Leitura Partilhada
quarta-feira, maio 11, 2005
 
Pequeno ensaio de Paul Auster sobre Dom Quixote:, incluído na Trilogia de Nova Iorque:

"Naquele momento andava ocupado com um ensaio sobre Dom Quixote.
- Um dos meus livros preferidos - Disse Quinn.
- E dos meus também. É uma obra incomparável.
Quinn fez-lhe perguntas sobre o ensaio.
- Acho que se pode dizer que é um ensaio especulativo, dado que não pretendo provar nada. Na verdade, trata-se de uma abordagem irónica. Uma leitura imaginativa, digamos assim.
- De que é que se trata ?
- Tem sobretudo a ver com a autoria do livro. Quem o escreveu e como foi escrito.
- Há dúvidas a esse respeito ?
- Claro que não. Refiro-me ao livro dentro do livro que Cervantes escreveu, o livro que ele imaginou que estava a escrever.
- Ah...
- É muito simples. Cervantes, como deve lembrar-se, tenta por todos os meios convencer o leitor de que não é ele o autor. O livro, diz ele, foi escrito em árabe por Cid Hamete Benegeli. Cervantes descreve como um dia descobriu o manuscrito por acaso num mercado de Toledo. Contrata alguém para lho traduzir para espanhol e depois apresenta-se apenas como o editor da tradução. Na verdade, ele nem sequer pode garantir que a própria tradução seja fiel ao original.
- E no entanto - acrescentou Quinn -, ele afirma que a versão de Cid Hamete Benengeli é a única versão verdadeira da história de Dom Quixote. Todas as outras versões são fraudes escritas por impostores. Insiste, aliás, que tudo o que o livro relata aconteceu na realidade.
- Exactamente. Porque, ao fim e ao cabo, o livro é um ataque contra os perigos do faz-de-conta. Ele não podia, evidentemente, oferecer um produto da imaginação para isso, não é verdade? Tinha que reivindicar que aquilo era real.
- Contudo, sempre suspeitei que Cervantes devorou todos aqueles velhos romances de cavalaria. Só se consegue odiar alguma coisa com tanta violência quando uma parte de nós próprios também a ama. Num certo sentido, Dom Quixote era simplesmente um duplo de ele próprio.
- Concordo. Haverá melhor retrato de um escritor do que mostrar um homem enfeitiçado por livros?
- Precisamente.
- De qualquer maneira, como o livro é supostamente real, é evidente que a história tem que ser escrita por uma testemunha dos acontecimentos que o livro relata. Mas Cid Hamete, o alegado autor, nunca aparece. Nem uma única vez reivindica estar presente no que acontece. Por conseguinte, a minha pergunta é: quem é Cid Hamete Benegeli?
- Sim, compreendo aonde quer chegar.
- No meu ensaio, apresento a teoria de que ele é na realidade uma combinação de quatro pessoas diferentes. Sancho Pança é, obviamente, a testemunha. Não há nenhum outro candidato. ele é o único que acompanha Dom Quixote em todas as suas aventuras. Mas Sancho Pança não sabe ler nem escrever. Logo, não pode ser ele o autor. Por outro lado, sabemos que Sancho Pança tem um grande dom de linguagem. Apesar dos seus inanes solecismos, consegue falar circularmente de todos os personagens do livro. Acho perfeitamente possível que ele tenha ditado a história ao barbeiro e ao cura, os grandes amigos de Dom Quixote. São eles que dão à história a necessária forma literária, em espanhol, e depois entregam o manuscrito a Sansão Carrasco, o bacharel de Salamanca, que traduziu o texto para árabe. Cervantes encontrou a tradução, tratou de a retroverterem para espanhol e em seguida publicou o livro: Dom Quixote de la Mancha.
- Mas porque razão Sancho Pança e os outros se dariam a tanto trabalho?
- Para curar a loucura de Dom Quixote. Querem salvar o seu amigo. Lembre-se de que no início lhe queimam todos os seus romances de cavalaria, mas sem qualquer efeito. O Cavaleiro da Triste Figura não desiste da sua obsessão. Depois, em várias ocasiões, todos eles se lhe apresentam em vários disfarces - uma mulher em perigo, o Cavaleiro dos Espelhos, o Cavaleiro da Branca Lua -, para tentarem atrair Dom Quixote de novo para casa. No fim, conseguem de facto sair vitoriosos. O livro era apenas um desses estratagemas. A ideia era pôr um espelho diante da loucura de Dom Quixote, registar todas as suas absurdas e ridículas fantasias, para que quando ele finalmente lesse o livro, visse como estava errado.
- Bem achado!
- Sim. Mas há uma última reviravolta. Na minha opinião, Dom Quixote não estava completamente louco. Fingia estar louco. Com efeito, foi ele próprio quem orquestrou tudo aquilo. Lembre-se: ao longo do livro, Dom Quixote está preocupado com a questão da posteridade. Interroga-se incessantemente sobre a fidelidade com que o cronista registará as suas aventuras. Isso implica um conhecimento da sua parte, ou seja, sabe antecipadamente que este cronista existe. E quem mais poderia ser senão Sancho Pança, o fiel escudeiro que Dom Quixote escolheu expressamente para esse propósito? Escolheu igualmente os outros três para desempenharem os papéis que lhes havia destinado. Foi Dom Quixote quem engedrou o quarteto Benengeli. Não só escolheu os autores como foi ele próprio que provavelmente verteu o manuscrito árabe de novo para espanhol. Há que ter em conta esta hipótese. Para alguém tão hábil na arte do disfarce, não lhe teria sido muito difícil escurecer o tom da pele e envergar as roupas de um mouro. Gosto de imaginar essa cena no mercado de Toledo: Cervantes a contratar Dom Quixote para decifrar a história do próprio Dom Quixote. Há uma grande beleza nisso.
- Mas ainda não explicou por que razão um homem como Dom Quixote romperia com a sua vida tranquila para se dedicar a um truque tão elaborado.
- Isso é a parte mais interessante de tudo. Na minha opinião, Dom Quixote estava a levar a cabo uma experiência. Queria pôr à prova a credulidade dos seus companheiros. Seria possível, pensou ele, alguém apresentar-se perante o mundo e, com o maior dos desplantes, atirar mentiras e disparates? Afirmar que os moinhos de vento são cavaleiros, que a bacia do barbeiro é um elmo, que os fantoches são pessoas reais? Seria possível persuadir os outros a concordarem consigo, mesmo não acreditando nele? Por outras palavras, até que ponto as pessoas tolerariam blasfémias se isso as divertisse? A resposta é óbvia, não acha? Até onde ele quisessse. E a prova é que hoje lemos o livro. Continuamos a achá-lo sublimemente divertido. E é isso o que todas as pessoas desejam de um livro: que as divirta."

