Leitura Partilhada
sexta-feira, abril 30, 2004
  Depois da leitura
Sento-me, com o livro aberto nas mãos. Deixo-me cercar pela história. Tento percepcionar tudo o que luta na cabeça de Coleman. Um homem convencional tão pouco convencional… Um homem com uma história de vida de mentira. Ao mesmo tempo, tão grande e profunda, essa história de vida. Um homem que brincou com a sorte, que foi egoísta (teve filhos) e implacável (com a mãe e irmãos). Um homem que, não obstante todas as suas conquistas e sucessos, devia ter muita dificuldade em olhar-se ao espelho. E que caiu de uma forma ridícula e humilhante. Talvez, secretamente, ele o tivesse desejado assim, ainda que a mentira se tenha perpetuado (foi enterrado como um judeu). No final, fecho o livro, levanto-me, retorno à vida dita real. Agora, concerteza mais rica, porque o meu olhar tem uma nova expressão.

J.M.
 
  A natureza aterradoramente transitória de tudo
O livro termina com uma imagem quase indelével: um vulto, um ponto negro num imenso cenário branco. É uma imagem que se convoca a partir do imaginário cinematográfico, por cá não temos dessas paisagens. Mas não deixa de por isso ser menos forte. É mais uma leitura, a última que o livro nos oferece, da mancha humana que trazemos connosco – o nosso toque que tudo altera. Irremediavelmente.
nastenka-d
 
  Outra vez a tragédia grega.. II
Continuando na linha do eu-não-percebo-nada-disto, porquê Clytemnestra?? Qual o paralelo que Roth pretende estabelecer? Eu tenho uma vaga ideia de que, antes de ser morta pelo filho, Orestes, ela teria sido submetida a um julgamento público..(pelo assassínio do marido?).. será isto?!

J.M.
 
  Outra vez a tragédia grega... I
Tal como a nastenka-d, também eu tenho curiosidade de ler a Ilíada. E esperarei ansiosamente que Frederico Lourenço nos brinde com outra magnífica tradução, na sequência de Odisseia (que foi, seguramente, um dos grandes fenómenos editoriais de 2003; acham que terá sido suficientemente falado?). E muito mais curiosidade tenho agora, com a Leitura de A Mancha, que conseguiu aumentar a baralhação desta baralhada história na minha cabeça.

Eu achava que o “resgate” de Helena (logo, a Ilíada), era apenas uma boa desculpa que Agamémnon tinha aproveitado, com o intuito de se apoderar das riquezas de Bizâncio; por forma a que os deuses lhe concedessem bons ventos, tinha ele sacrificado a filha às próprias mãos, motivo pelo qual a sua mulher, Clytemnestra, o teria assassinado.

Por isso, afinal, qual é a questão primordial? a literatura nasceu de uma briga sobre a “dignidade fálica”, por uma questão de mulheres, ou sobre a ambição e a sede de poder? ok, tudo redunda em sexo, porque a palavra chave é sempre testosterona, mas não será um bocadinho redutora a análise que é feita no início do livro?

(ainda bem que esta é uma CONVERSA ENTRE PESSOAS QUE GOSTAM DE LIVROS! Assim, estou mais à-vontade para arriscar demonstrar, on-line, o meu profundo desconhecimento destes assuntos….).

J.M.
 
  Polígonos
Há verdade e verdade. Por muito que o mundo esteja cheio de pessoas convencidas de que nos conhecem, ou a qualquer outro, por dentro e por fora, na realidade é incomensurável o que não se conhece. A verdade a nosso respeito é infinita. Assim como as mentiras. Apanhado entre as duas, pensei. Denunciado pelos íntegros, injuriado pelos virtuosos e depois exterminado pelo louco criminoso. Excomungado pelos puros, pelos eleitos, pelos omnipresentes evangelistas dos costumes do momento, e depois despachado por um demónio impiedoso. Ambas as exigências humanas confluíam nele. O puro e o impuro em toda a sua intensidade, em movimento, irmanados na necessidade comum do inimigo. Dilacerado, pensei. Dilacerado pelos dentes antagónicos deste mundo. Pelo antagonismo que o mundo é.
Apesar de tudo quanto é singular na história e na vida de Coleman, tenho a sensação de que a história que se conta poderia ser a de qualquer um. Porque mais do que as singularidades, o que parece estar em destaque é a forma como somos todos ilhas – mais ou menos próximas umas das outras, mas ainda assim ilhas – completamente alheios ao que nos rodeia, encerrados em nós mesmos, e sob o jugo de algo que nos ultrapassa e no qual só até certo ponto nos integramos. É assim com Delphine, por exemplo; e com Coleman, e com Faunia. Todos têm os seus planos (n’O Teatro de Sabbath falava-se já de planos de fuga, lembram-se?), sejam quais forem os objectivos por que se regem. Os planos de cada são polígonos justapostos, com limites mais ou menos coincidentes, relativamente autónomos em relação a tudo o resto. E, ainda assim, não são nunca independentes, pois existem apenas em função daqueles que os rodeiam.
nastenka-d
 
quinta-feira, abril 29, 2004
  "Porque é em momentos assim que amamos as pessoas,
quando as vemos decididas a enfrentar o pior."

Por vezes, é preciso que algo de especial nos aconteça, para que sejamos capazes de entranhar na pele aquilo que a nossa mente sempre julgou saber. Aquela mulher deu-lhe conta de uma realidade mais crua e, ao mesmo tempo, mais pura. Terá sido esta heterodoxa forma de libertação social que ele escolheu para se enfrentar a si próprio?

J.M.
 
  "Ele não tinha qualquer reserva em relação a ela."
Ela foi a primeira, e única pessoa, em quem ele confiou. Finalmente, se entregou, baixou os braços, deixou-se "de todas essas merdas" politicamente correctas que sempre o tolheram. A verdade é que foi ele próprio que se tolheu a vida inteira.

J.M.
 
  Ainda Delphine
Mas a morte dele é a sorte dela. A morte dele é a salvação dela. A morte intervém para simplificar tudo. Todas as dúvidas, todas as desconfianças, todas as incertezas são afastadas pelo maior de todos os redutores, que é a morte.

nastenka-d
 
  "Não lhe interessa julgar; já viu muito para perder tempo com todas essas merdas."
Acho que esta é uma das frases fundamentais do livro.

J.M.
 
  "Só podemos controlar a nossa vida até certo ponto."
Às vezes, até nos esquecemos desta linear evidência.

J.M.
 
  "Hoje o estudante faz valer a sua incapacidade como um privilégio."
Esta é uma das grandes perversões do nosso actual sistema educativo. E com tendência a aumentar. Isto de os alunos considerarem que estudo é uma mera extensão dos seus momentos lúdicos; que liberdade não é, também, sinónimo de dever; que estudar não significa responsabilidade e um grande esforço pessoal... Para onde estaremos a caminhar??

J.M.
 
  "Spooks!"
"A ridícula banalização do magistral desempenho que fora a sua vida aparentemente convencional e singularmente subtil, uma vida com pouco ou nada de excessivo à superfície, porque todo o excesso se concentrava no segredo."

J.M.
 
  "O perigo do ódio
é que, quando vamos por aí, o resultado é cem vezes pior do que prevíamos."

J.M.
 
  "A verdade a nosso respeito é infinita. Assim como as mentiras."
J.M.
 
 
Tudo quanto tinha era a necessidade muito humana de ser salva.

nastenka-d
 
  O oposto de sexo
Sexo, sim, sexo maravilhoso, mas sexo com metafísica. Sexo com metafísica com um homem com gravidade e sem vaidade. Alguém como Kundera. O plano é esse.

Até agora tenho-me abstido de falar de Delphine, talvez porque os sentimentos que ela me desperta são contraditórios. Aliás, Delphine também o é; nesse campo assemelha-se a Coleman. Afinal, o que quer Delphine? O que procura? A sua suposta independência não é senão uma reacção, uma fuga; age sempre em função de qualquer coisa, representado tanto pelo que recusa como pelo que escolhe. Chora secretamente em cinemas, e o que procura na literatura é algo de muito diferente do que estuda e escreve sobre ela. O que procura não passa de fantasia ditada pelo sentimentalismo; os Murnau, os Fassbinder, os Rohmer não a fizeram amadurecer, apenas a cultivaram.
Delphine é, sob muitos aspectos, apenas uma criança emocionalmente imatura, como sentiu Coleman na entrevista na sequência da qual a contratou; se não em mais nada, essa imaturidade está patente na forma como se envergonha dos seus actos e é incapaz de os assumir; aos actos, aos desejos, às fantasias.
Delphine é o simétrico de Faunia.
nastenka-d
 
  Liberdade? (2)
O seu analfabetismo tinha sido um fingimento, uma coisa que ela achara conveniente para a sua situação. Mas porquê? Uma fonte de poder? A sua única fonte de pode? Mas um poder adquirido a que preço? Era caso para pensar. Acrescentou o seu analfabetismo aos seus outros tormentos. Voluntariamente. Mas não para se infantilizar, não para passar por uma criança dependente; precisamente pelo contrário: para realçar a personalidade adequada ao mundo. Não pelo repúdio da instrução como uma forma asfixiante de correção, mas sobrepondo-lhe um saber que é mais forte e prévio. Não tem nada contra ler, em si; acha simplesmente apropriado fingir que não sabe.

Liberdade é escolher o que se quer saber; e mostrar que se sabe.
nastenka-d
 
  Liberdade? (1)
Basta um rótulo. O rótulo é o móbil. Por que fez Coleman isto? Porque ele é um este, porque ele é um aquele, porque ele é ambas as coisas. Primeiro um racista e agora um misógino. O século já vai demasiado longo para lhe chamarem comunista, embora noutros tempos o rótulo tivesse sido esse. Um acto misógino cometido por um homem que já mostrou ser capaz de fazer um abjecto comentário racista a expensas de uma estudante vulnerável. Isso explica tudo. Isso e a loucura.

Liberdade é estar para além do rótulo.
nastenka-d
 
  Pecado original
É o resultado de ter sido criado entre nós – disse Faunia. – É o resultado de passar toda a vida com pessoas como nós. A mancha humana – acrescentou, mas sem repulsa, desprezo ou condenação. Nem sequer com tristeza. As coisas são como são – à sua maneira seca e concisa, era só isso que ela estava a dizer à rapariga que dava de comer à serpente: nós deixamos uma mancha, deixamos um rasto, deixamos a nossa marca. Impureza, crueldade, mau trato, erro, excremento, sémen. Não há outra maneira de estar aqui. Não tem nada a ver com desobediência. Nem com graça, ou salvação, ou redenção. Está em todos. Sopro interior. Inerente. Determinante. A mancha que existe antes da sua marca. Sem o sinal de que está lá. A mancha que precede a desobediência, que engloba a desobediência e confunde toda e qualquer explicação e compreensão. É por isso que toda a purificação é uma anedota. E uma anedota bárbara, ainda por cima. A fantasia da pureza é aterradora. É demencial. O que é a ânsia de purificar senão impureza? Tudo quanto estava a dizer acerca da mancha é que ela é inelutável. Essa era, naturalmente, a visão de Faunia a esse respeito: as criaturas inevitavelmente manchadas que nós somos.

nastenka-d
 
 
não há fuga possível, todas as tuas tentativas de fuga só te reconduzirão ao ponto de partida



Leitora
 
quarta-feira, abril 28, 2004
  Reflexão IV
"Por que aconteceriam as coisas como acontecem e se leria a História como se lê se, inerente à existência, houvesse uma coisa chamada normalidade?"


Troti
 
  Reflexão III
“...a facilidade com que a vida pode ser uma coisa em vez de outra e em que medida um destino pode ser acidental...e como, por outro lado, um destino pode parecer acidental quando é impossível as coisas serem, jamais, diferentes do que são.

...Sófocles: como um destino pode ser acidental...ou como tudo pode parecer que é acidental quando é inescapável."



Troti
 
  Reflexão II
“O segredo de viver com um mínimo de sofrimento na voragem do mundo reside em atrair o maior número de pessoas para as nossas ilusões; o truque para viver sózinho ...consiste em organizar o silêncio, em pensar na sua plenitude de cume de montanha como capital, no silêncio como riqueza crescendo exponencialmente. No silêncio circundante como a fonte de proveito que escolhemos e a nossa únicca coisa íntima. O truque consiste em emcontrar sustento(Hawthorne, de novo) n´”as comunicações de uma mente solitária consigo mesma.”


Troti
 
  Reflexão I
“Há algo de fascinante no que o sofrimento moral pode fazer a alguém que nada indicia ser uma pessoa frágil ou fraca. É uma coisa ainda mais insidiosa do que a doença física pode causar, pois não há perfusão de morfina, epidural ou cirurgia radical que possam aliviá-la. Quando caímos nas suas garras dir-se-ia que só nos libertaremos dela se nos matar. Não existe nada que se compare ao seu realismo brutal.”


Troti
 
  Coleman Silk e Faunia Farley
“...há mais qualquer coisa que o impele. Há o desejo de soltar a besta, de libertar essa força, de durante meia hora, duas horas, seja o tempo que for, ser livre no que é natural....Durante quarenta anos fez o que era necessário fazer. Andou atarefado, e a natureza, que é a besta, mudou-se para uma caixa. Agora essa caixa está aberta...Mas o que resta da besta, o que resta dessa coisa natural, é com isso que ele está agora em contacto, com o que resta. E sente-se feliz por isso, sente-se grato por estar em contacto com o que resta. Sente-se mais do que feliz: sente-se emocionado, e já está ligado, profundamente ligado a ela, por causa dessa emoção...Não é família, não é responsabilidade, não é dever, não é dinheiro, não é uma filosofia partilhada ou o amor à literatura, não são grandes discussões de grandes ideias. Não, o que o liga a ela é a emoção.”


