuem para a administração de um clima de intenso suspense principalmente pela rapidez das cenas. A narrativa transcorre veloz, com personagens e ações que se vão acumulando, transmitindo informações úteis ao desenvolvimento da trama, não de uma única vez, mas aos poucos, como condiz a um bom romance policial.

fonte: ahotsite


leitora
 
domingo, abril 03, 2005
 
Desde su primer libro, Los prisioneros, publicado en 1963, Fonseca establece su territorio narrativo creando a partir de todo tipo de delitos, personajes crueles, irónicos, ingenuos, víctimas y la sensación de que la gente va por la vida sin preocuparse demasiado por la justicia ya que su administración es una soberana tomada de pelo. La corrupción, el asesinato, la traición, la violencia sin razón, la prostitución, la pornografía, la podredumbre de la sociedad en todas sus capas y estamentos, se erigen como forma de convivir y hasta llegan a ser una manera de disminuir el estrés. (...) Es una literatura que ocurre en el bajo mundo. El bajo mundo es una entidad universal, perfectamente localizable que ha generado sus propios códigos de honor, de convivencia, su lenguaje, su épica y su lírica. (...) Sé que la narrativa es ficción. Es un asunto que tengo resuelto desde hace años. No obstante, cuando leo a Fonseca, tengo la impresión de estar ante la vida misma, pienso que no estoy ante una obra narrativa. Las reacciones de los personajes ante lo que parecen hechos consumados, siempre con una irónica aceptación de un destino manifiesto, me da escalofrío.

fonte: Elmer Mendoza
 
  Prémios literários
Pen Club do Brasil, A coleira do cão;
Fundação Cultural do Paraná, Lucia McCartney
Fundação Cultural de Brasília, Lucia McCartney
Jabuti (Conto), da Câmara do Livro de São Paulo, A coleira do cão
Associação Paulista de Críticos de Arte, O cobrador
Prêmio Estácio de Sá, O cobrador
Prêmio Goethe (Brasil), A grande arte
Jabuti (Romance) A grande arte
Prêmio Pedro Nava do Museu de Literatura, Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos
Prêmio Giuseppe Acerbi (Mantova, Itália), Vaste emozione e pensie imperfeti
Jabuti (Conto) O buraco na parede
Prêmio Machado de Assis (Biblioteca Nacional), E do meio do mundo prostituto só amores guardei ao meu charuto;
Prêmio Eça de Queiroz (contos) da União Brasileira de Escritores, A confraria dos Espadas
Prêmio de melhor romance do ano, da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), O doente Molière (2000)
Prêmio Luis de Camões, pelo conjunto da obra, anunciado em 13-05-2003.
14º Prêmio de Literatura Latinoamericana e Caribe Juan Rulfo, concedido durante a Feira Internacional do Livro de Guadalajara - México, em 2003.


fonte
 
sábado, abril 02, 2005
  Rubem Fonseca na net
Aqui fica o link da sua página, com muita informação e brindes (contos, excertos de textos, muito que ler e descobrir).
 
  «Ler Rubem Fonseca
é como fumar um cigarro com meio corpo fora d’água na praia, nunca se sabe até quando vai durar o prazer, e se for o caso do mar apagar, acredite, era pra ser dessa forma, não poderia ser diferente. Ele sabe como fazer, pois, é Deus nessas horas. Num deleito de uma conversa entre amigos, num jantar em família, num jogo de futebol, numa investigação pacífica pode vir a acontecer um assassinato, um suicídio, uma briga ou uma revelação, a trama seguirá outro rumo. E nesse momento o leitor se torna escravo da imaginação e perspicácia deste ex-policial.»

fonte: Marcelo Damaso
 
  Livros publicados
Os prisioneiros (contos, 1963),
A coleira do cão (contos, 1965)
Lúcia McCartney (contos, 1967)
O caso Morel (romance, 1973)
Feliz Ano Novo (contos, 1975)
O homem de fevereiro ou março (antologia, 1973)
O cobrador (contos, 1979)
A grande arte (romance, 1983)
Bufo & Spallanzani (romance, 1986)
Vastas emoções e pensamentos imperfeitos (romance, 1988)
Agosto (romance, 1990)
Romance negro e outras histórias (contos, 1992)
O selvagem da ópera (romance, 1994)
Contos reunidos (contos, 1994)
O Buraco na parede (contos, 1995)
Romance negro, Feliz ano novo e outras histórias, (1996)
Histórias de Amor (contos, 1997)
Do meio do mundo prostituto só amores guardei ao meu charuto (novela, 1997)
Confraria dos Espadas (contos, 1998)
O doente Molière (novela, 2000)
Secreções, excreções e desatinos (contos, 2001)
Pequenas criaturas (contos, 2002)
Diário de um Fescenino (contos, 2003)
64 Contos de Rubem Fonseca (contos, 2004)
 
sexta-feira, abril 01, 2005
 
No dizer do escritor norte-americano Thomas Pynchon, a escrita de Rubem Fonseca "faz milagres, é misteriosa. Cada livro dele não é só uma viagem que vale a pena: é uma viagem de algum modo necessária".

