Leitura Partilhada
domingo, agosto 31, 2003
  E agora que todos regressaram de merecidas férias...
Imagino que a equipa está de volta, e cheia de vontade de partilhar os pontos de vista sobre o ULISSES. Soube que uma das pessoas já tem notas até ao 10º capítulo!! Durante as próximas duas semanas teremos os primeiros 3 capítulos analisados, e a leitura a rumar para os capítulos seguintes...

Recebemos alguns cantactos de pessoas que se queriam juntar à nossa leitura do ULISSES. Ainda vêm a tempo, mas as "inscrições" terminam dia 3 de Setembro...

A equipa para a RECHERCHE está praticamente formada, e a leitura deverá arrancar na segunda metade do mês de Setembro. Mantém-se o convite para participar activamente!

Entretanto, começam a desenhar-se os desafios seguintes... Considerando propostas e gostos comuns, aceitam-se também inscrições para a leitura partilhada de AS ONDAS de Virginia Woolf. Quem alinha?? Podem deixar comentário ou enviar um mail.

Boas leituras, qualquer que seja a aventura literária ;)

Leitora
 
sexta-feira, agosto 29, 2003
  o texto enjeitado
Ler um texto é sempre procurar acrescentar ao que já somos, ou de pouco vale. Sei de pessoas que lêem, indiscriminadamente, tudo o que lhes chega à mão, como se a sua mente tivesse um buraco como o do estômago quando se tem fome. Isso, parece-me, é uma questão emocional, um modo de resolver problemas de acesso ao "material", de estética, de preferências pessoais... Mas não será que todas essas leituras, de algum modo, se conjugam no corpo do leitor?

Do ponto de vista hermenêutico, é fácil concordar com aqueles que advogam a polifonia da enunciação. No texto escrito, penso mesmo ser muito difícil apresentar alternativas - seria possível imaginar um escritor isolado, sem influências, "puro"? De acordo com o que é aqui escrito e praticado, também se pode falar em polifonia da interpretação, intimamente relacionada com as ligações que os textos vão estabelecendo com as experiências e memórias do leitor.

O que cada um vai tentando, com o Ulisses, é explicar - ou comunicar -, as suas impressões, recorrendo às referências que pode ter em comum com os restantes leitores. Com um livro destes, eu diria que é impossível não o fazer; pessoalmente, acho fundamental reagir, para descobrir o que eu próprio ajudei a esconder na minha (tres) leitura. Por outro lado, essa tarefa não é nada simples.

Nem Joyce é apenas Joyce, nem nós somos só leitores, indivíduos isolados face à monstruosidade da obra. A esperança de qualquer tentativa de exegese é a de compreender, mesmo que a prazo, e construir. Por isso, desprezar estes "vasos comunicantes" no momento da leitura e da interpretação é acreditar que um livro e uma pessoa podem as medidas um do outro. Mesmo que seja possível ler apenas um livro na vida e ver nele um sentido que nos preenche e arrebata, a verdadeira riqueza está na reconstrução e enriquecimento contínuos, fazendo de qualquer acto de leitura uma "leitura múltipla".

Os percursos são díspares - felizmente. Isso é suficiente para crer que as posições ingénuas sobre a centralidade desta ou daquela obra são apenas uma forma de construir esse percurso multiforme. O que distingue as leituras, senão a riqueza de perspectivas que nos abrem?


Artur
 
quinta-feira, agosto 28, 2003
  Polémico? Apaixonante? Desafiador??
Relembro um comentário de uma das participantes desta leitura partilhada, MFA, num dos seus primeiros posts. Este livro tem o brilhante mérito de ter proporcionado incontáveis estudos, resumos e análises. Muitas das quais apaixonadas e brilhantes.

Com alguma malícia foi sugerido que talvez sejam mais interessantes esses estudos do que o romance propriamente dito! Reconhece-se-lhe o mérito, de qualquer forma. Por enquanto não me rendo a essa provocação. Lutarei contra ela, naturalmente. Apesar de muito seduzida por toda a ordem de comentários, polémicas e versões originadas pelo livro. "O LIVRO", como disse um dos nossos comentadores...


Leitora


Para ponto de situação: estou a reler os três primeiros capítulos, a Telemaquia. Ordeno ideias para a discussão da primeira parte. A Andréia já postou ideias sobre o segundo capítulo. A troti tem também pontos de vista alinhavados. Entretanto, aguardamos ansiosamente pelo regresso de férias da maior parte dos participantes, e pelos primeiros posts daqueles que entretanto se juntaram à leitura. Teremos um Setembro animado? Assim o espero!

 
quarta-feira, agosto 27, 2003
  Ulysses absolutamente do mundo e da circunstância
Martim de Gouveia e Sousa , Docente na Escola Secundária Emídio Navarro, Viseu, partilha na net uma apreciação muito especial sobre o autor e a obra que estamos a ler:

«Há livros assim. A partir deles, da sua chegada, nada do que havia sido dito se mantém, nada do que acontece depois poderá permanecer indemne à angústia da influência. Joyce é um ponto nodal da literatura de sempre. Não há discussão.
(...)
O texto joyceano ou joyciano, de nome Ulysses, é uma marco da literatura universal. Com ele, James Joyce instaurou a guerra das palavras. Dessa luta sai vencedor o escritor irlandês, que prova, pela força da digladiação das palavras e pelo seu carácter redentor, poder escrever e ocupar um espaço antes sitiado. A criação de um texto como este é a verificação de uma força hercúlea que a todos afecta e transforma, reganhando um locus que afecta em catadupa os escritores de sempre, repulsando uns para as margens e convocando outros para o centro. »

E sobre a leitura, em jeito de conclusão:

«Ler bem é ler por dentro. O espelho do texto mostra ao sagaz leitor os trabalhos de deuses. Ler bem é desvelarmo-nos por dentro. No reverso espelho, estamos nós. A urdidura textual é especular, para dentro do texto, ao divino, para dentro de nós, em devassa. Assim se mostra o criador, sem se dar. Aí começa o trabalho do leitor, insónia activa pela vida do texto dentro de si. O texto existe em mostração. Mas como exaurir-lhe a pureza, esse muito-dentro da criação, se a arte percutiva da leitura age sobre o criado num longe-perto da criação?

O texto é a cidade que a leitura quer habitar. O leitor toca o criador e a criação. Todos se agitam. O leitor-intérprete, através desse frémito sem sono, derruba a muralha e funde-se no dentro-fora do texto do autor-intérprete. (...) E assim a arte da leitura se torna difícil, nesse dia sempre inacabado da perscrutação que nos modifica e nos torna diferentes.»



Não sei porquê, mas guardo os meus comentários... Leio, apenas. E regresso à leitura. De ULISSES, e não só... porque há vários livros assim. Uns marcam-nos. Outros, apenas passam por nós, cruzamos a sua sombra. Livros a mais, talvez. Nem todos conseguem prender a nossa atenção. Menos, ainda, nos conquistam. Só depois de ler o seu papel fica definido.

Regresso à leitura.


Leitora
 
terça-feira, agosto 26, 2003
  O fascínio do que é difícil
Na revista SUPERINTERESSANTE, do Brasil, saiu em tempos um texto de Jerônimo Teixeira sobre Joyce e o seu ULISSES. Aqui ficam alguns extractos:


Ulisses (e nem vamos falar de Finnegans Wake, leitura que estou guardando para meus setenta anos) apresenta um dia - 16 de junho de 1904 - na vida de alguns moradores de Dublin, na Irlanda. Ninguém faz nada de extraordinário: os personagens comem, bebem (e muito: são irlandeses), pedem dinheiro emprestado, cantam, se masturbam, freqüentam um bordel, conversam, passeiam. Em torno dessas ações básicas, Joyce vai enredando os fios de inúmeras referências históricas e literárias, a começar pelo paralelo de cada um dos capítulos com episódios da Odisséia de Homero.

Difícil? Sim, difícil. Mas todo bom livro nos apresenta dificuldades. Leitura não é apenas um passatempo, uma trivialidade para ocupar as horas em que nada de bom está passando na tevê. O prazer da dificuldade anda muito desvalorizado nos nossos dias utilitários. E os "joyceanos" que agem como se a leitura de Ulisses fosse o passaporte para um clube exclusivo, um resort high-brow, ajudam pouco. (Nesse sentido, vale a pena ler Homem Comum Enfim, de Anthony Burgess. O autor de Laranja mecânica revela-se um joyceano sem afetações. Homem... é uma excelente introdução à obra de Joyce. Clara, inteligente e bem-humorada.)

Joyce é sobretudo um escritor visceral. E não apenas porque tenha um gosto particular pela descrição das atividades baixas do nosso organismo (Stanislaus Joyce certa vez escreveu ao irmão acusando sua literatura de ser uma "ciência sanitária"). Há uma vitalidade impressionante na "Dear Dirty Dublin" de Joyce. Sentimos a cidade pulsar em todo sua mesquinharia e provincianismo, mas também em toda a sua humanidade. A par de seu arcabouço erudito, Joyce era um homem do pub, que sabia reproduzir como poucos a linguagem viva das ruas (qualidade que em certa medida se perde na tradução empolada de Antonio Houaiss). Seus personagens, especialmente Leopold Bloom, respiram com uma força inaudita para as criaturas de papel que são.