E a emoção é um dos elos mais fortes que pode existir entre dois seres humanos.


Troti
 
  Coleman Silk II
“Com o seu ar frágil, de homenzinho, o indivíduo é uma força. Nunca o conheci como o grande reitor Conheci-o apenas como alguém com problemas. Mas sentimos a presença, percebemos porque é que intimidava as pessoas. Quando está à nossa frente, temos consciência que está ali alguém. "


Troti
 
  Coleman Silk I
“Não sou professor de ninguém. Deixei de ensinar pessoas, corrigir pessoas, aconselhá-las, submetê-las a exames e instruí-las... Sou um homem de 71 anos com uma amante de 34, o que me incapacita, na comunidade de Massachussets, de instruir seja quem for."


Troti
 
  Espaços em branco
Sentei-me na relva, estupefacto, incapaz de explicar o que estava a pensar: ele tem um segredo. Este homem idealizado de acordo com os mais convincentes e credíveis traços emocionais, esta força com uma história como tal, este homem benignamente astucioso, suavemente encantador e aparentemente viril em todos os aspectos, tem, no entanto, um segredo imenso. Como chego a esta conclusão? Porquê um segredo? Porque está ali, sente-se, quando ele está com ela. E também quando não está com ela. É no segredo que reside o magnetismo dele. O que fascina é qualquer coisa que não está ali, e é isso que me tem atraído desde o princípio, o enigmático não sei quê em que ele se mantém à parte, que reserva como seu e de mais ninguém. Organizou-se como a Lua, para ser só metade visível. E eu não posso torná-lo totalmente visível. Há um espaço em branco. É só isso que sei. Eles são, juntos um par de espaços em branco. Há um espaço em branco nela e, apesar do seu ar de homem firmemente estável e até, sendo preciso, um adversário obstinado e decidido – o colérico gigante da universidade que preferiu demitir-se a aceitar os humilhantes disparates dos seus pares –, há também, algures, um espaço em branco nele, uma rasura, uma excisão, embora eu não faça a mínima ideia do quê... não saiba sequer se existe, realmente, alguma lógica nesta intuição ou se estarei apenas a fantasiar, com especulações extravagantes, a minha ignorância a respeito de outro ser humano.

nastenka-d
 
  Mudar de Vida
«Não querem as pessoas, na sua maioria, abandonar a porra das vidas que lhes foram dadas? Mas não abandonam, e é isso que faz delas elas»

Vive aqui um ser humano...


Leitora
 
  A Tentação II
Ele foi fraco. Não conseguiu resistir. Haverá assim tantos que o conseguissem? Seremos capazes de controlar o lado negro que há em nós? De conhecer alguém assim tão bem? De nos conhecermos assim tão bem?

Sim, ele foi muito fraco. Um homem manchado que teve o seu percurso de expiação. Há erros graves que se pagam caro, especialmente se a nossa própria formação moral não nos deixar indiferentes à censura e à culpa.

Mas, olhando para a intolerância das escandalizadas almas que o rodeiam, todos aqueles que estão sempre prontos a atacar quem pise o risco (aqueles que, por sinal, também o pisam, mas sabem esconder tão bem…), não parece haver muito por onde escolher…

A hipocrisia da sociedade americana em toda a sua pujança.

J.M.
 
  Solidão
Porque nós não sabemos, pois não? Toda a gente sabe.O que faz as coisas acontecerem da maneira que acontecem? O que está subjacente à anarquia da sequência dos acontecimentos, às incertezas, às contrariedades, à desunião, às irregularidades chocantes que definem os assuntos humanos? Ninguém sabe, professora Roux. «Toda a gente sabe» é a invocação do lugar-comum e o início da banalização da experiência, e o que se torna tão insuportável é a solenidade e a noção de autoridade que as pessoas sentem quando exprimem o lugar comum. O que sabemos é que, de um modo que não tem nada de lugar-comum, ninguém sabe coisa nenhuma. Não podemos saber nada. Mesmo as coisas que sabemos, não as sabemos. Intenção? Motivo? Consequência? Significado? É espantosa a quantidade de coisas que não sabemos. E mais espantoso ainda é o que passa por saber.

Há qualquer coisa de terrivelmente solitário quando tomamos consciência de que não conhecemos nunca nada acerca dos outros, que é também a certeza de que nunca ninguém conhecerá nada acerca de nós. Há um diálogo entre um casal, sobre o mesmo assunto, num dos livros de Iris Murdoch, no qual ela diz qualquer coisa como isto: Até que ponto podemos conhecer uma pessoa? Olha para nós: falamos incessantemente sobre tudo e, no entanto, não me sinto mais capaz de dizer que sei quem tu és do que há vinte anos atrás.Esta impossibilidade de conhecer deixa-nos livres mas também sós, muito mais sós do que se efectivamente não houvesse mais ninguém no mundo.
nastenka-d
 
  Marioneta
Coleman possuía o bom aspecto incongruente, e quase de marioneta, que encontramos nos rostos a envelhecer de actores de cinema que foram famosos no ecrã como crianças fulgurantes e nos quais a estrela juvenil fica indelevelmente gravada.


Por um lado, esta ressonância. Marioneta transporta-nos necessáriamente para outro universo de Roth, o de Sabbath. Por outro há o aspecto incongruente. Fio por fio se tece este mistério. Nada nos faz supor a verdadeira razão da incongruência...


Leitora
 
 
Nada nos dois parecia em conflito com a vida ou ao ataque – e na defensiva também não.

nastenka-d
 
  Do lado de cá da trincheira
Quem são eles agora? A versão mais simples possível de si mesmos. A essência da singularidade. Tudo quanto é doloroso cristalizado em paixão. Podem até já não lamentar que as coisas sejam diferentes. Estão por de mais entrincheirados na indignação para se preocuparem com isso. Saíram de baixo de tudo quanto jamais se acumulou sobre eles. Nada na vida os tenta, nada na vida os excita, nada na vida mitiga o seu ódio pela vida como esta intimidade. Quem são estas pessoas radicalmente desiguais, tão incongruentemente aliadas aos 71e 34 anos? São a tragédia para a qual foram intimadas. Ao ritmo da banda de Tommy Dorsey e ao som da voz doce do jovem Sinatra, caminham, dançando completamente nus, para uma morte violenta. Todos neste mundo encenam um fim diferente, cada qual à sua maneira. Esta é a maneira deles. Agora já não é possível deterem-se a tempo. Não há volta; está decidido.

Não me interessa o aspecto mais melodramático deste parágrafo; aliás penso que é nesse campo que o livro tem mais a perder. Não, o que me interessa aqui é a perspectiva (um ponto de vista exterior, como é por vezes difícil manter presente) de que tanto Coleman como Faunia se encontram não por uma opção deliberada, mas por falta dela. É uma questão que ainda não consegui perceber, para a qual não tenho ainda resposta. Faunia, a rapariga que não sabe ler, é obviamente acossada; ou, mentindo acerca do seu analfabetismo, escolhe refugiar-se nele? Coleman tem um segredo a partir do qual, recusando-se, se reconstrói, o que o obriga a permanecer sempre em alerta; nesse sentido, a ligação com Faunia é uma libertação; ou o resultado de, apesar de toda uma vida devotada, a sua construção se ter desmoronado da forma mais inesperado possível?
Torna-se difícil perceber o que os move, o que os une. Talvez sejam causas e movimentos contraditórios. Turvos, como a restante vida.
nastenka-d
 
terça-feira, abril 27, 2004
  Spooks
Vós que ousais tocar no poder instituído, cuidai-vos. Qualquer palavra poderá ditar a vossa perdição. A vingança, como sempre, será implacável.



Leitora
 
  VIVE AQUI UM SER HUMANO
.

Adorei esta frase, maiúsculas e tudo. Claro que não a aplicaria à Casa Branca (cada vez menos à Casa Branca, em minha opinião). Mas é passível de ser adaptada a crachás identificativos, por exemplo. Não para justificar falhas, mas para ir relembrando. Humano não é só errar. Humano é evoluir.


Leitora
 
  Lily-white
E o círculo fecha-se com lily-white. Uma bela digressão, senhor Roth. Páginas cheias de força que nos mostram Coleman Silk muito mais inapropriado do que o havíamos imaginado, monstruoso quase no seu desejo de liberdade para a construção do seu Eu. Digam-me lá, será assim tão diferente de Mickey Sabbath?
nastenka-d
 
  O radicalismo
Não era um anarquista amargo como o maluco pai de Iris. Não era, em sentido algum, um provocador ou um agitador. Nem sequer um louco. Nem sequer um radical ou um revolucionário, mesmo intelectual ou filosoficamente falando, a não ser que seja revolucionário crer que ignorar as delimitações mais restritivas de uma sociedade prescritiva e afirmar de modo independente uma escolha livre e pessoal, dentro dos parâmetros da lei, possa ser outra coisa que não um direito humano fundamental; a não ser que seja revolucionário recusarmo-nos, quando atingimos a maioridade, a aceitar automaticamente o contrato redigido à nascença para assinarmos.
O pior é que é revolucionário mesmo, ainda que não implique afastar aquilo que nos conforma; é revolucionário e não o é apenas agora. Não um homem de setenta e um anos a deitar-se com uma mulher de trinta e quatro; é fazê-lo sem consideração pelo que é justo e apropriado. Todas as conquistas são revoluções, porque não estão inscritas na ordem natural das coisas. E já agora, alguém sabe dizer o que isso é?
nastenka-d
 
  Tem cuidado contigo. Tem cuidado contigo. Tem cuidado contigo.
Ele nunca se desfez da carta e quando, por acaso, dava com ela entre os seus papéis e, no meio de qualquer coisa que estivesse a fazer, se detinha a relê-la – apesar de a ter esquecido durante cinco ou seis anos –, pensava o mesmo que pensara na rua, naquele dia, depois de a ter beijado ao de leve na face e lhe ter dito adeus para sempre: que se tivessem casado – como ele quisera – ela teria sabido tudo – como ele quisera que ela soubesse – e o que acontecera depois com a família dele, com a família dela, com os filhos deles, teria sido diferente do que era com Iris. O que acontecera com a mãe dele e com Walt poderia muito bem nunca ter acontecido. Se Steena tivesse dito está bem, ele teria vivido outra vida.
Creio que todos (ou quase todos) temos nas nossas vidas coisas como a carta de Steena, mesmo que não sejam coisas com existência material. Talvez fosse mesmo melhor que tivessem existência material; desse modo poder-nos-íamos esquecer delas durante cinco ou seis anos, com a certeza de não as termos perdido para sempre. É que estas coisas não são apenas a memória melancólica dessas outras vidas que nos foram recusadas (ou que nós recusámos); são também os alicerces da vida que vivemos, fundada em terreno mais ou menos instável.
Pensou os mesmos pensamentos inúteis – inúteis para um homem como ele, sem nenhum grande talento a não ser para Sófocles: como um destino pode ser acidental... ou como tudo pode parecer que é acidental quando é inescapável.
nastenka-d
 
  A Tentação I
Este livro tocante sublinha o facto de ser bem mais fácil termos uma postura ética quando não há oportunidades para não o sermos. Caramba, resistir à tentação, isso é que define verdadeiramente a força moral de alguém!

Nas tragédias gregas (a que o autor alude por diversas vezes), que tão magnificamente nos colocam perante questões éticas fundamentais, as personagens são sempre confrontadas com situações-limite.

E, porventura, os nossos juízos de valor carecerão de alguma legitimidade, se nunca tivemos sido acossados pela tentação; quando não tivemos ali, nas nossas mãos, a oportunidade de acalmar a eterna busca de aceitação, numa sociedade racista odiosa. Isto, se conseguirmos esquecer que a mancha existe, que a mancha pode vir a ser descoberta a todo o momento, que a mancha nos corrói por dentro.

J.M.
 
  Eu
Mas sentir que já não estava circunscrito nem definido pelo pai era como descobrir que todos os relógios para que olhava tinham parado e não existia maneira alguma de saber que horas eram. Quer lhe agradasse quer não, era como se, até ao dia em que chegara a Washington e entrara na Howard, tivesse sido o pai que fizera em seu lugar a sua história. Agora teria de ser ele a fazê-la, e essa perspectiva era aterradora. Mas depois deixou de ser. Passaram três dias terríveis e assustadores, passou uma semana terrível, duas semanas terríveis, e de repente, sem mais nem menos, o que era aterrador tornou-se estimulante.
Coleman tornava-se aquilo em que se concentrava: a matemática, a biologia, a corrida, o boxe.
Tornou-se outro.
nastenka-d
 
segunda-feira, abril 26, 2004
  Querido Bill
Como poderia Roth ficar insensível à história de Bill Clinton? Como poderia ser insensível a um seguidor da sua carismática criação chamada Alex Portnoy?

Ao ler o Complexo, uma das coisas que mais me marcou foi o fosso social entre duas das personalidades de Alex: o político supostamente exemplar, activista, que punha os seus conhecimentos ao serviço dos ideais sociais do Estado, mas que em privado era o ser eminentemente sexual, levado ao limite. Algo que só poderia cair mal na moralista América.

Roth previu, Clinton demonstrou.

Terá Bill lido o Complexo? Roth diz-me que sim. Mas nem me parece necessário.