Troti
 

O QUE ESTAMOS A LER

(este blogue está temporariamente inactivo)

PROXIMAS LEITURAS

(este blogue está temporariamente inactivo)

LEITURAS NO ARQUIVO

"ULISSES", de James Joyce (17 de Julho de 2003 a 7 de Fevereiro de 2004)

"OS PAPEIS DE K.", de Manuel António Pina (1 a 3 de Outubro de 2003)

"AS ONDAS", de Virginia Woolf (13 a 20 de Outubro de 2003)

"AS HORAS", de Michael Cunningham (27 a 30 de Outubro de 2003)

"A CIDADE E AS SERRAS", de Eça de Queirós (30 de Outubro a 2 de Novembro de 2003)

"OBRA POÉTICA", de Ferreira Gullar (10 a 12 de Novembro de 2003)

"A VOLTA NO PARAFUSO", de Henry James (13 a 16 de Novembro de 2003)

"DESGRAÇA", de J. M. Coetzee (24 a 27 de Novembro de 2003)

"PEQUENO TRATADO SOBRE AS ILUSÕES", de Paulinho Assunção (22 a 28 de Dezembro de 2003)

"O SOM E A FÚRIA", de William Faulkner (8 a 29 de Fevereiro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. I - Do lado de Swann)", de Marcel Proust (1 a 31 de Março de 2004)

"O COMPLEXO DE PORTNOY", de Philip Roth (1 a 15 de Abril de 2004)

"O TEATRO DE SABBATH", de Philip Roth (16 a 22 de Abril de 2004)

"A MANCHA HUMANA", de Philip Roth (23 de Abril a 1 de Maio de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. II - À Sombra das Raparigas em Flor)", de Marcel Proust (1 a 31 de Maio de 2004)

"A MULHER DE TRINTA ANOS", de Honoré de Balzac (1 a 15 de Junho de 2004)

"A QUEDA DUM ANJO", de Camilo Castelo Branco (19 a 30 de Junho de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. III - O Lado de Guermantes)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2004)

"O LEITOR", de Bernhard Schlink (1 a 31 de Agosto de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. IV - Sodoma e Gomorra)", de Marcel Proust (1 a 30 de Setembro de 2004)

"UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO DOS PRAZERES" e outros, de Clarice Lispector (1 a 31 de Outubro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. V - A Prisioneira)", de Marcel Proust (1 a 30 de Novembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA", de José Saramago (1 a 21 de Dezembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ", de José Saramago (21 a 31 de Dezembro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VI - A Fugitiva)", de Marcel Proust (1 a 31 de Janeiro de 2005)

"A CRIAÇÃO DO MUNDO", de Miguel Torga (1 de Fevereiro a 31 de Março de 2005)