Ulisses é um livro erudito, mas nem por isso é apenas um livro para eruditos. Os esquemas engenhosos com os quais Joyce armou seu romance não engessam a narrativa. Não estão ali para comprazer o leitor em meros artifícios intelectuais ou em simetrias artificiosas, como vemos, por exemplo, em alguns livros de Italo Calvino ou, no Brasil, de Osman Lins (dois autores bem mais acessíveis do que Joyce. Só que Joyce não é chato...). Edmund Wilson comparava Ulisses a uma cidade, tamanha a riqueza e a diversidade de personagens e situações que encontramos em suas 800 páginas. Muitas vezes o leitor tem dificuldades para se achar lá dentro, o que torna a excursão tanto mais inesquecível. Como alguém já disse, a melhor maneira de conhecer uma cidade é se perder nela.



Sorrio quando me cruzo com esta frase "só que Joyce não é chato..."

Subscrevo a perspectiva de que todos somos leitores banais, à procura do prazer da leitura num livro difícil, mas que não é para eruditos nem passaporte para nenhum resort...

Leitora
 
  Manuscrito: Primeira página de ULYSSES, by James Joyce
 
domingo, agosto 24, 2003
 


Wandering Rocks
Artist: Joyce, Paul
 
  Extravagâncias?
Num post de 10 - 8 - 2003, o amigo Henrique Fialho partilha connosco a sua perspectiva da leitura do ULISSES:


«Quando James Joyce começou a escrever Ulisses, no ano da graça de 1914, já os pilares essenciais da psicanálise tinham sido devidamente fundamentados. Em 1900 Freud tinha publicado A Interpretação dos Sonhos, doze anos depois seria dado à estampa Metamorfoses e Símbolos da Libido, de C. G. Jung. O título da obra maior do escritor irlandês remete directamente para a Odisseia de Homero, mas não menos importante na sua edificação terão sido as explorações do inconsciente levadas a cabo pela então moderna psicanálise, assim como as exegeses da Bíblia, do Talmude ou do Zohar, como viria o próprio Joyce a asseverar. Ulisses, é hoje uma redundância afirmá-lo, é uma obra analógica que eleva a uma situação limite a arte da metáfora. A sua leitura permite descortinar no seu íntimo múltiplas analogias, significados, paráfrases, alegorias. É por isso que Ulisses deve ser lido, sobretudo, como uma odisseia pela mais profunda obscuridade do Inconsciente.

Duas personagens centrais, Stephen Dedalus e Leopold Bloom, dão o mote para uma viagem pelos confins do Eu. A recorrência ao monólogo interior permite compreender os personagens na mais primitiva força dos seus conflitos individuais, assim como o recurso a estilos, técnicas e géneros literários diversos permite percepcionar em real dimensão os dramas internos do Ser. A complexidade sintáctica, semântica e pragmática da obra deixa de assustar quando lhe reconhecemos os ritmos do nosso pensamento, da nossa imaginação, em suma, do nosso psiquismo. E tudo é arquitectado sob o ponto de vista do guerreiro que pretende lançar a sua lança num duplo alvo, como nos revela Joyce logo no primeiro capítulo:

- Sou o servidor de dois senhores – disse Stephen -, um inglês e o outro italiano.
- Italiano? – disse Haines.
Uma rainha louca, velha e ciumenta. Ajoelha-te diante de mim.
- E um terceiro – disse Stephen – há por aí que me quer para os seus biscates.
- Italiano? – disse de novo Haines. – Quer explicar-se?
- O Estado imperial britânico – Stephen respondeu, enrubescendo – e a Santa Igreja Apostólica e Católica Romana.

Note-se, no entanto, que há um terceiro “senhor” que Stephen Dedalus não revela. Pelo menos para já, porque cedo entenderemos estar diante dos três princípios fundadores de toda a obra de James Joyce: antinacionalismo, anticlericalismo e antifeminismo. Stephen Dedalus é um misantropo professor com pretensões poéticas, inquietado pela morte da mãe e pela ausência do pai. Leopold Bloom, que aparecerá, pela primeira vez, no quarto capítulo, é um pragmático angariador de publicidade, traidor e traído pela adúltera sua esposa, a Sra. Marion Bloom. Uma coisa une estes dois homens: o sentimento de culpa, as memória persecutórias. No caso de Dedalus já referimos a mãe. Falta referir, no caso de Bloom, Rudy, o filho morto, mas também a sua ascendência judaica, para a qual reserva sentimentos antagónicos. Repare-se: num caso o criador (a mãe), noutro caso o criado (o filho).»




Numa mensagem que nos enviou, diz "tratar-se apenas de uma leitura, entre todas a que o livro se predispõe". A mim parece-me uma excelente introdução ao livro, que justifica tamanha transcrição...


Leitora

 
sábado, agosto 23, 2003
  Estamos a ler o ULISSES no intervalo das férias...
Hoje, no suplemento "Fugas de Verão", o jornal Público tem uma nota sobre o nosso blogue.

Mais do que agradecer à jornalista Andréia Azevedo Soares, queria reforçar o convite à leitura:
«Quem quiser regressar no tempo - mais precisamente ao dia de 16 de Junho de 1904 -, e acompanhar a aventura das personagens Dedalus e Bloom em Dublin, deve aceder àquele sítio electrónico e enviar uma mensagem para a coordenadora da iniciativa.»

Assim, todos os que nos queiram acompanhar e acrescentar ideias às nossas leituras, tem a caixa de comentários à disposição, que todos vamos verificando para poder dar seguimento às conversas.

Do mesmo modo, quem quiser participar activamente na leitura, dar opiniões sobre a obra, poderá mandar-me uma mail. Feedbacks e resultados desses contactos nos próximos posts...

Regresso agora aos livros... até já.

Leitora
 
sexta-feira, agosto 22, 2003
  Apontamentos do segundo capítulo
Acabo de ler o segundo capítulo de "Ulisses". Gostaria de saber como estão os outros dubliners, para ter a noção da velocidade que tenho de impor à leitura.

Reparei que há uma espécie de paralelismo entre as batalhas homéricas e o torneio de Hóquei que decorre no colégio.

"Torneios, lodaçal e algazarra de batalhas, o gelado vómito mortal dos degolados, o grito dos ferros das lanças iscadas com tripas ensanguentadas de homens."

Nesta releitura, tem-me sido bastante útil a tabela. Conseguimos identificar vários simbolismos que passam despercebidos na primeira leitura.

Chamou-me atenção também a evocação da mulher como o mal, quando o execrável senhor Deasy diz que "por uma mulher que não era melhor do que devia ser, Helena, a fugitiva esposa de Menelau, por dez anos fizeram os gregos a guerra em Tróia". (Já agora, eu julgava que a guerra de Tróia tinha durado nove e não dez anos). Joyce também aloja nesta personagem um debate sobre a questão judaica.

Andréia
 
quinta-feira, agosto 21, 2003
  Ler ou não ler Ulysses
Citado do blog "Bomba Inteligente":



“Sou das poucas pessoas que acreditam ser perfeitamente possível perceber o Ulysses sem ler a Odisseia. O próprio Joyce abandonou o esquema de correspondência da estrutura do poema homérico porque se entusiasmou com outras influências e porque Joyce sabia que era mais que Homero. Porque o importante é ler o Ulysses quando se quer ler o Ulysses. Só. O que o leitor do Ulysses perceberá será aquilo que ele próprio é juntamente com o que já leu, os filmes que viu, o que gosta de comer ao pequeno-almoço, as horas a que se deita, os amigos que escolhe. Se ler a Odisseia, verá outras coisas porque é natural que assim seja. Ou não verá nada porque a Odisseia pode, naquele momento, dizer coisas que não lhe interessam para a leitura do Ulysses.”


Prytkov
 
quarta-feira, agosto 20, 2003
  A Odisseia de Frederico Lourenço
Na entrevista do tradutor da "Odisseia" ao Jornal de Letras, descobrimos que roubaram o computador dele durante o trabalho de tradução, o que o obrigou a recomeçar tudo de novo. Fiquei estupefacta.

Andreia

 
terça-feira, agosto 19, 2003
 
Gabriel Pereira de Castro (1571-1632) nasceu em Braga e faleceu em Lisboa. Ordenado presbítero, estudou Direito em Coimbra, foi professor, desembargador do Porto e da Casa da Suplicação, corregedor do Crime e procurador-geral das Ordens Militares. Escreveu vários tratados de Direito, poesias em português, latim e espanhol, assim como o poema heróico em oitava rima Ulisseia ou Lisboa Edificada publicado por seu irmão, Luís Pereira de Castro, em 1636. Obras: Decisiones Supremi, Eminentissimeque Senatus Portugalliae (Lisboa, 1621); De Manu Regia Tractatus (2 tomos, Lisboa, 1622-1625); Ulisseia ou Lisboa Edificada (Lisboa, 1636); Monomachia sobre as Concórdias que os Reis Fizeram com os Prelados de Portugal (Lisboa, 1738).


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ULISSEIA OU LISBOA EDIFICADA

CANTO I

As Armas e o varão que os mal seguros
Campos cortou do Egeu e do Oceano,
Que por perigos e trabalhos duros
Eternizou seu nome soberano:
A grã Lisboa e seus primeiros muros
(De Europa e largo Império Lusitano
Alta cabeça), se eu pudesse tanto,
À Pátria, ao mundo, à Eternidade canto.