Leitora
 
  Música
Passei os últimos dias envolvida em música. A correr de concerto para concerto, mas a ler A Mancha Humana nas ficas de espera, nas escadarias de acesso, enquanto tomava café e comia pastelinhos. De repente, Roth decide pegar-me pela mão e conduzir-me, revelador:


A música é o silêncio a tornar-se realidade.
(pp. 57)


O melhor dos livros, para mim, continua a residir nas coisas mais símples, no que condiciona o nosso sentimento do mundo que nos envolve.


Leitora
 
  Um Pormenor Maior
Coleman tinha atingido uma estabilidade e uma reputação invejáveis, até ser, por causa de um pormenor de linguagem, acusado de racismo. Por um pormenor ridículo que, enfim, acabou por não ser tão ridículo quanto isso. Se as alunas não são fantasmas, há quem tenha esqueletos no armário… Ele mentiu a vida inteira, ele renegou a família, ele impediu a sua mãe de ver os próprios netos, ele arriscou-se a destruir a vida da mulher e dos filhos, porque queria ser “livre”… curiosa forma de liberdade…

J.M.
 
  Eros Thanatos
Faunia Farley: pernas magras, pulsos magros, costelas claramente desenhadas na camisola e omoplatas salientes. No entanto, quando o esforço lhe retesava o corpo, víamos que os seus membros eram duros; quando se esticava ou estendia os braços para qualquer coisa, víamos que os seus seios eram surpreendentemente firmes e robustos, e quando, por causa das moscas e mosquitos que zumbiam à volta da manada naquele abafado dia de Verão, dava uma palmada no pescoço ou nas costas, entrevíamos como era capaz de ser brincalhona, apesar do estilo aparentemente sério.
Há algo de selvagem não só em Faunia (que parece reunir em si de forma evidente os dois impulsos fundamentais, amor e morte) mas na ligação que Coleman estabelece com ela e nas emoções que lhe desperta; é como se Coleman, liberto do jugo representado pela vida em sociedade (jugo por ter sempre subjacente algo de convenção, de obrigatoriedade, de restrição e de responsabilidade), se tornasse de alguma forma mais livre, no sentido em que ser livre é ser-se e sentir radicalmente, para além da noção do que é ou não é apropriado...
Começo mesmo a pensar até que ponto Coleman Silk não partilhará desta forma a mesma linguagem de Mickey Sabbath, que seguia os seus desejos recusando qualquer responsabilidade pelo outro. Sabbath fez essa opção deliberadamente, a Coleman foi possível fazê-la tanto pela idade, como pelo corte que destrói o final previsível da sua vida respeitável, quanto a Faunia, Faunia foi afastada de qualquer opção desde muito cedo.
O que os une?
O sexo.
nastenka-d
 
  A bolha
A obsessão pelo politicamente correcto deve ter atingido o seu auge na mesma altura em que foi feita a acusação de racismo a Coleman; nessa altura era mesmo uma bolha que, tomando proporções impensáveis e absurdas, inchou até rebentar de ridículo. Agora o que está na moda é ser politicamente incorrecto (não é preciso ir muito longe para o ver: basta dar uma volta pela blogosfera). O que me faz pensar se algumas formas de transgressão não são, também elas, mais do que bolhas...
(Mas claro que isto é uma coisa com que Philip Roth nunca terá que se preocupar...)
nastenka-d
 
  A palavra perfeita
O que queima, o que destrói a camuflagem, o disfarce e o encobrimento? É isso, é a palavra certa dita espontaneamente, sem precisarmos sequer de pensar.
E é de forma inesperada que entramos no segredo de Coleman, surdos a todas as pistas até ao momento em que a palavra desnuda. Até ao momento em que, caminhando com ele numa rua há muito abandonada, entramos num outro mundo, muito mais antigo do que este que ele agora visita. É uma das transições mais bonitas e eficientes de que me lembro; o cenário altera-se de forma quase cinematográfica, à nossa frente; e o que nos espera é tão diferente do que poderíamos imaginar que nos sentimos perder o equilíbrio. Ninguém sabe a verdade de uma pessoa, pois não?
nastenka-d
 
domingo, abril 25, 2004
  Um outro Roth
O artigo da contra-capa refere que A Mancha Humana é diferente de qualquer outro livro que Roth tenha escrito. De facto, e apesar de este ser apenas o meu terceiro contacto com o autor, percepciono uma muito menor tensão/agressividade/predação sexual (tanto Roth como Zuckerman, seu alter-ego, sofrem os problemas de impotência provocados pelas sequelas de uma cirurgia à próstata) e um descentrar do tema do judaísmo (Coleman é um falso judeu e é a sua infância num bairro e numa família de negros, e não numa comunidade judaica, que o livro retrata).

J.M.
 
  O mundo académico
Sob a sua direcção as promoções tornaram-se difíceis, e esse foi, talvez, o maior de todos os choques: as pessoas deixaram de ser promovidas automaticamente por categoria, com base no facto de serem professores populares, e não obtinham aumentos de ordenado que não decorressem do mérito.

Parece que por cá esta é uma discussão que começa a fazer-se; e que falta faria um Coleman Silk em uma ou duas universidades de prestígio, mesmo impondo uma nova ordem à força de um género de vaidade arrasadora e ego autocrático, como o que sugere a sua actuação face aos colegas...
nastenka-d
 
sábado, abril 24, 2004
  George Steiner, a propósito das tragédias gregas
“Pode ser que existam forças demoníacas dentro e fora de nós, preparadas para nos destruírem; pode ser que acabemos na escuridão, no desespero e no suicídio. E faz parte da dignidade de um homem e de uma mulher olhar de frente esta possibilidade: saber, pelo menos, que tal pode acontecer. As maiores tragédias gregas ensinam-nos constantemente essa possibilidade de pesadelo.”

J.M.
 
  Uma das Manchas
O título do livro também faz alusão à mancha que Clinton teria deixado no vestido de Monica. Ela foi o rasto deixado que provocou aquele verão explosivo de 1998 nos EUA. Um acto privado que pôs em brasa todas as puritanas mentes americanas.

J.M.
 
  Ilíada
Divina Musa, cantai da desastrosa ira de Aquiles... Começai onde eles primeiro discutiram, Agamémnon, o rei dos homens, e o grande Aquiles.
A introdução de Coleman Silk ao se curso de literatura grega antiga DHM (Deuses, heróis e Mito) aguçou-me o apetite para a Ilíada...
nastenka-d
 
  Puro veneno
Ao contrário da fatwa de Khomeini que condenou Salman Rushdie à morte, o desejo ardente de Buckley pelo castigo correctivo da castração não era acompanhado de nenhum incentivo financeiro para qualquer provável perpetrador.

nastenka-d
 
  O Verão de 98
E agora, alguém ainda se lembra de Monica?
nastenka-d
 
sexta-feira, abril 23, 2004
  Se quiser ler comentários sobre o filme
pode entrar em:

http://www.findarticles.com/cf_0/m1058/22_120/110736497/p1/article.jhtml

J.M.
 
  The Human Stain - comentários na Net
“All is forgiven, Philip! As bad and distorted as American Pastoral was, that's how good Roth's latest novel is. In telling the story of a light-skinned African American who managed to pass as white and Jewish, Roth unveils the primary sin of his own generation's assimilation into America. While Roth continues to present us with the voice of white male authority, he tells his story with elegance, wit, and intellectually provocative pleasures which make this book a terrific read.”

(http://www.findarticles.com/cf_0/m1548/4_15/63974497/p1/article.jhtml)

J.M.
 
  Referências literárias
Em “A Mancha Humana” há referências literárias diversas – a Kundera, explícitas e implícitas, por vezes quase um diálogo com cenas dos romances de Kundera, a Melville e Hawthorne (...). E faltaria ainda decifrar todas as referências à “Ilíada”, particularmente a Clitmnestra.
Mas, agora, não é isso que interessa assim tanto. Interessa que, sendo a vida de Roth, como ele diz, inventar uma biografia fingida, ou seja, desenvolver uma arte da interpretação, que será o dom fundamental do romancista, ele é magistral na maneira como nos faz saber que ninguém saiba a verdade de uma pessoa – nem essa pessoa.
E estando o livro muitíssimo bem traduzido por Fernanda Pinto Rodrigues, não há qualquer desculpa para não o lerem.

Tereza Coelho, Mil Folhas 13 de Março 2004

nastenka-d
 
  Nathan Zuckerman
Nathan Zuckerman, um dos duplos literários de Roth, tem surgiu em “My Life as a Man”, de 1974. (...) Zuckerman é definido por Roth como “um escritor que quer ser médico, representando o papel de um pornógrafo”; Roth autodefine-se como “um escritor que personifica um escritor que quer ser médico, personificando o papel de um pornógrafo”.
Zuckerman, o narrador destes romances, tem envelhecido ao mesmo tempo que o seu escritor. Na trilogia que “A Mancha Humana” encerra
[inicia-se com “Pastoral Americana” e continua com “Casei com um Comunista”] , o sexo tornou-se problemático.
Tereza Coelho, Mil Folhas 13 de Março 2004

nastenka-d
 
  Ninguém sabe a verdade
Porque é que “A Mancha Humana” é um romance prodigioso? Se quisermos uma resposta breve: porque é prodigiosamente inteligente, cruel e requintado, na forma – romanesca – como o autor nos conduz até que, sem darmos por isso, nos sentimos perder o pé no mundo a que estamos habituados, e fica apenas essa frase, que nos diz que ninguém sabe a verdade de uma pessoa, transformada numa espécie de sorriso do gato da “Alice no País das Maravilhas”.
Tereza Coelho, Mil Folhas 13 de Março 2004

nastenka-d
 
  A Mancha Humana
"Bastava sentirem o frémito de uma vida dupla"


Troti
 
  The Human Stain
Stain - a dirty mark; a patch of colour different from that of the rest of a surface, as an ink(blood) stain; a stain on one´s reputation...

in The Advanced Learner´s Dictionary of Current English


Troti
 
quinta-feira, abril 22, 2004
  “E não era capaz de o fazer. Não podia morrer, porra. Como podia partir? Como podia ir-se embora? Tudo quanto odiava estava ali.”
Morty. É engraçado que a única perda que ele nunca conseguiu superar foi a que o impediu de se matar.

J.M.
 
  “Para alguém que adora uma piada, o suicídio é indispensável.”
Achei fantástica a parte relativa ao cemitério. A escolha da sepultura (individual ou as duas?; em duas não ficaria tão apertado; e há muito espaço para esticar as pernas; mas, a vizinhança também é importante; não quero ficar longe de toda a gente; dê uma voltinha por aí e veja onde se sentirá confortável; o talhão da família, a secção dos Weizman, a companhia do capitão Schloss…), o monumento, o epitáfio, o bilhete (zangado? generoso? com ou sem citações de Shakespeare?).

“Eram inumeráveis todos os grandes pensamentos que não entendera; o que ele não tinha para dizer acerca do significado da sua vida era um poço sem fundo.”

J.M.
 
  Conclusão
Philip Roth é um escritor fortíssimo, cuja visão e génio literário são indiscutíveis. Contudo, a leitura de "Teatro de Sabbath" não me deu prazer.

Troti
 
  O Teatro de Sabbath
"Parece-me que parecer-me não devia ser difícil. A mente é a máquina do movimento perpétuo. Nunca estamos livres de nada. A nossa mente está nas mãos de tudo. O domínio pessoal é uma imensidade, meu, uma constelação de detritos comparada com a qual a Via Láctea é exígua.

...

- Nunca foi fácil dizer o que realmente és, Mickey.
- Ora, falhado serve.
- Mas em quê?
- Falhado em falhar, por exemplo"





Mickey Sabbath. Um personagem, múltiplos fantoches que jogam cada um uma vida dentro da vida, que se entrelaçam, que se confrontam, que chocam, que brigam, que amam, num emaranhado de emoções fortes, de sensações vibrantes, de confrontos de ideias, de cenas chocantes. Roth fez-me assistir a reacções impulsivas e rápidas, tristes e ternas , básicas e repulsivas, instintivas, primitivas e inesperadas de cada um destes fantoches que habitam uma só alma. Era um pára/arranca de choques eléctricos que me impulsionava de um lado para o outro; esbarrava num lado da parede e, no momento seguinte estava no lado oposto. A vertigem foi tal que me senti numa pista de carrinhos de choque, só que estes eram fantoches, cada um a empurrar-me para o seu canto para me fazer ouvir a sua voz. Cada fantoche no palco do seu teatro chamava a si a minha atenção e desconcertava o meu rumo. Vida ou morte, Sabbath?



“...o ar do mar, o sossego, o som das ondas, os dedos na areia, a ideia de que alguma coisa está por aí. Não sabemos o que é, não sabemos de que tamanho é. Não sabemos sequer se alguma vez a veremos.”


Troti
 
 
"Eram inumeráveis todos os grandes pensamentos que não entendera; o que ele não tinha para dizer acerca do significado da sua vida era um poço sem fundo. E uma coisa divertida é supérflua – o suicídio é divertido...Ele considerar-se-ia um falhado ainda maior se se apagasse de qualquer outro modo. Para alguém que adora uma piada, o suicídio é indispensável. Para um fantocheiro, especialmente, não há nada mais natural; desaparecer atrás do biombo, enfiar a mão e, em vez de actuar como ele próprio, acabar como o fantoche. Pensem nisso. Não há nenhuma maneira mais absolutamente divertida de partir. Um homem que quer morrer. Um ser vivo que escolhe a morte. Isso é entretenimento. Não haverá bilhete. Os bilhetes são uma fraude, seja o que for que escrevamos.
É pois chegado o momento da última das últimas coisas.

