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terça-feira, novembro 09, 2004
 
CRIATURAS EM FUGA, MESMO ENTRE AS NOSSAS MÃOS
Sábado, 18 de Setembro de 2004

%Maria da Conceição caleiro

No início de Novembro de 1922, Marcel Proust escrevia ainda a Gaston Gallimard: "Penso que neste momento o mais urgente seria entregar-lhe todos os livros. A espécie de obstinação que pus em 'A Prisioneira' (pronto mas a reler)... afastou de mim os tomos seguintes." A revisão de provas dos volumes póstumos seria feita por Jacques Rivière e Robert Proust, o irmão.

Inicialmente, o autor tinha como horizonte dois pilares: o "Tempo Perdido" e o "Tempo Reencontrado". Mas entre eles foi-se arquitectando um texto que poderia, por natureza, não ter fim. Segundo o próprio autor, uma catedral, erguida pedra a pedra, frase a frase, "paperole" a "paperole", em incessante expansão, caótica, mas não desgovernadamente. Sempre "sublinhando a solidariedade das mínimas partes" (carta a Mauriac, 1919); notando "entre duas sensações, uma parte comum"; vendo em simultâneo as coisas mais diversas, por isso a metáfora para o autor não era um acréscimo retórico - um traço abstracto dado "a posteriori" -, mas um modo imediato da percepção: "a unidade descoberta entre fragmentos (...), a unidade que se ignorava, e portanto vital e não lógica." Ordenando todo um sistema de ecos em torno de figuras e de meios que o narrador cruza e para ele convergem; distendendo os meandros interiores da alma humana e da fractalidade e mutação do mundo no tempo e no espaço. Por isso, mais do que as peripécias, de "Em busca..." emana toda a literatura. É modo de ver clínico e caleidoscópico que torna sensível a sua própria construção e linguagem. Por isso em Proust a frase se alonga e demora, se retém acumulando energia até ao seu desfecho, até à sua detonação, ou se ramifica em polaridades. "O período proustiano, equivalente linguístico do olhar, restitui um quadro claro e ordenado do caos, que se oferece aos olhos" (Spitzer, "Études de Style").

"A Prisioneira" é uma etapa crucial para a compreensão da narrativa de "Em Busca do Tempo Perdido". Nas suas últimas páginas, Proust leva o narrador a comentar com Albertine traços de vários escritores que são, de certo modo, a chave que o autor antecipa e lega para a leitura da sua própria obra.

Também em "A Prisioneira" nos é dada a morte de Bergotte numa exposição perante um quadro de Vermeer: "Vista de Delft" (o pintor preferido de Swann, arquétipo do narrador, e de que Proust possuía no quarto uma reprodução): "'Era assim que eu devia ter escrito (...). Devia ter aplicado diversas camadas de tinta, devia ter feito com que a minha frase fosse preciosa em si mesma, como este pequenino fragmento de parede amarela.'"

Albertine era, na primeira estada do narrador em Balbec, uma das raparigas em flor. Tendo atravessado os outros volumes, é em "A Prisioneira" que a personagem se individua após um intempestivo retorno a Paris com o narrador que a quis retirar da proximidade de raparigas de "má reputação", isto é, filhas de Gomorra, ainda no fim de "Sodoma e Gomorra".

Alfred Agostinelli

Sabe-se o quanto Albertine deve a Agostinelli e à sua irrupção na vida de Proust e na economia da obra. Proust conhecera-o em 1907 como motorista monegasco em Cabourg que o acompanha em diversos passeios de automóvel. Em 1913, Proust instala-o em casa, como secretário, com a companheira. Adverte alguns amigos: "Evitem falar do meu secretário (ex-mecânico). As pessoas são tão estúpidas que poderiam ver nisso algo de pederasta." ("Correspondence", T. XII) Agostinelli gosta de mecânica e de aviação. Por ciúme e chantagem afectiva, Proust inunda-o de dinheiro e de prendas, chega a oferecer-lhe um curso de pilotagem. Celeste Albaret, a fiel, governanta, descreve-o como "um rapaz instável que tinha ambições de sair do seu estatuto". Já depois da sua inesperada partida para o Mónaco, de Proust ter enviado um amigo à sua procura, na véspera da sua morte, a 30 de Maio de 1914, afogado devido à queda do avião, Proust escreve-lhe anunciando a possível compra de um aeroplano onde gravaria versos de Mallarmé que "[Agostinelli] conhece (...): "É a poesia de que gosta, mesmo achando-a obscura." ("Correspondance", id.) Depois da morte de Agostinelli, Proust escreveria a R. Hahn: "Gostava verdadeiramente de Alfred. Não basta dizer que gostava dele, adorava-o." ("Correspondance", T. XIV).