.............


CANTO VII

No mais fundo do Tejo um sumptuoso
Palácio o Rio habita, de luzentes
Satiras e cristal puro e lustroso,
Que as paredes faziam transparentes.
Aqui foi avisado o Tejo undoso
Que junto de suas líquidas correntes
Ulisses numa lapa repousava,
E logo o centro pelo ver deixava.

Manda um Tritão, que do húmido aposento,
De escamas de ouro lúcidas vestido,
Saindo fora, dê sonoro alento
Co'a negra boca a um búzio retorcido.
Voa nas asas do ligeiro vento
0 som por várias partes repetido;
Deixam as naturais concavidades,
Para acudir, as húmidas Deidades.

De vestes roçagantes, e luzidas
De um cristal mole e moles esmeraldas,
Um sai vestido, e outro guarnecidas
De escamas de ouro as nítidas espaldas.
Outros camisas brancas têm vestidas
De congelada escuma, e nas grinaldas
As Ninfas vão aljôfar enlaçando
No coral fino, em suas ondas brando.

Chegam aonde o Tejo os esperava
Num sólio altivo, claro e preeminente,
Na sala cujo tecto carregava
Em colunas de massa transparente.
Ali sobre urnas de ouro se encostava,
Saindo de cada uma uma corrente;
Por falar-lhe a cabeça sacudia
E o chão de aljofre e pérolas cobria.

Conta-lhe como Ulisses é chegado
E à Lusitânia um século famoso
Em que há-de ser do Tejo subjugado
De ambas as Tétis o temido esposo;
Que quer ir visitá-lo acompanhado
Das Deidades do rio caudaloso.
Todos o aprovam e ele, nesse instante,
Os passos move; os Deuses vão adiante.

Pisando sai as húmidas areias
O velho Rio, numa verde cana
Arrimado, entre o coro das Nereias,
Coroado de junco e de espadana.
As Náiades famosas e as Napeias
Descem das fontes de onde o Tejo mana;
Vão com ele as Oréades e as Drias
E a verde alma das plantas Amadrias.

Mil vezes salve, ó Ulisses venturoso,
Ao sábio Grego diz o antigo Rio,
Que este porto será por ti famoso
Da plaga austral além do Norte frio,
Quando os peixes de prata c mar furioso
Reconheçam meu largo senhorio,
Quando vencedor pise o Tejo ufano
A cerviz dura ao túmido Oceano.

Ergue a nobre cidade, e não te espante
O grão furor de Górgoris valente,
Por minhas ondas passarás avante,
Onde armas acharás e ousada gente.
Eu por guia te irei sempre diante,
Humilhando esta túmida corrente,
Que quando este ditoso peso a oprima
Correrão minhas ondas para cima.

Mandou então o Rio venerando
A Legeia, que toque a doce lira
E o suave instrumento acompanhando
Co'a branda voz que o Céu e a Terra admira
Reconte a profecia que, cantando,
Os segredos do Fado a Prótio ouvira,
Como abriria à lusitana gente
O mar, té as roxas portas do Oriente.

Canto VII, 60-68

Mais um post relacionado com o nome "Ulisses".
Troti
 
domingo, agosto 17, 2003
  Rejoyce! O que é um Bloomsday?
Bloomsday is a kind of literary Holyday celebrated around the world. It is a celebration of James Joyce's novel Ulysses in which Leopold Bloom, a Dublin Jew, goes about his life in the city of Dublin on June 16th, 1904

The date Joyce chose for Bloom's perambulations was a tribute to his wife and muse Nora Barnacle. Joyce first encountered Nora, who worked at a nearby hotel, outside Trinity College. She originally mistook him for a Norwegian sailor but did agree to meet him, and so June 16th marks their first rendezvous.





Este ano o Bloomsday foi oficialmente celebrado em TORONTO, e ... Bloomsday Centenary Celebrations planned for Bloomsday 2004.

Tudo sobre o assunto em:
http://www.pathcom.com/%7Elivia/index.htm

Leitora
 
  James Joyce Festival
Bloomsday is celebrated all over the world and particularly in Dublin, where the celebrations take place on the actual locations of Joyce's Ulysses. In addition to sheduled events there are always many private or 'Unoffical' activities to mark the day. It has become traditional to dress up and roam the city, attending meals and readings, visiting pubs and places mentioned in the novel, or generally celebrating in some manner, no matter how obscure, which is appropriate to the day.



IRELAND. Bloomstime (James Joyce Festival) by Martin Parr


Lê-se ULYSSES em voz alta, no meio da rua. É notícia. Microfones apontados. Uma criança tapa os ouvidos e ameaça gritar...


Leitora
 
sexta-feira, agosto 15, 2003
  Análises paralelas ao nosso blog
Fui encontrar um comentário, ainda que indirecto, a esta nossa Leitura Partilhada. Foi feito pelo Padre Amaro, estando a palavra "leitor" com link para nós. E consta assim:

Um blog faz-se de frases fortes. Para saber escrever um blog é preciso saber-se escrever boas frases e fazer com que elas durem, até um momento de exaustão do leitor. Cada leitor permanece indiferente ao que se procura dizer, agastado na sua digressão célere, impaciente ao nível da pior impaciência, capaz de ser o mais fiel dignitário de um relato que nenhum outro leitor entenderá da mesma maneira. Dessa forma, cada leitura constrói o texto de forma diferente. É essa uma das premissas mais interessantes e preocupantes para a natural prepotência do escritor. Que feita a sua obra, esta se veja nas mãos de pessoas que poderão não saber dar conta dela, que a desbastarão à sua maneira, mesmo que essa seja radicalmente oposta àquela que o autor tão afincadamente procurou traduzir em palavras.


Na mera qualidade de um dos leitores participantes neste blog, digo desde já que não me preocupa a natureza de um blog, ou como se escreve um blog. Este espaço foi concebido para partilha de pontos de vista de um grupo de amigos.

Quanto à actividade do leitor, e à possibilidade de a obra ser "desbastada", vem um pouco no seguimento do meu post de ontem. É claro que isso pode acontecer... apesar de acreditar que por regra não acontece. Quando gostamos de ler, ou gostamos da obra, ou gostamos do autor, temos uma profunda admiração e respeito pelo livro. E são essa admiração e esse respeito que nos fazem amar e tentar compreender melhor o livro. E tecer correlações com outros universos, ficcionais ou reais.

Em todo o caso, como já o ouvi da voz de alguns escritores, um livro quando é publicado deixa de pertencer ao seu autor, passa a ser património de um vasto conjunto de pessoas - isto, claro, se conseguir conquistar leitores, se conseguir deixar-se penetrar por outros universos, os nossos, e ser incorporado nas nossas vivências.


Tenho aqui um volume verde e azul, que ando a ler, a rabiscar, a reler... se alguém me perguntar "De quem é esse livro?", responderei, naturalmente "É meu!" Leitura é conquista. É aumento do património pessoal. É evolução.

E por aquilo que tenho lido por estas páginas, todos temos admirado e respeitado Ulisses e Odisseia, Homero e Joyce. Como leitores honestos e despretenciosos que somos. Damos o que temos para dar. Esperamos contribuir essencialmente para a nossa leitura. E eventualmente para a vontade de ler de outros. Nada mais. Partilhamos emoções, e resultados de pesquisas pessoais. Não escrevemos teses.

Gostamos de ler, apenas. E estamos a ler "ULISSES" de James Joyce. Em conjunto. Capítulo a capítulo. Parando de vez em quando para respirar, para falar sobre as emoções de leitura que nos são provocadas. Quem quiser participar, está convidado.

Leitora
 
 
...
O Ulisses de Dante


Dante revisando a Comédia
“Noi oi allegramo e tosto tornó in pianto: chi de la nova terra um turbo nacque, e percose del legno il primo canto.
Ulisses e Dante (inferno, canto XXVI)


É difícil saber se Dante Alighieri chegou a tomar conhecimento das narrativas de Marco Polo. Há indícios de que aquele fantástico livro de viagens tenha começado a circular em latim por volta de 1312-1316, mais ou menos à época em que Dante deu início a primeira parte da “comédia”. Seja como for, ali também encontra-se um conciso registro de uma possível viagem feita por Ulisses para além das colunas de Hércules ( canto XXVI do “Inferno”).
Dante na companhia de Virgílio, seu cicerone na grande aventura pelo outro mundo, depara-se num lugar qualquer do Inferno com algumas almas completamente envolta em chamas eternas, que jamais esmaecem. Uma delas era a de Ulisses, o herói grego, que ali estava punido por ter enganado os troianos com o falso presente do cavalo de madeira que desgraço a cidade. Envolto pela fumaça, aquela alma danada confessou ao poeta que nem o amor que sentia por sua mulher, a fiel Penélope, nem a piedade que lhe despertava o pai ancião, foram capazes de fazer com que ele resolvesse ficar na ilha de Ítaca, o seu reino, evitando que ele voltasse ao mar para novas aventuras. Não puderam, ninguém da sua família, disse ele, “vencer em mim ânsia que sentia de conhecer bem o mundo, os vícios e os valores humanos pelo que lancei-me em amplo mar aberto. Só, num barco com poucos companheiros que não me abandonaram nunca”.