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Não tivera consciência de há quanto tempo ansiava por que o matassem. Não se suicidara porque estava à espera de ser assassinado.
...
-e sem ninguém para o matar a não ser ele próprio.
E não era capaz de o fazer. Não podia morrer, porra. Como podia partir? Como podia ir-se embora? Tudo quanto odiava estava ali.
( Apesar de todos os meus muitos problemas, continuo a saber o que importa na vida: ódio profundo. É uma das poucas coisas que ainda levo a sério.)"



Troti
 
 
"As emoções, quando revividas não mudam, são as mesmas, recentes e cruas. Tudo passa? Nada passa."


Troti

 
  Venha para o meu carro. Por um litro de vodka? Meio litro.
J.M.
 
 
Rogo-vos então, esquecei e perdoai. Sou velho e tonto.

nastenka-d
 
  “Sabbath tinha uma razão para viver até Sábado. Uma nova colaboradora para substituir a antiga.”
Só mais uma, só mais uma, só mais uma… a força que o move.

J.M.
 
quarta-feira, abril 21, 2004
 
"Sabbath teve a sensação de que se tornara poroso, como se o que restava do todo que fora a substância de uma pessoa, de um eu, estivesse agora a escoar-se, gota a gota. Não precisaria de dar um nó a uma corda. Esgotar-se-ia, pingaria apenas para a morte até ficar seco e desaparecer.
Afinal, a sua existência tinha sido aquilo. Que conclusões extrair? Alguma? Quem viera à superfície nele era inexoravelmente ele próprio. Mais ninguém. Era pegar ou largar."



Troti
 
 
"Sorvendo a borra da sua própria chávena, Sabbath levantou finalmente o olhar do submerso erro crasso que era o seu passado. Por acaso o presente também estava em curso, construído dia e noite..., o venerável presente que recua até à Antiguidade e prossegue a direito da Renascença até hoje – era a esse presente sempre-a-começar e interminável que Sabbath renunciava. Acha repugnante a sua inexaurabilidade. Só por isso devia morrer. E depois, que importa que tenha levado uma vida estúpida? Qualquer pessoa com alguma inteligência sabe que está a levar uma estúpida mesmo enquanto está a levá-la. Qualquer pessoa com alguma inteligência compreende que está destinada a levar uma vida estúpida porque não há outra espécie de vida"


Troti
 
 
Há um touro no Sabbath. Ele vai até ao fim...Era uma força. Um espírito livre.



“De modo nenhum! O meu fracasso é não ter sido capaz de ir suficientemente longe! O meu fracasso é não ter ido mais longe!


Quem...pode levar a sério um tipo como eu, atascado em egoísmo, com o meu desgraçado nível de moralidade e desprovido de todo o tipo de acessórios inerentes a todos os ideais certos?



Rei do reino dos sem-ilusões, imperador sem quaisquer expectativas, desanimado homem-deus da aldrabice, Sabbath ainda não aprendera que nada, mas nada, jamais resultará – e esta estupidez foi, em si mesma, um choque muito, muito grande.



Troti
 
 
"...não há protecção nenhuma.


........


Não fazemos a mínima ideia de como as coisas se vão passar."




Troti
 
 
"As parvoíces em que temos de nos meter para chegarmos onde temos de chegar, a extensão dos erros que precisamos de fazer! Se nos informassem antecipadamente de todos os erros, diríamos não, não posso fazer isso...eu sou demasiado esperto para fazer todas essas asneiras.



É um milagre não sucumbirmos por compreendermos tudo tarde de mais. Mas sucumbimos por causa disso – precisamente por causa disso"


Troti
 
 
"Não, a vida humana não pode ser extinta. Ninguém seria capaz de inventar nada parecido, outra vez."


Troti
 
 
"É preciso uma vida inteira para determinar o que importa, e nessa altura isso já deixou de existir. Bem, temos de aprender a adaptar-nos. O único problema é como."




“O principal é fazermos o que queremos fazer.”




Troti
 
  !!!!!
"Se uma mulher não endoidece por causa dos vícios do marido, endoidece por causa das suas virtudes."


Troti
 
  !!!!!
"Sente-se sempre atrádo por mulheres avariadas?
- Desconhecia que houvesse qualquer outra espécie."




Troti
 
 
“Eles não eram o único casal do mundo para quem a desconfiança e a aversão mútuas constituíam os alicerces indestrutíveis para uma união duradoira.”

"...Madamaska Falls, capital da cautela, onde a população local se contentava com o êxtase da mudança da hora duas vezes por ano."

“Tremendamente feliz. Mais outra que andava a Prozac?”

J.M.
 
  “Por um puro sentimento de estar tumultuosamente vivo, não há nada que bata o lado sórdido da vida.”
J.M.
 
  Culpa (errata)
Quando falo em culpa, aqui, não a relaciono com a noção de pecado. Esta parecia estar mais presente em Portnoy’s Complaint; aqui, onde se lê culpa talvez se deva ler responsabilidade. Aliás, sobre o pecado nada parece dizer-se, como se Sabbath não reconhecesse esta noção. (Mas poderá ser assim? Poderá qualquer um de nós, por mais laica que seja a vida que leve, esquecer a noção de pecado? Da culpa?)
Quanto à noção de responsabilidade por quem o rodeia, esta sim, parece ter sido recusada por Sabbath. Talvez seja a sua premissa de liberdade; é de certeza a de uma certa solidão. Não sendo responsável por ninguém, não pode também descansar a da sua própria vida em quem quer que seja. (Talvez Drenka, amante maternal, pudesse ter sido uma forma de redenção.) Por isso mesmo, hesito em classificar Sabbath como amoral. Sê-lo-á?
nastenka-d
 
terça-feira, abril 20, 2004
  Decadente Sabbath II
“Resististe sempre a ser um ser humano, desde o princípio.”

“Tudo quanto sempre quiseste foram bordéis e putas. Tens a ideologia de um chulo. Devias ter sido um.”

“Não lhe interessava fazer as pessoas sofrer mais do que queria que sofressem.”

“Nunca perderia o prazer simples .. de fazer com que as pessoas se sentissem desconfortáveis.”

“Havia uma espécie de excitação no modo como ele afrontava as pessoas sem se importar.”

“.. no seu coração continuava a ser o fantocheiro, um amante e mestre do ardil, do artifício e do irreal…”

“.. o talento de um homem arruinado para a temeridade, de um sabotador para a subversão, até mesmo o talento de um demente – ou demente simulado – para intimidar e horrorizar pessoas comuns.”

Mas depois paro um pouco e sinto que Sabbath nunca deixará, nem quererá, contrariar a sua retorcida natureza; um leão velho que perdeu as garras e os dentes e que tenta convencer as antigas presas de que está arrependido, para que o deixem partilhar algum resto de comida...

Um sempre decadente Sabbath, tentando desesperadamente manter o seu moribundo tesão matinal.

J.M.
 
 
Assim passava Sabbath, vendo todas as animosidades em conflito, o ignóbil e o inocente, o autêntico e o fraudulento, o odioso e o ridículo, uma caricatura de si mesmo e inteiramente ele mesmo, abraçando a verdade e cego para a verdade, acossado por ele próprio apesar de praticamente não existior aquilo a que se pudesse chamar um ele próprio, ex-filho, ex-irmão, ex-marido, ex-fantocheiro, sem a mínima ideia do que era agora ou do que procurava, se atirar-se de cabeça para as escadas, juntando-se ao substrato de vagabundos, ou render-se como um homem ao-desejo-de-não-continuar-vivo, ou injuriar e injuriar até não haver ninguém na terra não injuriado.


Troti
 
  Sabbath
"Ele era apenas alguém que se tornara feio, velho e amargurado, um entre milhares de milhões."


“Não tenho quaisquer expectativas.”


"Tentar falar sensata e razoavelmente da sua vida parecia-lhe ainda mais falso do que as lágrimas: cada palavra, cada sílaba, era mais uma traça a abrir um buraco na verdade."



Troti
 
 
Sabbath reduzia-se do mesmo modo que se reduz um molho, deixando-se espessar pelos próprios fogos para melhor concentrar a sua essência e ser desafiadoramente ele mesmo.


Troti
 
  O jogo
Na casa chic de Norman e Michelle, onde tudo parece estar tão certo, no lugar próprio e adequado; à força de Prozac, é certo, e apesar da existência de polaroids de Michelle nua (recordações de uma aventura?) escondidas juntamente com cem notas de cem dólares... A actuação de Sabbath ao jantar parece servir menos para escandalizar com o seu comportamento (depois de ter mexido nas gavetas, preparando-se para profanar a imagem de Debby, a filha não presente, enquanto vai seduzindo a esposa do anfitrião), mas sobretudo para desmascarar aquilo que nos comportamentos dos outros não é assumido.
Sabbath não é um anjo purificador, no entanto – é apenas um homem vivendo e olhando-se a si mesmo e aos outros sem contemplações. Talvez por isso o sentimento inicial, de quase repugnância por esse velho tonto se vá alterando, imperceptivelmente, em direcção a um outro, que não é bem simpatia nem identificação, mas qualquer coisa que anda entre estas; a para com uma espécie de desgosto, de náusea, por tanta coisa que ele faz, por tanta coisa que semeia em seu redor. Um pobre diabo culpado de muitas das coisas que lhe acontecem, e cuja culpa não torna menos pobre por o ser.
nastenka-d
 
  Fantoche
"Tu és Punch, artolas, o fantoche que brinca com tabus!"

...

Os fantoches conseguem voar, levitar e rodopiar, mas só as pessoas e as marionetas estão limitadas a correr e a andar...Ao passo que os fantoches...Enfiar a mão por um fantoche acima e esconder o rosto atrás de um biombo! Não existia nada que se parecesse com isto no reino animal! Desde Petruska* que vale tudo, quanto mais louco e feio melhor."


(* personagem principal dos espectáculos de fantoches russos do qual há notícias a partir do séc. XVII...)
...

"O erro está em pensar alguma vez que representar e falar é a esfera natural de qualquer outro que não seja um fantoche. A satisfação reside em ser mãos e uma voz - pretender ser mais...é loucura."


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Breve História do Teatro
de Bonecos

(Títeres)


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Boneco é uma figura humana, animal ou abstrata movimentada manualmente por uma pessoa e não por nenhum meio mecânico autônomo, sendo também conhecidos pelo nome de Títeres. Essa definição ampla abrange uma enorme variedade de gêneros teatrais e a uma grande variedade de figuras, mas não se aplica a determinadas atividades e figuras semelhantes. Uma boneca de brinquedo, por exemplo, não é um títere, e uma menina que brinca com sua boneca como se fosse um bebê de verdade não está fazendo um espetáculo de títeres. Mas se ela colocar o pai e a mãe sentados como uma platéia e fizer a boneca andar pela beira da mesa, agindo como um bebê de verdade, então estará apresentando uma forma rudimentar de teatro de títeres. Autômatos que aparecem quando o mecanismo de um relógio marca as horas inteiras também não são títeres, nem mesmo quando esses autômatos realizam ações complexas e bonitas como no relógio da catedral de Estrasburgo, na França, ou no relógio da prefeitura de Munique, na Alemanha. Ao que tudo indica, o teatro de títeres existiu em quase todas as civilizações e em quase todas as épocas. Na Europa, há registros escritos já no século V a.C. (no Symposium do historiador grego Xenofonte). Os registros escritos de outras civilizações são menos antigos, mas na China, na Índia, em Java e em muitas outras partes do Oriente o teatro de bonecos tem uma tradição tão antiga que é impossível determinar quando começou. Os indígenas norte-americanos usam tradicionalmente figuras semelhantes a títeres em seus rituais mágicos. São escassos os registros de títeres na África, mas a máscara é traço importante de quase todas as cerimônias mágicas africanas, e é difícil traçar uma linha divisória entre o títere e um ator mascarado, como veremos mais adiante. Pode-se afirmar que o teatro de títeres ou de bonecos surgiu sempre antes do teatro escrito, ou melhor, surgiu antes da própria escrita. O teatro de bonecos é um dos instintos mais antigos da espécie humana.