"A GRANDE ARTE", de Rubem Fonseca (1 a 30 de Abril de 2005)

"D. QUIXOTE DE LA MANCHA", de Miguel de Cervantes (de 1 de Maio a 30 de Junho de 2005)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VII - O Tempo Reencontrado)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2005)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2005)

UMA SELECÇÃO DE CONTOS LP (1 a 3O de Setembro de 2005)

"À ESPERA NO CENTEIO", de JD Salinger (1 a 31 de Outubro de 2005)(link)

"NOVE CONTOS", de JD Salinger (21 a 29 de Outubro de 2005)(link)

Van Gogh, o suicidado da sociedade; Heliogabalo ou o Anarquista Coroado; Tarahumaras; O Teatro e o seu Duplo, de Antonin Artaud (1 a 30 de Novembro de 2005)

"A SELVA", de Ferreira de Castro (1 a 31 de Dezembro de 2005)

"RICARDO III" e "HAMLET", de William Shakespeare (1 a 31 de Janeiro de 2006)

"SE NUMA NOITE DE INVERNO UM VIAJANTE" e "PALOMAR", de Italo Calvino (1 a 28 de Fevereiro de 2006)

"OTELO" e "MACBETH", de William Shakespeare (1 a 31 de Março de 2006)

"VALE ABRAÃO", de Agustina Bessa-Luis (1 a 30 de Abril de 2006)

"O REI LEAR" e "TEMPESTADE", de William Shakespeare (1 a 31 de Maio de 2006)

"MEMÓRIAS DE ADRIANO", de Marguerite Yourcenar (1 a 30 de Junho de 2006)

"ILÍADA", de Homero (1 a 31 de Julho de 2006)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2006)

POESIA DE ALBERTO CAEIRO (1 a 30 de Setembro de 2006)

"O ALEPH", de Jorge Luis Borges (1 a 31 de Outubro de 2006) (link)

POESIA DE ÁLVARO DE CAMPOS (1 a 30 de Novembro de 2006)

"DOM CASMURRO", de Machado de Assis (1 a 31 de Dezembro de 2006)(link)

POESIA DE RICARDO REIS E DE FERNANDO PESSOA (1 a 31 de Janeiro de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 28 de Fevereiro de 2007)

"O VERMELHO E O NEGRO" e "A CARTUXA DE PARMA", de Stendhal (1 a 31 de Março de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 30 de Abril de 2007)

"A RELÍQUIA", de Eça de Queirós (1 a 31 de Maio de 2007)

"CÂNDIDO", de Voltaire (1 a 30 de Junho de 2007)

"MOBY DICK", de Herman Melville (1 a 31 de Julho de 2007)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2007)

"PARAÍSO PERDIDO", de John Milton (1 a 30 de Setembro de 2007)

"AS FLORES DO MAL", de Charles Baudelaire (1 a 31 de Outubro de 2007)

"O NOME DA ROSA", de Umberto Eco (1 a 30 de Novembro de 2007)

POESIA DE EUGÉNIO DE ANDRADE (1 a 31 de Dezembro de 2007)

"MERIDIANO DE SANGUE", de Cormac McCarthy (1 a 31 de Janeiro de 2008)

"METAMORFOSES", de Ovídio (1 a 29 de Fevereiro de 2008)

POESIA DE AL BERTO (1 a 31 de Março de 2008)

"O MANUAL DOS INQUISIDORES", de António Lobo Antunes (1 a 30 de Abril de 2008)

SERMÕES DE PADRE ANTÓNIO VIEIRA (1 a 31 de Maio de 2008)

"MAU TEMPO NO CANAL", de Vitorino Nemésio (1 a 30 de Junho de 2008)

"CHORA, TERRA BEM-AMADA", de Alan Paton (1 a 31 de Julho de 2008)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2008)

"MENSAGEM", de Fernando Pessoa (1 a 30 de Setembro de 2008)

"LAVOURA ARCAICA" e "UM COPO DE CÓLERA" de Raduan Nassar (1 a 31 de Outubro de 2008)

POESIA de Sophia de Mello Breyner Andresen (1 a 30 de Novembro de 2008)

"FOME", de Knut Hamsun (1 a 31 de Dezembro de 2008)

"DIÁRIO 1941-1943", de Etty Hillesum (1 a 31 de Janeiro de 2009)

"NA PATAGÓNIA", de Bruce Chatwin (1 a 28 de Fevereiro de 2009)

"O DEUS DAS MOSCAS", de William Golding (1 a 31 de Março de 2009)

"O CÉU É DOS VIOLENTOS", de Flannery O´Connor (1 a 15 de Abril de 2009)

"O NÓ DO PROBLEMA", de Graham Greene (16 a 30 de Abril de 2009)