O desastre de Ulisses


Ulisses em chamas no Inferno de Dante
Em seguida, Ulisses narrou a Dante como, logo após contornar a costa da Espanha e do Marrocos, enfrentou o mar aberto seguindo sempre o destino do Sol. Depois de viajar pelo tempo de cinco luas terem aparecido e se apagado, ele e seus companheiros depararam-se com um monte escuro encravado numa grande ilha que viram no horizonte. O mais alto dos montes que jamais tinham visto. Desgraçadamente, ao se aproximarem dele, foram envolvidos por violentas ondas e naufragaram ao chegarem na nova terra. Agora ele ali estavam naquele Inferno, condenado a ser apenas um espectro abrasado.
A história de que o bravo Ulisses teria feito mais uma viagem, a derradeira, depois do seu regresso à Ítaca, circulava como uma lenda na Idade Média. A versificação daquele suposto feito pelo grande nome da língua italiana que era Dante, porém, deu-lhe um foro de verdade. Foi a primeira vez na literatura ocidental que encontrou-se uma descrição, ainda que imaginária, de uma vigem feita a um “novo mundo”.
Desta forma os elementos reais ou imaginários que darão impulso as grandes navegações dos século XV e XVI, de Colombo e de Caboto, estavam por assim dizer sedimentando-se na mente da maioria dos marinheiros italianos.
(*) o atual estreito de Gibraltar
...

Em:
O Renascimento e os novos mundos - O Mapa de Toscanelli


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Em revista Rabisco

...O problema é que para conduzir o leitor, Joyce se apóia em um plano singular: ele fez uma trama que liga Ulisses à Odisséia de Homero. Além da relação exemplar Bloom-Molly -Stephen e Ulisses-Penélope-Telêmaco, há outras bem sutis, como uma cantoria no Ormod Hotel, que remete às sereias do poeta grego, e uma discussão na Biblioteca Nacional, em referência aos monstros míticos da narrativa homérica, Cila e Carbidis.

Mais: como observou muito bem o escritor Luís Fernando Verissimo, o Ulisses de Homero (ou Odisseu, de onde vem “odisséia”) e o Ulisses de Dante se encontram no Ulisses de James Joyce. Eles se encontram mas não se fundem, transformam-se em dois personagens: Leopold Bloom, o Ulisses de Homero segundo Joyce, cujo rumo é o de casa, e Stephen Dedalus, o Ulisses de Dante segundo Joyce, cujo exílio é uma jornada sem fim. Confuso? Veríssimo explica que, no texto de Ulysses, Joyce descreve Dedalus como um "partidor centrifugal" e Bloom como um "ficador centripedal". Na odisséia de um só dia, pai e filho andam pelo bas-fond da sociedade de Dublin como dois crusoés na sua terra natal. O fator que os diferencia, porém é que Bloom busca sua reintegração com a sociedade, enquanto Stephen demanda uma missão poética, a de criar a consciência da sua raça, como confessou em outro livro: quanto mais longe de Dublin, melhor.

Pode-se dizer que o Ulysses de Joyce é a reintegração do mito num ambiente prosaico. O ponto de partida é o herói mítico num anti-herói na Dublin de Joyce. Aqui, o personagem de Homero fulgura como um flanêur decaído. Mas o partir para voltar é o mesmo. O Ulisses de Joyce, nesse caso, é o que volta, mas também o que troca a paz pela descoberta, a família pela aventura, a sabedoria pelo conhecimento. Como em outra aventura mítica, os nautas de Luís de Camões. Veríssimo explica que os “Ulisses” se dividem entre os que partem e os que ficam, ou entre os que voltam e os que seguem no exílio.
...
No fim, os dois Ulisses representam duas formas de distância do nosso centro, do que nos reintegra ou do que nos revela. A casa ou a descoberta, a sabedoria ou o auto-conhecimento. “Eles são dois tipos de exilados, o que volta, como o Ulisses de Homero, ou o que segue, como o Ulisses de Dante. O Ulisses bipartido de Joyce volta e segue”.

...
No fim, na morte, todos os ulisses voltam, não importa de que exílio. O próprio livro (pelo menos, no modesto ponto de vista do leitor) pode ser uma lição de partir, mas para chegar até o fim.

Artigo de Marcelo Xavier na Revista Rabisco de 22 de Junho a 6 de Julho 2003


Aqui vai mais uma hipótese de reflexão. Até já Troti
 
 
"Tudo, no mundo, existe para acabar num livro"

Mallarmé


Até já Troti
 
quinta-feira, agosto 14, 2003
  dedalusjoycebloomulisses
Pegando no post do Artur, proponho para já uma imagem, que me parece de evidente aplicação a Joyce e ao seu desdobramento das/nas personagens.



Sempre achei curioso este reaparecimento do Dedalus autobiográfico do "RETRATO" no "ULISSES". Joyce não recorreu a heterónimos (Giacomo era uma adaptação sua ao país de passagem, nunca uma entidade autónoma). Mas Joyce nunca precisaria de heterónimos. Desdobrou-se em personagens.

Vês, MFA, consegui voltar ao paralelo Joyce/Pessoa...
;)


Leitora
 
  Revisão do Texto
Uma relíquia: a revisão da primeira edição da Obra.


 
  Regresso da Bomba...
Como habitualmente, vou estando atenta às novas da Charlotte.

A propósito de um Duelo Imprevisto (SIC Notícias) entre Vasco Graça Moura e Eduardo Prado Coelho, Charlotte retoma o tema "Odisseia" de Homero e "Ulysses" de Joyce:

Sou das poucas pessoas que acreditam ser perfeitamente possível perceber o Ulysses sem ler a Odisseia. O próprio Joyce abandonou o esquema de correspondência da estrutura do poema homérico porque se entusiasmou com outras influências e porque Joyce sabia que era mais que Homero. Porque o importante é ler o Ulysses quando se quer ler o Ulysses. Só. O que o leitor do Ulysses perceberá será aquilo que ele próprio é juntamente com o que já leu, os filmes que viu, o que gosta de comer ao pequeno-almoço, as horas a que se deita, os amigos que escolhe. Se ler a Odisseia, verá outras coisas porque é natural que assim seja. Ou não verá nada porque a Odisseia pode, naquele momento, dizer coisas que não lhe interessam para a leitura do Ulysses.

Como sempre, oportuna e bombástica.

Não tendo ainda completado as minhas leituras, dou o benefício da dúvida. Por um lado apetece-me abstrair dos enquadramentos iniciais, de tabelas, de referências e símbolos. Ler Joyce apenas por Joyce, prestar atenção às frases que me tocam, às características que me surpreendem, e não aos pontos de contacto e de fuga com a obra de Homero. Mas por outro, tenho sempre uma grande curiosidade de aprofundar, de investigar, de entender opções e razões. Ficando na dúvida, depois será a força dos textos e as impressões de leitura que determinarão a forma como vou ler. Como sempre.

Esta problemática da relação entre "Odisseia" e "Ulysses" fez-me repensar na minha leitura, há muitos anos atrás, de um dos meus livros preferidos: "As Naus", de António Lobo Antunes. Será que deveremos ler "Os Lusiadas" para melhor compreender "As Naus"? Será que daqui a uns anos Lobo Antunes disponibilizará uma tabela de correspondências? Sinceramente, fiquei com vontade de, depois de ler "Ulysses" e "Odisseia", regressar a "As Naus" com "Os Lusíadas" por perto. Reler e reanalisar sob esta nova perspectiva de tabela de correspondências.

Mas num ponto concordo em pleno com a Charlotte: qualquer das minhas leituras é essencialmente influenciada pelas minhas vivências e estado de espírito do momento. E pelas minhas referências culturais e sociais. Independentemente das relações que a obra possa ter com outros universos socio-culturais. A leitura tem mais a ver com o leitor em si do que com a obra - daí o interesse em partilhar contos de vista, confrontar formas de ler, aspectos que consideramos relevantes... porque a obra é sempre a mesma, nós é que evoluímos, mudamos.




Ah... amanhã estarei de férias. E regressarei ao ULISSES.

Leitora
 
quarta-feira, agosto 13, 2003
 
Em "O Prazer do Texto", Roland Barthes (1987) nos desperta para o entendimento de que texto quer dizer "tecido", buscando acentuar, em contraposição à noção de produto acabado, sob o qual se oculta (mais ou menos) o sentido, uma idéia gerativa. O entrelaçamento perpétuo por meio do qual o "tecido" de Barthes adquire vida, pelo fato de que se faz e se trabalha num "gerar-se permanente", relacionado a uma textualidade captada na folha impressa de papel é certamente ponto de partida dos mais interessantes para se iniciar nossa reflexão sobre o hipertexto, espécie de labirinto em que conjuntos de palavras, imagens e sons se entrelaçam uns aos outros ao simples toque de um elemento eletrônico, independentemente de uma porta de entrada principal ou de um ponto de chegada, num movimento, tal como o do texto barthesiano, também vivo, de construção, desconstrução, reconstrução, através do qual o leitor/usuário percorre determinado trajeto, de sua escolha pessoal, buscando significados existentes ou produzindo outros.