· Características do Teatro de Títeres ou de Bonecos

Muita gente se pergunta como uma forma tão artificial e complicada de teatro consegue ser atraente para quase todo mundo. Há quem afirme que o teatro de bonecos é a forma mais antiga de teatro, que dele é que surgiu a arte dramática. Não há como comprovar nem negar uma afirmação dessas. É pouco provável que todas as formas dramáticas da humanidade tenham sido diretamente inspiradas pelo teatro de bonecos, mas está aprovado que desde tempos muito remotos o teatro de bonecos e o teatro humano se desenvolveram lado a lado, e que muito provavelmente um influenciou o outro. A origem desses dois tipos de teatro está na magia, nos rituais de fertilidade, no instinto humano de representar aquilo que se deseja que aconteça na realidade. Ao longo do seu desenvolvimento, o teatro de bonecos foi perdendo essa origem mágica, que foi substituída por um maravilhamento infantil ou por teorias mais sofisticadas de arte e drama, mas mesmo para as platéias de hoje o fascínio do teatro de bonecos está mais perto do seu sentido mágico primitivo. Apesar de ter a mesma origem do teatro humano, o teatro de bonecos tem características especiais, que garantiram a sua sobrevivência ao longo de tantos séculos, e conservaram intacto o seu fascínio. O teatro de bonecos não é mais simples de realizar que o teatro humano; na verdade, ele é mais complicado, menos direto e muito mais exigente em termos de tempo e de trabalho. Mas depois de pronto, o espetáculo tem várias vantagens: precisa de menos gente para acontecer e é portátil; um único homem é capaz de levar um teatro completo nas costas (de um determinado tipo de bonecos), e um elenco de títeres sobrevive praticamente para sempre.... O fascínio do teatro de bonecos se encontra em um nível mais profundo. O traço mais marcante de um boneco é que ele é impessoal. Ele é um tipo, não uma personalidade. Isso ele tem em comum com o ator de máscara ou com os atores cuja maquiagem oculta o rosto como uma máscara. Por isso os bonecos têm parentesco com os personagens fixos do teatro grego e do teatro romano, com os personagens mascarados da Commedia dell'Arte renascentista, com o palhaço de circo, com o mascarado de carnaval, com o pajé, com o sacerdote. Num teatro impessoal, em que não existe a projeção da personalidade do ator, a essência do relacionamento entre o intérprete e o público tem de ser estabelecida por outros meios. A platéia tem de ser mais ativa. O espectador não pode ser mero espectador; ele tem de usar a imaginação para projetar na máscara do ator as emoções do drama. Muitos espectadores de uma peça de bonecos são capazes de jurar que viram mudanças de expressão na cara dos bonecos. Não viram nada, mas estavam tão envolvidos pela emoção da peça que sua imaginação emprestou aos títeres os seus próprios medos, risos, lágrimas. A comunhão entre o ator e a platéia é o coração e a alma do teatro, e essa comunhão pode se dar de uma maneira muito especial, na verdade muito intensa, quando o ator é um boneco. A impessoalidade dos bonecos apresenta também outras características. Ela produz uma sensação de irrealidade. Na pantomima tradicional britânica, com suas peças dos bonecos Punch e Judy, por exemplo, ninguém se importa de Punch atirar o Bebê pela janela e espancar Judy até a morte; todo mundo sabe que não é de verdade e morre de rir de coisas que seriam horripilantes se fossem representadas por atores humanos. Dizem os psicólogos que o efeito dessas peças é catártico: o instinto agressivo inato da pessoa é liberado por intermédio dessas figurinhas inanimadas.... É um erro imaginar que quanto mais realista ou natural mais eficiente será o boneco. Na maioria dos casos, o contrário é que é verdadeiro. Um boneco que simplesmente imita a natureza, jamais conseguirá ser igual à natureza; o boneco só se justifica quando acrescenta alguma coisa à natureza - por seleção, por eliminação ou por caricatura. Alguns bonecos muito eficientes são extremamente rústicos: em Liège, na Bélgica, por exemplo, existe uma tradição de bonecos cujos movimentos de braços e pernas não são controlados, são puramente acidentais. Os bonecos rajasthani da Índia nem pernas têm. Ainda menos naturalistas são as figuras grotescas dos corcundas da tradição européia, dos perfis aduncos do teatro de sombras da Indonésia, e os intrincados recortes de couro usados na Tailândia, mas é justamente nessas formas altamente estilizadas de bonecos que essa arte atinge sua mais alta expressão. Esses bonecos que se afastam radicalmente da natureza são admiráveis, mas não se pode negar o encanto e fascínio que existe na miniaturização da vida. Boa parte do encanto do teatro de bonecos vem do prazer que o espectador sente em observar um mundo em miniatura... A apreciação instintiva dessas características marcantes do teatro de bonecos muitas vezes se soma à admiração despertada pela capacidade humana de fabricar e manipular as figurinhas. Geralmente, o manipulador fica invisível; sua arte consiste em esconder sua arte, mas a platéia sabe que ele está ali, e isso aumenta a emoção da situação dramática.

· Tipos de Bonecos

Existem muitos tipos de bonecos. Cada tipo tem suas características específicas, e exige sua linguagem dramática especial. Certos tipos só se desenvolvem sob determinadas condições culturais e geográficas. Os tipos mais importantes são assim classificados:

· FANTOCHES: bonecos de mão ou de luva

Esse tipo possui corpo de tecido, vazio, que o manipulador veste na mão; ele encaixa os dedos na cabeça e nos braços para movimentá-los. A figura é vista só da cintura para cima e geralmente não tem pernas. A cabeça pode ser feita de madeira, papier-maché, ou borracha, as mãos são de madeira ou de feltro. O modo de operação mais comum é usar o dedo indicador para a cabeça, e o polegar e o dedo máximo para os braços. As variantes, porém, são muitas. Esse método de "três dedos" é usado para figuras do tipo Punch; isso permite que o boneco segure bem pequenos objetos de cena, coisa muito útil para que possa manejar o porrete, parte tão importante de seus espetáculos, mas que tende a produzir um efeito capenga, com um braço mais alto que o outro. Em geral, o operador trabalha com o braço esticado acima da cabeça, dentro de uma cabine estreita com uma abertura acima da altura média de um homem. A maioria dos heróis folclóricos do teatro de bonecos tradicional da Europa é de bonecos de mão ou fantoches; a cabine é bem fácil de transportar, e a peça inteira pode ser apresentada por um único artista... A vantagem do fantoche ou boneco de mão é a sua agilidade e rapidez; a limitação é seu tamanho reduzido e os movimentos de braços pouco eficientes.

· BONECOS DE VARA - ...

· MARIONETES OU BONECOS DE FIO - ...

· FIGURAS PLANAS - ...

· TEATRO DE SOMBRAS - ...


· OUTROS TIPOS - ...

· Estilos de Teatro de Bonecos

O teatro de bonecos tem diversos estilos, sendo apresentado a todo tipo de platéia. Ao longo da história, a sua forma principal foram as peças folclóricas ou tradicionais apresentadas a platéias populares. Os exemplos mais conhecidos são os espetáculos curtos desenvolvidos em torno de heróis cômicos nacionais ou regionais. Pulcinella, por exemplo, era um personagem humano na Commedia dell'Arte italiana e só começou a aparecer nos palcos de bonecos no começo do século XVII; ele foi levado a todos os países da Europa pelos titeriteiros italianos e em toda parte foi adotado como um novo personagem das galerias de personagens locais, com seu nariz de gancho e sua corcunda. Na França, ele se transformou em Polichinelo, na Inglaterra em Punch, na Rússia em Petrushka, e assim por diante. Na época da Revolução Francesa, final do século XVIII, novos heróis nacionais destronaram os descendentes de Pulcinella nos palcos da Europa: na França, foi Guignol; na Alemanha, Kasperl; na Holanda, Jan Klaassen; na Espanha, Christovita; e assim por diante. .. Os temas e assuntos dramáticos usados por esses bonecos populares, às vezes são bíblicos, às vezes baseados em lendas folclóricas, às vezes sagas heróicas. O Teatro Toone, de Bruxelas, por exemplo, até hoje apresenta uma Paixão de Cristo; na Alemanha, a lenda do Fausto é um tema clássico do teatro de bonecos, e na França as Tentações de Santo Antônio; e nos teatros de bonecos da Sicília e de Liège, os poemas do poeta renascentista italiano, Ariosto, transformados por muitas fontes populares, fornecem material para espetáculos cavalheirescos. Na Ásia, essa mesma tradição de fontes lendárias e religiosas fornecem material para o repertório do teatro de bonecos. As mais importantes dessas fontes são os poemas épicos hindus Ramayana e Mahabharata, presentes nas peças do teatro de bonecos do sul da Índia e da Indonésia. Ao lado desses espetáculos essencialmente populares, o teatro de bonecos foi, em determinados períodos da história, considerado uma forma de diversão altamente moderna. Na Inglaterra, por exemplo, o Teatro de Punch, em Covent Garden, Londres, dirigido por Martin Powell entre 1711 e 1713, constituiu uma grande atração para a alta sociedade, sendo freqüentemente citado em cartas e no jornalismo dessa época. Na Itália, um magnífico teatro de bonecos foi fundado no Palácio da Chancelaria, em Roma, em 1708. Ali, Scarlatti e outros importantes compositores apresentaram óperas especialmente compostas para bonecos. Na Austro-Hungria, o compositor Josef Haydn, era contratado como residente para escrever óperas para o teatro de bonecos construído pelo príncipe Esterházy por volta de 1770. Na França, as sombras chinesas de François-Dominique Seraphin funcionavam no Palais-Royal, no coração da Paris elegante de 1781. O cenógrafo italiano Antônio Bibiena pintou os cenários para um teatro de marionetes que pertencia a um jovem príncipe de Bolonha que se apresentou em Londres em 1780. Belos teatros de bonecos conservados no Museu Bethnal Green de Londres e no Museu Cooper-Hewitt em Nova York revelam a elegância desses teatros de bonecos do século XVIII. No século XVIII, na Inglaterra, diversos autores começaram a usar o teatro de bonecos como um importante veículo para a sátira: Henry Fielding, Samuel Foote, Charles Dibdin, por exemplo. Na França, o teatro de bonecos esteve muito em voga entre os literatos durante a segunda metade do século XIX, quando George Sand criou um grupo de titeriteiros.... O teatro de bonecos do Japão entrou para a história da literatura com as peças de Chikamatsu Monzaemon (1653-1725). Esse autor, conhecido como o Shakespeare do Japão, pegou a forma dos rústicos dramas para bonecos que já existiam e transformou esse tipo de texto em uma forma superior de arte, com mais de uma centena de peças...Na Europa, o movimento da arte dos bonecos prosseguiu no século XX, desenvolvido por artistas vinculados à Bauhaus, a importante escola de design alemã. Eles pregavam o teatro "total" ou "orgânico". Um de seus professores mais ilustres, o pintor suíço Paul Klee, criou figuras muito interessantes para um teatro de bonecos doméstico, e outros projetaram marionetes que refletiam as idéias do cubismo. O grande homem de teatro inglês Gordon Craig considerava o teatro de bonecos um meio vigoroso para a expressão artística do teatro. No período entre as duas Guerras Mundiais, e ao longo das décadas de 1950 e 1960, muitos artistas enfrentaram grandes dificuldades econômicas para provar que o teatro de bonecos podia significar divertimento de alta qualidade artística para platéias adultas. As marionetes do Teatro de Arte de Munique, Alemanha, por exemplo, eram exemplos deslumbrantes da tradição germânica do entalhe em madeira. Na Áustria, o Teatro de Marionetes de Salzburg especializou-se nas óperas de Mozart e desenvolveu alto grau de naturalismo e perfeição técnica na movimentação dos bonecos. Na Tchecoslováquia, país que tem uma grande tradição de bonecos, o teatro de marionetes de Josef Skupa alterna números musicais com esquetes satíricos.... Na França, Fernand Léger é um dos muitos artistas importantes que trabalharam com o grupo Les Comédiens de Bois [Os atores de madeira]..... Durante o século XX, predominou a tendência de considerar o teatro de bonecos como uma forma de entretenimento infantil....

http://www.leidevonlins.hpg.ig.com.br/index_center_teatroboneco.htm



Troti
 
  Decadente Sabbath I
“Se não houvesse guerra, loucura, perversidade, doença, imbecilidade, suicídio e morte, era provável que se encontrasse em muito melhor forma. Pagara o preço máximo pela arte, e todavia não fizera nenhuma. (…) Ele era apenas alguém que se tornara feio, velho e amargurado…”

“E nem ele próprio sabia se o choro era um fingimento ou a medida do seu infortúnio.”

“Tentar falar sensata e razoavelmente da sua vida parecia-lhe ainda mais falso do que as lágrimas…”

“Estava exaurido de cepticismo, cinismo, sarcasmo, acrimónia, escárnio, auto-escarnecimento, e da dose de lucidez, coerência e objectividade que possuía – esgotara-se nele tudo o que o caracterizava como Sabbath, excepto o desespero – esse tinha-o em excesso. (…) Havia intensa emoção no seu choro – terror, grande tristeza e derrota.”

“..erotomania correndo desenfreadamente para a tragédia.”

“Olha para ti agora. A transformar a própria morte numa farsa. (..) nem matar-te farás com dignidade.”

“Ficaria com 750 dólares, ao todo. De súbito, tinha menos 30% a 50% de motivos para morrer.”

Ao ler estas passagens, em que a fragilidade de Sabbath é exposta de uma forma tão nítida e pungente, quase me convenço de que tudo se trata, com efeito, de uma tentativa de redenção.

J.M.
 
  “O Teatro Indecente de Sabbath”
“Mas longe de se sentir decepcionado com a maligna simetria de, passados 30 anos, se encontrar mais uma vez na rua com o chapéu na mão, experimentava a divertida sensação de ter regressado cega e sinuosamente ao seu próprio grande projecto. E era forçoso chamar a isso um triunfo: pregara a si mesmo a partida perfeita.”

J.M.
 
  Estava a precisar de um Sabbath depois de Proust
Sabbath não é nenhum santo, longe disso, mas é impossível não gostar dele. A sua energia, fúria e vitalidade são maiores que o mundo.
Gosto dele sobretudo porque não mente a si próprio.

Joana
 
segunda-feira, abril 19, 2004
 
"E no entanto estivera o tempo todo a olhar, do alto do décimo oitavo andar, para a mancha verde do parque e a pensar que chegara o momento de saltar. Mishima. Rothko. Hemingway. Berryman. Koestler. Pavese. Kosinski. Arshile Gorki. Primo Levi. Hart Crane. Walter Benjamin. Um grupo ímpar. Não havia nada de desonroso em assinar aquela lista... Eu seria o primeiro fantocheiro.
A lei da vida: instabilidade. Para cada pensamento um contrapensamento, para cada anseio um contra-anseio. Não admira que um tipo dê em maluco e morra ou decida desaparecer. Anseios a mais, e isso não é sequer um décimo da história.
...
Sabbath encontra o seu igual: a vida. O fantoche és tu. O truão grotesco és tu..."