Muito deste universo se reconhece em "A Prisioneira" e "A Fugitiva".

Albertine, a vigiada e cativa

"Quando penso agora que a minha amiga, quando regressámos de Balbec, veio morar em Paris sob o mesmo tecto que eu, que renunciara à ideia de ir fazer um cruzeiro, que tinha o seu quarto a vinte passos do meu, na ponta do corredor, no gabinete do meu pai forrado a tapeçarias, e que todas as noites, muito tarde, antes de me deixar, introduzia a língua na minha boca, como um pão quotidiano, como um alimento nutritivo e com o carácter quase sagrado de toda a carne a que os sofrimentos que por causa dela sofremos acabaram por conferir uma espécie de doçura moral - aquilo de que imediatamente me lembro por comparação não é a noite que o capitão Borodino me autorizou a passar no quartel, graças a um favor que no fim de contas apenas debelava um efémero mal-estar, mas aquela outra em que o meu pai disse à minha mãe que fosse dormir na cama pequena ao lado da minha." Este é um excerto das primeiras páginas de "A Prisioneira", emblema de um processo de reenvios, volume onde não se passa nada, sendo todavia capital, emblema maior das vacilações do narrador entre o consagrar-se à obra, à viagem a Veneza desejada desde as gravuras de infância, cidade trazida metonimicamente aqui através das cores e motivos contemporâneos de Carpaccio e Ticiano, nos tecidos de Fortuny - que o narrador vira em Oriane de Guermantes - e com que vestia a mulher cativa; vacilação entre tudo isso, Veneza e a entrega plena à criação, e o dedicar-se a Albertine de quem sabia, aliás, desde o fim de "Sodoma e Gomorra", já não gostar (repetindo Odette e Swann). São ainda as intermitências do coração.

Em Proust, o amor nasce e renasce sempre do ciúme e não o inverso. Esvai-se, quando este está suspenso, nos momentos de docilidade de Albertine, da sua aceitação do cativeiro, renova-se aquando da intuição de qualquer sinal suspeito, de um pressentimento, de uma impaciência, de um olhar furtivo, de um rubor na face, sobretudo de uma mentira, signo por excelência do amor. Aquele que ama é aquele que não cessa de interpretar a mentira. Por isso, transporta consigo o seu próprio fim. Todo um sofrimento insaciável que não termina sequer com a morte de Albertine - "Era preciso escolher entre deixar de sofrer ou deixar de amar. Porque assim como no começo é formado pelo desejo, o amor mais tarde apenas é alimentado pela ansiedade dolorosa. Eu sentia que uma parte da vida de Albertine me escapava. O amor na ansiedade dolorosa, tal como o desejo feliz, é a exigência de um todo. Só nasce e só subsiste se resta uma parte a conquistar. Só se ama o que não se possui por completo." O ciúme só redobra o amor e não o seu invés. "Pretender a todo o custo saber o que Albertine pensava, quem via, quem amava - que estranho era eu sacrificar tudo a essa necessidade, visto que sentira a mesma necessidade de saber de Gilberte, nomes próprios, factos que me eram agora indiferentes." "[A] suspeita tornava ainda mais necessário que fizesse durar a nossa vida em comum até uma altura em que eu já tivesse recuperado a minha tranquilidade."

O narrador persegue o segredo de Albertine, esse algo de inacessível e oculto e que assim mesmo permanecerá: a sexualidade entre mulheres, a natureza de Gomorra, a mais profunda e original realidade feminina. A verdade que nela se dissimula, a não ser quando o narrador olha Albertine durante o sono: "[Quando] apenas a animava a vida inconsciente dos vegetais, das árvores (...) uma vida mais alheia, e que, contudo, me pertencia mais." "[Mesmo assim] eu tentava adivinhar o que estava escondido dentro dela." Sabemos que para o autor os amores heterossexuais são menos profundos e verdadeiros que a homossexualidade velada.

O narrador conta o que vê ou o que outros lhe contam ter visto ou saber, os que encontra por acaso ou aqueles a quem pede para vigiar Albertine, como Andrée (mas dirá ela a verdade?). Nunca se sabe ao certo - "aquele amor entre mulheres era algo de por de mais desconhecido, cujos prazeres e qualidade nada permite imaginar com segurança, com precisão".

http://jornal.publico.pt/2004/09/18/MilFolhas/TLFIC01.html

Troti
 

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