"O texto se faz, se trabalha através de um entrelaçamento perpétuo"(Barthes)

Em : Encruzilhadas de um Labirinto Eletrônico
Uma Experiência Hipertextual

Maria Helena Pereira Dias


É neste entrelaçamento que residem os mistérios de "Ulisses".
Troti
 
  As lendas de Lisboa
A Cidade de Ulisses

Segundo uma das várias lendas sobre a origem de Lisboa, terá sido Ulisses o seu fundador.
Ulisses teria ido procurar Aquiles, filho da deusa Tétis, em terras longíquas. Após uma longa viagem por mar, encontrou-o à beira do rio Tejo.
Foram os dois para Tróia, cumprindo ordens da deusa Tétis.
Passado algum tempo, após a conquista de Tróia, Ulisses recordou-se do lugar agradável, onde encontrara Aquiles. A doçura e a claridade do ar bem como “o ouro” da água do rio, foram motivos suficientes para a sua decisão – voltar lá.
O local era tão aprazível e convidativo que Ulisses aí permaneceu durante algum tempo. E no cimo da colina, frente ao estuário do grande rio, fundou uma cidade à qual deu o nome de Ulissipo.
A cidade cresceu, outras colinas foram povoadas, e o nome evoluiu para o actual - Lisboa.


Referências bibliográficas:
Vieira, Alice (1993 ). Esta Lisboa. Lisboa: Caminho






Fundação de Lisboa

Há muitos, muitos anos, diz a lenda, existia um reino chamado Ofiusa, o reino das serpentes. O grande Ulisses foi com os seus companheiros aportar a esse reino. A rainha das serpentes que era metade serpente, metade mulher, agia como uma menina simpática e sedutora para encantar Ulisses e tentar conquistá-lo, mas não conseguiu, pois ele foi mais esperto. Fingiu amá-la para que ela lhe satisfizesse o seu maior desejo: deixar desembarcar os seus companheiros para ali erguer uma cidade.

Conseguiu o que queria, pelo que chamou os seus companheiros que tiraram do barco, materiais de construção e edificaram uma linda cidade.

Quando se foram embora, a rainha, ao sentir-se ludibriada, ficou furiosa, tentou perseguir o seu amado, que considerava um grande traidor, pelo que alongou o seu corpo de serpente, contorcendo-se com a pressa e com a raiva, formando sete saliências que, segundo a lenda, deram origem às sete colinas de Lisboa.

Troti

 
  Ulysses
It little profits that an idle king,
By this still hearth, among these barren crags,
Match'd with an aged wife, I mete and dole
Unequal laws unto a savage race,
That hoard, and sleep, and feed, and know not me.
I cannot rest from travel: I will drink
Life to the lees: all times I have enjoy'd
Greatly, have suffer'd greatly, both with those
That loved me, and alone; on shore, and when
Thro' scudding drifts the rainy Hyades
Vext the dim sea: I am become a name;
For always roaming with a hungry heart
Much have I seen and known: cities of men,
And manners, climates, councils, governments,
Myself not least, but honor'd of them all;
And drunk delight of battle with my peers,
Far on the ringing plains of windy Troy.
I am a part of all that I have met;
Yet all experience is an arch wherethro'
Gleams that untravel'd world, whose margin fades
Forever and forever when I move.
How dull it is to pause, to make an end,
To rust unburnish'd, not to shine in use!
As tho' to breathe were life. Life piled on life
Were all too little, and of one to me
Little remains: but every hour is saved
From that eternal silence, something more,
A bringer of new things; and vile it were
For some three suns to store and hoard myself,
And this gray spirit yearning in desire
To follow knowledge like a sinking star,
Beyond the utmost bound of human thought,

This is my son, mine own Telemachus,
To whom I leave the scepter and the isle--
Well-loved of me, discerning to fulfil
This labor, by slow prudence to make mild
A rugged people, and thro' soft degrees
Subdue them to the useful and the good.

Most blameless is he, centered in the sphere
Of common duties, decent not to fail
In offices of tenderness, and pay
Meet adoration to my household gods,
When I am gone. He works his work, I mine.



There lies the port: the vessel puffs her sail:
There gloom the dark broad seas. My mariners,
Souls that have toil'd, and wrought, and thought
with me--
That ever with a frolic welcome took
The thunder and the sunshine, and opposed
Free hearts, free foreheads--you and I are old;
Old age has yet his honor and his toil;
Death closes all: but something ere the end,
Some work of noble note, may yet be done.
Not unbecoming men that strove with Gods.
The lights begin to twinkle from the rocks:
The long day wanes: the slow moon climbs:
the deep
Moans round with many voices. Come, my
friends,
'Tis not too late to seek a newer world.
Push off, and sitting well in order smite
The sounding furrows; for my purpose holds

To sail beyond the sunset, and the baths
Of all the western stars, until I die.
It may be that the gulfs will wash us down:
It may be we shall touch the Happy Isles,
And see the great Achilles, whom we knew.
Tho' much is taken, much abides; and tho'
We are not now that strength which in old days
Moved earth and heaven, that which we are, we are;
One equal temper of heroic hearts,
Made weak by time and fate, but strong in will
To strive, to seek, to find, and not to yield.


Alfred Lord Tennyson


Hoje deixo-lhes outro Ulisses Até já Troti
 
  Finalmente...
Caros dubliners,
acabei de reler o primeiro capitulo. Reli os ultimos posts, o que me fez pensar sobre um conjunto de questoes interessantes. Uma delas tem a ver com o comentario de Artur, que sugere que o sentimento de paternidade de Bloom para com Dedalus cria nessa relacao um paralelismo - de resto, sobejamente conhecido - com Ulisses/Telemaco. Gostaria de acrescentar algo as coisas interessantes que o Artur assinalou.

Ha que prestar atencao a continua subversao que Joyce faz das figuras do poema homerico: os tres primeiros capi­tulos de "Ulisses" sao uma especie de reflexo dos tres ultimos. A partida de Telemaco em busca do pai pode surgir em Joyce precisamente como o desejo do pai de encontrar UM filho. E isso tudo acontece porque Joyce brinca com a ideia dos espelhos na sua obra magistral - conceito que e concretizado precisamente na inversao de capitulos, como sublinha o tradutor da edicao da Livros do Brasil, Joao Palma Ferreira.

Outro ponto que gostava de realcar e que, em "Ulisses", nao me parece que haja uma questao de poder misturada a relacao pai/filho como ha no poema homerico.
Telemaco alega que se Ulisses estivesse morto, "os Aqueus ter-lhe-iam erguido um tumulo e eu, seu filho, teria herdado toda a sua gloria imarcescivel» . Assim, o descendente do heroi homerico passaria de pri­ncipe a rei, ocupando simbolicamente o lugar do pai junto a Penelope, qual um Edipo ao lado de Jocasta.

Na "Odisseia",Telemaco deseja uma de duas solucoes: ou uma gloria funebre daquilo que Ulisses foi ou o regresso pai vivo ; por isso parte em busca de Ulisses, querendo encontra-lo vivo ou morto. Telemaco, no primeiro canto da "Odisseia", afirma: "Nao o choraríamos tanto se o soubessemos morto, se tivesse perecido com os seus companheiros no cerco de Troia». Trata-se do desejo de resolucao de um impasse (a ausencia do Rei na sua ilha ao longo de 20 anos).

O desejo filial expressa sempre, sob o verniz do amor ao pai, uma busca da propria estabilidade individual. Telemaco, claro esta, ve a morte como solucao mais dolorosa. So que, para ele, a ausencia de noticias incomoda demasiado porque cria um vacuo de poder em Itaca, porque impede o reconhecimento colectivo daquele que morre a combater. O desaparecimento puro e simples de Ulisses conduz a  imagem do homem sem glorias, "ignorado", que nao pode ser enterrado com honras funebres como o Heitor da´"A Ili­ada".

Ai sim, o filho de Ulisses parte um busca de noticias do pai, informacoes capazes de resolver o impasse do desaparecimento do rei de Itaca. Pois, para ele, so faz sentido um rei vivo e retornado ou um bravo guerreiro morto em combate. A errancia pura e simples nao e solucao, como alude Manuel Alegre num dos seus poemas de evocacao helenica. Tanto e que, apos a resolucao do impasse, Telemaco retorna a  ilha de Itaca, confiante que estava do regresso do pai para vingar-se dos pretendentes. Esta aqui em causa, alem de um sentimento filial, uma questao de poder.

Sao apenas algumas reflexoes soltas... vou avancar para o segundo capitulo.

Andreia Azevedo Soares

PS. Adorei a ideia de comecarmos a partilhar tambem a leitura de Recherche! Gostava ainda que alguem me ajudasse a escrever com acentos sem que apareça caracteres bizarros no blog.
 
terça-feira, agosto 12, 2003
 
Ítaca

Se partires um dia rumo à Ítaca
Faz votos de que o caminho seja longo
repleto de aventuras, repleto de saber.
Nem lestrigões, nem ciclopes,
nem o colérico Posidon te intimidem!
Eles no teu caminho jamais encontrarás
Se altivo for teu pensamento
Se sutil emoção o teu corpo e o teu espírito. tocar
Nem lestrigões, nem ciclopes
Nem o bravio Posidon hás de ver
Se tu mesmo não os levares dentro da alma
Se tua alma não os puser dentro de ti.
Faz votos de que o caminho seja longo.
Numerosas serão as manhãs de verão
Nas quais com que prazer, com que alegria
Tu hás de entrar pela primeira vez um porto
Para correr as lojas dos fenícios
e belas mercancias adquirir.
Madrepérolas, corais, âmbares, ébanos
E perfumes sensuais de toda espécie
Quanto houver de aromas deleitosos.
A muitas cidades do Egito peregrinas
Para aprender, para aprender dos doutos.
Tem todo o tempo ítaca na mente.
Estás predestinado a ali chegar.
Mas, não apresses a viagem nunca.
Melhor muitos anos levares de jornada
E fundeares na ilha velho enfim.
Rico de quanto ganhaste no caminho
Sem esperar riquezas que Ítaca te desse.
Uma bela viagem deu-te Ítaca.
Sem ela não te ponhas a caminho.
Mais do que isso não lhe cumpre dar-te.
Ítaca não te iludiu
Se a achas pobre.
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência.
E, agora, sabes o que significam Ítacas.