Troti
 
 
"Tudo fica para trás, a começar por quem somos, e a certa altura indefinível acabamos por compreender parcialmente que o implacável antagonista somos nós mesmos."


Troti
 
 
“Estaria a mãe a prestar atenção à sua história?...
...
”Não seria difícil, naquele rio.”
...
Mas não antes de eu ver o Linc, Mãe... Tinha de ver a impressão que causava, o resultado final, antes de ele próprio fazer o mesmo.
E esta foi a primeira vez que percebeu, ou admitiu, o que tinha de fazer. O problema que era a sua vida nunca seria resolvido. A sua vida não era do género em que há objectivos e meios claros e em que é possível dizer. “Isto é essencial e aquilo não é essencial, não farei isto, porque não o posso suportar, e farei aquilo, porque o posso suportar.” Não havia maneira de desenredar uma existência cujo desgoverno constituía a sua única autoridade e proporcionava a sua principal distracção. Queria que a mãe compreendesse que ele não pretendia atribuir as culpas da inutilidade à morte de Morty, ou ao colapso dela, ou ao desaparecimento de Nikki, ou à sua estúpida profissão, ou às suas mãos artrosadas. Estava simplesmente a contar-lhe o que tinha acontecido antes disso ter acontecido. É só isso que podemos saber, embora se, por acaso, o que pensamos que aconteceu nunca combina com o que a outra pessoa qualquer pensa que aconteceu, como podemos dizer que sabemos sequer isso? Toda a gente interpretava tudo mal.
...
Sem casa, sem mulher, sem amante, sem cheta...lança-te ao rio gelado e afoga-te. Sobe para a floresta e adormece, e amanhã de manhã, se chegares a acordar, continua a subir até te perderes.
...
E com quem pensava ele que estava a falar? Uma alucinação auto-induzida, uma partida da razão, uma coisa que lhe permitia ampliar a inconsequência de uma trapalhada sem sentido: era isso que a sua mãe era, mais um dos seus fantoches, o seu último fantoche, uma marioneta invisível a voar por ali manejada por fios invisíveis, a representar o papel não de um anjo-da-guarda, mas do espírito defunto a preparar-se para o transportar para a sua última morada. Um grosseiro instinto teatral emprestava um espalhafatoso toque patético de drama de última hora a uma vida que dera em nada."



Troti
 
 
"- Mais cedo ou mais tarde, acabas por achar qualquer mulher chata.
A Drenka não. A Drenka nunca."



"Sem Drenka era insuportável: ele não tinha uma vida a não ser no cemitério."



Sem Drenka, ele era um fantoche.


Troti
 
 



Otto Dix
Der Salon I, 1921

Troti
 
 



Otto Dix
KUPPLERIN (THE MADAM) 1923
lithograph in colors on paper
32 x 27 1/4" framed
Private Collection
 
 



Otto Dix, Card Playing War Cripples, 1920
 
 



Otto Dix (German, 1891-1969), Erinnerung an die Spiegelsäle von Brüssel (A Memory of the Glass House in Brussels), 1920, oil and glass on a sheet of silver on canvas, 124 x 80.4 cm, Georges Pompidou Center, Paris
 
  II



Otto Dix, Leonie, 1923
Farblithographie


Troti
 
 


Otto Dix, »Die sieben Todsünden«, 1933. Staatliche Kunsthalle Karlsruhe
 
 



Otto Dix
Artist's Lifespan: 1891-1969
Title: Cardplaying War-Cripples
Date: 1920
 
 



Women with Candles.
no date
lithograph, 11.5 x 8.5 inches


 
  Imagens de Otto Dix - I


Otto Dix, The Journalist Sylvia Von Harden, 1926, oil and tempera on wood, 121 x 89 cm, Georges Pompidou Center, Paris.



 
 
Author Name: Roth, Philip

Title: SABBATH'S THEATRE.
Binding: Hard Cover
Edition: First Edition
Size: 8vo - over 7¾'' - 9¾'' tall
Publisher: Ontario McClelland & Stewart, Inc. 1995
ISBN Number: 0771075863
Illustrator: Otto Dix (jacket painting)

Seller ID: 836
8vo. 451 pgs. Near Fine hardcover First Edition in Near Fine jacket. Black boards, black cloth spine. Dust jacket cover art by Otto Dix ''Sailor and Girl'' (1925). A farcical tale. ISBN 0771075863. #836.





Otto Dix
Matrose und Madchen (Sailor and Girl)
color lithograph
1923
490 x 373 mm


Não é em vão que Roth aborda o nome de Otto Dix na sua narrativa, o pintor que lhe fornece esta sugestiva imagem, um pintor de manchas violentas, satíricas, cujas personagens parecem fantoches.


Troti
 
  Normalidade Sabbathiana
Ele não resiste a prostitutas, e acha normal. Ele despe pessoas na via pública, e acha normal. Ele masturba-se com a lingerie da filha do amigo, no quarto desta, e acha normal. Ele coscuvilha por entre as coisas da filha do amigo, no quarto desta, e acha normal. Ele é apanhado pelo amigo, na casa-de-banho, com a fotografia da filha deste na mão, e acha normal. Ele atira-se à mulher do amigo, na casa onde eles lhe deram guarida, e acha normal. Ele é apanhado, pelo casal que o acolheu, com as cuecas da filha destes no bolso das calças, e acha normal. Eu, não acho nada, mas mesmo nada, normal.

J.M.
 
  Fugir (ou como se incomodam as consciências adormecidas)
O plano para partir. Quem não tinha um? É uma coisa que se vai desenvolvendo tão tortuosamente como os testamentos de gente com bens, reescritos e revistos de seis em seis meses. Irei ficar com esta; não, irei ficar com aquela; este hotel, aquele hotel, esta mulher, aquela mulher, duas mulheres diferentes, nenhuma mulher, nenhuma mulher, nunca mais! Abro uma conta secreta, ponho o anel no prego, vendo os títulos... Mas depois chegam os sessenta, os sessenta e cinco, os setenta, e que diferença faz, agora? Vão partir, isso é garantido, mas desta vez vão partir a sério.

nastenka-d
 
  O centro do mundo
Uma das coisas que mais me agrada neste livro de Roth é que, para além de nos mostrar Sabbath numa visão ao mesmo tempo aproximada e global, nos dá aqueles que vivem ao seu lado não como meros satélites da sua vida, importantes apenas na medida em que o são para a acção, mas como personagens, pessoas, com vida própria, vida outra; vida que não cabe nas páginas deste livro mas que ele nos deixa perceber a existência; vidas que apenas se tocam e sobrepõem à de Sabbath. Também a nossas vidas são como esferas cujo centro é cada um de nós, e que apenas se intersectam e partilham secções de dimensão variável. E isso lê-se aqui.
nastenka-d
 
domingo, abril 18, 2004
 
Fora a sua parceira com os fantoches durante anos...Pouco a pouco estava a esculpir cabeças de fantoches para Sabbath....Roseanna, a recicladora do mundo...Para ela, um fantoche era uma pequena obra de arte, era, mais ainda do que isso, um encantamento, uma coisa mágica no modo como conseguia que as pessoas se lhe entregassem, mesmo no teatro de Sabbath, onde a atmosfera era sugestivamente antimoral, vagamente ameaçadora e, ao mesmo tempo, travessamente divertida. “As tuas mãos estão exactamente onde está o coração do fantoche. Eu sou a carpinteira e tu és a alma.”


Troti
 
 
“Ah, e as palavras que ela usava! “E depois houve um debate e partilhámos a respeito daquele passo específico...” “Ainda não partilhei isso muitas vezes...” “Muitas pessoas partilharam a noite passada...” O que ele odiava, do mesmo modo que a gente boa odeia foder, era partilhar. Não tinha uma arma, mesmo ali nos montes ermos onde viviam, porque não queria ter uma arma numa casa onde a sua mulher falava diariamente de “partilhar”.
...
A palavra confortável era também um dos motivos por que ele não tinha uma
arma.”


Troti
 
  Roseanna e Sabbath
“O que Roseanna odiava mais em Sabbath? O que Sabbath odiava mais em Roseanna? Bem, os motivos foram mudando com os anos. Durante muito tempo, ela odiou-o por ele se recusar a considerar, sequer, terem um filho, e ele odiou-a por ela passar a vida a lamentar-se ao telefone, com a irmã, Ella, acerca do seu “relógio biológico”....Quando os seus anos de poder ter filhos ficaram para trás, Roseanna pôde apontar com mais precisão o seu ódio e desprezá-lo pelo simples facto de existir, mais ou menos da mesma maneira que ele a desprezava por existir....Ela odiava o facto de ele disparar constantemente pela porta fora sem uma explicação, de sair a todas as horas do dia e da noite, e ele odiava aquela sua gargalhada artificial, que escondia simultaneamente tanto e tão pouco, aquela garghalhada que às vezes soava como um zurro, outras como um uivo e outras como um cacarejo, mas que nunca, nunca por nunca ser, tinha o timbre do prazer genuíno...Ambos achavam repulsivo um vislumbre, que fosse, do outro despido...Tinham permanecido juntos na mesma casa porque, durante todos aqueles anos, ela andara tão atarefada a beber que não sabia o que se estava a passar, e também porque ele tinha conhecido Drenka. Isso contribuía para uma união muito sólida...À noite, porém eram ambos felizes, Roseanna com o seu branco seco e Sabbath no carro, algures, ao encontro de Drenka."


Troti
 
  Segredos
“Uma pessoa é tão doente como os seus segredos.
Não era a primeira vez que ele ouvia esta máxima sem sentido, superficial e estúpida.
- Errado – respondeu...uma pessoa é tão temerária como os seus segredos, tão execrável como os seus segredos, tão solitária como os seus segredos, tão sedutora como os seus segredos, tão vazia como os seus segredos, tão perdida como os seus segredos; uma pessoa é tão humana...
- Não. Uma pessoa é tão desumana, inumana e doente. São os segredos que nos impedem de encarar o nosso ser interior. Não podemos ter segredos – disse com firmeza a Sabbath – e alcançar a paz interior.
- Bem, como fabricar segredos é a principal indústria da espécie humana, isso encarrega-se da paz interior.”


Troti
 
  Persistente
"O cerne da sedução é a persistência. Persistência, o ideal jesuíta. Oitenta por cento das mulheres cedem sob tremenda pressão, se a pressão for persistente."


Troti
 
  “Sabbath Absconditus, o que lhe aconteceu? A sua vida foi uma longa fuga de quê?”
“…os fantoches, que nunca tinham que fingir, que nunca representavam…”

“Sabbath simplificara a sua vida e relegara os outros interesses para as margens do foder (…) para um homem da sua estatura, tinha sido inverosimilmente bem sucedido. O Ascético Mickey Sabbath já sexagenário e ainda a dar-lhe. O Monge da Fodição. O Evangelista da Fornicação.”

“O seu único talento era aquela estúpida habilidade com as mãos, e estas já não prestavam para nada.”

“O problema que era a sua vida nunca seria resolvido. A sua vida não era do género em que há objectivos e meios claros e em que é possível dizer: “Isto é essencial e aquilo não é essencial, não farei isto, porque não o posso suportar e farei aquilo, porque o posso suportar”. Não havia maneira de desenredar uma existência cujo desgoverno constituía a sua única autoridade e proporcionava a sua principal distracção.”

“…Sabbath só falava italiano depois e, simplesmente pelo gozo que lhe dava. A mesmíssima razão por que criara o Teatro Indecente de Manhattan. A mesmíssima razão por que se inscrevera seis vezes para a Rota Romântica. A mesmíssima razão por que fizera praticamente tudo desde que saíra de casa sete anos antes. Queria fazer o que lhe apetecia. Essa era a sua causa.”

“Há anos que não lia um jornal nem ouvia os noticiários.. as notícias não lhe diziam nada. As notícias serviam para as pessoas terem assunto de conversa, e ele, indiferente ao rumo não transgressivo das actividades normalizadas, não desejava conversar com ninguém (…) Sabbath reduzia-se do mesmo modo que se reduz um molho, deixando-se espessar pelos próprios fogos para melhor concentrar a sua essência e ser desafiadoramente ele mesmo.”

J.M.
 
  Oh, really?????
“E qual é a sensação, depois de quatro homens?
….
Aquilo tinha-me deixado perturbada, inquieta e com a impressão de não saber a quem pertencia.”

J.M.
 
  A importância dos inícios
Que chatice somos um para o outro – ao mesmo tempo que não existimos realmente um para o outro, somos espectros irreais comparados com quem quer que no início sabotou a confiança sagrada.

nastenka-d
 
  Roseanna
Sabbath imaginara o diário de Roseanna como sendo principalmente uma arenga contra ele.
Como cada um de nós, Sabbath imagina-se o centro do mundo... Não só do seu mundo, mas do mundo dos outros.
Também por isso não creio que ele tenha sentido qualquer empatia ao ler o diário de Roseanna. Sabbath parece uma daquelas pessoas que não consegue, ou não quer, identificar-se de modo algum a qualquer outra. Como se viver tão completamente a sua vida lhe fizesse ver a dos outros como uma narrativa estranha, ininteligível.
A dúvida que me resta, em relação a este episódio, é a de saber se Sabbath escreveu a carta em nome do pai de Roseanna, evidente agressão a esta, por vingança, por não se ver como o causador de todos os seus males, ou apenas por tédio. Para fazer algo enquanto esperava.
Inclino-me mais para esta hipótese...
nastenka-d
 
  A Mãe
Morty era o melhor irmão mais velho do mundo. Após a sua morte, a mãe não se levantou da cama durante quase um ano. Essa mãe que, depois de morta, cercava Sabbath por todo o lado, até ao ponto de ele se perguntar se esta se teria aninhado dentro de Drenka.