fonte: campo das letras
 
  Biografia
Nascido em Juiz de Fora, Minas Gerais, em 11 de maio de 1925, José Rubem Fonseca é formado em Direito, tendo exercido várias atividades antes de dedicar-se inteiramente à literatura. Em 31 de dezembro de 1952 iniciou sua carreira na polícia, como comissário, no 16º Distrito Policial, em São Cristóvão, no Rio de Janeiro. Muitos dos fatos vividos naquela época e dos seus companheiros de trabalho estão imortalizados em seus livros. Aluno brilhante da Escola de Polícia, não demonstrava, então, pendores literários. Ficou pouco tempo nas ruas. Foi, na maior parte do tempo em que trabalhou, até ser exonerado em 06 de fevereiro de 1958, um policial de gabinete. Cuidava do serviço de relações públicas da polícia. Em julho de 1954 recebeu uma licença para estudar e depois dar aulas sobre esse assunto na Fundação Getúlio Vargas, no Rio. Na Escola de Polícia destacou-se em Psicologia. Contemporâneos de Rubem Fonseca dizem que, naquela época, os policiais eram mais juízes de paz, apartadores de briga, do que autoridades. Zé Rubem via, debaixo das definições legais, as tragédias humanas e conseguia resolvê-las. Nesse aspecto, afirmam, ele era admirável. Escolhido, com mais nove policiais cariocas, para se aperfeiçoar nos Estados Unidos, entre setembro de 1953 e março de 1954, aproveitou a oportunidade para estudar administração de empresas na New York University. Após sair da polícia, Rubem Fonseca trabalhou na Light até se dedicar integralmente à literatura.

fonte: olharliterário
 
  Senhoras e senhores...
...o Prémio Camões 2003, Rubem Fonseca.
 

O QUE ESTAMOS A LER

(este blogue está temporariamente inactivo)

PROXIMAS LEITURAS

(este blogue está temporariamente inactivo)

LEITURAS NO ARQUIVO

"ULISSES", de James Joyce (17 de Julho de 2003 a 7 de Fevereiro de 2004)

"OS PAPEIS DE K.", de Manuel António Pina (1 a 3 de Outubro de 2003)

"AS ONDAS", de Virginia Woolf (13 a 20 de Outubro de 2003)

"AS HORAS", de Michael Cunningham (27 a 30 de Outubro de 2003)

"A CIDADE E AS SERRAS", de Eça de Queirós (30 de Outubro a 2 de Novembro de 2003)

"OBRA POÉTICA", de Ferreira Gullar (10 a 12 de Novembro de 2003)

"A VOLTA NO PARAFUSO", de Henry James (13 a 16 de Novembro de 2003)

"DESGRAÇA", de J. M. Coetzee (24 a 27 de Novembro de 2003)

"PEQUENO TRATADO SOBRE AS ILUSÕES", de Paulinho Assunção (22 a 28 de Dezembro de 2003)

"O SOM E A FÚRIA", de William Faulkner (8 a 29 de Fevereiro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. I - Do lado de Swann)", de Marcel Proust (1 a 31 de Março de 2004)

"O COMPLEXO DE PORTNOY", de Philip Roth (1 a 15 de Abril de 2004)

"O TEATRO DE SABBATH", de Philip Roth (16 a 22 de Abril de 2004)

"A MANCHA HUMANA", de Philip Roth (23 de Abril a 1 de Maio de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. II - À Sombra das Raparigas em Flor)", de Marcel Proust (1 a 31 de Maio de 2004)

"A MULHER DE TRINTA ANOS", de Honoré de Balzac (1 a 15 de Junho de 2004)

"A QUEDA DUM ANJO", de Camilo Castelo Branco (19 a 30 de Junho de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. III - O Lado de Guermantes)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2004)

"O LEITOR", de Bernhard Schlink (1 a 31 de Agosto de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. IV - Sodoma e Gomorra)", de Marcel Proust (1 a 30 de Setembro de 2004)

"UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO DOS PRAZERES" e outros, de Clarice Lispector (1 a 31 de Outubro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. V - A Prisioneira)", de Marcel Proust (1 a 30 de Novembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA", de José Saramago (1 a 21 de Dezembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ", de José Saramago (21 a 31 de Dezembro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VI - A Fugitiva)", de Marcel Proust (1 a 31 de Janeiro de 2005)

"A CRIAÇÃO DO MUNDO", de Miguel Torga (1 de Fevereiro a 31 de Março de 2005)

"A GRANDE ARTE", de Rubem Fonseca (1 a 30 de Abril de 2005)

"D. QUIXOTE DE LA MANCHA", de Miguel de Cervantes (de 1 de Maio a 30 de Junho de 2005)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VII - O Tempo Reencontrado)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2005)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2005)

UMA SELECÇÃO DE CONTOS LP (1 a 3O de Setembro de 2005)