Konstantino Kavafis (1863-1933)
in: O Quarteto de Alexandria - trad. José Paulo Paz
.
Aqui fica para todos um dos meus poemas favoritos Troti
 
  O Polvo
A leitura do "Ulisses" é uma luta com um polvo de mútiplos tentáculos. Enquanto um destes nos aperta, outro se estende, outro ainda nos procura. É uma luta sem descanso, porque estamos simultaneamente envolvidos por diversos véus, não conseguindo libertar-nos de nenhum. A imensidão de sentidos e a multiplicidade de "links" que a prosa nos permite é um labirinto e sinto que , mesmo enveredando por mais de um caminho, ficará todo um mundo por desvendar. Boa sorte a todos Troti
 
segunda-feira, agosto 11, 2003
  o (1) capítulo
O (1) Capítulo
Impressões no seguimento da leitura do (1) capítulo de “Ulisses”, edições Livros do Brasil, colecção Dois Mundos.


Stephen Dedalus é um homem só.

Só, no seu sofrimento e angústia:
Pág.31 – Por quanto tempo vai ficar Haines nesta torre?
Pág.32 – Alguém a matou – disse Stephen sombriamente.
Pág.32 – E você recusou.
Pág.35 - … Na ofensa que me foi feita…
Pág.35 – O sangue pulsava-lhe nos olhos, velando-lhe a vista e sentia o rosto febril.
Pág.36 –Jazia atrás dele uma taça de águas amargas.


Só, no seu isolamento interior:
Pág.29 - …olhou com frieza aquele rosto gorgolhante que o abençoava,…
Pág.32 – A minha tia acha que você matou a sua mãe….
Pág.32 - …É por isso que não quer que eu tenha nada a ver consigo.
Pág.32 – Há em si qualquer coisa de sinistro.
Pág.34 – Porque é que não confia mais em mim?
Pág.40 - …mas repugnava-lhe implorar os seus favores.
Pág.47 – Você é senhor de si próprio, é o que me parece.


Só, na sua sensibilidade sentida:
Pág.32 – Uma dor, que ainda não era do amor, atormentava-lhe o coração.
Pág.34 – Stephen, deprimido pela própria voz, disse:…
Pág.35 – Stephen, tapando as fundas feridas que essas palavras lhe deixavam no coração.
Pág.36 – Silencioso, com respeito e mágoa, aproximei-me da cama.
Pág.37 – Stephen, ainda a tremer com o clamor da sua alma…
Pág.47 - …como os seus próprios e preciosos pensamentos, uma química de estrelas.


Só, no seu pensamento e na sua postura :
Pág.29 – Suba, Kinch! Suba, seu jesuíta cobarde!
Pág.30 – E virá ele? O jesuíta maçador!
Pág.31 – Ele não sabe compreendê-lo.
Pág.32 – podia ter-se ajoelhado, co´s diabos, Kinch, quando sua mãe, agonizante, lho pediu.
Pág.32 – E você recusou.
Pág.34 – O que é que tem agora contra mim?
Pág.35 – Você negou-lhe o último desejo à hora da morte e no entanto está amuado comigo…
Pág.36 – Que interessam as ofensas?
Pág.36 – Não fique a ruminar o dia inteiro,…
Pág.37 – Recordações avassalavam-lhe o cérebro meditativo.
Pág.37 – Dedalus, desça, seja bom rapaz.
Pág.41 – Stephen ouvia em desdenhoso silêncio.
Pág.44 – Você espicaça a minha curiosidade,...É algum paradoxo?
Pág. 45 – Você contempla em mim… um horrível exemplo de livre pensamento.


Só, nos seus medos e inseguranças:
Pág.31 - …E você ficou aterrado?
- Fiquei - disse Stephen com energia e crescente medo – Aqui na escuridão, com um homem que não conheço…
Pág.34 – Só eu sei quem você é. Porque é que não confia mais em mim? Que coisas cheira contra mim?
Pág.37 – …a estremecer e a submeter a minha alma.
Pág.37 – Os olhos dela sobre mim para me fazerem render.
Pág.43 – Vejo poucas esperanças – disse Stephen – tanto dela como dele.
Pág.47 – O meu diabo familiar atrás de mim, a chamar Steeeeeeeeeeephen!


Só, na sua afirmação pessoal:
Pág.29 – Suba, Kinch! Suba, seu jesuíta cobarde!
Pág.30 – A piada que há nisso – esse seu nome absurdo, em grego antigo!
Pág.31 – Ele acha que você não é um cavalheiro.
Pág.31 – Mas eu não sou um herói.
Pág.31 – O ranhoso do bardo!
Pág.32 – Ah, pobre corpo de cão!...
Pág.33 – Mata a mãe mas não pode usar calças cinzentas
Pág.37 – Não, mãe! Deixa-me ser e deixa-me viver.
Pág.38 – Sou outro agora e, no entanto, ainda o mesmo. Um criado também. O servo de um servo.
Pág.41 - … a mim, despreza-me.
Pág.42 – Corre já a esse prostíbulo de escola e traz-nos algum dinheiro.
Pág.43 – Por que é que não joga com eles, tal como eu faço?
Pág.47 – Sou servo de dois senhores…
Pág.49 – Deixe-nos a chave, Kinch…
Pág.49 – E dois dinheiros…
Pág.49 – Subiu pelo atalho, curvado.
Pág.50 – Usurpador.




Stephen Dedalus vive com a sua própria reclusão. Tem de iniciar uma jornada para a sua afirmação. Ele é o herdeiro de si próprio. Tem de despertar para renascer.






TABELA

Telémaco – tem de iniciar uma jornada para a sua afirmação.
ODISSEIA:
Pág.33 – Sê corajoso, para que homens ainda por nascer falem bem de ti.


8 horas da manhã – começa um novo tempo:
pág.29 - … a torre, o campo circundante e as montanhas que despertavam.
Pág.40 - …viera do mundo matinal, talvez mensageira.
Pág.40 - …mensageira da manhã secreta.


Teologia – “Ciência da religião, das coisas divinas” ( Grande Enc. Port. e Bras.)
Pág.29 – Abençoou três vezes...
Pág.30 - …corpo e alma e sangue e chagas.
Pág.33 – Para não o deixar cair em tentações.
Pág.39 – Deus te abençoe!
Pág.39 – In nomine Patris et Filii et Spiritus Sancti.
Pág.40 – Está uma linda manhã ….-Glória a Deus.
Pág.45 – Já li uma interpretação teológica disso num sítio qualquer…
Pág.46 – O que é que ele lhe chamou? José, o marceneiro?
Pág.46 – Você não é crente, pois não?... A criação a partir do nada, milagres e um Deus pessoal.


Branco e Ouro – os reflexos
Pág.29 - ….um espelho e uma navalha.
Pág.30 -… Os dentes brancos e alinhados a brilhar aqui e ali em pontos de ouro.
Pág.33 – Volteou o espelho…para faiscar nas ondas distantes, sob a luz radiante do sol, no mar. Riram os…gumes dos brancos e fúlgidos dentes
Pág.36 – O branco seio obscuro do mar.
Pág.36 – Palavras liadas em brancas vagas a brilhar na esbatida maré.
Pág.38 – O brilho quente do sol a brincar sobre o mar.
Pág.40 – O leite, senhor!
Pág.42 - ….uma colherada de chá a colorir levemente o espesso e substancioso leite.
Pág.48 - …voltasse para o sol um rosto balofo, branco de sal.


O Herdeiro – a continuação
Pág.37 – Não mãe! Deixa-me ser e deixa-me viver.
Pág.42 – A Irlanda espera que neste dia cada homem cumpra o seu dever.
Pág.47 – Apesar de tudo acho que você é capaz de se libertar.



FRASES PREFERIDAS

Pág.32 -…o hálito, que pendia sobre ele, mudo, reprovador, um cheiro leve a cinzas húmidas.

Pág.33 – Volteou o espelho em semicírculo, no ar, para faiscar nas ondas distantes, sob a luz radiante do sol, no mar.

Pág.34 – Uma brisa suave passava-lhe pelo rosto, agitando-lhe, ao de leve, o cabelo despenteado e despertando-lhe pontos prateados de ansiedade nos olhos.

Pág.35 – O mar e o promontório já se cobriam de sombras.

Pág.36 – O branco seio do obscuro mar.

Pág.36 – Jazia atrás dele uma taça de águas amargas.

Pág.37 – Os olhos vidrados, olhando para lá da morte, a estremecer e a submeter a minha alma. Só a mim. O círio fantástico alumiando-lhe a agonia. Luz de fantasmas no rosto torturado.

Pág.37 – Os olhos dela sobre mim para me fazerem render.