J.M.
 
sábado, abril 17, 2004
  “O imenso mundo do putedo”
Que mistério para mim é este tão lastimável gosto.

J.M.
 
  Mickey Alexander Sabbath Portnoy
«Quando em 1946, aos dezassete anos, em vez de esperar um ano para ser recrutado, Sabbath foi para o mar poucas semanas depois de terminar a escola secundária, fê-lo motivado tanto pela necessidade de fugir à despótica tristeza da mãe - e à patética prostração do pai -, como por uma ânsia insatisfeita que começara a ganhar força nele desde que a masturbação tomara praticamente conta da sua vida, um sonho que que transbordava em enredos de perversidade e excesso mas que agora, vestido de marinheiro, iria encontrar coxa-com-coxa, boca-com-boca, rosto-com-rosto: o imenso mundo do putedo»

Ou melhor...Mickey-Alexander-Sabbath-Portnoy-Roth.


Leitora
 
 
“E quem sobrevive sobrevive e quem não sobrevive não sobrevive.” Objecções?...

“Nada no mundo cumpre a sua promessa.”

“Não podemos ter segredos e alcançar a paz interior.”

“…olhos que … não nos diziam nada, mas não nos diziam nada com uma eloquência enorme.”

J.M.
 
  Portnoy´s Complaint
Peço imensa desculpa por estar atrasada, mas foi impossível deixar as minhas impressões na data devida.


“O único lugar para um judeu viver é entre judeus...”

“Éramos judeus – e não tínhamos vergonha de o dizer!... Éramos judeus – e éramos superiores!”

“Só Muito Bons na escola...mas na vida continua a ser tão ignorante como no dia em que nasceu.”

“Nunca me vais deixar, meu bebé, não vais deixar a mamã, pois não? Nunca, respondia eu, nunca, nunca...”

“Porque o que importava, doutor, não era ser-se o melhor central do mundo, mas apenas saber exactamente, até ao mais ínfimo pormenor, como é que um central devia comportar-se....Porque é que não posso viver agora como vivia para os Seabees lá no campo de jogos! Oh, ser um central, um central e nada mais!”

“Para que servem, no fundo – pergunto eu – todas essas regras e proibições dietéticas, senão para nos dar a nós, criancinhas judias, o hábito da repressão? ...A inibição não cai assim do céu, sabe – requer paciência, requer concentração, requer um pai ou mãe dedicados e cheios de espírito de sacrifício e uma criancinha esforçada e atenta para criar, no espaço de poucos anos, um ser humano verdadeiramente tolhido e servil...A vida é feita de limites e restrições, centenas de milhares de regrazinhas estipuladas por Alguém que não é Ninguém, regras a que temos de obedecer sem hesitar, por muito idiotas que nos pareçam...ou que transgredimos porque mesmo uma criança não gosta de andar por aí a sentir-se um perfeito anormal e um idiota...Autodomínio, temperança, sanções – eis a chave da vida humana, dizem todas essas inúmeras leis dietéticas.”

“Será realmente possível que eu tenha detestado tanto esta infância e alimentado contra os meus pobres pais um ressentimento tão grande como o que agora pareço ter, olhando para trás, para aquilo que fui, do alto daquilo que agora sou – e não sou?”

“Será que sinto realmente esta turbulência, esta excitação, como uma doença – ou como uma proeza? Ambas as coisas? É possível. Ou será apenas uma forma de evasão?”

“Quando acabará isto? E, já agora, porque é que há-de acabar? Para contentar pai e mãe? Para me conformar à norma?...E então, qual é o crime? A liberdade sexual? Nos tempos que correm?...Talvez me corra nas veias o sangue da boémia – mas isso é assim tão terrível? Quem é que eu prejudico com os meus desejos?...Mas porque é que eu hei-de ter de me explicar? De me desculpar?...Tenho desejos, portanto – só que são infinitos. Infinitos!”

“Acabo sempre por não conseguir dar o tal passo do casamento. Mas porque havia de o fazer?

“Estou marcado da cabeça aos pés pelas minhas repressões, como um autêntico mapa das estradas. As auto-estradas da vergonha, da inibição e do medo atravessam-me o corpo todo.”

“...que boa parte da vida é sacrifício e autodomínio é um facto que nem mesmo um tarado sexual pode permitir-se ignorar.”

“Mas o doutor não vê que o meu juízo perfeito é apenas outra maneira de dizer os meus medos! O meu juízo perfeito é simplesmente essa herança de terror que trago comigo do meu passado ridículo!”

“...a autoflagelação comigo anda sempre por perto....”

“Ainda continuo a lutar com a minha família!...porque é que hoje vivo sózinho e não tenho filhos?...Não faz sentido! Ora pense nisto, já a corrida vai a meio e eu continuo aqui na linha de partida...e continuo a discutir com as autoridades as regras e os regulamentos! a discordar do percurso da corrida! A pôr em causa a legitimidade dos organizadores da prova! Sim, mãe, tens toda a razão para me chamares”Azedo”!

“Oh, por amor de Deus, eu sou o rapazinho judeu mais excelente que alguma vez existiu! Ora repare só nas fantasias, que doces e puras que elas são! Gratidão para com os meus pais, lealdade à minha tribo, dedicação à causa da
justiça!...Como é que me tornei um tamanho inimigo de mim próprio? E tão sozinho! Só eu, eu e mais nada! Prisioneiro dentro de mim!”

“Mas será isto a dor humana? Julguei que fosse uma coisa mais elevada! Sofrimento digno! Sofrimento com sentido...Nunca me passou pela cabeça que o meu destino se resumiria a tentar salvar da escravidão o meu pirilau e nada mais. LARGUEM-ME A PICHA! Aí tem a divisa do Alex Portnoy. Toda a história da minha vida condensada em três palavrões heróicos. Uma fantochada!”

“Sonhos? Se ao menos fossem sonhos! Mas eu não preciso de sonhos, doutor, por isso é que não os tenho – porque tenho esta vida em vez deles. Comigo passa-se tudo às claras O exagero e o melodrama são o meu pão de cada dia! As coincidências dos sonhos, os simbolos, as situações assustadoramente cómicas, as futilidades do mais estranho mau agoiro, os acidentes e humilhações, os golpes de sorte ou de azar bizarramente oportunos que as outras pessoas vivem de olhos fechados, acontecem-me a mim de olhos abertos!”

“Porquê, porque é que não posso ter um bocadinho de prazer sem a sombra do castigo a perseguir-me e a tolher-me? Animal? Quem, eu? E de repente a coisa torna a acontecer, vejo-me empalado num passado muito antigo, no que foi, no que nunca há-de ser!...A minha infância interminável! De que eu não abro mão – ou que não abre mão de mim! Que é o meu problema!”

“Dá-me vontade de gritar, esta desproporção absurda de culpa! Posso, doutor?...Porque talvez seja isso que mais falta me faz, berrar.”



Em relação ao título, gostava de salientar que prefiro o conceito de “Complaint” – dor , do que Complexo, porque sinto que o livro é, de facto, uma poderosa lamentação.
Sob a máscara de uma sexualidade obsessiva, surgem diante de nós os aspectos mais relevantes da vida desde a infância até à idade adulta, as relações familiares, as dificuldades da educação, a descoberta do eu, a afirmação pessoal, as escolhas e os caminhos, as portas fechadas.
O eterno problema do conflito de gerações e a tomada de consciência de uma identidade racial têm , neste livro, um papel fulcral e determinam toda a condição de um ser humano na sua evolução como ente pensante e participativo.
O sexo nesta narrativa é uma fachada.


Troti

 
  Drenka
Drenka decidiu querer a monogamia de Sabbath, pese embora, nas palavras deste, se sentisse repugnada pela “natureza ostensivamente monogâmica” do marido. Vá-se lá querer entender as pessoas… Drenka era bonita “de uma maneira eficiente e prática”. Agradava-lhe fingir ser sua prostituta. Mulher de tendência imoderada, a quem ele, pacientemente, ajudara a “afastar-se da sua vida ordenada e descobrir a indecência para complementar as carências a sua dieta habitual.” Depois de ter que aguentar com o marido, dormia um pouco, acordava agoniada, vomitava.

“Dentro daquela mulher havia alguém que pensava como um homem. E o homem como o qual ela pensava era Sabbath.” Para Drenka, a vida era impensável sem Sabbath. Para Sabbath, a vida era impensável sem Drenka. Ela lembrava-se de todos os pormenores das fantasiosas histórias de Sabbath. Ele lembrava-se de todos os pormenores das reais histórias de Drenka.

Agora que Drenka estava morta, tinha ciúmes dos homens da vida dela e “sentia-se como o mais estupidamente ingénuo dos maridos quando descobre a verdadeira história de uma mulher infiel.” “”Eu sou Drenka! Eu sou Drenka!!” Estava a acontecer uma coisa horrível a Sabbath.”

Uma mulher com uma vida aparentemente convencional e, no entanto, “não devia haver cinquenta (como ela) no país inteiro.”

“A mais mulher das mulheres.”

J.M.
 
  Kathy
É uma espécie de Monkey, apenas o retrato parece mais desenhado. Uma mulher que manipula: que se reserva, por não assumir como seu um desejo, no momento em que mais lhe interessa, o direito de se reclamar seduzida, enganada, abusada. Sim, é certo que Sabbath sabe como ninguém explorar os desejos escondidos e mais ou menos inconfessáveis que em cada um habitam (vamos ter mais notícias desta sua capacidade); mas são de cada um, estes desejos.
Não sei se é lícito identificar Sabbath com Roth (talvez aquele seja mais um dos seus alter-egos); se sim, este deve ter-se cruzado muitas vezes com mulheres assim. Talvez haja muitas; talvez haja um pouco delas em cada um de nós.
nastenka-d
 
 
“(Roseanna) bebia como uma desalmada pelas suas duas incontestáveis razões: tudo o que não tinha acontecido e tudo o que tinha acontecido.”

Mas era melhor viver numa casa com uma mulher chata do que numa valeta. Talvez valesse a pena prostituir-se…

J.M.
 
  Drenka
Indecência? Quem sabe? Faz o que te apetecer, disse Sabbath, e ela fez e gostou, assim como gostou de lhe ouvir quanto gostara – o que não ficava atrás do quanto ele gostava de a ouvir falar disso.
Drenka parece ser o que Monkey nunca foi, o que muitas mulheres não são: uma integração entre a amante e a mãe (sim, porque a imagino como uma figura maternal), sem receios ou inibições em ser o que é e o que deseja. Indecência? Quem sabe?
nastenka-d
 
sexta-feira, abril 16, 2004
 
Não tinha a mínima ideia para onde ia nem do que estava a fazer


Alguma vez poderia ter sido diferente?


Leitora
 
  Horror aos estereotipos
Drenka. 52 anos. Objecto de desejo sexual intenso. 52 anos. Incomparável, incontornável, imparável Drenka. Não são 20, nem 30, nem 40 anos. São 52. E a libido continua lá. E o poder de atracção. E a capacidade de permanecer na memória de um homem como mulher inteira. 52 anos. Muito bem, Sr. Roth.

J.M.
 
  Psicopata Americano
Se calhar não vem muito ao caso, mas apetece-me imenso dizer que, a propósito de taras sexuais, atingi um importante limite ao ler “Psicopata Americano”.

Se recomendo a leitura? Só se quiserem tomar conhecimento de mais uma das inimagináveis fronteiras da anormalidade humana. Porque o fígado de Roth não chega aos calcanhares da ratazana de Bret Easton Ellis…

J.M.
 
  Punch line
Ou deixas de foder outras ou está tudo acabado.
Respiro fundo. Depois do longo monólogo de Alexander Portnoy, a última coisa que me apetece é enfiar-me de novo na lógica retorcida das taras humanas. Por outro lado, já me sinto preparada para tudo – com certeza não me deixarei surpreender ou escandalizar.
Continuo:
Foi este o ultimato, o exasperante, inacreditável e absolutamente imprevisto ultimato que a amante de cinquenta e dois anos fez lavada em lágrimas ao seu amante de sessenta e quatro, no aniversário de uma ligação que persistira com espantosa licenciosidade - e que não menos espantosamente se mantivera secreta – durante treze anos.

nastenka-d
 
  Epígrafe
Próspero:
Cada terceiro pensamento será a minha sepultura.
The Tempest, acto V, cena I.


nastenka-d
 
  Curiosidades a propósito de Sabath…: a semana
“Com duração aproximadamente igual a de uma fase da lua, a semana de sete dias já era conhecida pelos babilónios muitos séculos antes de Cristo. Derivada da astrologia, tinha os dias atribuídos aos planetas então conhecidos.

A semana judaica é instituída no Genesis, quando o Senhor trabalha por seis dias e descansa no sétimo. Para os hebreus ela termina no Sabath, nosso sábado.

Os romanos adoptaram a semana astrológica, atribuindo os dias a seus próprios deuses astros: Sol, Lua, Mars, Mercurius, Jupiter, Venus e Saturnus. Por influência judaica, mantiveram o Sabath como sendo dia sagrado.

No latim eclesiástico da Roma Cristã, com o intuito de eliminar os deuses pagãos do calendário, os astros foram substituídos por feiras. Prima feria no lugar de die Solis, Secunda feria, no de die Lunis, Tertia feria no lugar de die Martis, e assim por diante, numa semana que se iniciava ao findar o Sabath.