"APARIÇÃO", de Vergílio Ferreira (1 a 31 de Maio de 2009)

"AS VINHAS DA IRA", de John Steinbeck (1 a 30 de Junho de 2009)

"DEBAIXO DO VULCÃO", de Malcolm Lowry (1 a 31 de Julho de 2009)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2009)

POEMAS E CONTOS, de Edgar Allan Poe (1 a 30 de Setembro de 2009)

"POR FAVOR, NÃO MATEM A COTOVIA", de Harper Lee (1 a 31 de Outubro de 2009)

"A ORIGEM DAS ESPÉCIES", de Charles Darwin (1 a 30 de Novembro de 2009)

Primeira Viagem Temática BLOOMSDAY 2004

Primeira Saí­da de Campo TORMES 2004

Primeira Tertúlia Casa de 3 2005

Segundo Aniversário LP

Os nossos marcadores

ARQUIVO
07/01/2003 - 08/01/2003 / 08/01/2003 - 09/01/2003 / 09/01/2003 - 10/01/2003 / 10/01/2003 - 11/01/2003 / 11/01/2003 - 12/01/2003 / 12/01/2003 - 01/01/2004 / 01/01/2004 - 02/01/2004 / 02/01/2004 - 03/01/2004 / 03/01/2004 - 04/01/2004 / 04/01/2004 - 05/01/2004 / 05/01/2004 - 06/01/2004 / 06/01/2004 - 07/01/2004 / 07/01/2004 - 08/01/2004 / 08/01/2004 - 09/01/2004 / 09/01/2004 - 10/01/2004 / 10/01/2004 - 11/01/2004 / 11/01/2004 - 12/01/2004 / 12/01/2004 - 01/01/2005 / 01/01/2005 - 02/01/2005 / 02/01/2005 - 03/01/2005 / 03/01/2005 - 04/01/2005 / 04/01/2005 - 05/01/2005 / 05/01/2005 - 06/01/2005 / 06/01/2005 - 07/01/2005 / 07/01/2005 - 08/01/2005 / 08/01/2005 - 09/01/2005 / 09/01/2005 - 10/01/2005 / 10/01/2005 - 11/01/2005 / 11/01/2005 - 12/01/2005 / 12/01/2005 - 01/01/2006 / 01/01/2006 - 02/01/2006 / 02/01/2006 - 03/01/2006 / 03/01/2006 - 04/01/2006 / 04/01/2006 - 05/01/2006 / 05/01/2006 - 06/01/2006 / 06/01/2006 - 07/01/2006 / 07/01/2006 - 08/01/2006 / 08/01/2006 - 09/01/2006 / 09/01/2006 - 10/01/2006 / 10/01/2006 - 11/01/2006 / 11/01/2006 - 12/01/2006 / 12/01/2006 - 01/01/2007 / 01/01/2007 - 02/01/2007 / 02/01/2007 - 03/01/2007 / 03/01/2007 - 04/01/2007 / 04/01/2007 - 05/01/2007 / 05/01/2007 - 06/01/2007 / 06/01/2007 - 07/01/2007 / 07/01/2007 - 08/01/2007 / 08/01/2007 - 09/01/2007 / 09/01/2007 - 10/01/2007 / 10/01/2007 - 11/01/2007 / 11/01/2007 - 12/01/2007 / 12/01/2007 - 01/01/2008 / 01/01/2008 - 02/01/2008 / 02/01/2008 - 03/01/2008 / 03/01/2008 - 04/01/2008 / 04/01/2008 - 05/01/2008 / 05/01/2008 - 06/01/2008 / 06/01/2008 - 07/01/2008 / 07/01/2008 - 08/01/2008 / 08/01/2008 - 09/01/2008 / 09/01/2008 - 10/01/2008 / 10/01/2008 - 11/01/2008 / 11/01/2008 - 12/01/2008 / 12/01/2008 - 01/01/2009 / 01/01/2009 - 02/01/2009 / 02/01/2009 - 03/01/2009 / 03/01/2009 - 04/01/2009 / 04/01/2009 - 05/01/2009 / 05/01/2009 - 06/01/2009 / 06/01/2009 - 07/01/2009 / 07/01/2009 - 08/01/2009 / 08/01/2009 - 09/01/2009 / 09/01/2009 - 10/01/2009 / 10/01/2009 - 11/01/2009 / 11/01/2009 - 12/01/2009 / 03/01/2010 - 04/01/2010 / 04/01/2010 - 05/01/2010 / 07/01/2010 - 08/01/2010 / 08/01/2010 - 09/01/2010 / 09/01/2010 - 10/01/2010 / 05/01/2012 - 06/01/2012 /


Powered by Blogger

Web Pages referring to this page
Link to this page and get a link back!