Pág.37 – Não mãe! Deixa-me ser e deixa-me viver.

Pág.37 – Stephen, ainda a tremer com o clamor da sua alma, ouviu o quente tropel da luz do sol e, no ar atrás dele, palavras amigas.

Pág.38 – O brilho quente do sol a brincar sobre o mar.

Pág.38 – Sou outro agora e, no entanto, ainda o mesmo. Um criado, também. O servo de um servo.

Pág.40 – Velha e secreta, viera do mundo matinal, talvez mensageira.

Pág.43 – Contradição. Contradigo-me? Então muito bem, contradigo-me.

Pág.45 – Olhos pálidos como o mar que o vento tinha refrescado, mais pálidos, firmes e prudentes.

Pág.47 – Apesar de tudo, acho que você é capaz de se libertar.

Pág.47 - … como os seus próprios e preciosos pensamentos, uma química de estrelas.

Pág.47 – O vazio aguarda certamente todos os que o vento tece…


Boa leitura para todos e até breve. Troti

 
domingo, agosto 10, 2003
  entrevista com o tradutor da Odisseia
Olá a todos
Venho só informar que no último Jornal das Letras vem uma entrevista a Frederico Lourenço, o tradutor da Odisseia em verso. Boa leitura e até breve
Troti
 
quinta-feira, agosto 07, 2003
 
Escreveu-nos a encantadora Charlotte. Ficamos, então, a saber do seu carinho pelo ULISSES:

Ulysses é o livro mais extraordinário que li na vida. Está todo, todo anotado poqrue me armei em Nabokov e dissequei-o todinho para o gozar
devidamente. Cada vez me interessa menos a ficção e mais o ensaio, a análise, a procura de alguma coisa concreta. Mas gosto de boa literatura de ficção como o Ulisses.

Sobre a Odisseia nem te digo nada para não te influenciar. É simplesmente belo. Só. Belo e Bom.




Assim sendo, vou dedicar um tempo mais sério à ODISSEIA (que até agora estava por mim atirada para segundo plano, como texto de apoio), e posteriormente partilharei os resultados aqui no Blog. Com uma recomendação assim, elevam-se as expectativas!

Leitora ;)
 
quarta-feira, agosto 06, 2003
  dedalusjoycebloomulisses
(Esta é a primeira de uma série de notas que - se concordarem - gostava de partilhar convosco durante os próximos tempos.. Peço desde já desculpa pela extensão e desacerto.)

Joyce é, em mais do que um sentido, um escritor moderno - e Ulisses a sua obra-prima. É mesmo visto como o nec plus ultra dos romances do século XX. O que o torna tão original, tão aclamado? O que faz com que, nós este seja um livro de tão excepcional dificuldade e profundidade?

A razões desta leitura colectiva parece ser esta dificuldade: este é o livro que se relega para a estante - é sempre "o próximo livro", a síntese que nunca nos sentimos preparados para ler. É a nossa Ítaca.
Não há dúvida que se podem escrever livros inteiros com banalidades como esta, mas...: suspeito que este livro se pode tornar uma espécie de símbolo de uma época desgarrada, mas prolífica, sem as referências culturais de um passado que vai analisando e desmontando. Este passado dá uma forma multifacetada ao livro. É isso que encontramos nas personagens.
Reencontramos Stephen Dedalus - cuja família e vida já conhecemos do Retrato do Artista enquanto Jovem - , na Torre Martello. É um produto de uma formação católica entre o militante (Mrs. Riordan tem a força do catolicismo praticante conservador) e o hesitante, que reconhecemos na Irlanda de hoje, mas também do pragmatismo do seu pai Simon, muito ligado aos movimentos políticos independentistas da Erin dos finais do século XIX e inícios de XX (a figura de Parnell nunca deixa de estar presente). É daqui que surge o seu lado secular, marcadamente romântico e nostálgico. Em suma, está dividido pelo seu próprio precoce romantismo estético, que se mostra em poemas da juventude. O seminário e os jesuítas não chegaram para eliminar o dilentantismo partente no Ulisses, e a escrita é o seu verdadeiro trabalho, procurando escapar à camisa de forças intelectual com que Dublin o ameaça desde criança.

Ulissesbloom tem para com ele sentimentos de paternidade (que surgem marcadamente no capítulo 14 e se desenvolvem no penúltimo), o que o torna... Telémaco? A ligação de ambos às respectivas tradições (irlandesa e judaica), situações políticas e espirituais rivaliza com o desconforto da indefinição. Dedalus é um refúgio da dúvida existencial de um Bloom muito inseguro do seu próprio judaísmo. Contudo, também não escapa à paralisia irlandesa.

Stephentelemacojoyce: os ecos da vida do autor são notórios, no Dedalus brilhante, melancólico, irónico - um verdadeiro construtor de labirintos. Tem "aquela" arrogância juvenil, que despreza a baixeza das coisas do quotidiano, mas tem de lidar com elas até à derrota ou glória final. É um cínico.
Mensagem importante: a Ítaca de Bloom e Dedalus é um lugar de construção de laços pela diferença.

Artur
 
terça-feira, agosto 05, 2003
  Joyce de Visita a Belo Horizonte
Soube há pouco que Kafka está no Brasil, e que Joyce o foi visitar. Ao que parece é uma visita habitual:

James Joyce nos visitou hoje na varanda da Rua Paraíba. Trazia um cachecol listrado, um chapéu com fitas verdes e ocupou o banquinho de sempre, um banco que fica ao sul da varanda e que dá para o jardim, quase rente ao canteiro de begônias cultivado pela Mulher da Aura Azul. Éramos seis, logo no começo da tarde. A todo instante João Serenus chamava Joyce para uma partida de truco. Joyce ria e solfejava velhas canções dublinenses.

Talvez isto explique uma certa ausência de Joyce por estas bandas... Provavelmente ficará ainda uns dias entre amigos, jogando, cantando e admirando as diversas tonalidades de azul.

Leitora
 
  A Recherche ganha adeptos...
Contacto amável do Artur, que curiosamente dedicou os últimos tempos ao ULISSES e demais obras de James Joyce, e que começará em breve a leitura da "Recherche" de Proust. Feliz coincidência, de facto! Há por aí mais candidatos a esta leitura? E será que as impressões podem ser partilhadas aqui neste blog? Sim, é um convite.

Artur deixou-nos ainda duas sugestões:

1) não nos esqueçamos da Odisseia de Homero. Afinal de contas...

2) Não é bem uma sugestão, mas um desejo: depois de Agosto, espero que o blog fique mais animado e participado
.


Presumo que muitos de nós estão a ler a ODISSEIA, apesar de apenas a Troti o ter referido claramente. Provavelmente estarão na calha posts sobre o livro de Homero. Todos os esperamos. E sobre a animação do Blog, bom... soube ainda há minutos que o Joyce foi de férias para o Brasil...

Leitora




 
segunda-feira, agosto 04, 2003
  Voz do Deserto
A propósito de leituras difíceis, a Voz do Deserto sintetiza: partir da premissa que só o prazer é um bom lema é quase tão estúpido como fazer apenas aquilo que nos apetece.

Ler o Ulisses é uma aventura. De prazer relativo, provavelmente... continuo influenciada pelos avisos recebidos, ainda não notei qualquer desconforto no acto de ler - mas, convenhamos, apenas li os primeiros capítulos. Estarei também influenciada por insondáveis feitios da educação religiosa? Hum... Talvez! Não sentimos uma espécie de MISSÃO relativamente às leituras que queremos fazer?



Leitora
 
  Janela Indiscreta
Sim, estão todos convidados para acompanhar ULISSES, lê-lo connosco. A Janela Indiscreta está sempre atenta às actividades de apreciação das artes, incluindo a leitura.

Na discussão que se segue à menção da nossa leitura partilhada, é-nos sugerido partilhar leitura de Proust, aproveitando a nova tradução da "Recherche". Agradou-me a ideia. Assim sendo, ficam convidados também a sugerir qual a obra/autor que deverá seguir-se para partilha. A partir do momento que esteja lida e discutida a primeira parte do ULISSES, penso que poderá arrancar em simultâneo outra leitura que flua melhor se for acompanhada. Que vos parece?

Para já tenho registadas duas propostas: "Recherche", sugerido pelo Incontornável, e algo de Shakespeare, sugerido pela Joaninha. Neste momento acena-me também o Don Quijote que mora na minha prateleira dos ainda não lidos desde que o trouxe de Bilbau...

Que vos parece?
Leitora



 
  Não desapareci....
Mas em breve vou tornar-me translúcida. Vou a banhos durante o mês de agosto, e aproveitar para dar um avanço na leitura da "nossa" obra!
Lidos partem os três primeiros capítulos (em inglês, e em português - tarefa coooomplicada, mas não impossível).
Agora vou aprofundar o que li lendo com atenção as notas de tradução, e alguns textos biográficos de joyce que não poderei reproduzir aqui pois são resultado de pesquisa de um amigo meu que ainda não me autorizou a divulgá-los (bem que tenho tentado...! ;( )
Deixo assim em aberto a minha participação até ao fim do mês e espero quando voltar trazer mais conhecimentos e ideias para partilhar!

A todos, boas viagens, literárias e/ou físicas, cá estarei de regresso daqui a pouco!