O Imperador Constantino, ao efectuar alterações no calendário em 321 D.C., considerou que a ressurreição de Cristo teria ocorrido num Domingo (Dominicum), tornado-o como "Dia do Senhor", eliminando-se a Prima feria, que daí então passou a ter o nome de Domingo até os dias de hoje.

O nome dos dias da semana na língua portuguesa originou-se do latim eclesiástico, por isso em português, diferentemente de outros idiomas, costuma-se atribuir os nomes dos dias às "Feiras", originadas na época da Roma Cristã.

Outras línguas evoluíram a partir do latim vulgar, mantendo a origem astrológica: o die Lunis, Dia da Lua (segunda-feira), por exemplo, tornou-se Lundi no francês, Lunes no espanhol, Lunedi no italiano.

Na semana anglo-saxã os deuses planetas são oriundos da mitologia nórdica: Sun, Moon, Tiw, Woden, Thor, Freya e Saturn (o que originou, por exemplo, no inglês: Sunday, Monday, Tuesday, Wednesday, Thursday, Friday e Saturday).”

(http://www.geocities.com/siliconvalley/drive/5800/portugues/p-calend5.html)

J.M.
 
 
Nada no mundo cumpre a sua promessa.


Leitora
 
quinta-feira, abril 15, 2004
  Solução
...


Não me vou vitimizar. Não me vou vitimizar. Não me vou vitimizar. Não me vou vitimizar. Não me vou vitimizar. Não me vou vitimizar. Não me vou vitimizar. Não me vou vitimizar. Não me vou vitimizar. Não me vou vitimizar. Não me vou vitimizar. Não me vou vitimizar. Não me vou vitimizar. Não me vou vitimizar. Não me vou vitimizar. Não me vou vitimizar. Não me vou vitimizar. Não me vou vitimizar. Não me vou vitimizar. Não me vou vitimizar. Não me vou vitimizar. Não me vou vitimizar. Não me vou vitimizar. Não me vou vitimizar. Não me vou vitimizar.


Leitora
 
  Finalmente apareceu Naomi
!

Naomi foi a mulher que ele não conseguiu. A que o fez engolir tudo. A que olhou para a ferida e depois espetou-lhe as enormes garras.

«Sabes, tu deves ter um problema muito grave.»

«És a pessoa mais infeliz que eu já conheci. Pareces um bebé.»

«E és um homem extremamente inteligente - o que ainda torna a coisa mais desagradável. O contributo que tu podias dar! Que estúpida, essa autodesvalorização! Que desagradável!»

E no final deu-lhe um pontapé certeiro.


Leitora
 
  Conclusão de uma conversa entre amigas
:

É mesmo assim. Os homens são mesmo assim. Todos.



Quer dizer que... não há esperança?


Leitora
 
  Monólogo
II

Um homem em frente a um psiquiatra. Fala durante horas permitindo pouca intervenção do ouvinte. Fala sem parar. Termina o monólogo com um tremendo grito.

Uma boa metade da minha leitura foi dominada pela incógnita o que fez este homem procurar um psiquiatra? Alex está à beira do colapso. Se calhar nunca tinha sido sincero na vida dele, precisava de um serviço profissional, de confidencialidade garantida para... despejar. Mas... fiquei a pensar que pode ser muito mais do que isso. Não é só a gestão da culpa. Não é querer limar arestas do estudo de Freud que fez por conta própria, enquanto se excitava, esticado sobre a cama.

Talvez o maior problema seja o facto de Alex se ter apaixonado acidentalmente - e só o descobriu depois de ter perdido a mulher que tinha tudo para ser a sua companheira perfeita. Ou talvez não. Ficará sempre na dúvida? Mas, Alex, tu só tens capacidade de te amares a ti próprio!


Leitora
 
  Monólogo
I

Confesso que esta minha participação não correu como esperava. Para começar, contrariamente a todas as vozes de aviso, gostei do livro. Surpresa e admiração suplantaram o choque com a linguagem. Mas vejo que não o consegui demonstrar; só fiz metade do trabalho de leitura partilhada que tinha planeado, e não fico contente com o resultado - meras citações. Gostava de ter conseguido conversar com o livro aqui. Não me foi possível... Será que consigo transferir essa vontade para Sabbath?


Leitora
 
quarta-feira, abril 14, 2004
  O Final da anedota
Agórrra podemosss cómeçárrr... Como se fosse necessário antes de mais deitar fora tudo o que nos incomoda, tudo o que se odeia, para só depois começar a construir outra coisa...
nastenka-d
 
 
Sonhos? Se ao menos fossem sonhos! Mas eu não preciso de sonhos, doutor, por isso é que quase não os tenho – porque tenho esta vida em vez deles. Comigo passa-se tudo às claras! O exagero e o melodrama são o meu pão de cada dia! As coincidências dos sonhos, os símbolos, as situações assustadoramente cómicas, as futilidades do mais estranho mau agoiro, os acidentes e as humilhações, os golpes de sorte ou de azar bizarramente oportunos que as outras pessoas vivem de olhos fechados, acontecem-me a mim de olhos abertos! Conhece mais alguém que a mãe tenha ameaçado com a temível faca? Quem mais teve a sorte de ver a ameaça da castração tão claramente formulada pela mãezinha? (...) Talvez os outros pacientes sonhem, doutor – comigo, tudo acontece. Tenho uma vida sem conteúdo latente. As coisas próprias dos sonhos acontecem! Doutor: eu não consegui pô-lo de pé no Estado de Israel!

nastenka-d
 
  Anacronismos
Há livros que vivem para sempre. Lamentavelmente, não creio que seja o caso de Portnoy's Complaint.

Do meu ponto de vista, o único facto interessante desta tese sobre masturbação masculina foi a sua publicação nos anos sessenta, altura em que deve ter causado grande brado e celeuma.

E foi um privilégio ter conhecido, há poucos dias, um casal de americanos que o viveu em pleno. Portnoy's Complaint deve ter acrescentado muito em 1969. Eles o confirmaram. Mas também não tiveram dificuldade em entender que eu o tivesse abominado (desculpem-me a truculência)…

Tiro certeiro da minha reacção ao livro, o recorte de revista que Eve e Marshall encontraram, nessa mesma semana, nesse local tão estranhamente longínquo e improvável para uma troca de impressões sobre Philip Roth:

“In art, shock value doesn´t have a very long shelf life. One generation’s cultural outrage is a kitsch artifact to the next.”
(in Opera News)

J.M.
 

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LEITURAS NO ARQUIVO

"ULISSES", de James Joyce (17 de Julho de 2003 a 7 de Fevereiro de 2004)

"OS PAPEIS DE K.", de Manuel António Pina (1 a 3 de Outubro de 2003)

"AS ONDAS", de Virginia Woolf (13 a 20 de Outubro de 2003)

"AS HORAS", de Michael Cunningham (27 a 30 de Outubro de 2003)

"A CIDADE E AS SERRAS", de Eça de Queirós (30 de Outubro a 2 de Novembro de 2003)

"OBRA POÉTICA", de Ferreira Gullar (10 a 12 de Novembro de 2003)

"A VOLTA NO PARAFUSO", de Henry James (13 a 16 de Novembro de 2003)

"DESGRAÇA", de J. M. Coetzee (24 a 27 de Novembro de 2003)

"PEQUENO TRATADO SOBRE AS ILUSÕES", de Paulinho Assunção (22 a 28 de Dezembro de 2003)

"O SOM E A FÚRIA", de William Faulkner (8 a 29 de Fevereiro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. I - Do lado de Swann)", de Marcel Proust (1 a 31 de Março de 2004)

"O COMPLEXO DE PORTNOY", de Philip Roth (1 a 15 de Abril de 2004)

"O TEATRO DE SABBATH", de Philip Roth (16 a 22 de Abril de 2004)

"A MANCHA HUMANA", de Philip Roth (23 de Abril a 1 de Maio de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. II - À Sombra das Raparigas em Flor)", de Marcel Proust (1 a 31 de Maio de 2004)

"A MULHER DE TRINTA ANOS", de Honoré de Balzac (1 a 15 de Junho de 2004)

"A QUEDA DUM ANJO", de Camilo Castelo Branco (19 a 30 de Junho de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. III - O Lado de Guermantes)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2004)

"O LEITOR", de Bernhard Schlink (1 a 31 de Agosto de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. IV - Sodoma e Gomorra)", de Marcel Proust (1 a 30 de Setembro de 2004)

"UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO DOS PRAZERES" e outros, de Clarice Lispector (1 a 31 de Outubro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. V - A Prisioneira)", de Marcel Proust (1 a 30 de Novembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA", de José Saramago (1 a 21 de Dezembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ", de José Saramago (21 a 31 de Dezembro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VI - A Fugitiva)", de Marcel Proust (1 a 31 de Janeiro de 2005)

"A CRIAÇÃO DO MUNDO", de Miguel Torga (1 de Fevereiro a 31 de Março de 2005)

"A GRANDE ARTE", de Rubem Fonseca (1 a 30 de Abril de 2005)

"D. QUIXOTE DE LA MANCHA", de Miguel de Cervantes (de 1 de Maio a 30 de Junho de 2005)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VII - O Tempo Reencontrado)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2005)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2005)

UMA SELECÇÃO DE CONTOS LP (1 a 3O de Setembro de 2005)

"À ESPERA NO CENTEIO", de JD Salinger (1 a 31 de Outubro de 2005)(link)

"NOVE CONTOS", de JD Salinger (21 a 29 de Outubro de 2005)(link)

Van Gogh, o suicidado da sociedade; Heliogabalo ou o Anarquista Coroado; Tarahumaras; O Teatro e o seu Duplo, de Antonin Artaud (1 a 30 de Novembro de 2005)

"A SELVA", de Ferreira de Castro (1 a 31 de Dezembro de 2005)

"RICARDO III" e "HAMLET", de William Shakespeare (1 a 31 de Janeiro de 2006)

"SE NUMA NOITE DE INVERNO UM VIAJANTE" e "PALOMAR", de Italo Calvino (1 a 28 de Fevereiro de 2006)

"OTELO" e "MACBETH", de William Shakespeare (1 a 31 de Março de 2006)

"VALE ABRAÃO", de Agustina Bessa-Luis (1 a 30 de Abril de 2006)

"O REI LEAR" e "TEMPESTADE", de William Shakespeare (1 a 31 de Maio de 2006)

"MEMÓRIAS DE ADRIANO", de Marguerite Yourcenar (1 a 30 de Junho de 2006)

"ILÍADA", de Homero (1 a 31 de Julho de 2006)

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POESIA DE ALBERTO CAEIRO (1 a 30 de Setembro de 2006)

"O ALEPH", de Jorge Luis Borges (1 a 31 de Outubro de 2006) (link)

POESIA DE ÁLVARO DE CAMPOS (1 a 30 de Novembro de 2006)

"DOM CASMURRO", de Machado de Assis (1 a 31 de Dezembro de 2006)(link)

POESIA DE RICARDO REIS E DE FERNANDO PESSOA (1 a 31 de Janeiro de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 28 de Fevereiro de 2007)

"O VERMELHO E O NEGRO" e "A CARTUXA DE PARMA", de Stendhal (1 a 31 de Março de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 30 de Abril de 2007)

"A RELÍQUIA", de Eça de Queirós (1 a 31 de Maio de 2007)

"CÂNDIDO", de Voltaire (1 a 30 de Junho de 2007)

"MOBY DICK", de Herman Melville (1 a 31 de Julho de 2007)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2007)

"PARAÍSO PERDIDO", de John Milton (1 a 30 de Setembro de 2007)

"AS FLORES DO MAL", de Charles Baudelaire (1 a 31 de Outubro de 2007)

"O NOME DA ROSA", de Umberto Eco (1 a 30 de Novembro de 2007)

POESIA DE EUGÉNIO DE ANDRADE (1 a 31 de Dezembro de 2007)

"MERIDIANO DE SANGUE", de Cormac McCarthy (1 a 31 de Janeiro de 2008)

"METAMORFOSES", de Ovídio (1 a 29 de Fevereiro de 2008)

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"O MANUAL DOS INQUISIDORES", de António Lobo Antunes (1 a 30 de Abril de 2008)

SERMÕES DE PADRE ANTÓNIO VIEIRA (1 a 31 de Maio de 2008)

"MAU TEMPO NO CANAL", de Vitorino Nemésio (1 a 30 de Junho de 2008)

"CHORA, TERRA BEM-AMADA", de Alan Paton (1 a 31 de Julho de 2008)

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"MENSAGEM", de Fernando Pessoa (1 a 30 de Setembro de 2008)

"LAVOURA ARCAICA" e "UM COPO DE CÓLERA" de Raduan Nassar (1 a 31 de Outubro de 2008)

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"O DEUS DAS MOSCAS", de William Golding (1 a 31 de Março de 2009)

"O CÉU É DOS VIOLENTOS", de Flannery O´Connor (1 a 15 de Abril de 2009)

"O NÓ DO PROBLEMA", de Graham Greene (16 a 30 de Abril de 2009)

"APARIÇÃO", de Vergílio Ferreira (1 a 31 de Maio de 2009)

"AS VINHAS DA IRA", de John Steinbeck (1 a 30 de Junho de 2009)

"DEBAIXO DO VULCÃO", de Malcolm Lowry (1 a 31 de Julho de 2009)

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POEMAS E CONTOS, de Edgar Allan Poe (1 a 30 de Setembro de 2009)

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