"À ESPERA NO CENTEIO", de JD Salinger (1 a 31 de Outubro de 2005)(link)

"NOVE CONTOS", de JD Salinger (21 a 29 de Outubro de 2005)(link)

Van Gogh, o suicidado da sociedade; Heliogabalo ou o Anarquista Coroado; Tarahumaras; O Teatro e o seu Duplo, de Antonin Artaud (1 a 30 de Novembro de 2005)

"A SELVA", de Ferreira de Castro (1 a 31 de Dezembro de 2005)

"RICARDO III" e "HAMLET", de William Shakespeare (1 a 31 de Janeiro de 2006)

"SE NUMA NOITE DE INVERNO UM VIAJANTE" e "PALOMAR", de Italo Calvino (1 a 28 de Fevereiro de 2006)

"OTELO" e "MACBETH", de William Shakespeare (1 a 31 de Março de 2006)

"VALE ABRAÃO", de Agustina Bessa-Luis (1 a 30 de Abril de 2006)

"O REI LEAR" e "TEMPESTADE", de William Shakespeare (1 a 31 de Maio de 2006)

"MEMÓRIAS DE ADRIANO", de Marguerite Yourcenar (1 a 30 de Junho de 2006)

"ILÍADA", de Homero (1 a 31 de Julho de 2006)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2006)

POESIA DE ALBERTO CAEIRO (1 a 30 de Setembro de 2006)

"O ALEPH", de Jorge Luis Borges (1 a 31 de Outubro de 2006) (link)

POESIA DE ÁLVARO DE CAMPOS (1 a 30 de Novembro de 2006)

"DOM CASMURRO", de Machado de Assis (1 a 31 de Dezembro de 2006)(link)

POESIA DE RICARDO REIS E DE FERNANDO PESSOA (1 a 31 de Janeiro de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 28 de Fevereiro de 2007)

"O VERMELHO E O NEGRO" e "A CARTUXA DE PARMA", de Stendhal (1 a 31 de Março de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 30 de Abril de 2007)

"A RELÍQUIA", de Eça de Queirós (1 a 31 de Maio de 2007)

"CÂNDIDO", de Voltaire (1 a 30 de Junho de 2007)

"MOBY DICK", de Herman Melville (1 a 31 de Julho de 2007)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2007)

"PARAÍSO PERDIDO", de John Milton (1 a 30 de Setembro de 2007)

"AS FLORES DO MAL", de Charles Baudelaire (1 a 31 de Outubro de 2007)

"O NOME DA ROSA", de Umberto Eco (1 a 30 de Novembro de 2007)

POESIA DE EUGÉNIO DE ANDRADE (1 a 31 de Dezembro de 2007)

"MERIDIANO DE SANGUE", de Cormac McCarthy (1 a 31 de Janeiro de 2008)

"METAMORFOSES", de Ovídio (1 a 29 de Fevereiro de 2008)

POESIA DE AL BERTO (1 a 31 de Março de 2008)

"O MANUAL DOS INQUISIDORES", de António Lobo Antunes (1 a 30 de Abril de 2008)

SERMÕES DE PADRE ANTÓNIO VIEIRA (1 a 31 de Maio de 2008)

"MAU TEMPO NO CANAL", de Vitorino Nemésio (1 a 30 de Junho de 2008)

"CHORA, TERRA BEM-AMADA", de Alan Paton (1 a 31 de Julho de 2008)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2008)

"MENSAGEM", de Fernando Pessoa (1 a 30 de Setembro de 2008)

"LAVOURA ARCAICA" e "UM COPO DE CÓLERA" de Raduan Nassar (1 a 31 de Outubro de 2008)

POESIA de Sophia de Mello Breyner Andresen (1 a 30 de Novembro de 2008)

"FOME", de Knut Hamsun (1 a 31 de Dezembro de 2008)

"DIÁRIO 1941-1943", de Etty Hillesum (1 a 31 de Janeiro de 2009)

"NA PATAGÓNIA", de Bruce Chatwin (1 a 28 de Fevereiro de 2009)

"O DEUS DAS MOSCAS", de William Golding (1 a 31 de Março de 2009)

"O CÉU É DOS VIOLENTOS", de Flannery O´Connor (1 a 15 de Abril de 2009)

"O NÓ DO PROBLEMA", de Graham Greene (16 a 30 de Abril de 2009)

"APARIÇÃO", de Vergílio Ferreira (1 a 31 de Maio de 2009)

"AS VINHAS DA IRA", de John Steinbeck (1 a 30 de Junho de 2009)

"DEBAIXO DO VULCÃO", de Malcolm Lowry (1 a 31 de Julho de 2009)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2009)

POEMAS E CONTOS, de Edgar Allan Poe (1 a 30 de Setembro de 2009)

"POR FAVOR, NÃO MATEM A COTOVIA", de Harper Lee (1 a 31 de Outubro de 2009)

"A ORIGEM DAS ESPÉCIES", de Charles Darwin (1 a 30 de Novembro de 2009)

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