MClaraM/Gia Duarte
 
domingo, agosto 03, 2003
  Aprender a Gostar
Em sintonia connosco, Portugal dos Pequeninos. Apresenta-se/provoca-nos com auxílio de Alexandre O'Neill "NESTE PAÍS EM DIMINUTIVO, JUIZINHO É QUE É PRECISO ".

O João concorda com o trabalho de aprendizagem que a leitura representa. E recomenda-nos outras duas leituras: A Biografia de James Joyce, de Jean Paris (Circulo de Leitores), e Vidas escritas, de Javier Marías (Quetzal, 1996). Por gostar de ler...



James Joyce. Illustration by Bob Cato. (Cover of Joyce Images)



Leitora
 
  Eu também tenho saudades da Rue de L'Odéon


Paris, 1920. Joyce and Sylvia Beach outside the door of Shakespeare and Company on the Rue de l'Odéon.

(From the Poetry/Rare Books Collection, University Libraries, State University of New York at Buffalo.)
 
sexta-feira, agosto 01, 2003
  Cenário do primeiro capítulo do Ulisses
Sandycove, Dublin. The Martello Tower, now the home of the James Joyce Museum.






Sandycove, Dublin. The common room of the Martello Tower, now the home of the James Joyce Museum.




Leitora
 

O QUE ESTAMOS A LER

(este blogue está temporariamente inactivo)

PROXIMAS LEITURAS

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LEITURAS NO ARQUIVO

"ULISSES", de James Joyce (17 de Julho de 2003 a 7 de Fevereiro de 2004)

"OS PAPEIS DE K.", de Manuel António Pina (1 a 3 de Outubro de 2003)

"AS ONDAS", de Virginia Woolf (13 a 20 de Outubro de 2003)

"AS HORAS", de Michael Cunningham (27 a 30 de Outubro de 2003)

"A CIDADE E AS SERRAS", de Eça de Queirós (30 de Outubro a 2 de Novembro de 2003)

"OBRA POÉTICA", de Ferreira Gullar (10 a 12 de Novembro de 2003)

"A VOLTA NO PARAFUSO", de Henry James (13 a 16 de Novembro de 2003)

"DESGRAÇA", de J. M. Coetzee (24 a 27 de Novembro de 2003)

"PEQUENO TRATADO SOBRE AS ILUSÕES", de Paulinho Assunção (22 a 28 de Dezembro de 2003)

"O SOM E A FÚRIA", de William Faulkner (8 a 29 de Fevereiro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. I - Do lado de Swann)", de Marcel Proust (1 a 31 de Março de 2004)

"O COMPLEXO DE PORTNOY", de Philip Roth (1 a 15 de Abril de 2004)

"O TEATRO DE SABBATH", de Philip Roth (16 a 22 de Abril de 2004)

"A MANCHA HUMANA", de Philip Roth (23 de Abril a 1 de Maio de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. II - À Sombra das Raparigas em Flor)", de Marcel Proust (1 a 31 de Maio de 2004)

"A MULHER DE TRINTA ANOS", de Honoré de Balzac (1 a 15 de Junho de 2004)

"A QUEDA DUM ANJO", de Camilo Castelo Branco (19 a 30 de Junho de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. III - O Lado de Guermantes)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2004)

"O LEITOR", de Bernhard Schlink (1 a 31 de Agosto de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. IV - Sodoma e Gomorra)", de Marcel Proust (1 a 30 de Setembro de 2004)

"UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO DOS PRAZERES" e outros, de Clarice Lispector (1 a 31 de Outubro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. V - A Prisioneira)", de Marcel Proust (1 a 30 de Novembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA", de José Saramago (1 a 21 de Dezembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ", de José Saramago (21 a 31 de Dezembro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VI - A Fugitiva)", de Marcel Proust (1 a 31 de Janeiro de 2005)

"A CRIAÇÃO DO MUNDO", de Miguel Torga (1 de Fevereiro a 31 de Março de 2005)

"A GRANDE ARTE", de Rubem Fonseca (1 a 30 de Abril de 2005)

"D. QUIXOTE DE LA MANCHA", de Miguel de Cervantes (de 1 de Maio a 30 de Junho de 2005)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VII - O Tempo Reencontrado)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2005)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2005)

UMA SELECÇÃO DE CONTOS LP (1 a 3O de Setembro de 2005)

"À ESPERA NO CENTEIO", de JD Salinger (1 a 31 de Outubro de 2005)(link)

"NOVE CONTOS", de JD Salinger (21 a 29 de Outubro de 2005)(link)

Van Gogh, o suicidado da sociedade; Heliogabalo ou o Anarquista Coroado; Tarahumaras; O Teatro e o seu Duplo, de Antonin Artaud (1 a 30 de Novembro de 2005)

"A SELVA", de Ferreira de Castro (1 a 31 de Dezembro de 2005)

"RICARDO III" e "HAMLET", de William Shakespeare (1 a 31 de Janeiro de 2006)

"SE NUMA NOITE DE INVERNO UM VIAJANTE" e "PALOMAR", de Italo Calvino (1 a 28 de Fevereiro de 2006)

"OTELO" e "MACBETH", de William Shakespeare (1 a 31 de Março de 2006)

"VALE ABRAÃO", de Agustina Bessa-Luis (1 a 30 de Abril de 2006)

"O REI LEAR" e "TEMPESTADE", de William Shakespeare (1 a 31 de Maio de 2006)

"MEMÓRIAS DE ADRIANO", de Marguerite Yourcenar (1 a 30 de Junho de 2006)

"ILÍADA", de Homero (1 a 31 de Julho de 2006)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2006)

POESIA DE ALBERTO CAEIRO (1 a 30 de Setembro de 2006)

"O ALEPH", de Jorge Luis Borges (1 a 31 de Outubro de 2006) (link)

POESIA DE ÁLVARO DE CAMPOS (1 a 30 de Novembro de 2006)

"DOM CASMURRO", de Machado de Assis (1 a 31 de Dezembro de 2006)(link)

POESIA DE RICARDO REIS E DE FERNANDO PESSOA (1 a 31 de Janeiro de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 28 de Fevereiro de 2007)

"O VERMELHO E O NEGRO" e "A CARTUXA DE PARMA", de Stendhal (1 a 31 de Março de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 30 de Abril de 2007)

"A RELÍQUIA", de Eça de Queirós (1 a 31 de Maio de 2007)

"CÂNDIDO", de Voltaire (1 a 30 de Junho de 2007)

"MOBY DICK", de Herman Melville (1 a 31 de Julho de 2007)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2007)

"PARAÍSO PERDIDO", de John Milton (1 a 30 de Setembro de 2007)

"AS FLORES DO MAL", de Charles Baudelaire (1 a 31 de Outubro de 2007)

"O NOME DA ROSA", de Umberto Eco (1 a 30 de Novembro de 2007)

POESIA DE EUGÉNIO DE ANDRADE (1 a 31 de Dezembro de 2007)

"MERIDIANO DE SANGUE", de Cormac McCarthy (1 a 31 de Janeiro de 2008)

"METAMORFOSES", de Ovídio (1 a 29 de Fevereiro de 2008)

POESIA DE AL BERTO (1 a 31 de Março de 2008)

"O MANUAL DOS INQUISIDORES", de António Lobo Antunes (1 a 30 de Abril de 2008)

SERMÕES DE PADRE ANTÓNIO VIEIRA (1 a 31 de Maio de 2008)

"MAU TEMPO NO CANAL", de Vitorino Nemésio (1 a 30 de Junho de 2008)

"CHORA, TERRA BEM-AMADA", de Alan Paton (1 a 31 de Julho de 2008)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2008)

"MENSAGEM", de Fernando Pessoa (1 a 30 de Setembro de 2008)

"LAVOURA ARCAICA" e "UM COPO DE CÓLERA" de Raduan Nassar (1 a 31 de Outubro de 2008)

POESIA de Sophia de Mello Breyner Andresen (1 a 30 de Novembro de 2008)

"FOME", de Knut Hamsun (1 a 31 de Dezembro de 2008)

"DIÁRIO 1941-1943", de Etty Hillesum (1 a 31 de Janeiro de 2009)

"NA PATAGÓNIA", de Bruce Chatwin (1 a 28 de Fevereiro de 2009)

"O DEUS DAS MOSCAS", de William Golding (1 a 31 de Março de 2009)

"O CÉU É DOS VIOLENTOS", de Flannery O´Connor (1 a 15 de Abril de 2009)

"O NÓ DO PROBLEMA", de Graham Greene (16 a 30 de Abril de 2009)

"APARIÇÃO", de Vergílio Ferreira (1 a 31 de Maio de 2009)

"AS VINHAS DA IRA", de John Steinbeck (1 a 30 de Junho de 2009)

"DEBAIXO DO VULCÃO", de Malcolm Lowry (1 a 31 de Julho de 2009)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2009)

POEMAS E CONTOS, de Edgar Allan Poe (1 a 30 de Setembro de 2009)

"POR FAVOR, NÃO MATEM A COTOVIA", de Harper Lee (1 a 31 de Outubro de 2009)

"A ORIGEM DAS ESPÉCIES", de Charles Darwin (1 a 30 de Novembro de 2009)

Primeira Viagem Temática BLOOMSDAY 2004

Primeira Saí­da de Campo TORMES 2004

Primeira Tertúlia Casa de 3 2005

Segundo Aniversário LP

Os nossos marcadores

ARQUIVO
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